AGRONEGÓCIO
Preço do boi gordo sobe e arroba é vendida a R$ 312,75
Paloma Custódio
A cotação da arroba do boi gordo começou esta sexta-feira (25) com alta de 1,28% e o produto é negociado a R$ 312,75. Frango e carcaça suína especial se mantêm estáveis. Confira os valores.
A cotação da arroba do boi gordo começou esta sexta-feira (25) com alta de 1,28% e o produto é negociado a R$ 312,75.
Já o frango congelado e o resfriado não tiveram variação e o quilo de cada um é negociado a R$ 7,55 nas regiões de referência da Grande São Paulo, São José do Rio Preto e Descalvado.
A carcaça suína especial também segue estável e o quilo está custando R$ 13,31. Já o suíno vivo teve aumento em quase todas as regiões de referência e o quilo é vendido a R$ 8,98 em Minas Gerais, R$ 8,89 no Paraná, R$ 8,62 em Santa Catarina, R$ 8,46 no Rio Grande do Sul e R$ 9,08 em São Paulo.
As informações são do Cepea.
Fonte: Brasil 61
Soja tem alta e saca é vendida a R$ 144,28 em Paranaguá
Paloma Custódio
Nesta sexta-feira (25), a saca de 60 quilos de soja está cotada a R$ 144,28 em Paranaguá, região litorânea do Paraná. O valor representa um aumento de 0,97% em comparação com o último fechamento. O trigo também teve aumento de 0,38% no Paraná, mas não registrou variação no Rio Grande do Sul. Confira os valores.
Nesta sexta-feira (25), a saca de 60 quilos de soja está cotada a R$ 144,28 em Paranaguá, região litorânea do Paraná. O valor representa um aumento de 0,97% em comparação com o último fechamento. No restante do estado, o aumento foi de 0,34% e a saca do grão é vendida a R$ 142,89.
O trigo também teve alta de 0,38% no Paraná, onde a tonelada está cotada a R$ 1.422,65. Já no Rio Grande do Sul não houve variação e o cereal é vendido a R$ 1.270,20/tonelada.
Os valores são do Cepea.
Saca do café arábica é comercializada a R$ 1.495,43, após queda de 0,73%
Paloma Custódio
Nesta sexta-feira (25), o preço do café arábica está cotado a R$ 1.495,43, por saca de 60kg, na cidade de São Paulo. O valor representa uma queda de 0,73% em relação ao último fechamento. Café robusta caiu 1,03%, enquanto açúcar cristal e milho tiveram aumentos. Confira os valores.
Nesta sexta-feira (25), o preço do café arábica está cotado a R$ 1.495,43, por saca de 60kg, na cidade de São Paulo. O valor representa uma queda de 0,73% em relação ao último fechamento. O café robusta também teve queda de 1,03% e a saca está custando R$ 1.393,74 no Espírito Santo.
Já o açúcar cristal teve aumento de 0,23% na cidade de São Paulo e a saca de 50 kg é comercializada a R$ 158,26. Já em Santos, houve queda de 2,09% e a saca do açúcar passou a custar R$ 158,49.
O milho, por sua vez, subiu 1,09% e a saca de 60 kg está custando R$ 71,36 na região de referência de Campinas, no interior paulista.
Os valores são do Cepea.
100 municípios mais ricos no agro contribuem com 31,9% da produção agrícola brasileira
Marquezan Araújo
A produção agrícola brasileira alcançou, em 2023, um valor total de R$ 814,5 bilhões. Desse total, os 100 municípios mais ricos no agronegócio contribuíram com 31,9%, ou seja, R$ 260 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
A produção agrícola brasileira alcançou, em 2023, um valor total de R$ 814,5 bilhões. Desse total, os 100 municípios mais ricos no agronegócio contribuíram com 31,9%, ou seja, R$ 260 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
O destaque vai para o estado de Mato Grosso à frente, abrigando 36 dos municípios mais produtivos do país. A primeira posição é ocupada por Sorriso (MT), com uma produção de R$ 8,3 bilhões, seguido por São Desidério (BA), com R$ 7,8 bilhões.
Outras cidades mato-grossenses que compõem essa lista são Sapezal, com valor de produção agrícola estimado em R$ 7.544.333 bilhões; Campo Novo do Parecis, com R$ 7.157.753; Diamantino, com 5.905.259; e Nova Ubiratã, com 5.463.407 bilhões, entre outras.
