CORPORATIVO
A A | Indústria brasileira terá programa nacional para cuidar da saúde mental dos trabalhadoresTácido RodriguesO Serviço Social da Indústria (SESI), o Conselho Nacional do SESI e o Ministério da Saúde oficializaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para promover a saúde mental na indústria. O pacto visa criar ambientes laborais mais saudáveis, fortalecer a qualidade de vida dos trabalhadores e preparar o setor para emergências em saúde pública. O Serviço Social da Indústria (SESI), o Conselho Nacional do SESI e o Ministério da Saúde oficializaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para promover a saúde mental na indústria. O pacto visa criar ambientes laborais mais saudáveis, fortalecer a qualidade de vida dos trabalhadores e preparar o setor para emergências em saúde pública. Segundo Anamaria Raposo, responsável pela coordenação das ações do ACT com o Ministério da Saúde, o programa contempla sete eixos de ações intersetoriais (emergências climáticas, interoperabilidade de dados, promoção da saúde mental, capacitação, saúde conectada, arboviroses e imunização), baseadas em pesquisas que serão realizadas até dezembro de 2026. “A pesquisa de saúde e qualidade de vida do trabalhador da indústria vai ser realizada pelos regionais do SESI, de todas as regiões do país, numa amostra de 219 empresas de todos os portes e, aproximadamente, 16.500 trabalhadores, considerando a representatividade tanto de porte quanto de região. Será feita uma coleta em setembro de 2025, que vai resultar em um primeiro relatório-base. Em 2026, vai ser feita uma nova coleta para possibilitar um primeiro acompanhamento das questões identificadas”, explica. Para fazer uma radiografia completa da saúde de cada indivíduo, será utilizada a ferramenta ASSTI (Avaliação de Saúde e Segurança do Trabalhador da Indústria) para armazenar dados de entrevistas por telefone com colaboradores de 18 estados. “Os resultados podem apontar, por exemplo, um percentual significativo de trabalhadores com sobrepeso, com hábitos de fumo, pressão alta. E com esses indicadores em mãos, a empresa pode contratar ou promover intervenções direcionadas”, acrescenta Anamaria Raposo. Na avaliação do psicólogo do grupo Mantevida, Edilson José Ferreira de Oliveira, o acompanhamento periódico contribui para que a saúde mental dos trabalhadores tenha a devida atenção. “É positivo quando se levanta os dados porque chama a atenção das autoridades e das responsabilidades de cada parte justamente para criação das políticas públicas efetivas”. Oliveira revela que a depressão é um dos problemas mais comuns, porque a maioria das pessoas não busca ajuda por medo ou falta de conhecimento. “Muitos têm depressão e não sabem, então vão deixando para depois o cuidado. Infelizmente, a manicomialização sustentou muito esse estigma de que uma pessoa que procura um psicólogo, um psiquiatra, vai ser internada e ser mal vista socialmente. Isso atrapalha até as empresas implementarem esses cuidados. A verdade é que precisamos implementar uma ideia de acolhida com o outro não só no contexto de adoecimento”, alerta o especialista. | A A |
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A A | Pesca brasileira à deriva entre a crise climática e a falta de dadosLívia BrazA pesca no Brasil enfrenta um duplo desafio: a falta de dados sobre espécies e os impactos crescentes da emergência climática. Essa é a principal conclusão da 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil, estudo que foi lançado nesta quarta-feira (13), em Brasília, pela organização Oceana. O relatório anual é o mais abrangente levantamento sobre a gestão pesqueira no país e, em 2024, direciona os holofotes para os efeitos ambientais e sociais negativos provocados pelo clima em transformação. A pesca no Brasil enfrenta um duplo desafio: a falta de dados confiáveis sobre os estoques pesqueiros e os impactos crescentes da emergência climática. Essa é a principal conclusão da 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil, estudo que será lançado na próxima quarta-feira (13/8), em Brasília, pela organização Oceana. O relatório anual é o mais abrangente levantamento sobre a gestão pesqueira no país e, em 2024, direciona os holofotes para os efeitos ambientais e sociais provocados pelo clima em transformação. Entre os dados mais alarmantes, o estudo aponta que não há diagnóstico sobre 47% dos estoques de espécies marinhas e estuarinas exploradas comercialmente no Brasil. Pior: dos estoques que têm avaliação, 68% estão sobrepescados, ou seja, apresentam biomassa abaixo dos níveis sustentáveis. Além disso, mais de 90% não têm plano de gestão atualizado e medidas que limitem a captura dos recursos para evitar a sobrepesca. Ademilson Zamboni, diretor-geral da Oceana, explica que o conhecimento sobre os estoques pesqueiros do Brasil ainda é muito limitado e, quando existe, vem de iniciativas pontuais. “Quando há investimento em estudos científicos para a avaliação de estoques, conseguimos ter informações sobre um número específico de espécies. Mas essa análise tem um prazo de validade, um tempo de vida útil. Passados cinco anos, se você não planejou uma nova avaliação, as medidas tomadas a partir da anterior — se é que foram tomadas — podem não ter mais valor, porque já não representam a situação real do estoque.” Para Zamboni, uma das soluções seria criar um programa permanente de pesquisa e monitoramento, que realize frequentes avaliações dos estoques pesqueiros. O relatório traça um raio-X da gestão da pesca marinha e estuarina no país com base em quatro eixos: estoques pesqueiros, pescarias, orçamento público e transparência. A análise deles revela um sistema ainda bastante frágil e despreparado para lidar com os impactos climáticos já em curso — como o aumento da temperatura das águas, a alteração das correntes marítimas e a crescente ocorrência dos eventos extremos, como enchentes e secas históricas, que afetaram diretamente a pesca no Rio Grande do Sul e na Amazônia nos últimos meses. A urgência da adaptaçãoSegundo o diretor-científico da Oceana, Martin Dias, “a pesca é uma atividade totalmente dependente do ambiente aquático e qualquer alteração nas condições naturais — como temperatura da água, salinidade, volume de chuvas e ocorrência de eventos extremos — impacta diretamente os peixes e, consequentemente, quem vive da pesca”. Ele explica que essas mudanças já são perceptíveis. “A água mais quente afasta espécies que vivem em águas frias. Peixes que dependem de condições muito específicas para se reproduzir simplesmente não encontram mais essas condições e desaparecem. Isso já acontece em locais como a Lagoa dos Patos, no Sul, e nos rios da Amazônia.” Dias lembra que até onde a gestão pesqueira é avançada, os prejuízos são inevitáveis. “Mesmo países que fazem muito bem sua lição de casa — como o Chile — estão sofrendo perdas milionárias. O Brasil, que ainda monitora muito pouco e não atualiza sua legislação, está muito mais vulnerável. Nós não sabemos, por exemplo, quanto de sardinha pode ser pescado no ano que vem, porque não existe acompanhamento sistemático desse estoque.” Na Amazônia, a seca histórica afetou severamente as comunidades ribeirinhas, que viram a pesca se tornar escassa diante da falta de água e da morte de peixes. “A mudança já aconteceu. Estamos vivendo uma emergência climática”, afirma Josana Pinto da Costa, pescadora artesanal do Pará. No Sul, o excesso de chuvas também impôs prejuízos: “2024 foi o pior ano de pesca para nós, por conta dos fatores climáticos. O mar ficou mais violento, com mais lixo, e isso atrapalha demais a pescaria”, relata Daniel da Veiga, pescador artesanal do Rio Grande do Sul.
Baixo orçamento e avanços limitadosApesar de um aumento de 85% no orçamento do Ministério da Pesca e Aquicultura em 2024 (R$ 350 milhões), o valor ainda é o segundo menor entre os ministérios do Executivo Federal. Apenas 39% desse recurso foi executado no ano passado, tendo sido investido somente R$ 32 milhões nas ações finalísticas de pesca. Segundo Zamboni, “grande parte desse investimento foi para programas sociais relacionados à pesca e uma parte muito grande para a máquina funcionar. Sobrou muito pouco recurso para ações que levem à sustentabilidade e à melhor gestão da pesca.”
Ele aponta falhas graves, como a falta de monitoramento, de estatística pesqueira, de medidas de controle das pescarias, e questiona: “Como saber a eficácia das medidas de gestão se não fazemos monitoramento? Como garantir que, ao conceder licenças de pesca, estamos autorizando um número sustentável de embarcações se não controlamos o desembarque, nem produzimos dados confiáveis? Sem informação, não há como tomar decisões consistentes — e isso é crítico para a política pública”. Mesmo com avanços, como é o caso do funcionamento integral dos fóruns de consulta e assessoramento (Comitês Permanentes de Gestão da Pesca), a ausência de dados públicos sobre a produção pesqueira e o estado dos estoques, ainda limita o controle social e o planejamento técnico. Caminhos possíveisA Auditoria da Pesca reforça a necessidade de um plano nacional estruturado de monitoramento, avaliação e adaptação das pescarias, com base na ciência, contemplando questões chave como emergência climática, sustentabilidade e justiça social. Para Martin Dias, a aprovação do Projeto de Lei 4789/2024, atualmente em discussão no Senado, pode ser um divisor de águas para a gestão pesqueira no Brasil. “Esse Projeto de Lei torna obrigatória a elaboração de planos de gestão, o monitoramento dos estoques e a responsabilização do governo por essas entregas. Hoje, tudo isso depende da boa vontade de quem ocupa a pasta. A proposta cria diretrizes claras e vincula essas responsabilidades à autoridade pesqueira”. Zamboni vai além. “Já passamos do tempo de agir. Adaptar as pescarias à nova realidade climática custa dinheiro, exige investimento, planejamento e mudança de práticas. Mas o custo de não fazer nada será muito maior — em vidas, empregos e alimentos”. | A A |
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A A | Plano Brasil Soberano traz alívio à indústria e mantêm espaço para negociações com os EUA, avalia presidente da CNIDéborah SouzaO presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, avaliou positivamente as medidas anunciadas pelo governo no âmbito do Plano Brasil Soberano, para enfrentar o aumento de até 50% nas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, avaliou positivamente as medidas anunciadas pelo governo no âmbito do Plano Brasil Soberano, para enfrentar o aumento de até 50% nas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Alban destacou que o plano contempla diversas demandas da indústria, prioriza a continuidade das negociações com os EUA e mantém a abertura para novas ações, caso necessário. “Recebemos positivamente, não só pelas medidas estarem contemplando muitas das nossas demandas que foram feitas pelas indústrias, pelas federações e pelas associações setoriais, mas principalmente porque ela englobou dois conceitos básicos, que seria continuar negociando como prioridade, e o segundo, que se novas medidas forem necessárias, elas serão tomadas”, avalia Alban. O presidente da CNI participou da solenidade de anúncio do Plano Brasil Soberano, na quarta-feira (13), no Palácio do Planalto, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; e os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Plano Brasil Soberano: o tarifaço dos EUA e o impacto sobre exportações brasileirasA decisão dos Estados Unidos de elevar tarifas para até 50% sobre produtos brasileiros, incluindo setores como carne, café e têxteis, gerou preocupação entre os exportadores. Analistas afirmam que o impacto imediato pode ser amenizado por exceções a quase 700 produtos, mas setores como o agronegócio e a indústria de base teriam perdas significativas. Diversificação de mercados, especialmente com a China, fortalece a resiliência brasileira. Plano Brasil Soberano: medidas anunciadasO pacote aprovado inclui:
Alban ressaltou que, além do alívio imediato às empresas, é preciso garantir que as medidas cheguem aos setores mais impactados e sejam acompanhadas de ações estruturais para ampliar a competitividade do país e diversificar mercados de exportação. “O que nós temos que ter o cuidado é que as medidas atinjam a quem precisa, para que a gente possa ter esse movimento contínuo e que dure o menos possível. Todo o fator que também deixou claro é que temos que exacerbar ao máximo possível novos acordos bilaterais, de preferência com o Mercosul, para que nós possamos ter essa abertura de mercado, podemos continuar trabalhando no Custo Brasil, podemos trabalhar na realidade dos nossos juros que não permitem a competitividade e tantos outros itens”, pontuou o presidente da CNI. Plano Brasil Soberano: visão de mercadoA Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) também classificou o pacote de medidas anunciado pelo presidente Lula como positivo. Para a entidade, o Plano Brasil Soberano preserva a competitividade e empregos, ao oferecer crédito, ajustes tributários e prorrogação de prazos no regime de drawback, além de medidas de proteção ao trabalho e possibilidade de compras governamentais. “A Abiquim reconhece o esforço do governo em viabilizar emergencialmente um pacote robusto e abrangente de medidas de apoio aos exportadores impactados com o tarifaço norte-americano. Além desse pacote de contingência e uma abordagem mais setorial, apoiamos uma firme e resolutiva retomada das negociações entre as autoridades comerciais e diplomáticas dos dois países, tendo já sinalizado claramente que existe espaço para mais exclusões de produtos químicos do tarifaço, e reforçamos que outras medidas seriam muito bem-vindas para auxiliar o setor nesse momento”, afirma o gerente de Comércio Exterior da Abiquim, Eder da Silva. O setor químico exporta cerca de US$ 2,5 bilhões anuais em insumos para uso industrial aos EUA, e teme não apenas perdas diretas, mas também prejuízos indiretos para segmentos que dependem desses produtos, como plásticos, calçados, alimentos e vestuário. A Abiquim, em parceria com o American Chemistry Council (ACC), destaca que Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica historicamente complementar, sustentada por cadeias produtivas integradas e pela presença de mais de 20 empresas químicas de capital norte-americano, no país. Segundo a associação, dos 700 itens inicialmente sujeitos à tarifa, cinco já foram retirados da lista, representando cerca de US$ 1 bilhão em exportações preservadas. A entidade identificou ainda 90 outros códigos NCM, equivalentes a aproximadamente US$ 500 milhões anuais, e projeta que as exclusões possam alcançar US$ 1,5 bilhão. No entanto, a ampliação desse montante depende de avanços nas negociações diretas entre Brasil e Estados Unidos. | A A |
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A A | Pessimismo dos empresários da indústria completa oito meses após queda em agostoDéborah SouzaA confiança do empresário industrial brasileiro voltou a cair em agosto, segundo o Índice de Confiança do Empresário Industrial divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A pesquisa registrou 46,1 pontos e permanece abaixo da linha de 50 pontos pelo oitavo mês seguido, que representa sinal de falta de confiança no setor. A confiança do empresário industrial brasileiro voltou a cair em agosto, segundo pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quarta-feira (13). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) registrou 46,1 pontos, recuo de 1,2 ponto em relação a julho, e permanece abaixo da linha de 50 pontos pelo oitavo mês seguido, que representa sinal de falta de confiança no setor. O movimento foi influenciado principalmente pela piora das projeções para os próximos meses. O Índice de Expectativas, que mede a percepção sobre o futuro da economia e das próprias empresas, caiu de 49,7 para 47,8 pontos, acumulando dois meses consecutivos em quadro negativo, após mais de dois anos de resultados positivos. De acordo com o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, a combinação de juros elevados desde o fim de 2024 e o agravamento das incertezas no cenário externo vêm enfraquecendo a confiança. “A confiança vem sendo contaminada pela elevação das taxas de juros desde o final do ano passado. Isso vem contaminando tanto as expectativas quanto a avaliação das condições de negócio. Isso aconteceu ao longo de todo o primeiro semestre deste ano, mas agora em agosto, além disso, a gente tem um agravamento do cenário externo. Trouxe bastante incerteza e certamente isso também ajuda a explicar essa piora nas expectativas”, avalia. Para Hugo Leonard, economista, o resultado mostra que o pessimismo já se tornou estrutural. “O setor industrial segue navegando em águas turbulentas. O fato de este ser o oitavo mês consecutivo abaixo da linha dos 50 pontos indica um quadro estrutural de incerteza, e não apenas um soluço momentâneo. Em termos práticos, esse desânimo na indústria pode se traduzir em menos contratações, cortes de produção e adiamento de projetos. É um alerta não apenas para o setor, mas também para formuladores de política econômica: se a confiança não reagir, a recuperação industrial pode ser mais lenta que o previsto”, analisa. O Índice de Condições Atuais, que reflete a percepção sobre o momento presente, oscilou de 42,4 para 42,6 pontos, mantendo avaliação negativa sobre a situação das empresas e da economia. José Augusto Almeida, sócio e head de Inteligência e Dados da empresa Rock Mais, observa que o cenário já afeta diretamente decisões estratégicas. “Quando a confiança da indústria se mantém abaixo da linha do otimismo por vários meses, o reflexo no mercado é claro, empresas adiam investimentos, desaceleram contratações e evitam assumir riscos. Esse comportamento cria um efeito em cadeia, apertando fornecedores, reduzindo demanda por insumos e pressionando cadeias produtivas”, explica. O ICEI é apurado mensalmente pela CNI e nesta edição ouviu 1.177 empresas, sendo 474 de pequeno porte, 423 de médio porte e 280 de grande porte, entre 1º e 7 de agosto de 2025. | A A |
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A A | O Vale do Silício cobiça a energia de ItaipuMaior hidrelétrica do país entra na agenda de domínio digital dos EUA, que exige eletricidade abundante para seus datacenters. Por isso, Marco Rubio já anuncia interesse norte-americano às custas de infraestrutura alheia, energia barata, impactos ambientais e soberania enfraquecida Por Isabela Rocha e Camila Modanez, no The Conversation Brasil A Usina Hidrelétrica de Itaipu, localizada entre o Brasil e o Paraguai e inaugurada em 1984, é uma das maiores produtoras de energia limpa do mundo e símbolo histórico da cooperação Sul-Sul. Erguida às margens do Rio Paraná, a partir de um tratado bilateral assinado em 1973, Itaipu representou não apenas um feito de engenharia, mas um marco diplomático de solidariedade energética e integração regional. Durante décadas, sua produção abasteceu ambos os países com eletricidade renovável, garantindo ao Paraguai um excedente energético que era majoritariamente vendido ao Brasil. No entanto, com o vencimento dos dispositivos normativos do tratado em 2023 que previam a venda destes excedentes exclusivamente ao Brasil, abriu-se uma brecha explorável por atores externos. Numa declaração recente no Senado americano, o secretário de Estado Marco Rubio deu uma indicação do interesse em reconfigurar o uso desse recurso estratégico sob lógicas que favorecem cadeias digitais globais. Rubio afirmou que o Paraguai seria uma escolha inteligente para a instalação de data-centers, dada a abundância energética que não pode ser simplesmente armazenada e exportada. O objetivo parece claro: usar o Paraguai como base energética para a infraestrutura de Inteligência Artificial da potência norte-americana, transformando seu excedente energético em insumo para um modelo de dependência tecnológica. Energia para dados está na agenda do Meta-TrumpismoNa prática, Rubio é coerente com a agenda do Meta-Trumpismo da Casa Branca: inserir o Sul Global, e a América Latina, na cadeia produtiva como subordinados ao Norte, impondo autoridade sobre o que nossos vizinhos consideram seu quintal. Para manter servidores operando 24 horas por dia de forma estável, datacenters demandam quantidade colossal de energia. Com seu avanço exponencial, especialmente no uso de modelos de linguagem e sistemas de visão computacional, a Inteligência Artificial tem transformado os datacenters em verdadeiros complexos industriais e, com isso, a demanda energética dessas estruturas tem se tornado ainda mais crítica. Empresas como Google, Amazon e Microsoft já reportaram que seus maiores gargalos operacionais para expansão de IA estão justamente na escassez de energia disponível para manter suas operações. Mais do que isso, datacenters também consomem enormes volumes de água para resfriamento, um recurso frequentemente invisibilizado nos cálculos de custo e de impacto ambiental. Consumo de água para datacenters já provoca risco de escassezNos Estados Unidos, já há registros de cidades pequenas sendo afetadas por esse modelo: em The Dalles, no estado do Oregon, o Google consumiu em um único ano o equivalente a um quarto do abastecimento total da cidade. No Arizona e em partes da Virgínia, comunidades locais já enfrentam riscos concretos de escassez hídrica, agravados pelo consumo massivo de água necessário para resfriar esses centros. A instalação acelerada dessas infraestruturas, sem transparência ou regulação adequada, tem pressionado aquíferos, comprometido o abastecimento municipal e despertado reações legislativas em defesa da soberania sobre os recursos hídricos. O excedente limpo e barato da Itaipu, assim, tornou-se alvo natural para uma nova forma de exploração: não apenas energética, mas também hídrica e territorial. Em vez de impulsionar a industrialização local ou atender às necessidades sociais da população, essa energia passaria a sustentar infraestruturas digitais controladas por corporações estrangeiras. É isso o que já tem acontecido com o Brasil, que optou pelo clientelismo e gastou cerca de R$ 23 bilhões com soluções de TI, como indicado no estudo que realizamos em parceria com a USP e a UnB, ao invés de desenvolver sua própria infraestrutura tecnológica soberana. Com este valor, por exemplo, poderíamos ter construído pelo menos 86 datacenters brasileiros de tier 3. Datacenters importados não serviriam aos interesses do Brasil, do Paraguai, da América Latina, muito menos do Sul Global como um todo. Tratam-se de corporações sediadas no Norte Global, que operam sob lógicas de extração e acumulação que garantem que tanto os lucros quanto o controle sobre os dados migrem para fora. Fica claro que o atual governo americano visa apropriar-se de nossos recursos para dar continuidade ao seu projeto de domínio digital, sustentado por infraestrutura alheia, energia barata e soberanias enfraquecidas. E enquanto isso, a infraestrutura permanece aqui: consome nossa energia, ocupa nosso território e impõe custos ambientais, sem garantir sequer o acesso equitativo aos produtos que ajudamos a construir. Esse é um dos perigos do Plano Redata, do ministro da Fazenda Fernando Haddad. Embora apresente-se como um esforço para reindustrializar o país por meio da digitalização e da economia verde, o programa carece de salvaguardas robustas contra a captura da infraestrutura pública por interesses do governo Trump e seus aliados. A retórica de sustentabilidade, centrada na linguagem ESG e na valorização da energia limpa como vantagem comparativa, acaba servindo de justificativa para atrair datacenters estrangeiros que exploram essa energia renovável sem contrapartidas reais em soberania digital ou desenvolvimento local. Ao priorizar a atração de datacenters e megainvestimentos tecnológicos com base na disponibilidade de energia verde, mas sem condicionar sua instalação à soberania sobre os dados, à propriedade do conhecimento gerado e ao controle dos recursos energéticos utilizados, o plano em verdade institucionaliza a subordinação do Brasil dentro da cadeia global da Inteligência Artificial. Na prática, isso significa reforçar o tripé da colonização contemporânea: fornecemos o território para instalação da infraestrutura, a energia, limpa e barata, e os dados produzidos por nossa população, enquanto o Norte Global detém os algoritmos, os lucros e a governança. Nesse meio tempo, os esforços por regulamentação seguem presentes, mas com pouco retorno. Nesse marco, é importante destacar que a própria governança da internet brasileira vem sendo alvo de ataques recorrentes: a FrenCyber (Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e à Defesa Cibernética), criada sob influência direta de setores militarizados e think tanks alinhados a Washington, atua como ponta de lança para reverter os princípios democráticos que estruturam a arquitetura digital brasileira. Ao mesmo tempo, o Projeto de Lei 4557/2023, que visa transferir a supervisão do Comitê Gestor da Internet (CGI.br) para a Anatel representa um claro movimento de desmonte institucional. O CGI.br, referência internacional em governança multissetorial e civil da internet, passaria a ser subordinado a uma agência reguladora tradicional, tecnocrática e vulnerável a pressões políticas das Big Techs. Isso abriria espaço para o avanço de interesses corporativos transnacionais e enfraqueceria drasticamente a capacidade da sociedade civil de influenciar os rumos da política digital nacional. Se implementado com sucesso, o plano de Washington marcará uma ruptura profunda na história de Itaipu e no próprio sentido da integração regional sul-americana. O que antes foi símbolo de solidariedade energética e cooperação soberana entre Brasil e Paraguai corre o risco de ser ressignificado como ativo estratégico a ser instrumentalizado por potências externas. Em defesa do Sul GlobalEm vez de aprofundar a cooperação Sul-Sul em torno da transição energética, da soberania tecnológica e do desenvolvimento compartilhado, essa nova etapa no plano civilizatório do Meta-Trumpismo expõe os países da região, para além do Brasil, a pressões que reeditam formas clássicas de subordinação, agora revestidas pela linguagem da inovação e da sustentabilidade. A usina que nasceu de um tratado entre vizinhos será apropriada como ferramenta para a consolidação de infraestruturas tecnológicas coloniais, nas quais o Sul Global cumpre a função de fornecedor passivo de insumos estratégicos: sem decidir, sem comandar, sem se beneficiar. Defender Itaipu hoje é defender o direito do Sul Global de existir como sujeito político diante de uma nova ordem digital que o quer, novamente, como periferia. E o predadorismo do Meta-Trumpismo se revela justamente na capacidade de articular política externa, capital privado e retórica tecnológica para reconfigurar a região como uma extensão funcional da infraestrutura digital norte-americana. Trata-se de uma forma de intervenção sem tanques nem tropas, mas com cabos, servidores e algoritmos. Uma reconversão da dependência, onde o domínio se faz pelo controle da base material da computação. Se não enfrentarmos essa reconfiguração com coragem política, lucidez estratégica e compromisso regional, aceitaremos, sem resistência, sermos redesenhados como colônia digital da era da Inteligência Artificial, com nosso território, nossa energia e nossa cognição postos a serviço de infraestruturas que não controlamos, para fins que não decidimos. Defender a soberania tecnológica hoje é disputar nosso destino político: é recusar ser o backend de um império em decadência enquanto nos vendem a fantasia da inovação. É exigir que a Inteligência, antes de Artificial, seja nossa. | A A |
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A A | Pequena indústria enfrenta piora nas finanças pelo terceiro trimestre seguido, aponta CNIDéborah SouzaNo segundo trimestre de 2025, as condições financeiras da pequena indústria caíram 0,3 ponto, passando de 40,6 para 40,3, conforme o Panorama da Pequena Indústria (PPI) da CNI. A queda é atribuída à dificuldade de acesso ao crédito, redução da lucratividade e impacto dos juros altos. As condições financeiras da pequena indústria registraram queda de 0,3 ponto entre o primeiro e o segundo trimestre de 2025, segundo o Panorama da Pequena Indústria (PPI), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na segunda-feira (11). O recuo de 40,6 pontos para 40,3 reflete dificuldades de acesso ao crédito, queda na lucratividade e impacto da elevação da taxa de juros. “As condições financeiras da pequena indústria pioraram um pouco na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2025. Uma das explicações é a elevação da taxa de juros, que afeta diretamente a questão de acesso ao crédito. A gente percebe uma melhora das condições financeiras de uma forma geral também, o que pode ser atrelado à taxa de juros, uma vez que as dívidas ficam mais caras para as empresas. E, finalmente, a própria lucratividade também é afetada”, afirma o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo. O indicador vem em queda desde o fim de 2024. Apesar da piora nas finanças, o índice de desempenho do setor melhorou, com aumento na produção e maior utilização da capacidade instalada. A pesquisa mostra que as taxas de juros elevadas foram o principal problema da pequena indústria da construção no segundo trimestre, citadas por 37,3% dos entrevistados, seguidas da carga tributária (35,6%) e da falta ou alto custo de mão de obra não qualificada (24,6%). A competição desleal, causada por informalidade, contrabando ou outros fatores, foi o problema que mais cresceu, passando de 14,4% para 22% em relação ao primeiro trimestre. Na indústria de transformação, a carga tributária continua no topo das preocupações, apontada por mais de 40% dos empresários. Já a demanda interna insuficiente e os juros altos dividem a segunda posição, com 27% cada. A competição com importados apresentou o maior avanço no período, de 8,3% para 12,3%. Cenário da pequena indústria: tecnologia e educação como pilares do crescimentoPara Daniele Trindade, diretora de Operações da Trindade Soluções Construtivas, o avanço do setor da construção civil no Brasil depende do equilíbrio entre acesso a crédito, inovação e formação de mão de obra. “A nossa jornada de crescimento fica bem mais lenta, porque limita o nosso acesso às linhas de crédito para ampliação. E isso se aplica aos clientes também, pois eles também buscam linhas de crédito para adquirir os nossos produtos. Esse desempenho melhorou porque a indústria da construção civil tem um grande impacto na economia nacional, o que acaba refletindo em mais empregabilidade e movimentação da economia”, explica. Ela destaca que a tecnologia e a inovação têm sido aliadas estratégicas para otimizar a produtividade com menos custos, mesmo diante do desafio de encarar a competitividade internacional. “É muito complicado a gente conseguir a competitividade com circuitos que são importados da China, porque eles fazem lá em em grande escala e com custo muito inalcançável para outros países. Eu acredito que o desafio é a gente conseguir equilibrar a importação desses insumos de forma que a gente consiga integrar na nossa cadeia produtiva e aumentar a nossa competitividade, dentro do aspecto de qualidade para o nosso consumidor final”, pontua. “Por aqui, para a gente ter competitividade, a gente acaba focando muito em inovação e tecnologia, para a gente melhorar os nossos processos de produção”, completa. Além de modernizar processos produtivos, Daniele enxerga que a educação tem papel transformador para ampliar o consumo consciente e a qualificação técnica. “Eu acredito muito na educação de mercado como vetor para desenvolvimento social e econômico. A gente está cada vez mais integrado com os eixos de P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] dentro das faculdades, que conectam bem a nossa cadeia de consumidores com bons critérios de consumo, como a sustentabilidade”, afirma. Cenário da pequena indústria: índice de desempenhoApesar da pressão financeira, o índice de desempenho da pequena indústria subiu de 44,7 para 45,9 pontos no segundo trimestre, puxado pelo aumento no volume de produção, melhor utilização da capacidade instalada e crescimento do número de empregados. O terceiro trimestre, no entanto, começou com sinais de cautela. Em julho, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) das pequenas indústrias caiu para 46,7 pontos, acumulando recuo em cinco dos últimos sete meses. As perspectivas também encolheram: o índice que mede as expectativas para os próximos meses recuou para 48 pontos, registrando queda em dois dos últimos três meses. O PPI é divulgado trimestralmente e reúne dados da Sondagem Industrial, da Sondagem Indústria da Construção e do ICEI. | A A |
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A A | Lideranças jovens crescem na indústria, aponta estudoDéborah SouzaJovens de 21 a 40 anos estão ganhando espaço no comando das indústrias brasileiras e já representam 27,9% dos sócios do setor, segundo o estudo Empreendedorismo Industrial – O perfil dos novos líderes, do Observatório Nacional da Indústria em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Jovens de 21 a 40 anos estão cada vez mais presentes no comando de indústrias brasileiras, redesenhando o perfil da liderança empresarial no país. Eles já representam 27,9% dos sócios no setor e foram responsáveis por 8,1% das contratações formais entre 2022 e 2023, quase o triplo das realizadas por empresas sem participação de jovens. Os dados fazem parte do estudo Empreendedorismo Industrial – O perfil dos novos líderes, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria, em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). O levantamento mostra que essa nova geração chega com mentalidade mais digital, com foco em inovação e sustentabilidade, mesmo em empresas de cultura tradicional. Segundo a gerente de carreiras e desenvolvimento empresarial do IEL, Michelle Queiroz, empresas com sócios jovens crescem mais e geram mais empregos por reunirem fatores como mentalidade mais arrojada, domínio de tecnologias emergentes, tolerância ao risco e capacidade de adaptação. “Os jovens líderes trazem energia, questionamento e propósito, enquanto os mais experientes oferecem visão estratégica e estabilidade. Quando bem conduzido, esse equilíbrio resulta em maior capacidade de geração de empregos, transformação cultural e impacto positivo no setor industrial”, destaca. Um exemplo é Diana Castro, 39 anos, coordenadora nacional do Movimento Novos Líderes Industriais e sócia da Hebert Uniformes, empresa de sua família, com 63 anos de história na indústria de confecção da Bahia. Para ela, o preparo para assumir a liderança de uma empresa familiar exige maturidade, capacitação e visão estratégica. “Eu acredito que sucessão não é apenas sobre quem assume. É um compromisso que ele vai além da empresa. Quando a gente fala de empresa familiar, envolve todo um legado que foi construído, uma história de muitas pessoas, impacta a empresa, a comunidade, todo o setor. Essa transição de cargos é um compromisso que a gente tem com a história da empresa e com a história da nossa família”, afirma. O estudo aponta que empresas industriais com mais de uma geração no quadro societário crescem três vezes mais. Nos próximos anos, mais de 100 mil indústrias brasileiras deverão passar por processos de transição de liderança. Para Diana, o segredo de uma sucessão bem-sucedida está na governança. “Não basta escolher alguém por um simples grau de parentesco. É preciso preparar essa pessoa, dar uma autonomia para essa nova geração. Então, quando existe governança, essas diferenças entre as gerações e essa missão da nova geração que está assumindo passa a ser realmente um diferencial estratégico para a empresa”, avalia. Novos líderes: mudança de perfilHoje, quatro gerações convivem nas empresas: Baby Boomers (1945-1964), Geração X (1965-1984), Millenials ou Geração Y (1985-1999) e Geração Z (a partir de 2000). Há 108 mil indústrias no Brasil com pelo menos um sócio de 61 anos ou mais, sinalizando uma transição gradual em que líderes experientes cedem espaço para novos perfis. Ainda assim, a renovação no setor industrial é mais lenta que em outros segmentos, devido ao perfil técnico e à curva de aprendizado mais longa. Baby Boomers ainda ocupam 21,7% dos cargos de liderança na indústria, acima da média nacional. “Ao apoiar lideranças jovens e sucedidas em todo o Brasil, o IEL contribui para que a transição deixe de ser uma ruptura e se torne uma alavanca de crescimento e longevidade empresarial no setor industrial”, reforça a gerente de carreiras do IEL. Novos líderes: liderar com propósitoA trajetória de Diana também foi moldada por sua participação em iniciativas do IEL. Sua empresa integrou a primeira turma do programa Inova Talentos, no qual ela atuou como mentora, e hoje ela lidera nacionalmente o Movimento Novos Líderes Industriais, que fomenta a troca de experiências entre jovens empresários. “O IEL foi um catalisador muito importante na minha trajetória. Eu trabalho na indústria há 15 anos e a gente tem uma tendência inicial a ficar muito na operação. Então, ele me fez olhar para a empresa e para a indústria como um todo de uma forma mais estratégica. Na verdade, não só o IEL, como todo o sistema de indústria, eles ajudaram nesse olhar do ecossistema da indústria de forma mais ampliada”, destaca. O IEL oferece programas para formar líderes desde o ensino médio, como o Projeto de Vida e Carreira, o IEL Carreiras, que desenvolve estagiários com perfil de liderança, e até capacitações executivas, como o Programa IEL Educação Executiva Global. A agenda inclui ainda fóruns, mentorias e projetos, como o Jornada de Sucessão Empresarial, que auxilia herdeiros e empresários no processo de transição. | A A |