Área colhida
Os 100 municípios mais ricos em valor de produção agrícola ocupam uma área colhida de 33,1 milhões de hectares, que corresponde a 34,5% da área total de hectares do Brasil.
Esse grupo dos 100 municípios está distribuído entre 14 unidades da federação. São elas:
- Bahia
- Distrito Federal
- Goiás
- Maranhão
- Mato Grosso
- Mato Grosso do Sul
- Minas Gerais
- Pará
- Paraná
- Pernambuco
- Piauí
- Rio Grande do Sul
- São Paulo
- Tocantins
Produtos
Em relação aos produtos, a soja continua no topo, com R$ 348,6 bilhões. Esse valor corresponde a 42,8% do valor total da produção agrícola. Quanto ao milho, também houve resultados significativos, com R$ 101,8 bilhões, seguido pela cana-de-açúcar, com R$ 101,9 bilhões. Outras culturas como algodão, laranja e café também tiveram participações expressivas.
Confira a lista completa dos municípios mais ricos em relação à produção agrícola
Fonte: Brasil 61
O Agro e a força… dos castelos de cartas
Quebra de uma grande empresa do setor revela: empréstimos privados aos produtores rurais acumulam-se e podem ter se tornado tóxicos, com a queda dos preços das commodities. Mídia silencia, mas já há quem queira ganhar com o drama alheio
Há 16 anos, em 2008, vimos eclodir a maior crise financeira desde a Grande Depressão. Rapidamente essa crise foi batizada pela imprensa burguesa como a “Crise do Subprime”2. Esse nome pouco sugestivo, levou a população a entender que a crise se deu devido à complexidade do sistema financeiro, pois tal sistema teria sido desenhado por “cientistas de foguetes”3. As causas da crise não repousavam, portanto, nas pulsões imanentes ao modo de produção capitalista, mas num mero desvio no caminho desse virtuoso sistema que conduz a humanidade ao progresso, sempre confundido pelos entusiastas burgueses com o mero avanço das forças produtivas.
Entretanto, a “crise do subprime’ não foi nem de um mecanismo incompreensível para a população, nem um desvio do capitalismo. Comecemos pela explicação mais simples possível do que são os CDO (Obrigações de dívida com garantia), os títulos vinculados à crise do subprime. No geral, essa categoria de ativos combinava um conjunto de dívidas, emitidas por diferentes devedores – com diferentes riscos associados –, com lastros imobiliários. Isto é, as dívidas eram emitidas sobre o valor de determinada propriedade imobiliária e essa propriedade era a garantia do credor caso os compromissos não fosse honrados pelo devedor. Ou seja, tratava-se de títulos de dívida com mais de um emissor. A ideia da emissão de um título que incorporasse a dívida de devedores distintos era que caso um devedor não pagasse, o título como um todo não estaria comprometido. Diluindo o crédito mais arriscado com crédito menos arriscado o risco total do título, supostamente, diminuiria e, assim, seria possível oferecer crédito a taxas mais baixas a pessoas e/ou empresas que dificilmente teriam acesso a essas taxas nos mercados convencionais.
Logo, longe de uma “ciência de foguetes” ou um desvio do “bom capitalismo”, o que temos é um mecanismo de expansão do crédito, justamente em um momento de estagnação do processo de acumulação do capital. Essas dívidas, reunidas nos CDOs, eram coordenadas por instituições financeiras – bancárias e não bancárias – e posteriormente vendidas a investidores individuais, institucionais e fundos de investimento. Isto é, a instituição que coordenava a emissão do título repassava o risco a terceiros e abocanhava para si as gordas comissões envolvidas na emissão e comercialização dos títulos.
Na última metade do último mês, a partir do pedido da Recuperação Judicial da Agrogalaxy – tema de artigo4 e entrevista5 publicados pelo Outras Palavras – o “subprime agrícola” brasileiro começou a vir à tona. Isto é, num momento em que, nas palavras de Jonatas Pulquerio, titular de uma das diretorias do ministério da Agricultura, “o produtor [rural] está com problemas”6, passa-se a conhecer o castelo de dívidas erigido ao longo dos últimos anos. Ainda segundo o diretor do ministério “atualmente, os produtores buscam crédito no mercado de capitais, e o pequeno agricultor, em especial, nas revendas. Com isso, as revendas, que estão fora do sistema, atuam como se fossem um banco, liberando crédito através de insumos.”