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A A | Patentes: trinta anos de submissão e dependência
Há três décadas, Brasil curvava-se ao TRIPS, acordo da OMC que regulamentou propriedade intelectual para garantir fartos lucros à Big Pharma. É hora de enfrentar seus efeitos, se quisermos reverter devastação na indústria nacional e garantir mais remédios à população Saúde é dependência? Há 30 anos, o Brasil aderiu de bom grado a um acordo que dinamitou sua indústria farmacêutica e encareceu o preço dos remédios para a população e para o SUS. Até então, não admitia-se patentes a medicamentos no país. Mas, em 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso teve pressa em aderir a um tratado da Organização Mundial do Comércio (OMC) que regulamentava o registro de propriedade intelectual, inclusive de medicamentos. Hoje, é possível perceber que o resultado foi a drenagem de recursos nacionais a corporações estrangeiras e uma indústria vulnerável e dependente. O nome do instrumento que fez o Brasil curvar-se à Big Pharma é Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, ou Acordo TRIPS. “Nos dias de hoje, está absolutamente claro que o Acordo TRIPS resultou em uma harmonização mundial do regime de propriedade intelectual em benefício dos detentores da grande maioria das patentes”, a exemplo de “Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Alemanha, Suíça e Japão”. Assim descreve Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as consequências da vigência do Acordo. O fato de que as patentes farmacêuticas foram incluídas no tratado como um de seus pilares trouxe imensos impactos negativos também ao Brasil, devido a uma série de erros, em que se incluem a aprovação apressada de uma nova Lei de Patentes em 1996. “No plano do Complexo Industrial da Saúde, a grande maioria das patentes é de propriedade da Big Pharma. No Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que é o órgão brasileiro que tem como missão avaliar e conceder registros de propriedade intelectual, cerca de 90% das patentes depositadas em todos os setores industriais pertencem a não residentes no Brasil”, aponta Guimarães. A despeito de importantes medidas que mitigaram algumas distorções, o pós-TRIPS teve como consequência o aumento do preço de muitos medicamentos, onerando a população e também o Sistema Único de Saúde (SUS). Outros países do Sul Global, como Índia e China, viveram outros processos, ao tomarem decisões políticas distintas no processo de adesão ao Acordo TRIPS e à Organização Mundial do Comércio (OMC). Em entrevista a Outra Saúde, pesquisadores e ativistas apresentam medidas – entre elas, a utilização mais ousada das chamadas “quebras de patente” – para enfrentar os efeitos devastadores decorrentes do Acordo TRIPS, em especial a crise do acesso a medicamentos. “O Brasil precisa colocar a licença compulsória no horizonte, não pode se acovardar frente ao poder da Big Pharma. Somos um grande mercado, temos instituições de pesquisa, capacidade produtiva”, defende Veriano Terto Jr., vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (Abia). Futuro entregue à “exploração primeiro-mundista”Para Reinaldo Guimarães, a aprovação do Acordo deve ser compreendida nos marcos da correlação de forças vigente no mundo há trinta anos: “Essa nova etapa do capitalismo e a criação da OMC/Trips, ambos liderados pelos EUA, ocorreram após o desaparecimento da URSS e do campo chamado de ‘socialismo real’ e foram radicalizados na década de 1990, na conjuntura do unilateralismo”. A adesão à Organização Mundial do Comércio foi vinculada à assinatura do TRIPS – o que, em um momento de apogeu das ideias do livre comércio e da globalização neoliberal, levou muitos países a aceitar os termos do tratado, que se mostrariam amplamente desvantajosos para o Sul Global. A duração mínima de vinte anos das patentes, bastante longa, foi uma das imposições da “uniformização” promovida pelo Acordo. “A repercussão do TRIPS no Brasil foi quase imediata, pois o governo de Fernando Henrique Cardoso, no meu ponto de vista, foi muito aderente à geopolítica unilateral e com maioria no Congresso, decidiu aprovar a toque de caixa, em 1996, uma nova Lei de Patentes” que atendia às exigências do tratado, avalia o vice-presidente da Abrasco. A legislação vigente até aquele momento, o Código da Propriedade Industrial, não admitia a concessão de patentes para “produtos […] químico-farmacêuticos e medicamentos, de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação”. Já sobre a nova lei, que vigora até hoje e facilitou significativamente as concessões a empresas do exterior, o então senador Darcy Ribeiro escreveu no ano de sua aprovação que ela “entrega nosso futuro de mãos atadas à exploração primeiro-mundista”. O presidente FHC “aderiu ao neoliberalismo e nos está vendendo barato”, disparou o parlamentar. Os efeitos da Lei nº 9724/96 podem ser mensurados em números. “Até 1996, a relação entre depositantes de patentes não-residentes e residentes no Brasil era aproximadamente de 70% para 30%. No ano seguinte saltou para 80% e em 2010 atingiu quase 90%”, relata Guimarães. Nos marcos de uma economia crescentemente penetrada pelo capital internacional, as grandes farmacêuticas do Norte Global figuram com proeminência. Segundo a Plataforma de Dados de Patenteamento do Setor Farmacêutico, há dez vezes mais patentes de medicamentos em nome de estrangeiros do que registros por laboratórios nacionais. Seguiu-se daí a ameaça de uma forte alta no custo dos remédios, e o governo brasileiro foi obrigado a promover ações que mitigassem os efeitos da legislação aprovada para colocar o país em conformidade com o Acordo TRIPS. Em entrevista do ano passado a este boletim, Reinaldo Guimarães indicou três delas: a aprovação da Lei de Genéricos, a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, em 2003, a inauguração de uma política de restrição ao preço de alguns fármacos por meio da criação da Câmara de Controle de Preços de Medicamentos (esta última, como já debateu Outra Saúde, uma ferramenta mais limitada do que parece). Com estes mecanismos, o custo final de diversos medicamentos – ainda que não de todos – se reduziu para a população. O que não pôde ser mitigado foi o déficit na balança comercial da Saúde, que só cresceu desde então. A Lei de Patentes pós-TRIPS feriu de morte a indústria nacional de Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAs), as substâncias químicas que servem como base de medicamentos, e o Brasil aprofundou sua dependência da importação desses insumos essenciais para a sua fabricação. Estimativas do Ministério da Saúde (MS) apontam que o déficit da saúde chegou a R$20 bilhões no ano passado, o quádruplo da cifra registrada em 2000. Se há 30 anos o Brasil produzia 50% dos IFAs que consumia, o país hoje importa 90% dos IFAs e 50% dos equipamentos médicos que utiliza, ainda segundo os dados do MS. Em outubro passado, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que “nós importamos 55% de tudo que compõe o Complexo Industrial da Saúde” — um projeto que, pelo contrário, deveria ser símbolo da soberania sanitária do país. Quebrar patentes ou aceitar licenças voluntárias?Frente a tantas consequências negativas, Guimarães lembra que o Brasil não precisava ter reformado sua legislação patentária com tanta pressa. O pesquisador da UFRJ explica: “O Trips previa um ‘período de graça’ de sete anos para que as indústrias dos países se adequassem ao novo regime. A Índia, por exemplo, usou os sete anos. A China só entrou para a OMC em 2001. Já o Brasil resolveu aderir imediatamente. Além disso, a lei aprovada foi ainda mais rígida [que as exigências do TRIPS] na defesa dos proprietários de patentes, por exemplo, admitindo o reconhecimento retroativo de patentes cujo período de proteção já havia vencido. Esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF apenas recentemente, no bojo da pandemia de covid-19”. Ainda em 2001, a luta dos países em desenvolvimento para reduzir as distorções causadas pelo tratado resultou na adoção da Declaração de Doha sobre o Acordo TRIPS e a Saúde Pública. Em meio às preocupações com o avanço da pandemia do HIV, a declaração deu aos Estados o direito de decretar a licença compulsória – medida popularmente conhecida como “quebra de patente”, quando um país decide parar de pagar os royalties de um produto – de um medicamento em contextos de crise sanitária. Em um caso paradigmático, no ano de 2007, o Brasil exerceu essa “flexibilidade do TRIPS” e quebrou a patente do efavirenz, um importante remédio para o tratamento do HIV, durante a gestão de José Gomes Temporão no Ministério da Saúde. No entanto, a corajosa medida nunca mais se repetiu. Por sua vez, um país como a Índia emprega regularmente a licença compulsória e possui uma legislação extremamente desfavorável à concessão de patentes para empresas estrangeiras, o que fomenta uma colossal indústria nacional de medicamentos genéricos. A experiência indiana já foi apresentada por este boletim em uma série de matérias. Para tornar a situação mais complexa, a Big Pharma desenvolveu a estratégia das licenças voluntárias, em que abre mão da patente de determinados medicamentos, mas apenas em um número reduzido de países que elas mesmas selecionam. “Com a expansão das licenças voluntárias, as empresas fomentam uma ‘solidariedade corporativa’. Excluem alguns povos do acesso a medicamentos, mas outros não. Com isso, conseguiram em parte que a Saúde deixasse de ser um ponto de tensão no TRIPS”, explica Susana van der Ploeg, advogada do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI), que acompanha a contestação de diversas patentes imerecidas que possuem essas corporações. Em geral, por ser um país considerado de renda média, o Brasil costuma ser excluído dos acordos de licença voluntária, e paga o preço cheio de diversos medicamentos que o SUS oferece gratuitamente. Assim, o orçamento da Saúde vai sendo escoado em remessas a empresas estrangeiras. Um caso particularmente ilustrativo é o do dolutegravir, explica Susana, um remédio para tratar o HIV. Excluído de uma licença voluntária concedida a vários países do Sul Global, o Brasil firmou um acordo de transferência de tecnologia com a farmacêutica britânica GSK/ViiV para produzir o medicamento em Farmanguinhos, laboratório estatal ligado à Fiocruz. No entanto, os termos desse entendimento não foram tornados públicos – e a cifra que o Ministério da Saúde paga pelo dolutegravir ainda é de 20 vezes o valor internacional. Enquanto o MS compra a unidade do fármaco por R$ 4,40, o preço é de R$ 0,22 na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro fez história ao emitir uma licença compulsória para o dolutegravir. Na Argentina, a patente do medicamento não foi nem concedida. “O governo brasileiro está pagando muito caro. Está sendo extorquido pela indústria farmacêutica transnacional, por empresas como ViiV, Gilead, GSK, Pfizer e Moderna”, alerta Susana. Que fazer?Não obstante as licenças compulsórias e voluntárias, multiplicam-se as “crises de acesso” em que milhares ou milhões de pacientes não conseguem obter os remédios de que precisam, já que o Acordo TRIPS garantiu ampla margem para que as corporações tenham a palavra final sobre o preço dos medicamentos e vacinas que comercializam. Especialmente no caso de enfermidades como a tuberculose, a hepatite C e o HIV/aids, consideradas doenças negligenciadas ou associadas a grupos vulneráveis, o alto custo pode levar à não-aquisição dos medicamentos por governos, em especial os de países do Sul Global com parcos recursos. Para muitos, trata-se de uma sentença de morte. No Brasil, que possui um sistema como o SUS e garante a distribuição gratuita de uma série de medicamentos, a população pode até não ficar sem os remédios – mas o custo desse fornecimento torna-se altíssimo para o poder público. Na visão de Reinaldo Guimarães, um importante passo para enfrentar essas distorções está na reorientação dos organismos de Estado que regem a política de propriedade intelectual. “No Brasil, o órgão-chave nessa questão das patentes é o INPI que, na minha opinião é tradicionalmente penetrado por conflitos de interesse derivados da presença de escritórios de advocacia, tanto lá quanto principalmente no órgão formulador da política brasileira, que é o Grupo Interministerial sobre Propriedade Intelectual”, ele avalia. A advogada do GTPI, Susana van der Ploeg, e o vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Veriano Terto Jr., participaram neste ano da 3ª Cúpula Global sobre Propriedade Intelectual e Acesso a Medicamentos, que teve o tema “TRIPS@30: A Crise do Acesso”. Realizada no Marrocos de 13 a 15 de maio, a conferência reuniu comunidades, governos e organizações internacionais “para debater os impactos do Acordo TRIPS na saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda”. Susana, que apresentou na Cúpula o intrincado caso do dolutegravir, destaca que a mobilização social é considerada indispensável para reverter o atual cenário. “O caminho mais discutido na Cúpula para superar os efeitos negativos do Acordo TRIPS foi a conscientização das populações, especialmente as mais vulneráveis, sobre os impactos do Acordo TRIPS e unir isso à luta mais ampla, fortalecendo a oposição às patentes”, disse. Além disso, como destacou Veriano, o Brasil precisa usar todo seu peso econômico, político e científico para “colocar a licença compulsória no horizonte” e “não se acovardar frente ao poder da Big Pharma“. Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas e uma não-desprezível rede de centros de pesquisa e produção, o país tem condições privilegiadas para negociar a sério com as farmacêuticas estrangeiras e impedir a imposição de tantas barreiras ao acesso a medicamentos. “Também precisa ser mais corajoso e democratizar as negociações para incorporação de inovações. As grandes indústrias farmacêuticas internacionais concentram grande poder. Ter mais atores, negociar de forma intersetorial, envolvendo a sociedade civil, por exemplo, reforça o poder nacional para enfrentar negociações que realmente interessem ao país”, ele defende. “O Brasil precisa aplicar as licenças compulsórias, parar de conceder tantas patentes para medicamentos e voltar a ter uma política coerente com o SUS. O SUS tem que ser a prioridade, e não o lucro farmacêutico. [Em situações como a do dolutegravir,] Farmanguinhos deve cumprir sua função social, e não ser um laboratório para o enriquecimento alheio”, complementou a advogada do GTPI. Além disso, no último período, o governo da Colômbia tem encabeçado a defesa de uma “revisão exaustiva” do Acordo TRIPS. Em pronunciamento no Conselho Geral da OMC, o representante colombiano destacou que “a propriedade intelectual está no centro dos debates mais importantes de nosso tempo, como a saúde humana”. A proposta apresentada no ano passado pelo país prevê a realização de um estudo sobre o uso das licenças compulsórias e a concentração mundial da produção em um pequeno número de países. Os governos do mundo, incluindo o brasileiro, realmente se comprometerão com esta proposta? Resta ver. No entanto, os fatos mostram que, mesmo que não tome o passo de revisar sua Lei de Patentes entreguista, o Brasil dispõe de inúmeras opções para defender o direito à saúde, fortalecer sua soberania sanitária e promover o acesso a medicamentos. “Os caminhos estão colocados pelo próprio Acordo e suas revisões, como a Declaração de Doha. O que é preciso é força, vontade e decisão política dos países para, de forma individual ou coordenada, implementar as próprias flexibilidades do TRIPS e desta forma, ampliar e democratizar a transferência de tecnologia, pesquisar e desenvolver fármacos, reforçar a produção nacional e promover a concorrência de preços de forma a termos um acesso mais justo, universal e sustentável”, concluiu Veriano. | A A |
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Confiança da indústria segue em baixa e completa seis meses abaixo da linha dos 50 pontosLívia BrazA confiança dos empresários da indústria continua em baixa no Brasil. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor chega ao sexto mês consecutivo com o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) abaixo da linha dos 50 pontos — o que sinaliza um cenário de desconfiança generalizada. A confiança dos empresários da indústria continua em baixa no Brasil. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor chega ao sexto mês consecutivo com o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) abaixo da linha dos 50 pontos — o que sinaliza um cenário de desconfiança generalizada. Em junho, o ICEI registrou uma leve queda, de 48,9 para 48,6 pontos. Embora a variação seja pequena, ela reforça uma tendência de cautela entre os industriais, especialmente em relação ao rumo da economia nos próximos meses, explica Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI. “Os empresários mostraram um otimismo mais moderado, quando se fala das expectativas com relação às suas próprias empresas. Mas com relação à economia brasileira, houve uma queda mais forte, um aumento do pessimismo nessa passagem de maio para junho.” A pesquisa revela que, mesmo com uma discreta melhora na percepção das condições atuais — que subiu 0,1 ponto, chegando a 44,1 — o sentimento geral ainda é de insatisfação. Quando abaixo de 50 pontos, esse indicador mostra que os empresários veem o momento presente de forma negativa, tanto em relação à própria empresa quanto ao ambiente econômico mais amplo. Já o componente que mede as expectativas para os próximos seis meses caiu para 50,9 pontos, refletindo um aumento do pessimismo, principalmente com o desempenho da economia nacional. O otimismo com o futuro das próprias empresas também perdeu força. Sobre a pesquisaO ICEI é um levantamento mensal da CNI que capta o clima entre os industriais. Nesta edição, foram ouvidas 1.169 empresas de todo o país, entre os dias 2 e 6 de junho de 2025. A amostra incluiu negócios de diferentes portes: 480 pequenas empresas, 420 médias e 269 grandes. | A A |
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HISTÓRIAS EXPORTADORAS: Da Amazônia para o mundo: destilaria artesanal aposta em sabores regionais para expandir internacionalmenteBrasil61Conheça a trajetória da AMZ Tropical, destilaria artesanal brasileira que aposta na biodiversidade amazônica para conquistar mercados internacionais. O empresário Leandro Daher sempre teve o desejo de empreender com bebidas inspiradas na riqueza da Amazônia. A guinada veio com uma ideia ousada: criar o primeiro gin com flor de jambu da região. “Eu já estava estudando destilação e o mercado de bebidas e aí veio o grande insight do gin com flor de jambu. Na época, só existia a cachaça de jambu. Essa ideia me deixou louco. Eu fiquei sem dormir e comecei a correr atrás para ver como é que eu conseguiria montar essa receita, ser o primeiro gin de jambu da Amazônia”, conta. Com olhar empreendedor e espírito inovador, o empresário buscou capacitação especializada para transformar sua ideia em um negócio de verdade. Desenvolveu a receita, criou a identidade visual e lançou as primeiras garrafas de gin com flor de jambu — um produto inédito na região. “Eu queria algo amazônico, que remetesse à brasilidade dos nossos produtos. Eu acho que consegui. Lancei as primeiras garrafas”, relata Leandro. Assim nasceu a AMZ Tropical, uma destilaria de porte artesanal dedicada à criação de bebidas com sabores autênticos da Amazônia — e que agora se prepara para conquistar o mercado internacional com o apoio técnico e especializado da ApexBrasil. InternacionalizaçãoA forte identidade brasileira da empresa tinha um propósito claro: a exportação. “Eu sempre tive a impressão de que o produto amazônico é muito valorizado fora do Brasil, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Foi algo natural. A gente começou a correr atrás de incentivo à exportação”, diz. Embora tivesse o desejo de alcançar clientes em mercados internacionais, o publicitário não sabia, sequer, por onde começar. Até que conheceu a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). “A Apex foi a nossa grande virada de chave. Eles nos mostraram que a exportação não é um bicho de sete cabeças. Dá para fazer. Tem que ter cuidado, tem várias coisas para vencer, mas não é impossível”, afirma. Por meio do Programa de Qualificação para a Exportação (Peiex), o empresário passou a entender o que precisaria fazer para acessar o mercado exterior, mas não parou por aí. “Quando a Apex levou a gente para a Califórnia, na Expo West, a gente capacitou todo o time, [no sentido] de mostrar o mercado, mostrar o preço, mostrar como o produto tem que ser comunicado no mercado americano. Poder participar dessa feira lá nos Estados Unidos abriu a nossa visão do que é a exportação”, afirma. A experiência internacional empresarial foi tão positiva que a AMZ Tropical se prepara para abrir a primeira filial em solo norte-americano. Trata-se de uma importadora, que vai diminuir a dependência de terceiros no processo de exportação. A experiência exitosa com a ApexBrasil faz com que o Leandro não tenha dúvidas sobre que conselhos dar a outros empreendedores que desejam ganhar mercados no exterior. “Toda semana tem coisa nova, toda semana eles estão lançando eventos, feiras, capacitação. Até tem como fazer exportação sozinho, mas eu acho que vai penar muito mais. A gente pode contar com um órgão que está funcionando, que consegue apoiar micro, pequeno exportador. Procure a Apex e você não vai se arrepender”, recomenda. Suporte | A A |
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‘Sonho em abrir minha própria loja’, diz indígena formado pelo Computadores para InclusãoBrasil61O programa ‘Computadores para a Inclusão’, do Ministério das Comunicações, atingiu este ano a marca de 51 mil alunos formados em mais de 230 cursos ofertados pela iniciativa, por todo Brasil. Um dos estudantes em busca do tão sonhado diploma do programa é Amalé Kamayura, de 20 anos. Amalé é indígena do Território Xingu, no Mato Grosso e mudou com a família para Brasília para tratar um problema de saúde e viu no curso de manutenção de celulares a oportunidade de se capacitar para o mercado de trabalho e empreender. Amalé Kamayura tem 20 anos e é indígena do Território Xingu, no Mato Grosso. Mudou com a família para Brasília para tratar um problema de saúde e viu no curso de manutenção de celulares a oportunidade de se capacitar para o mercado de trabalho e empreender. “Meu sonho é abrir minha própria loja, porque é um mercado com muita demanda. Todo mundo conserta celular hoje em dia. Sempre tem alguém com aparelho quebrado para consertar. Eu já tenho meus próprios clientes, faço os consertos em casa. Com o que recebo ajudo minha mãe com mercado e na conta de luz”, contou o aluno. As habilidades estão sendo aprendidas no curso de manutenção de celular oferecido pelo programa ‘Computadores para Inclusão’, do Ministério das Comunicações. As aulas acontecem na ONG Programando o Futuro, no Distrito Federal. O ‘Computadores para Inclusão’ recondiciona equipamentos fora de uso de órgãos públicos para destiná-los a pontos de inclusão digital em todo o Brasil. Esse processo é realizado nos Centros de Recondicionamento de Computadores (CRC), onde as máquinas são recuperadas por estudantes de cursos de capacitação. Amalé começou no curso mais procurado: o de informática básica. Ele conta que hoje, com o conhecimento obtido, já sabe consertar todos os tipos de celular. “Criei uma página no Instagram para divulgar meu trabalho. Amigos começaram a divulgar também e com isso, conquistei minha clientela. A pessoa me chama no Instagram, fala o problema do celular, respondo como posso resolver, passo o orçamento e combinamos a entrega do aparelho para a reparação. Eu hoje conserto todo tipo de aparelho”, orgulha-se o aluno empreendedor. O programa ‘Computadores para a Inclusão’ atingiu este ano a marca de 51 mil alunos formados em mais de 230 cursos ofertados por todo Brasil. Assim como aconteceu com Amalé, a política pública permite que pessoas com poucas condições financeiras tenham uma profissão e ajudem seus núcleos familiares. O projeto possibilita ainda adultos e idosos a terem um recomeço no mercado de trabalho ou serem incluídos no dia a dia das novas tecnologias. “Esse programa tem muitos benefícios, mas um dos mais gratificantes é a inclusão digital de pessoas humildes, que muitas vezes não têm condições de pagar caro pelo ensino. Muitos enxergam, nos cursos, a chance de dar uma vida melhor para suas famílias por meio de capacitação tecnológica”, destacou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho. O jovem empreendedor possui, em sua casa, uma “estação de trabalho” capaz de garantir que os serviços oferecidos sejam executados de uma forma muito profissional. “A iniciativa de Amalé em começar uma atividade profissional, ainda frequentando o curso, mostra que a inclusão digital dos brasileiros é um dos mais importantes caminhos para um futuro melhor”, finalizou o ministro. Fonte: MCom | A A |
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MEIs: novas regras fiscais para categoria entram em vigor em abrilMarquezan AraújoA partir de 1° de abril, os microempreendedores individuais (MEIs) vão precisar se adequar às novas regras fiscais estabelecidas pela Receita Federal. Essa atualização prevê, entre outros pontos, alterações na emissão de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e Nota Fiscal do Consumidor Eletrônica (NFC-e). As mudanças foram inseridas a partir do que determina a Nota Técnica 2024.001 da Receita Federal. Com as novas exigências, os MEIs terão que adotar o Código de Regime Tributário Simples Nacional – MEI (CRT 4), específico para a categoria. A partir de 1° de abril, os microempreendedores individuais (MEIs) vão precisar se adequar às novas regras fiscais estabelecidas pela Receita Federal. Essa atualização prevê, entre outros pontos, alterações na emissão de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e Nota Fiscal do Consumidor Eletrônica (NFC-e). As mudanças foram inseridas a partir do que determina a Nota Técnica 2024.001 da Receita Federal. O especialista em contabilidade Wilson Pimentel afirma que, em relação à Nota Fiscal Eletrônica, anteriormente, os MEIs poderiam imprimir esse documento nas mesmas plataformas das demais empresas. Porém, uma alteração recente estabeleceu que a categoria deveria executar essa atividade somente no Portal Nacional da Nota Fiscal Eletrônica. Ele também explica a diferença entre os dois documentos. "A Nota Fiscal Eletrônica é maior, de empresa para empresa, de CNPJ para CNPJ. Já a Nota Fiscal ao Consumidor Eletrônica é emitida para o consumidor final. Ou seja, é de venda direta", pontua. Com as novas exigências, a categoria terá que adotar o Código de Regime Tributário Simples Nacional – MEI (CRT 4), que deve ser utilizado juntamente com o Código Fiscal de Operações e Prestações (CFOP) adequado à operação fiscal. A criação do código visa facilitar a diferenciação das operações feitas por MEIs das realizadas por companhias inseridas em outros regimes tributários. O que é o CRT 4?O Código de Regime Tributário (CRT) é uma identificação utilizada para definir a qual regime tributário uma empresa está inserida. Para os MEIs, foi estipulado o CRT 4. Segundo Wilson Pimentel, trata-se de um código exclusivo, que indica que a empresa se enquadra no Simples Nacional na categoria de microempreendedor individual. “Diante disso, entre as mudanças mais importantes estão basicamente as relacionadas ao fato de o MEI ficar atento, que agora terá uma plataforma própria, para que ele a utilize. Assim, o MEI vai ficar reservado, ou seja, vai ficar separado das demais empresas”, explica Até agora, o código CRT 1 é utilizado para empresas que estão no regime do Simples Nacional. No entanto, a partir das novas regras, os MEIs vão utilizar um código específico, o CRT 4, que mostra essa diferença dentro do sistema tributário simplificado. PAC Seleções 2025: últimos dias para gestores estaduais e municipais inscreverem propostas Outra mudança diz respeito à substituição do evento de “denegação” por rejeição”. O objetivo é permitir uma correção mais rápida e eficaz da nota fiscal, caso haja algum erro, uma vez que o documento será rejeitado em vez de denegado. Códigos Fiscais de Operações e PrestaçõesTambém haverá novidades em relação aos Códigos Fiscais de Operações e Prestações (CFOPs) aplicáveis aos microempreendedores individuais. Na prática, esses códigos servem para identificar a natureza das operações comerciais. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os novos CFOPs específicos para MEI que deverão ser utilizados são os seguintes:
Ainda de acordo com o Sebrae, quando houver operações de comércio exterior, ativo imobilizado e ISSQN, o microempreendedor individual poderá utilizar os seguintes CFOP: 1501, 1503, 1504, 1505, 1506, 1553, 2501, 2503, 2504, 2505, 2506, 2553, 5501, 5502, 5504, 5505, 5551, 5933, 6501, 6502, 6504, 6505, 6551 e 6933. | A A |
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HISTÓRIAS EXPORTADORAS: Chocolate artesanal de empresa do PA conquista nichos de mercado no exteriorBianca MingoteO chocolate da Amazônia está conquistando o mundo. Os produtos da Gaudens Chocolate, empresa de Belém (PA), têm chamado atenção internacional. A empresa utiliza cacau nativo da região e ingredientes locais, como cupuaçu e bacuri, para criar um chocolate fino e premiado. O chocolate da Amazônia está conquistando o mundo. Os produtos da Gaudens Chocolate, empresa de Belém (PA), têm chamado atenção internacional. A empresa utiliza cacau nativo da região e ingredientes locais, como cupuaçu e bacuri, para criar um chocolate fino e premiado. O fundador da marca, o chef Fábio Sicilia, teve a ideia de investir na produção ao perceber que o cacau amazônico não era aproveitado para fabricar chocolates no Brasil. "Ao retornar da Europa, após a minha formação como chef de cozinha, me deparo com o fato de que o cacau era da Amazônia, nativo aqui do Pará, do Amazonas, do Amapá, e que ninguém estava produzindo chocolate com ele. Mergulho no desafio de produzir o melhor chocolate do mundo a partir da terra do cacau. Ninguém produzia, eu começo, convenço muitos produtores a fazer cacau fino para poder ter um chocolate fino", lembra Sicilia. Depois desse “mergulho”, o reconhecimento chegou: a empresa recebeu prêmios internacionais, como o da Academy of Chocolate de Londres, e começou a exportar. Com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a Gaudens Chocolate encontrou novos mercados, como o dos EUA. “Estreitando a relação com a Federação da Indústria, eu conheço a ApexBrasil e entro no programa Peiex, que prepara o empresário para exportação. Como CEO da Gaudens, consegui encontrar na ApexBrasil canais para exportação de pequenos produtores. E isso foi o que me encantou”, frisa o empresário. A prioridade da empresa não é quantidade, e sim qualidade. A produção segue artesanal, voltada para nichos de mercado. “Estamos fazendo um trabalho, já começamos a fazer exportações pequenas. Mas a proposta do negócio é: não vamos converter a nossa qualidade por quantidade. Então, nós estamos buscando mercados de nicho”, diz. Sicília participou do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex) da ApexBrasil. A experiência foi importante para abrir canais com compradores de fora. “Me mostrou como funciona o mercado internacional. E, para mim, o mais importante foram as relações com as nossas embaixadas fora do Brasil. Então, a ApexBrasil te ensina como chegar nos mercados. Isso é fundamental”, afirma. O Peiex traça um diagnóstico completo do negócio e monta um plano de exportação personalizado. Esse planejamento inclui as etapas a serem seguidas para possibilitar a vendas para fora. Entre 2023 e 2024, mais de 6,2 mil empresas foram atendidas pelo Peiex e 1,1 mil delas exportaram U$ 3,27 bilhões no período. Para mais informações sobre esse e outros programas da ApexBrasil, acesse www.apexbrasil.com.br/solucoes. | A A |