Isto é, o tão propagandeado agronegócio, hoje, funciona na base de dívidas. Endivida-se para plantar, endivida-se para envenenar o ar, o solo e os grãos para, ao final da safra, pagar esse endividamento. Embora seja esse um elemento importante, seria ingênuo atribuirmos a utilização intensiva do crédito apenas a esse setor, dado que tal prática é inerente ao próprio modo de produção capitalista. O que chama a atenção é o tipo de crédito. A Agrogalaxy tinha por característica, justamente, o adiantamento de recursos aos produtores que chegavam as suas lojas em busca de insumos. Entretanto, essas dívidas de produtores, no geral, eram vendidas ao Fundo de Investimentos Agrícolas (Fiagro) Agrogalaxy, por meio do qual pessoas distantes do negócio compravam cotas que correspondiam a uma parcela das distintas dívidas – emitidas na forma de Letras de Crédito Agrícola (LCAs) e Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs) – contidas no fundo. Isto é, o Fiagro Agrogalaxy já é, por si só, uma espécie de subprime, não só porque continha uma série de dívidas de diferentes emissores, mas sobretudo porque está dirigido aos devedores com maior risco, que não se endividam nos mercados de capitais, mas sim na loja de insumos. Tal como em 2008, é pelos mais vulneráveis na base que o castelo de cartas desaba.
O que pouco se sabe é que, em 2019 foi fundada uma empresa, nomeada Agrolend7 que atua, precisamente, da mesma forma que as instituições financeiras norte-americanas durante o subprime. Veja o que diz a empresa sobre si mesma:
“A Agrolend financia produtores rurais de pequeno e médio porte, em parceria com revendas, cooperativas e indústrias de insumos e equipamentos agrícolas, de forma rápida, fácil e sem burocracia […] A Agrolend capta recursos através da emissão de LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) que são adquiridas por investidores de pequeno e médio porte em plataformas de investimentos digitais. As LCAs Agrolend têm isenção de imposto de renda [IR] e são garantidas pelo FGC até os limites definidos.”8
Estamos diante da descrição mais precisa possível do “subprime agrícola”. Trata-se de uma instituição financeira não bancária que coordena a emissão de dívidas de diferentes pessoas com perfil arriscado, mistura-as em uma Letra de Crédito Agrícola (LCA) – que é isenta de isenta de IR –, embolsa as comissões e repassa o risco aos “investidores de pequeno e médio porte em plataformas de investimentos digitais”, um eufemismo para pequenos poupadores que não entendem os riscos da renda fixa atrelada ao crédito privado.
E se o resultado dessa expansão leviana do crédito for a mesma do subprime? Bom, o diretor do ministério da Agricultura tem a resposta: “quando isso acontece no sistema bancário, o governo entra e renegocia, porque há um instrumento para tal. Com isso, não há risco para os bancos”. Ainda, caso haja terras em garantias, essas vão para leilão e a quase homônima da Agrolend, a Agroland, estará lá, disposta a comprar terras com capital de terceiros para especular e embolsar as comissões9.
Mapa para livrar o Brasil do Agronegócio
Em contraponto ao modelo agrícola hegemônico, Agroecologia ganha corpo e repercussão. Um primeiro esforço de mapeá-la mostra: há imenso potencial, e interesse do governo. Mas faltam políticas públicas capazes de puxar uma virada
Acesse o relatório do mapeamento.
O Mutirão Solidário CEDAC (Centro de Ação Comunitária) é uma experiência de garantia de acesso a alimentos e enfrentamento à fome, por meio da distribuição de marmitas e cestas. Iniciado em 2020, é conduzido por uma organização dedicada à Educação Popular. A gestão dessa iniciativa é coletiva e comunitária, liderada principalmente por mulheres. Uma ampla gama de atores está envolvida, desde agricultores familiares e camponeses até agricultores urbanos, assentados de reforma agrária, educadores, estudantes, profissionais de saúde e membros de povos e comunidades tradicionais.
A Experiência Ile Axé Oba Labi, um ponto de cultura, e também uma experiência de saúde, começou em 2023, na cidade do Rio de Janeiro (região Metropolitana). O Quintal das Pedrinhas Miudinhas representa um resgate das práticas ancestrais de conexão com a natureza, dedicado à preservação e proteção das plantas tradicionais de matriz africana. A produção para o consumo livre de agrotóxicos é também uma prática essencial. Além de ser um espaço de cultivo e preservação, o local é um centro de atividades socioeducativas e culturais, no qual são promovidos eventos e encontros. Faz parte do Arranjo Local de Guaratiba, do GT de Combate do Racismo Ambiental da Frente Parlamentar Ambientalista do Rio de Janeiro e tem parceria com o Projeto Ará (Fiocruz Mata Atlântica).