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HISTÓRIAS EXPORTADORAS: Empresa da Serra Gaúcha exporta sucos e vinagres orgânicos para os EUABianca MingoteA Organovita, de Garibaldi (RS), teve apoio da ApexBrasil em feiras internacionais. “Queremos que o mundo afora conheça nosso produto cada vez mais”, afirma César Postingher, diretor comercial administrativo da empresa Produzir alimentos saudáveis, orgânicos e sustentáveis. Foi com esse propósito que nasceu a Organovita, em Garibaldi (RS). A empresa familiar começou com a produção de sucos de uva. Com o tempo, ampliou seu portfólio para vinagres, óleos e farinhas feitas a partir da casca e da semente da uva. Tudo com foco na agricultura familiar e no respeito ao meio ambiente. O sonho de exportar sempre fez parte dos planos da Organovita. E foi com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) que a empresa da Serra Gaúcha deu os primeiros passos no mercado internacional. “Através de algumas entidades setoriais, conhecemos a ApexBrasil e, através disso, acabamos indo atrás de oportunidades para poder desenvolver esse sonho", relata o diretor comercial administrativo da Organovita, César Postingher. "Com a ApexBrasil, conseguimos participar de algumas feiras, principalmente no mercado americano. Então, acabamos conseguindo desenvolver alguns clientes, um distribuidor, que a gente está trabalhando hoje. Também temos uma venda bem legal pela Amazon.” A participação em eventos internacionais, como feiras na Alemanha e nos Estados Unidos, foi fundamental para a internacionalização da marca. “Participamos, por exemplo, em parceria, de uma feira na Alemanha – que a gente nunca teria capacidade de ir sozinho – [e de] algumas feiras nos Estados Unidos também, bem interessantes por conta do auxílio da ApexBrasil. Sem falar que a ApexBrasil oferece outros serviços, como local lá, nos Estados Unidos, por exemplo, para a empresa poder colocar sua estrutura, a sua própria empresa abrir lá. Isso facilita muito, as empresas poderem ter esse suporte da ApexBrasil”, afirma Postingher. O diretor comercial da Organovita destaca que a empresa tem a perspectiva de seguir expandindo o negócio em busca de mais clientes do exterior. “Imaginamos realmente continuar nessa caminhada, continuar nessa ascensão da exportação. Passos lentos, porém firmes. Sabemos que a gente tem produtos de qualidade, produtos diferenciados, e queremos que o mundo afora conheça nosso produto cada vez mais”, prospecta o empresário. Mapa de Eventos: ferramenta para quem quer exportarPara empresas interessadas em entrar no mercado internacional, a ApexBrasil oferece soluções como o Mapa de Eventos, uma ferramenta digital que reúne mais de 100 feiras e missões comerciais apoiadas pela agência. No Mapa de Eventos, é possível filtrar oportunidades por país, setor e tipo de evento. A ferramenta está disponível na plataforma Brasil Exportação. | A A |
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A A | Nova regra exige que empresas avaliem riscos à saúde mental no trabalho a partir de maioBianca MingoteA partir de maio deste ano, as empresas brasileiras terão que incluir a avaliação de riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Com isso, os empregadores deverão avaliar os riscos à saúde mental dos colaboradores nas empresas. A exigência decorre da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em agosto do ano passado. A partir de maio deste ano, as empresas brasileiras terão que incluir a avaliação de riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Com isso, os empregadores deverão avaliar os riscos à saúde mental dos colaboradores nas empresas. A exigência decorre da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em agosto do ano passado. A norma destaca que riscos psicossociais como estresse, assédio e carga mental excessiva, devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores integrando as medidas de proteção à saúde dos trabalhadores. Segundo o MTE, os riscos psicossociais estão relacionados à organização do trabalho e às interações interpessoais no ambiente laboral e incluem fatores como metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais e falta de autonomia no trabalho. Tais elementos, de acordo com a Pasta, podem causar estresse, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental nos trabalhadores. O especialista em Direito do Trabalho, sócio do escritório Ambiel Advogados, Aloísio Costa Junior, destaca os benefícios trazidos pela medida aos trabalhadores do país. "A partir do momento que a norma regulamentadora estabelece, mais especificamente, obrigações do empregador para que ele cuide da saúde no ambiente de trabalho, os trabalhadores são diretamente afetados, primeiro porque eles são beneficiados por essas medidas que o empregador vai ter que adotar, então o impacto que isso causa já é o impacto próprio no meio ambiente de trabalho, nas medidas de segurança e de saúde", aponta Costa Junior. Dados da pesquisa Saúde do colaborador 2024: um panorama do mercado corporativo brasileiro, elaborada pela corretora de benefícios Pipo Saúde, apontam que 48% dos trabalhadores brasileiros têm risco de saúde mental. O levantamento teve 8.980 respondentes de diferentes níveis hierárquicos no país. A pesquisa aponta, ainda, que o Brasil é o país com maior número de pessoas com depressão e ocupa o segundo lugar no ranking de país mais ansioso do mundo. Inclusive, as doenças relacionadas à saúde mental entraram oficialmente na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho no início de 2024. Já o estudo Check-up de bem-estar 2024 da Vidalink, empresa de bem-estar corporativo, mostrou que 31% dos trabalhadores brasileiros não fazem nada para cuidar da saúde mental. Mudanças com a atualização da NR-1Em nota, a coordenadora-geral de Fiscalização em Segurança e Saúde no Trabalho, Viviane Forte, ressaltou que a NR-1 já exigia que os riscos no ambiente laboral fossem reconhecidos e controlados, mas existiam dúvidas acerca da inclusão explícita dos riscos psicossociais. O especialista em Direito do Trabalho, Aloísio Costa Junior, destaca que a atualização esclarece procedimentos que o empregador deve que adotar na manutenção da segurança e da saúde no ambiente de trabalho, na prevenção e identificação de riscos, bem como no estabelecimento de planos de manutenção para mitigar ou até eliminar os riscos identificados. “Então, passa a haver uma especificação maior do passo a passo que o empregador tem que adotar para evitar que os riscos à saúde e à segurança afetem o ambiente de trabalho”, diz. O especialista explica que, na prática, as empresas vão ter que estabelecer um plano para seguir o que a norma regulamentadora estabelece, com vistas a prevenir, identificar e mitigar os malefícios à saúde dos empregados. “As empresas, principalmente as maiores, que têm CIPA, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que já se beneficiam de empresas de saúde e segurança do trabalho, elas poderão continuar utilizando isso. Agora, se a empresa que não tem estrutura pronta para atender aquilo, recomenda-se sim que contraste esses serviços [de profissionais de saúde mental], de preferência com ajuda e supervisão de um advogado, para que não haja dúvidas quanto ao cumprimento da norma e para evitar riscos de um passivo no futuro”, esclarece Costa Junior. “A avaliação deve se dar com profissionais da área da saúde voltados para psicologia ou psiquiatria para que haja identificação adequada de quais são os riscos envolvidos, como preveni-los, como tratar um empregado que possa sofrer de alguma questão nesse sentido”, completa o especialista. O documento não obriga a contratação desses profissionais especializados como funcionários fixos. Porém, o MTE informa que as empresas podem contratar especialistas como consultores para colaborar com a identificação e avaliação de riscos psicossociais, principalmente em casos mais complexos. Caso o empregador não adote as medidas previstas na norma regulamentadora estará sujeito às sanções previstas na lei. Costa Junior alerta que o empregador que não comprovar o cumprimento das exigências pode ser responsabilizado judicialmente. Confira as possíveis sanções mencionadas pelo especialista:
“[O empregador] também está sujeito, no caso de ações individuais dos empregados que se sentirem prejudicados, a ações trabalhistas na Justiça do Trabalho, também com a possibilidade de reconhecimento de que eventuais riscos no ambiente de trabalho causaram doenças, causaram distúrbios, seja à saúde física ou saúde mental, e com isso serem obrigados a pagar indenizações por conta disso”, afirma Costa Junior. Aloisio alerta para que os empregadores fiquem atentos aos procedimentos para cumprir as exigências. "Caso contrário, a Justiça pode presumir, se o empregador não provar que causou aquelas medidas, a Justiça pode presumir que o empregador causou ali o risco ou não fez nada para evitar o risco à saúde e segurança do trabalho. E por isso pode ser considerado responsável." FiscalizaçãoConforme nota do MTE, a fiscalização será realizada de forma planejada e por meio de denúncias encaminhadas à Pasta. Os setores com alta incidência de adoecimento mental – como teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde – serão prioritários. Os auditores-fiscais verificarão durante as inspeções os aspectos relativos à organização do trabalho, buscarão dados de afastamentos por doenças – como ansiedade e depressão – realizando entrevistas a trabalhadores e analisando documentos para identificar possíveis situações de risco psicossocial naquela localidade. | A A |
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A A | Reforma tributária: qual será o custo da transição para as empresas?Lívia BrazCriada com a ideia de simplificar a cobrança de impostos no país, a Reforma Tributária terá um período de testes e transição — até 2033 — que segundo especialistas, vai exigir um esforço grande de adaptação das empresas. Criada com a ideia de simplificar a cobrança de impostos no país, a Reforma Tributária terá um período de testes e transição — até 2033 — que segundo especialistas, vai exigir um esforço grande de adaptação das empresas. Sistemas, pessoal, capacitação. Tudo isso representa custo, no fim das contas. Valores que para as empresas maiores, poderão ter impacto pequeno diluído no montante movimentado por elas, como explica o professor doutor em Direito Tributário, André Felix Ricotta de Oliveira. “As multinacionais e as grandes empresas já estão se preocupando com a reforma que entrará, de fato, a partir de 2027. Estão se preparando para parametrizar sistemas, custo de produção, valor de mercadoria, questões de logística, pois é isso que vai mudar muito. As empresas vão ter que repensar toda a forma da sua operação.” Felix, que também é presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB/Pinheiros, conta que as maiores empresas do país já estão se preparando para a mudança: “Contratando profissionais para palestrar em suas empresas, que explicam como será o impacto da reforma.” Impacto para todosPara seguir as novas regras, as empresas terão que investir. Uma organização de grande porte precisará investir de R$ 1,5 milhão a R$ 5 milhões. O dado é de reportagem do jornal Valor Econômico, apurado junto à Systax, empresa especializada em tecnologia fiscal e tributária. Segundo a reportagem, este deve ser o custo para fazer a integração de sistemas corporativos, consultorias de larga escala e gestão de riscos para evitar interrupções operacionais. O estudo também mostra que as companhias de médio porte, vão precisar de mais do que ajustes nos sistemas. Para elas, será necessário também um mapeamento de processos e treinamentos internos, o que deve recair num investimento entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões. Impacto para os pequenosPara André Felix, os custos até 2033, podem impactar diretamente no orçamento das micro e pequenas empresas. “O difícil dessa transição também, já que haverá um período de praticamente seis anos com dois sistemas tributários em andamento, é que será necessário ter duas contabilidades, dois sistemas fiscais, como será possível repassar no preço das suas mercadorias e dos seus serviços, esses novos tributos — CBS e IBS”, pondera o especialista. O levantamento da Systax estima que este investimento poderá variar entre R$ 100 mil e R$ 500 mil. O doutor em direito, Caio Bartine, explica que as mudanças tributárias no Brasil vão além da reforma, “os tributos estão em constante movimento.” “Então, para o exercício da atividade empresarial é fundamental esse acompanhamento. É importante também um investimento na capacitação da equipe – sobretudo a equipe que cuida diretamente da empresa — com as questões fiscais, contábeis e tributárias, com a finalidade de entender o impacto dessas novas regras sobre a carga tributária da empresa e, consequentemente, auxiliar na tomada de decisões que sejam estratégicas.” Veja também: Reforma Tributária: como ficam as mudanças já previstas para 2025 Para quem não cumprir as regras e prazosA recém-sancionada Lei Complementar nº 214, de 2025 prevê sanções para as empresas que não se adequarem às novas regras, como explica Felix. “Se a empresa não conseguir emitir corretamente um documento fiscal, escriturar para a Receita federal, assim como não cumprir prazos, essa empresa vai sofrer multa. E se não recolher corretamente os tributos poderá sofrer todas as consequências previstas, como autos de infrações, execuções fiscais, penhoras de ativos da empresa, entre outras.” É fundamental procurar empresas de contabilidade e profissionais atualizados com as mudanças para evitar qualquer tipo de sanção. Durante o período de transição, que vai de 2026 a 2032, serão implementadas mudanças anuais no novo sistema tributário. A CBS será cobrada a partir de 2026, com uma alíquota de 0,9%, enquanto o IBS terá uma alíquota estadual de 0,1% no mesmo ano. Entre 2027 e 2028, a CBS será cobrada com base na alíquota definida pela União, com uma redução de 0,1%, e a alíquota do IBS será de 0,05%. Em 2029, o IBS passará a ter a alíquota estabelecida pelo governo, e ocorrerá uma redução de 10% nas alíquotas do ICMS e do ISS. De 2030 a 2032, haverá continuidade na diminuição dessas alíquotas até sua extinção total em 2033. | A A |
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A A | axas de juros altas prejudicam construção civil; entendaBianca MingoteA Sondagem Indústria da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira (27), aponta que a taxa de juros elevada foi o principal problema enfrentado pela indústria da construção no 4º trimestre de 2024. O problema foi apontado por 34,1% dos empresários do setor, ante 25,4% no 3º trimestre. A Sondagem Indústria da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira (27), aponta que a taxa de juros elevada foi o principal problema enfrentado pela indústria da construção no 4º trimestre de 2024. O problema foi apontado por 34,1% dos empresários do setor, ante 25,4% no 3º trimestre. O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explica que o setor da construção civil é impactado pela política monetária contracionista tanto no que diz respeito aos investimentos no momento da construção, quanto na outra ponta, relacionada a quem vai adquirir a casa ou apartamento, por exemplo. Por isso, as taxas de juros altas prejudicam tanto o setor. “Os produtos tornam-se na prática mais caros com o financiamento mais caro, como a demanda também se reduz porque as pessoas têm menor probabilidade de crédito, ou ficam menos dispostas a pegar taxas mais pesadas para fazer os seus financiamentos e adquirir sua casa, seu apartamento, com essas taxas mais caras”, destaca Azevedo. O levantamento também revela que a confiança dos empresários caiu 1,4 pontos para o menor nível desde janeiro de 2023. Com isso, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) ficou abaixo da linha divisória de 50 pontos, que separa confiança de falta de confiança. Em nota, a CNI informou que tal resultado reflete a piora das avaliações dos empresários em relação às condições atuais da economia brasileira, além das expectativas para a economia do país e para a empresa. Os dois componentes do ICEI recuaram em janeiro. O índice de Condições Atuais diminuiu 1,2 ponto, para 44,9 pontos. Já o índice de Expectativas caiu 1,6 ponto, para 51,9 pontos. “Por isso, não à toa com a retomada de elevação das taxas de juros ainda no final do ano passado de 2024. Isso começou a preocupar mais o empresário da construção e não à toa quando perguntados sobre os principais problemas enfrentados no último trimestre do ano passado a taxa de juros ganhou importância a ponto de se tornar o principal problema enfrentado pelo setor, apontada por mais de um terço das empresas como um dos três principais”, destaca Azevedo. Na segunda posição do ranking ficou a falta ou alto custo de trabalhador qualificado, com 26,8%. Já a elevada carga tributária fechou o ano como o terceiro maior problema enfrentado pelo setor, de acordo com os empresários ouvidos pela CNI. Para a sondagem, 315 empresas foram consultadas: 118 de pequeno porte; 130 de médio porte; e 67 de grande porte, entre 7 e 17 de janeiro de 2025. Definição da nova taxa pelo CopomO Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve se reunir nesta quarta-feira (29) para definir a nova taxa de juros da economia. Em nota, a CNI classificou como “a crônica de uma morte anunciada” a eventual cultura de alta na Selic. Para a instituição, prosseguir com a elevação da taxa “desconsideraria os esforços em curso na política fiscal e na atividade econômica e traria efeitos negativos sobre a criação de emprego e renda”. Para a Confederação, prosseguir com a elevação dos juros faz com que o setor industrial adie investimentos de modernização ou expansão da matriz de produção. Isso pode impedir as empresas de melhorar a produtividade e desperdiçar oportunidades de contribuir com o crescimento do país, além de trazer mais custos para as empresas, conforme nota da CNI. A CNI defende que os juros elevados comprometem a atividade econômica e abalam a confiança dos empresários. | A A |
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A A | Portal do Empreendedor terá sistema de avaliação para oferecer juros mais baixosNathália Ramos GuimarãesOs microempreendedores individuais (MEIs) terão acesso a juros mais baixos por meio do Portal do Empreendedor, plataforma do Governo Federal. A plataforma reunirá dados de todas as microempresas do Brasil e oferecerá um sistema de avaliação que poderá reduzir os juros. As novidades foram anunciadas pelo ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França. Os microempreendedores individuais (MEIs) terão acesso a juros mais baixos por meio do Portal do Empreendedor, plataforma do Governo Federal. O sistema reunirá dados de todas as microempresas do Brasil e oferecerá uma avaliação que poderá reduzir os juros. As novidades foram anunciadas pelo ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França. Segundo o ministro, o Portal do Empreendedor reunirá os contatos de WhatsApp dos empreendedores para facilitar o envio de informações sobre benefícios disponíveis, tornando o acesso às capacitações mais rápido e adequado ao meio digital. “No portal, todos os empreendedores vão poder ter os seus nomes colocados ali dentro e nós vamos ranquear, dar um rating de avaliação para cada um desses empreendedores. De maneira que, se você é um empreendedor e se dispuser a fazer três cursos de gestão financeira, de gestão de negócios, de exportações, que nós vamos oferecer gratuitamente no próprio portal, a gente te dá estrelinhas. E quanto mais estrelinhas, mais barato vai ficar seu juro”, explicou Márcio França. Micro e pequenas empresas no BrasilDe acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), há 22 milhões de micro e pequenas empresas no Brasil, responsáveis por 55% dos empregos com carteira assinada e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Em relação às exportações, a plataforma também visa ampliar a participação dos pequenos empreendedores, que atualmente é de apenas 1% no Brasil, comparada aos 68% da China. O objetivo é buscar alternativas nos portais que já facilitam esse processo. Além disso, a Amazon Brasil firmou um acordo para capacitar microempreendedores e pequenas empresas no comércio eletrônico. A parceria inclui ações voltadas para negócios liderados por mulheres e empreendedores de produtos sustentáveis, além de oferecer ferramentas e suporte para fortalecer a presença digital desse público. | A A |
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A A | Mineração na Bahia: CBPM quer ser muito mais do que uma empresa de pesquisaRevista Brasil MineralO Presidente da empresa, Henrique Carballal, informa que a companhia vem se preparando para deixar de ser apenas uma companhia de pesquisa para se tornar uma empresa de fomento da atividade. Criada há 52 anos, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), desempenha papel fundamental para a mineração no estado, devido aos inúmeros trabalhos realizados em termos de prospecção e pesquisa mineral. O conhecimento aprofundado das jazidas minerais e a localização de novos depósitos tem ajudado a atrair investidores e empresas do setor mineral dentro de um trabalho de sucesso que pode e deve ser ressignificado, conforme indica o Presidente da empresa, Henrique Carballal, em entrevista concedida à revista Brasil Mineral. Para garantir sua sobrevivência financeira por muitos anos ainda, Carballal informa que a companhia vem se preparando para deixar de ser apenas uma companhia de pesquisa para se tornar uma empresa de fomento da atividade, ao se tornar sócia dos novos empreendimentos minerais no estado. Também está em seus planos a prestação de consultoria técnica para grupos de garimpeiros, a promoção do diálogo com as comunidades e o compromisso do respeito ao meio ambiente. Terceira produtora mineral do Brasil, a Bahia possui em seu território uma grande diversidade de minerais, especialmente os fundamentais para a tão falada transição energética, que já estão atraindo o interesse de diversos investidores nacionais e internacionais. E, para além da exploração, o estado já vislumbra também a possibilidade de verticalizar a cadeia mineral. BRASIL MINERAL – Aos 52 anos, a CBPM é a única empresa estadual de pesquisa mineral ainda em atuação. O que mudou da sua concepção até agora? HENRIQUE CARBALLAL – De fato a CBPM é a única empresa que vem resistindo. As empresas irmãs foram extintas ao longo dos últimos anos, fruto na realidade de um grande conhecimento geológico que foi se construindo. As empresas foram criadas na década de 1970 para que os riscos que a mineração possui como atividade econômica fossem minimizados com o papel do estado como fomentador da atividade. Hoje, como os estados já possuem vasto conhecimento geológico, não há mais a necessidade de empresas com este perfil. O estado não tem mais essa necessidade emergencial para desenvolver a mineração a partir de investimentos em pesquisa. Com isso, ao longo dos anos, fomos vendo a extinção dessas empresas. A CBPM está sobrevivendo e a decisão dela continuar se deu quando a repaginamos. Estamos, inclusive, discutindo a mudança do nome, mas não da sigla. Ela irá continuar como CBPM, deixando se ser a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral para virar Companhia Baiana de Produção Mineral ou Companhia Baiana de Pesquisa e Exploração Mineral. A decisão do nome final será do Governador Jerônimo Rodrigues. BRASIL MINERAL – Está prevista alguma mudança na forma de atuação da companhia? HENRIQUE CARBALLAL – Estamos na fase final de elaboração não apenas da mudança do nome, mas também de outra mudança na forma de atuar com nossos ativos minerais. O fato é que a CBPM está hoje completamente repaginada. Deixamos de ser apenas uma empresa de pesquisa para sermos uma empresa de fomento dos rumos da mineração. Recentemente assinamos um contrato bem significativo com uma empresa mineradora que vinha tendo problemas em seu projeto e nós estamos fazendo um redimensionamento e garantindo, portanto, que um investimento de US$ 5 bilhões não saia da Bahia e nem do Brasil. Mas a companhia não fomenta apenas a atividade mineral das grandes corporações. Estamos também fomentando com garimpeiros e cooperativas de garimpeiros. Entendemos que não será possível acabar com o garimpo ilegal apenas com a repressão policial. Por esta razão, estamos buscando qualificar os garimpeiros e dar a estes trabalhadores melhores condições de trabalho, além de ampliar a compreensão deles em relação ao meio ambiente, com a introdução de novas técnicas e formas de atuação que evitem a utilização de qualquer tipo de produto agressivo ou até mesmo a utilização de explosivos sem o controle que a legislação estabelece. Estamos buscando fazer com que haja o diálogo fundamental com as comunidades, especialmente as tradicionais, situadas em áreas muito longínquas, fruto de um processo de exclusão histórico do nosso país. Queremos, em primeiro lugar, fomentar a mineração, mas compreendendo esse fomento vinculado à preservação do meio ambiente, vinculado às lógicas de sustentabilidade, ODS e políticas ESG, tendo claro que acima de tudo, o ser humano é o foco desse processo. Nesse processo buscamos chegar à questão ambiental vinculada com as pessoas. A CBPM é uma empresa de fomento, mas também de produção mineral, com participação societária em algumas atividades minerais. De acordo com a determinação do Governador Jerônimo Rodrigues vamos buscar alinhar, quando possível, o desenvolvimento da mineração com a atração da indústria para processar esse minério no estado da Bahia. Veja a matéria completa na edição 445 de Brasil Mineral | A A |
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A A | A farsa das “corporações responsáveis”Exame de uma contradição. Quanto mais produzem desastres, mais as megaempresas dizem-se “conscientes”. Que relações sustentam esta hipocrisia? E como explicar o crescimento da ultradireita, em meio ao “capitalismo verde”? Por Ladislau Dowbor, em Meer. Tradução: Glauco Faria O que importa é o crescimento sustentável e equilibrado de longo prazo para todos nós. As corporações estão correndo atrás de resultados imediatos para o 1%, gerando desastres sistêmicos para a sociedade e para o mundo natural. E elas apoiam calamidades políticas se isso for de seu interesse. Não se trata de “apenas negócios”. Estamos enfrentando uma falha estrutural, e nenhuma alegação de ESG ajudará. (Ladislau Dowbor) Se a economia tem uma lei digna desse nome, é a de que as empresas preferem se fundir a competir. (The Economist, 6 de abril de 2019, p. 61) Costumávamos chamar de “catástrofe em câmera lenta”. Certamente não é mais em câmera lenta. Na tradição orwelliana de 1984 das reuniões de ódio contra Goldstein, nossas emoções foram canalizadas contra personalidades altamente visíveis no topo, os Hitlers de diferentes épocas, atualmente até mesmo os hitlerzinhos como Bolsonaro no Brasil ou Trump nos EUA. Mas Hitler chegou ao topo após as reuniões e o apoio dos gigantes corporativos do Ruhr, Krupp e outros. A IBM não teve problemas em garantir o sistema de gerenciamento dos campos de concentração alemães. Negócios. Sempre haverá demagogos prontos para se tornarem ditadores, mas a ditadura só existe em cima de um sistema de poder estruturado. Ler a história de Charles Koch construindo poder político em cima do superpoder econômico das Indústrias Koch é preocupante: o dinheiro para influência política organizada como investimento de longo prazo está mudando o que costumávamos chamar de democracia. Isso é muito mais do que uma questão Trump/Biden: trata-se de uma mudança estrutural na forma como nossas sociedades funcionam. Além dos idiotas fascistas que elegemos, temos de analisar quem os apoia. A desigualdade é um drama não apenas porque gera muito sofrimento entre os pobres. Nenhuma democracia pode sobreviver quando se chega a um cenário de desigualdade profunda. Tom Malleson afirma isso de forma muito simples: “Os super-ricos minam a democracia… Lembre-se da tremenda influência que os irmãos Koch tiveram sobre a política norte-americana – gastando centenas de milhões de dólares por meio de uma vasta rede de fundações privadas obscuras e think tanks conservadores e atuando como peças-chave na mobilização do movimento Tea Party contra os impostos. ”1 A metade mais pobre e desesperada da população acaba apoiando o populismo de extrema direita, o que podemos ver em muitos países. O oportunismo político navega livremente pela frustração e pelo desespero. Wolfgang Streeck está certo quando escreve que talvez não estejamos diante do fim do capitalismo, mas é o fim do capitalismo democrático. Muitas corporações, nos EUA, por exemplo, estão interessadas em investimentos militares. “Esses projetos podem fazer pouco sentido do ponto de vista do interesse nacional dos EUA, mas fazem muito sentido do ponto de vista do crescimento dos negócios dessas organizações e instituições dentro do competitivo mercado de segurança e guerra do setor de defesa militar dos EUA.” 2 A permanente insegurança internacional gerada, com as 750 bases militares que os EUA administram no mundo, sem falar nas vendas de armas e na submissão política de tantos países, está diretamente ligada ao gigantesco e altamente privatizado setor militar: “Os gastos ligados ao exército americano em 2024 chegarão a cerca de US$ 1,5 trilhão, aproximadamente US$ 12 mil por família”. Nenhum presidente tem o poder de reverter o processo, como vimos com a guerra do Vietnã, em que quatro presidentes sucessivos, embora convencidos de que não era possível vencê-la, continuaram a apoiá-la. Barbara Tuchman nos dá todos os detalhes sobre isso, denominando de “a marcha da insensatez”, e há uma lógica poderosa nisso. Estamos presos em uma máquina de poder que gera enormes custos, enorme sofrimento, mas também enormes lucros. Todo esse dinheiro poderia ser usado de outra forma. A voz corporativa é simplesmente mais forte. Contaminação química permanente, as PFAS [substâncias perfluoroalquiladas]? Mike Ludwig analisou a DuPont e a 3M: “Essas empresas sabiam há décadas que estavam envenenando o mundo; elas sabiam que esses produtos químicos eram incrivelmente persistentes, sabiam que estavam entrando no sangue das pessoas, sabiam que seus trabalhadores estavam ficando doentes, sabiam que esses produtos químicos estavam contaminando comunidades próximas e mentiram sobre isso por anos… Não apenas os americanos, cada pessoa está pagando o custo disso. Está em nosso sangue e na vida selvagem, está no Ártico, está em todos os lugares — e isso é puramente por causa da ganância corporativa.”3 Essas corporações têm enfrentado desafios legais nas últimas duas décadas e remunerado exércitos de advogados. Esses custos legais são incorporados aos preços que pagamos por seus produtos, e seus advogados estão pressionando para que seus pagamentos sejam dedutíveis de impostos. Poluição por plásticos? “A metade do plástico de marca era responsabilidade de apenas 56 empresas multinacionais de bens de consumo de rápido movimento, e um quarto disso era de apenas cinco empresas. A Altria e a Philip Morris International representaram 2% do lixo plástico de marca encontrado, a Danone e a Nestlé produziram 3%, a PepsiCo foi responsável por 5% das embalagens descartadas e 11% dos resíduos plásticos de marca puderam ser rastreados até a Coca-Cola… No entanto, embora muitas dessas empresas tenham tomado medidas voluntárias para melhorar seu impacto na poluição plástica, autores do estudo argumentam que elas não estão funcionando. A produção de plástico dobrou desde o início de 2000, e estudos mostram que apenas 9% do plástico está sendo reciclado.”4 O lixo plástico está em todo lugar. Podemos nós, consumidores, evitá-lo? As corporações dizem que somos nós que devemos agir com responsabilidade. David Boyd, relator da ONU, não esconde seu desespero diante de “um sistema que é absolutamente baseado na exploração das pessoas e da natureza. E, a menos que possamos mudar esse sistema fundamental, estaremos apenas remexendo as cadeiras do convés do Titanic… Nos últimos seis anos, fiquei enlouquecido com o fato de os governos simplesmente não se darem conta da história. Sabemos que o setor de tabaco mentiu com todos os dentes durante décadas. O setor de chumbo fez o mesmo. O setor de amianto fez o mesmo. O setor de plásticos fez o mesmo. O setor de pesticidas fez o mesmo. Não consigo fazer com que as pessoas pisquem um olho. É como se houvesse algo errado com nossos cérebros, pois não conseguimos entender a gravidade dessa situação. Acho que o direito a um meio ambiente saudável é, na verdade, a base de que precisamos para desfrutar de todos os outros direitos humanos. Se não tivermos um planeta Terra vivo e saudável, todos os outros direitos serão apenas palavras no papel.”5 Responsabilidade corporativa? ESG? Será que devemos ler as letras minúsculas nos produtos que compramos? Bem, os CEOs nos EUA recebem 350 vezes o salário médio dos trabalhadores. Eles se vinculam aos acionistas, que confirmam seus ganhos, se maximizarem os dividendos. Uma mão lava a outra. Falamos de democracia, mas o poder está no mundo corporativo, e o 1% governa. ![]() Monbiot está certo em seu ceticismo em relação à democracia. O orçamento federal dos EUA, o dinheiro que Biden tem que brigar pelo uso de cada bilhão, é de cerca de 6 trilhões de dólares. Larry Fink, na BlackRock, administra 10 trilhões e coloca o dinheiro onde os algoritmos mostram que os dividendos serão maximizados, no curto prazo, qualquer que seja o impacto econômico, social e ambiental. As cinco principais empresas de gestão de ativos administram quase 30 trilhões, mais do que o PIB dos EUA.6 O ESG está presente em todas as comunicações. Mas “o próprio relatório da Capgemini fornece um dado que demonstra o estado real da sustentabilidade nos negócios: ‘Os investimentos em iniciativas de sustentabilidade permaneceram estáveis entre 2022 e 2023 e representaram menos de 1% da receita total em 2023, enquanto os orçamentos de marketing foram equivalentes a 9,1% da receita anual, em média’. Em outras palavras, as empresas investem quase 10 vezes mais em marketing do que em sustentabilidade.” 7 Estamos sendo pressionados a consumir mais, e esses 9,1% para marketing estão nos preços que pagamos pelos produtos. É outra bola de neve à vista de todos, mas não à vista dos algoritmos corporativos. Estamos enfrentando grandes corporações, com impacto em escala mundial, mas com objetivos limitados. Pessoas com uma abordagem fantasiosa de Papai Noel para os negócios, ou por uma abordagem liberal, considerariam que essas são apenas maçãs podres. Mas o The Economist vai direto ao ponto, quando se refere ao “mau cheiro que paira sobre várias empresas poderosas”: A Boeing enfrenta reclamações de que vendeu aviões 737 MAX com software perigoso. Ela diz que está “tomando medidas para garantir totalmente a segurança do 737 MAX”. Foram apresentadas acusações criminais contra o Goldman Sachs na Malásia por seu papel na estruturação de uma dívida de US$ 6,5 bilhões para um fundo estatal que se envolveu em fraude. O Goldman afirma que está cooperando com os investigadores. Um júri da Califórnia acaba de concluir que a Monsanto não avisou a um cliente que seu herbicida poderia, supostamente, causar câncer. A Bayer, empresa alemã que comprou a Monsanto em junho, disse que recorrerá do veredito. O Wells Fargo, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, admitiu ter criado 3,5 milhões de contas bancárias não autorizadas. Ele diz que está trabalhando para “reconstruir a confiança de nossas partes interessadas”. O Facebook está envolvido em escândalos; suas práticas em relação a dados foram examinadas em vários países. A empresa diz que ‘precisamos de um papel mais ativo para os governos reguladores’.8 Isso foi em 2019, antes de outros aviões da Boeing perderem uma porta ou rodas durante os voos. O OxyContin, vendido como analgésico opioide, já matou centenas de milhares de pessoas nos Estados Unidos. A família Sackler, proprietária da Purdue, está sendo processada, mas o dinheiro ganho gerou fortunas para a Johnson&Johnson, AmerisourceBergen e Walmart. As empresas estão desembolsando mais de US$ 50 bilhões no total em acordos de ações judiciais nacionais. De acordo com o The Economist, com 50.000 mortes por overdose por ano e aumentando, a crise de opioides dos Estados Unidos nunca foi tão grave. Eles continuam vendendo, os grandes distribuidores ganham dinheiro com isso, pagam as multas – insignificantes em comparação com os lucros – e continuam matando pessoas sem ter que admitir culpa. Isso faz parte do admirável mundo novo dos “acordos”. 9 Trouxe aqui apenas alguns exemplos, mas eles não são maçãs podres. Elas são o sistema. Alguns devem se lembrar do esquema da Libor do qual participaram todos os grandes bancos europeus. A Bayer e outros continuam a produzir produtos químicos proibidos na Europa, pois estão autorizados a vendê-los no exterior, inclusive para o Brasil, onde o agronegócio apoiou a eleição de Bolsonaro. Portanto, está tudo bem se você estiver envenenando outras nações. A invasão GAFAM [acrônimo de Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft] de nossas mentes se expande, enquanto os governos correm atrás de possíveis regulamentações para reduzir o que Max Fisher chamou, com razão, de A Máquina do Caos. E todos eles geram dividendos extraídos pela BlackRock e por outras estruturas de gestão de ativos vistas acima. Todos eles também usam amplamente os paraísos fiscais para escapar não apenas dos impostos, mas também das informações sobre os fluxos financeiros. Temos um sistema de governança financeira corporativa global e reuniões de Bilderberg, mas nenhum governo ou regulamentação global. É uma bagunça global, que nos leva para o fundo do poço. Marjorie Kelly vai direto ao ponto: “O verdadeiro problema é o excesso de riqueza – como os oito bilionários que possuem metade da riqueza mundial. Mas a cultura de nossa economia em geral apoia, na verdade exige, a extração máxima de riqueza… O que está acontecendo é uma aspiração para cima. Os ativos financeiros se tornaram uma gigantesca ação de sucção, apertando os bolsos dos consumidores, gerando desemprego, elevando os preços das moradias a patamares inalcançáveis, criando monopólios que dificultam as empresas familiares, bloqueando nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas, desestabilizando a economia com os altos e baixos do mercado de ações. E permitindo que os bilionários dominem a democracia… As empresas precisam obter lucro para sobreviver, mas a maximização desencadeia danos à sociedade e à destruição da Terra.” 10 Não se trata de Trump, nem de Bolsonaro, nem de Milei, nem de Orban, nem de tantos demagogos prontos para lamber as botas das empresas. É sobre as corporações que criam o terreno para eles. | A A |