A jornada do Sítio Vinhático, localizado em Bananeiras, município de Silva Jardim (regional Serramar), teve início em 2020, com a aquisição de uma propriedade por três mulheres. Atualmente são quatro mulheres, e juntas elas formam um coletivo que promove a agroecologia na região, revitalizando áreas anteriormente desmatadas com sistemas agroflorestais (SAFs) e pequenas plantações. Essa experiência coletiva e comunitária é conduzida principalmente por mulheres brancas, no meio rural, com alcance municipal. Integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Sítio Vinhático tem como espaço de beneficiamento uma cozinha caseira, onde os produtos são preparados e embalados com rótulos e marca específica.
A financeirização do Agro — e sua crise
O que são os Fiagro, fundos que permitem ganhar com a “força do agronegócio” sem tirar os pés da Faria Lima. Como se tornaram plantações de papel. Por que a quebra de um deles, o Agrogalaxy, ameaça este castelo de cartas
Recentemente publiquei, junto a meu colega e amigo Daniel Jeziorny, um artigo intitulado Estado, Poder Político e Financeirização do Espaço Agrário no Brasil1 no qual, a partir de um fundo teórico marcadamente marxista, demonstramos a importância do Estado Brasileiro e, sobretudo, das administrações petistas da primeira década deste século, na criação e consolidação de um sistema de financiamento do agronegócio brasileiro marcado pela presença de ativos mobiliários (Letras de Crédito Agrícolas, LCA, e Certificados de Recebíveis Agrícolas, CRA) que, além de comporem as carteiras das instituições bancárias do Sistema Financeiro Nacional (SFN), como o BTG Pactual, o Banco do Brasil, Bradesco etc., compõe as carteiras de investimento de uma série de instituições financeiras não bancárias, marcadamente as Gestoras de Ativos (asset managers).
A posse desses títulos de dívida pelas Gestoras de Ativos se intensifica a partir da oficialização – falo em oficialização pois antes mesmo da aprovação da lei, já haviam fundos de papel compostos, sobretudo, por CRAs – da legalidade dos Fundos de Investimentos nas Cadeias do Agronegócio (Fiagros) em 2021. Essa nova classe de Fundo de Investimento procurou estender às cadeias do agronegócio os subsídios tributários concedidos ao setor imobiliário urbano, que desde o primeiro Governo Lula, mais especificamente 2005, contam com isenção tributária sobre os rendimentos de Fundos de Investimentos Imobiliários (FII). Se os FII eram compostos sobretudo por imóveis urbanos e logísticos (como centros de distribuição), além dos certificados de recebíveis e letras de crédito imobiárias (CRI e LCI), os Fiagro serão compostos por imóveis agrícolas (terras), silos e centros de distribuição, além das LCAs e CRAs. Como demonstrou nossa pesquisa, se há Fiagros que investem quase que exclusivamente em terras (2 de 19 fundos em 2022), a maioria deles é composto pelos títulos de dívida (15 de 19), são os chamados ‘fundos de papel’.
Esses fundos, que são isentos de imposto de renda, buscaram impulsionar o financiamento via títulos já subsidiados, isto é, já isentos de imposto de renda e que foram criados pelo primeiro Governo Lula em 2004 (LCI, LCA, CRI, CRA). Se antes, em sua maioria, compunham as carteiras de grandes bancos que os vendiam aos clientes institucionais, com o impulso dado pelos Fiagro, que permitem que a valorização dos títulos, que já era isenta quando em posse de pessoa física e/ou jurídica particular, se estendam aos fundos de investimento que tenham cotas negociadas na Bolsa de Valores (os chamados Exchange Traded Funds). No geral, esses fundos são geridos por instituições financeiras não bancárias, como a Capitânia e a JGP, gestoras dos fundos CPTR11 e JGPX11 que tinham 7% e 8% de seus patrimônios alocados em CRAs da Agrogalaxy.