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O que é preciso mudar no abono salarialPacote de cortes do governo atinge também um benefício consagrado na Constituição, e de grande importância para milhões de assalariados. Se é para alterá-lo, que seja para incluir as domésticas e os rurais – em sua maioria pobres e negras – excluídos injustificavelmente Por João Telésforo O pacote fiscal do governo tem recebido merecidas críticas, ao longo das últimas semanas, pela adoção de critérios mais restritivos para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e, sobretudo, pela limitação imposta à política de aumento real do salário mínimo. A proposta de mudança no abono salarial, por outro lado, tem sido objeto de poucas discussões. O abono consiste em um benefício a que têm direito trabalhadores com cadastro de pelo menos cinco anos no PIS/PASEP, que tenham trabalhado por pelo menos 30 dias com carteira assinada no ano-base para empregadores que contribuem para o PIS/PASEP, recebendo remuneração anual média de até dois salários mínimos mensais. Desde a Constituição de 1988, o benefício era pago no valor de um salário mínimo para todos os trabalhadores que atendessem a esses requisitos. A partir de 2015, com o ajuste fiscal de Joaquim Levy no segundo governo Dilma, o pagamento passou a ser proporcional aos meses trabalhados com carteira assinada (sob protestos, inclusive, de parte da bancada do PT, como o Senador Paulo Paim). Hoje, o trabalhador tem direito a receber 1/12 do salário mínimo de abono por cada mês com carteira assinada por empregador que contribui para o PIS/PASEP. Em 2019, o governo Bolsonaro encaminhou ao Congresso, junto à reforma da Previdência, a proposta de restringir o abono aos trabalhadores que ganhassem até um salário mínimo. O ministério da Economia de Paulo Guedes alegava que a concessão do benefício a trabalhadores com renda mensal de 1 a 2 salários mínimos seria “regressiva e concentradora de renda”. Os economistas Pedro Rossi, Marco Antônio Rocha e Arthur Welle fizeram as contas, no entanto, e demonstraram que o abono salarial contribuía para a redução do índice Gini de desigualdade de renda (ver aqui). Observaram ainda que o desenho vigente, de concessão do abono para quem tinha renda de até dois salários mínimos, produzia queda da desigualdade maior do que com a limitação do benefício somente para quem tinha renda de até 1 salário mínimo. O Congresso rejeitou as regras mais duras para o abono propostas por Guedes, à época. A medida encaminhada agora pelo governo Lula gera menos injustiças: a restrição do universo de pessoas com direito ao abono será feita paulatinamente, por meio de uma regra engenhosa. A renda para fazer jus ao abono no ano que vem, de R$ 2.640,00 mensais, passará a ser reajustada pela inflação, anualmente. Conforme o salário mínimo siga crescendo acima da inflação ao longo dos próximos anos, a renda para fazer jus ao abono ficará, a cada ano, um pouco mais abaixo dos dois salários mínimos mensais – até que atinja o valor de 1,5 salário mínimo, quando voltará a ser vinculada ao salário mínimo nesse valor. O problema mais grave da proposta do governo, do ponto de vista do combate às desigualdades, não é a gradual restrição do abono a quem tenha renda de até 1,5 salário-mínimo (ainda não há estudos que tenham estimado os efeitos dessa política ao longo dos próximos anos). O problema é novamente reformar o abono salarial sem enfrentar a grave discriminação que essa política tem reproduzido ao longo de décadas: a exclusão de expressiva parte dos trabalhadores e trabalhadoras domésticas e rurais que têm carteira assinada. Note-se que fazem jus ao abono apenas trabalhadores com carteira assinada, mas nem todos: apenas aqueles cujos empregadores contribuem para o PIS/PASEP. Pessoas físicas não contribuem para o PIS/PASEP. Logo, trabalhadores contratados por pessoas físicas não têm direito ao abono. De acordo com a Pnad 2023, do universo de 6,08 milhões de empregados domésticos no Brasil, 91,1% são mulheres, sendo a grande maioria mulheres negras. Estão excluídas do abono não apenas as milhões de trabalhadoras domésticas que estão na informalidade (junto ao conjunto dos trabalhadores informais), mas também o contingente minoritário de 1,4 milhão que têm carteira assinada, pois são empregadas por pessoas físicas. Outro setor em que há contingente significativo de empregados por pessoas físicas é o dos trabalhadores rurais. Cerca de 70% dos 3,6 milhões de trabalhadores assalariados rurais no Brasil são negros, e 58% estão na informalidade, de acordo com dados da PNADC citados por estudo da Oxfam de 2024, que registra ainda que a maioria dos empregadores rurais é pessoa física. Os direitos previstos na CLT não foram concedidos, inicialmente, para trabalhadores rurais e empregadas domésticas – sequer no plano formal. As lutas no campo conquistaram a igualdade de direitos somente com a Constituição de 1988. Já no caso das empregadas domésticas, essa conquista veio ainda mais tarde: com a PEC das domésticas, aprovada em 2013 (com o voto contrário do então deputado Jair Bolsonaro). Não se trata de acaso: em um país capitalista dependente, pós-escravista, profundamente racista e patriarcal, naturaliza-se a superexploração de negros e negras, assim como a espoliação dos povos indígenas; mais ainda, das mulheres negras e indígenas. No campo e no espaço doméstico, essas relações de violência e exploração sempre foram particularmente visíveis. Ao mesmo tempo, esses são também lugares de insubmissão e lutas multisseculares, frequentemente invisibilizadas. Se há reforma necessária do abono salarial, ela deve começar por medidas para reparar essa injustiça histórica, começando pela concessão do direito ao abono a trabalhadores empregados por pessoas físicas, o que beneficiaria sobretudo empregadas domésticas e trabalhadores rurais. A rigor, a exclusão desses grupos desse direito é inconstitucional, uma vez que se trata de medida discriminatória, fruto de um sistema de relações sociais racistas e patriarcais. O pensamento econômico, político e jurídico que se nega a enfrentar e transformar essa realidade é aquele que continua a operar como “espelho da Casa Grande”, conforme teorizou Juliana Araújo Lopes em seu estudo sobre a luta das trabalhadoras domésticas por direitos. Se o governo procura uma medida não apenas de impacto conjuntural, mas de significado histórico na luta por justiça social, racial e de gênero (tal qual a PEC das domésticas), este seria um momento adequado para fazer a reforma verdadeiramente necessária no abono salarial. Já há proposições legislativas nesse sentido em tramitação no Congresso Nacional: o Senado aprovou, em 2013, projeto de lei do Senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para estender o direito ao abono salarial aos empregados de pessoas físicas, urbanas e rurais. O projeto encontra-se parado na Câmara dos Deputados (PL 6684/2013), desde então. Mais recentemente, no ano passado, o Instituto Doméstica Legal encaminhou sugestão de um projeto semelhante à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, para garantir o pagamento do abono salarial aos empregados domésticos e domésticas. A Sugestão recebeu parecer favorável do Senador Paulo Paim, e tramita como PLP 147/2023. É verdade que a concessão do abono à minoria de trabalhadoras domésticas e rurais que têm carteira assinada não resolveria o problema das milhões de outras que permanecem na informalidade. Não há dúvidas de que precisamos caminhar para uma política de renda básica universal de cidadania, de modo que o regime de proteção social não dependa de vínculo empregatício. Entretanto, seria má-fé utilizar isso como argumento para manter a regra racista atual; é imperativo superar, de imediato, a exclusão discriminatória desse direito a 1,4 milhões de trabalhadoras domésticas, além de contingente expressivo de trabalhadores rurais. Não faz tantos anos que alguns setores da esquerda opunham-se às cotas raciais para o ensino superior com a alegação de que era preciso melhorar a educação de base e universalizar o acesso às universidades – um discurso de inclusão, na aparência, utilizado como pretexto para seguir praticando a exclusão racista. Não podemos admitir a repetição desse tipo de discurso. Enquanto existir o abono, enquanto não for suplantado por uma política superior de renda básica universal, não é admissível manter a odiosa e explícita discriminação legal que trata milhões de brasileiros e brasileiras, majoritariamente negros e negras, como cidadãos de segunda classe, sacrificando-os no altar rentista da austeridade fiscal. Agradeço a Pedro Marques pelos comentários que contribuíram para aprimorar este texto, isentando-o de responsabilidade pelas opiniões aqui expostas. | A A |
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A A | Quando a democracia do cotidiano fagulhavaEntre 1980 e 2000, Brasil viveu ciclo virtuoso de políticas urbanas locais. Visavam superar as desigualdades com imaginação política e participação. Projeto propõe: resgate de memórias coletivas pode subsidiar novas lutas por cidades mais justas Por Carolina Borin, no Jornal da USP Entre o início dos anos 1980 e o final dos anos 1990, o Brasil vivenciou uma fase de inovações nas administrações municipais de várias cidades. As Prefeituras das cinco regiões do País colocaram em prática programas políticos que abrangiam temas variados e pautados numa perspectiva mais democrática de cidade, incluindo descentralização administrativa, conselhos populares, integração de transportes, tarifa social e tarifa zero, agricultura urbana, segurança alimentar, equipamentos públicos, além de iniciativas em saúde e educação. Com o objetivo de resgatar registros e memórias das inovações e experiências vivenciadas nesse período é que se originou a pesquisa de doutorado As prefeituras democráticas e o ciclo virtuoso da política urbana no Brasil: 1980 – 2000, de Pedro Rossi, arquiteto, urbanista e pesquisador do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LABHAB) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design (FAU) da USP. A orientação da pesquisa é de Erminia Maricato, arquiteta e urbanista e Professora Emérita da FAU. Durante a pesquisa, Rossi reuniu uma grande quantidade de materiais impressos – de cartazes, panfletos a fotografias e jornais – e audiovisuais do período que o pesquisador caracteriza como ciclo virtuoso da política urbana brasileira. Para disponibilizar esse acervo e a memória desse período, ele construiu a plataforma digital Ciclo Virtuoso, que está disponível desde o dia 3 de outubro para acesso público e gratuito. “Ao mesmo tempo em que fazia esse exercício de organizar a bibliografia e estudar para minha tese, estava gerando um repositório virtual de todo esse material que foi analisado”, comenta Rossi. “Ao invés de deixar isso numa pasta privada, no meu próprio computador, tivemos a ideia de colocar esse material em um repositório digital.” A partir desse momento, Rossi e Erminia passaram a dedicar um tempo da pesquisa à formulação dessa plataforma e compreender de que forma outros acervos virtuais estavam sendo construídos. “Esse processo me ajudou a entender que a nossa pesquisa também atende a uma demanda muito forte hoje, que é atender às políticas de memória”, complementa Rossi sobre a construção e a idealização da plataforma. “O site atual é só um um repositório inicial a partir dessas pesquisas que estamos fazendo agora, mas a ideia é que, a partir de estudos e trabalhos de outras pessoas, o repositório seja complementado, colocando-se como um memorial dos programas e do que já foi vivenciado, inclusive, para atualizar um pouco dos nossos atuais paradigmas.” A ferramenta escolhida para o desenvolvimento foi o Tainacam, um software livre feito pelo Laboratório de Inteligência de Redes da Universidade de Brasília (UnB), com apoio da Universidade Federal de Goiás, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e do Instituto Brasileiro de Museus. Ele é um plugin associado ao WordPress (sistema livre e aberto de gestão de conteúdo para internet) e não tem nenhum custo de instalação ou atualização, podendo ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição. O Tainacam é utilizado por acervos vinculados ao Ministério da Cultura e instituições associadas à USP, como o Museu do Ipiranga. Ciclo virtuoso da política urbana brasileiraComo consequência, na década de 60 os problemas urbanos se agravaram e a quantidade de habitações como cortiços e favelas aumentaram consideravelmente. Os movimentos sociais da época, muito influenciados por uma política de bem-estar social, começaram a desenhar caminhos para superar os desafios do crescimento urbano, como se observa com as políticas de Reforma de Base do presidente João Goulart. “Em 1964, aconteceu o golpe que instaurou uma ditadura que não só negou, como também reprimiu os movimentos de luta pela Reforma Urbana, pelo acesso à moradia digna e que atravessa o direito à cidade”, pontua Rossi. Apesar da repressão e da interferência das lideranças da ditadura civil-militar nas eleições municipais, algumas experiências do ciclo virtuoso são observadas ainda nos anos 70, em cidades como Lages, em Santa Catarina, e Piracicaba, em São Paulo. Em Lages, por exemplo, sob a gestão do prefeito Dirceu Carneiro, a população tinha uma participação significativa em encontros culturais, associações e programas municipais, como o de medicina comunitária. Com o fim da ditadura militar e a redemocratização, as Prefeituras passaram a incorporar as práticas dos movimentos sociais na gestão. “Esses movimentos estavam superaguerridos no momento inicial dessas Prefeituras, fazendo com que a sua participação fosse muito importante na elaboração e na implementação dessas políticas, ao ponto deles executarem de maneira participativa esses programas”, diz o pesquisador. “A participação social foi uma grande chave de mudança.” “No Brasil, nesse período, existe um movimento nas cidades, na esfera do poder local e que passa a formar uma rede nacional de luta por direitos”, salienta Erminia Maricato. “Essa rede nacional faz e encaminha um projeto de Reforma Urbana para os debates de elaboração da Constituição de 1988, na qual conquistamos a inclusão de dois artigos sobre cidades pela primeira vez”, afirma. Algumas das experiências do ciclo virtuoso também vão além da redemocratização e do período do Ciclo das Prefeituras Democráticas. Algumas delas ocorreram nas primeiras décadas do século 21 em cidades como São Paulo (gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad), Araraquara (SP) e Maricá (RJ). Também se destacam os casos de João Pessoa e Conde, na Paraíba, sob as gestões de Ricardo Coutinho e Márcia Lucena. ![]() Sobre a experiência vivenciada, Erminia complementa: “É difícil de acreditar pela falta de memória coletiva deste momento”. A motivação para pesquisar esse tema nasceu justamente deste aspecto e que, segundo Rossi, dialoga com o próprio contexto atual do País. “Estamos vivendo uma escalada e retomada de uma política ultraconservadora acompanhada de um projeto de apagamento de políticas públicas que visam a superar desigualdades sociais”, afirma o pesquisador. “A tese faz um pouco essa provocação, de olhar o período democrático e participativo que tivemos nas Prefeituras e recuperar essa memória”, diz Rossi. Erminia Maricato salienta a importância de projetos como esse: “Estamos vivendo um certo presentismo, de hipervalorização do tempo presente e do imediato, mas um povo que não tem memória, não é dono do seu passado, não consegue desenhar um projeto de futuro”. O pesquisador comenta que a pesquisa não é uma tentativa de repetir o passado do ciclo virtuoso, uma vez que o contexto é totalmente outro, com uma estrutura dos movimentos sociais, quantidade de repasses e estratégias de comunicação distintas. “Recuperar essa experiência pode mostrar para as Prefeituras atuais que, enquanto as preocupações do dia a dia da população não forem atendidas o poder vai continuar concentrado nas mãos de poucos, assim como a renda perpetuando desigualdades”, comenta Rossi. “A proposta é ressaltar a importância dessa democracia do cotidiano e sinalizar caminhos para essa construção longa e coletiva de um outro futuro possível”, destaca a orientadora. Navegando na plataformaA plataforma Ciclo Virtuoso é de livre acesso e fácil uso com navegação por meio de páginas e seções. O repositório é dividido em: página inicial, acervo, mapa, vídeos e cronologia. Em todas as páginas, está presente a aba explicativa “Como Navegar?”, que explica de que maneira o usuário pode usar a plataforma. Há também o recurso de hiperlink a partir do ícone que representa uma pasta de arquivo digital, que, ao serem clicados, direcionam o usuário à coleção de documentos ou diretamente aos detalhes do item no acervo. Na página inicial apresenta-se a proposta do site e o tema abordado no projeto para contextualizar o usuário sobre o que foi o Ciclo Virtuoso das Prefeituras. Nessa página também está disponível parte dos materiais para consulta, entre eles impressos e fotografias com legendas específicas. ![]() Trecho da página inicial da plataforma Ciclo Virtuoso com folheto informativo da Prefeitura de Diadema, livreto informativo da Prefeitura de Londrina e das Prefeituras de Vitória e Belém- Imagem: Reprodução/Ciclo Virtuoso No Acervo, é possível procurar itens por busca simples por termos; avançada, que direciona a termos e formatos mais específicos do material; ou por filtros. Estes permitem refinar a pesquisa com base em múltiplos critérios: tipo de documento, data de publicação, suporte do material, localização, gestão da Prefeitura, fase do ciclo e partido da gestão. Os resultados podem ser ordenados por categorias específicas também. A página Mapa auxilia na geolocalização das experiências documentadas, oferecendo uma visão espacial das iniciativas. Aqui podem ser aplicados os mesmos filtros que são utilizados na busca na seção Acervo. Em Vídeos, estão disponíveis os materiais audiovisuais coletados em ordem cronológica. Ao lado de cada item há uma breve explicação e contextualização. Na página Cronologia, o usuário tem acesso a linhas do tempo interativas, organizadas por décadas e segmentadas a cada dois anos, com eventos destacados em cores diferentes para facilitar a navegação. Os eventos estão categorizados por temas. Ao passar o cursor sobre os ícones ou barras, você pode visualizar mais informações e acessar conteúdos e documentos vinculados. A página está dividida em seis seções. A primeira delas é Panorama, geral do contexto histórico, com duas linhas do tempo, sendo uma do período da ditadura civil-militar e outra da Nova República – da década de 1980 até o início do século 21 –, com ênfase nas gestões municipais e seus contextos históricos. As outras cinco seções são dedicadas às gestões municipais das regiões do Brasil – Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. ![]() Trecho da linha do tempo Nova República (Redemocratização e Ciclo Virtuoso) e detalhe do marco da Criação do Fórum Nacional de Participação Social, no dia 1º de janeiro de 1990 – Imagens: Reprodução/Ciclo Virtuoso A pesquisa As prefeituras democráticas e o ciclo virtuoso da política urbana no Brasil: 1980 – 2000 ainda está em fase de conclusão, com previsão de defesa da tese para o primeiro trimestre de 2025. A autoria da pesquisa e desenvolvimento da plataforma são de Pedro Rossi, arquiteto e urbanista, membro pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) A Produção da Casa e da Cidade, do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LABHAB) da FAU e da Rede BrCidades. A orientação e a coordenação do projeto são de Erminia Maricato, arquiteta e urbanista, Professora Emérita da FAU que foi Secretária Municipal de Habitação de São Paulo, coordenou a criação do Ministério das Cidades, além de pesquisadora do INCT Produção da Casa e da Cidade e membro da Rede BrCidades. Para saber mais, acesse a plataforma neste link. Acesse também a página do LABHAB para conhecer mais projetos do Laboratório. | A A |
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A A | A reaparição dos invisíveisO trabalho assalariado não acabou — e ocupa quatro vezes mais jovens que o “empreendedorismo”. Atingidos pelos retrocessos trabalhistas, eles foram esquecidos também por parte esquerda. O VAT mostrou sua força. Mas quem são? Logo depois das eleições municipais de 2024, no calor dos debates sobre a dificuldade de candidatos e partidos à esquerda dialogarem com “as periferias” e as “classes populares”, um acontecimento chamou a atenção da mídia e do cenário político: a emergência de um movimento reivindicando o fim da escala 6X1. Chamado VAT, acrônimo de “Vida Além do Trabalho”, o movimento traz como principal bandeira o fim do regime semanal de seis dias de trabalho para um de descanso e afirma a necessidade de limitar a jornada de trabalho para que haja tempo para o lazer, a convivência com a família e amigos, os estudos e os cuidados com a saúde. Ou seja, para usufruir da vida. Tudo nesse movimento parece inusitado e improvável, porque desvela atores invisíveis, e põe em cena agendas decretadas como desatualizadas, lutas consideradas perdidas, identidades que algumas análises acadêmicas interpretam como não tendo mais apelo. E, sobretudo, contraria várias narrativas correntes a respeito das posições dos jovens no mundo do trabalho, das suas experiências, queixas e demandas, do que os toca e mobiliza. Quem se dispõe a observar com algum cuidado os protagonistas desta mobilização constata que o VAT é composto em sua grande maioria por jovens das classes populares (o que, em geral, coincide com morar “nas periferias”), trabalhadores assalariados nos setores de comércio e serviços. Essa é uma primeira dimensão do espanto, porque os diagnósticos correntes sobre os jovens no Brasil tendem a ressaltar as dimensões da inatividade, exibindo dados sobre o sempre notável número de nem nem, a evasão escolar e o desalento ou o subaproveitamento da força de trabalho nessa geração. Também porque impera um discurso de que, devido às transformações no mundo do trabalho, os jovens dessa geração estariam absolutamente distantes da experiência do trabalho assalariado, sendo todos conta-própria, autônomos, empreendedores ou aspirantes a se estabelecerem como tais. A segunda dimensão do espanto vem do fato de que uma mobilização tão significativa tenha sido provocada por “um grito de dor”, denunciando uma situação de exaustão que afeta a saúde física e mental desses jovens; que o mote da mobilização tenha sido essa identidade na dor, a necessidade de dizer “chega”, dizer “desse jeito, não”, indo na contramão do que dizem os apelos lançados à potência, resiliência, garra dos jovens, que tem fundamentado as propostas de empregabilidade e empreendedorismo. Por fim, surpreende também o fato de esses jovens se identificarem como parte “das classes trabalhadoras”, construírem suas reivindicações tomando como referência a legislação trabalhista (CLT) e levantarem, com uma importante releitura, uma bandeira que atualiza uma demanda clássica da luta por direitos do trabalho: a limitação da jornada e a defesa do descanso remunerado, contrariando uma tese corrente de que a agenda de direitos do trabalho estaria superada, uma vez que não teria apelo para as novas gerações. Quem são e o que dizem O fundador do movimento VAT, Rick Azevedo, recém-eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro, é um jovem trabalhador do setor de comércio. Atualmente com 31 anos, migrou do interior do Tocantins para a capital carioca antes de completar 18 anos, em busca de oportunidades de trabalhar e estudar.
Nesse percurso, desenvolveu uma extensa trajetória de trabalho, com ocupações variadas em empregos de baixa qualificação e remuneração, que vão de bicos de vendedor ambulante ao trabalho assalariado formal no comércio como balconista de farmácia. Como ele sempre afirma, 12 anos na esgotante escala 6×1. Ressaltando a contradição entre suas expectativas e a realidade imposta pelas funções que exerceu para sua sobrevivência, Rick expressou seu incômodo por não ter tempo para usufruir de outras dimensões da vida, como resultado desse regime de trabalho. Suas queixas foram vocalizadas inicialmente nas redes sociais, como nesse primeiro desabafo postado em 13 de setembro de 2023 no TikTok3:
O reclamo rapidamente viralizou: sua postagem desencadeou uma grande identificação, provocando inúmeros relatos de queixas semelhantes, o que ensejou a criação do VAT, com a proposição de um abaixo assinado pedindo uma modificação na CLT que impedisse a contratação na escala 6X1. Aliando a agitação nas redes com campanhas diárias nas ruas, em regiões de comércio e circulação de trabalhadores, com pequenos panfletos e muita conversa, converteram o que seriam apenas likes em um milhão de assinaturas para uma petição dirigida ao Congresso Nacional. Pouco tempo depois, o movimento se fortalece e ganha uma escala nacional ao ganhar o apoio fundamental da deputada Erika Hilton na proposição de uma Proposta de Emenda Constitucional pela transformação da jornada de trabalho. Jovens trabalhadores A história do Rick Azevedo, assim como de outras lideranças do VAT e de seus seguidores, é ilustrativa de um segmento pouco visibilizado no nosso debate político: jovens trabalhadores, que compõem a imensa maioria da juventude brasileira e um segmento expressivo das classes trabalhadoras do nosso país. Apesar das manchetes recorrentes na mídia e das conclusões dos diagnósticos preparados por instituições especializadas repisarem eternamente o problema da “inatividade e desengajamento da juventude”4, a grande maioria dos jovens brasileiros, a partir dos 18 anos, está intensamente envolvida com o mundo do trabalho. Segundo o IBGE, a taxa de participação dos jovens entre 18 e 29 anos de idade é de 74,5%, isto é, 3 em cada 4 jovens trabalha ou procura emprego, uma proporção maior do que aquela encontrada para o conjunto da população adulta5. Os tipos de ocupação abrangem tanto as velhas como as novas formas de trabalho e são, em geral, trabalhos de baixa qualificação, com jornadas intensas, salários baixos e pouca garantia de direitos e proteção. Ao contrário do que postulam certas percepções em cena, a grande maioria dos postos ocupados por jovens é de trabalho assalariado, e não de trabalho autônomo. Em 2023, três quartos (78,7%) dos jovens ocupados eram assalariados – incluídos nessa categoria os empregados com carteira assinada (47,4%), os empregados sem carteira assinada (25,7%), os militares e servidores estatutários (2,3%) e os trabalhadores domésticos (3,3%)6. Menos de um quinto (17,5%) trabalhavam por conta-própria e apenas 1,6% era empregador (duas categorias nas quais poderiam constar os autônomos e os “empreendedores”). Vale a pena assinalar que não é entre os jovens que o trabalho autônomo (ou o empreendedorismo) ganha mais adeptos. As parcelas de conta-própria e de empregadores aumentam conforme se eleva a faixa etária. No entanto, é entre os jovens que são mais presentes as situações de trabalho assalariado precário, como as informais, as atingidas pelas desregulamentações recentes, as que envolvem trabalho por tempo indeterminado, pagamento por demanda e por metas. Mesmo os postos assalariados formais disponíveis para os jovens são aqueles com maior rotatividade, mais mal pagos e com jornadas e escalas mais desfavoráveis. Em 2023 (último dado disponível), o salário médio dos jovens ocupados no trabalho principal era de R$ 1.964,00, o que corresponde a dois terços do já baixo salário médio do trabalho principal da população ocupada como um todo (R$ 2.890,00). E as jornadas de trabalho são tão intensas quanto as da população adulta: 75% dos jovens entre 14 e 29 anos ocupados trabalhava em jornadas semanais de 40 horas ou mais, quase o mesmo que entre a população adulta (76,3%). A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) não nos informa sobre a escala de trabalho semanal, ponto central da demanda do VAT, mas sabemos que essa é a que impera nos setores de comércio e serviços7, historicamente aqueles que mais absorvem a força de trabalho juvenil. A observação da distribuição por setor de atividade mostra que 38% dos jovens entre 14 e 29 anos ocupados estavam em três segmentos: nos setores de “comércio e reparação” (24,5%), “alojamento e alimentação” (7%) e “outros serviços” (6,7%). Em todos esses setores, os jovens representam mais de um terço de todos os ocupados8. Apesar de a maioria dos jovens trabalhadores vivenciarem estas relações e condições adversas, há pouca atenção voltada para essa situação, e menos ainda proposições para seu enfrentamento, tanto no plano governamental como no sindical. A maior parte da preocupação com o tema do trabalho dos jovens está centrada na questão da inatividade e do desemprego. As respostas que têm sido encaminhadas atuam apenas no plano da garantia de uma formação educacional e profissional que aumentem as suas possibilidades de conquistar melhores postos de trabalho e, mais recentemente, na substituição do trabalho assalariado por alternativas de empreendedorismo e start ups como uma forma “mais moderna” e satisfatória de inclusão produtiva para os jovens. Ou seja, há pouca ou nenhuma tentativa de interferir nas condições dos trabalhos disponíveis, de modo a proteger a saúde e os direitos dos jovens trabalhadores. Os líderes e os seguidores do VAT são jovens trabalhadores assalariados, de diferentes setores do comercio e dos serviços, precarizados, exauridos pelas intensas jornadas de trabalho, tendo sua saúde e diferentes dimensões de suas vidas afetadas pela jornada excessiva. É das tensões, conflitos e prejuízos produzidos em suas vidas por esse regime de trabalho que eles se queixam e sobre o que reivindicam mudanças. A escuta atenta às suas falas e pronunciamentos se torna imprescindível para compreender o sentido e alcance que o movimento desencadeado por eles pode ter. Em um vídeo de convocação para a manifestação ocorrida no dia 15 de novembro de 2024, Priscila Araujo Kashimira, uma jovem trabalhadora do telemarketing e liderança do VAT em São Paulo, conclama:
Priscila menciona explicitamente a juventude como classe trabalhadora explorada e desumanizada. Numa entrevista, relatando o seu trabalho como operadora do telemarketing e apontando que situações similares ocorrem entre os “trabalhadores de shopping”, disse: “o trabalhador é tratado como máquina e quando acaba, até a gente lembrar que é um ser humano…”10. Ela, assim como muitos outros integrantes do VAT, acentua as dificuldades de conciliar o trabalho com a vida familiar. Falam das mulheres com filhos pequenos (muitos cartazes em suas mobilizações dizem “quero ver meu filho crescer”), e falam também, como filhos, da experiência de suas mães, com quem não puderam realmente conviver pelo trabalho intenso delas. Todos os relatos, reclamos e depoimentos dos jovens nas redes sociais revelam a insatisfação profunda com as condições dos trabalhos disponíveis – revolta centrada na extensão da jornada, que resulta na impossibilidade de viver as outras esferas da vida. Falando da própria experiência, eles tocaram muitos outros trabalhadores, inclusive os que “não são CLT”, os informais e aqueles por “conta-própria”, que também enfrentam escalas desumanas, às vezes piores, como a 10×1 e até mesmo de 14×1, que têm ocorrido em certos setores do comércio, e a de 7×0, que se tornou frequente entre os autônomos que supostamente detém a autonomia sobre seu próprio tempo de trabalho11. O movimento desencadeado pelo VAT tem impacto especial porque vocaliza demandas de uma experiência geracional singular mas, ao mesmo tempo, catalisa uma insatisfação generalizada e reivindica direitos que dizem respeito a todos os trabalhadores. É significativo que a pauta dos direitos do trabalho e a volta da “classe trabalhadora” ao centro dos acontecimentos tenham surgido da atuação de segmentos invisíveis e desprezados, de trabalhadores assalariados de baixa qualificação dos setores de comércio e serviços, fragmentados e dispersos em pequenas unidades de trabalho, com baixa organização sindical, na sua maioria jovens, negros, moradores das periferias; e que sua representação política no congresso tenha sido empunhada por uma mulher trans, também negra e com origem periférica. A reivindicação pela limitação da jornada de trabalho a no máximo cinco dias por semana atualiza, assim, a demanda histórica de amplos segmentos das classes trabalhadoras pelo descanso remunerado e se coloca como uma das agendas mais significativas da conjuntura, disparando outras ações (como a greve da Pepsico) e trazendo novamente a luta pelos direitos do trabalho para o centro dos acontecimentos. Como dizem seus integrantes, é uma luta contra a precarização, contra a exploração, o sucateamento e a desumanização dos trabalhadores; é uma luta pelo “direito humano e a dignidade”12 levantada pelos trabalhadores da base mais explorada do mercado de trabalho: “este país jamais se sustentará sem a classe trabalhadora da base. Somos a maioria, e a nossa mobilização está apenas começando. | A A |
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