A partir do capital portador de juros acumulado, mas especialmente, a partir da emissão de CRAs, busca-se oligopolizar determinado extrato de um setor econômico específico com visas de, a partir de um preço superior ao preço concorrencial, assegurar rendimentos de longo prazo para o capital portador de juros que não encontrava opções lucrativas disponíveis. No primeiro semestre desse ano a Agrogalaxy pagou em juros de capital de terceiros o montante de R$58 milhões de reais3 e, nesse mesmo período, de maneira bastante desproporcional, ampliou o patrimônio líquido de seu Fiagro – sim, a empresa Agrogalaxy, criada por um Fundo de Private Equity possui um Fiagro –, via emissão de Certificados Recebíveis, de R$335milhões para R$1bilhão4. Como destaca reportagem do GloboRural:
“Embora, tecnicamente, o dinheiro [do Fundo Agrogalaxy] não seja emprestado à [empresa] Agrogalaxy mas aos agricultores, como forma de antecipar recebíveis na compra de insumos, a companhia tem responsabilidades sobre as operações. Essa é uma forma de dar mais garantias e atratividade ao fundo. Na captação de R$ 400 milhões, em maio, por exemplo, o investidor exigiu que a rede de revendas assumisse obrigações relativas às cotas.”
Isto é, a Cia apareceria como uma espécie de securitizadora da dívida de agricultores que se endividam com o intuito de comprar os insumos da empresa. Entretanto, quem está em recuperação judicial agora é a Agrogalaxy, e não o fundo Agrogalaxy. Por essas coisas que só labirinto financeiro criado pelo shadow banking é capaz, o motivo da recuperação judicial da Agrogalaxy foi o não pagamento de seus próprios CRAs: “No início da semana, o AgroGalaxy deixou de pagar uma dívida de R$ 70 milhões referente a um CRA de R$ 500 milhões emitido pela companhia há dois anos com vencimento em 2027”5. De acordo com os analistas de mercado, ouvidos pelo Valor, a recuperação judicial reflete o delicado momento vivido pelo agronegócio no país “além da queda no preço de algumas commodities agrícolas, como a soja e o milho, houve, no ano passado, um aumento no estoque de insumos como fertilizantes e defensivos”.
Entretanto, não se fala sobre a recuperação judicial da Agrogalaxy refletir a nova estrutura alavancada de uma série de empresas financeirizadas que passaram a compor o agronegócio brasileiro neste século XXI e sua extrema vulnerabilidade. O preço das commodities, utilizado como justificativa pelos analistas, só faz sentido em um cenário de empresas altamente alavancadas e com enormes obrigações financeiras de curto prazo.
Gráfico 1: Evolução dos preços de Soja e Milho em USD – jan/2016-jun/2024
Fonte: Observatório de Commodities
Considerado o ano de fundação da empresa, 2016, até junho deste ano o preço da saca de soja se elevou 31,4% e de milho 15,9%. Oito anos, em uma temporalidade não frenética, como é dos mercados financeiros, é um tempo curto, entretanto, para uma temporalidade comandada pelos balanços trimestrais, um ano parece uma eternidade. De junho de 2023 a junho de 2024 o milho perdeu aproximadamente 30% do seu valor de troca enquanto a soja perdeu metade disso, 15%. Para uma empresa que vive da intermediação e suas bases são dívidas colossais, próprias e de terceiros (os produtores rurais financiados pelo fundo agrogalaxy são um exemplo) esses percentuais podem representar, e representaram, a ruína de uma empresa.
Em um momento de fortes alterações climáticas, causadas também e fortemente pela forma de se produzir comida que a sociedade capitalista impõe, a instabilidade, que foi marca dos preços futuros de commodities agrícolas, tende a ser a marca do setor agrícola, que se não é mais intensivo em força de trabalho humano, segue intensivo em utilização da natureza, sobretudo da fertilidade dos solos e das águas dos rios. Um setor altamente alavancado e dependente de créditos de curto e médio prazo, como é o caso do agronegócio brasileiro hoje, pode ser fortemente abalado – comprometendo a balança comercial – por um simples suspiro dos mercados internacionais.
Queimadas: setor estima perda de mais de 400 mil hectares de cana-de-açúcar em todo o país
Lívia Braz
As lavouras de cana-de-açúcar foram uma das mais prejudicadas com os incêndios que atingiram o país no último mês, somando um prejuízo que ultrapassa os R$ 2,6 bilhões. Dados da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA) mostram que cerca de 400 mil hectares de cana foram queimados, prevendo uma quebra na safra de cerca de 15%.
“Ainda tem condições de acontecerem mais incêndios, as temperaturas continuam altas, em algumas regiões a umidade do ar ainda está abaixo dos 30% e com o agravante dos ventos que podem provocar mais incêndios” destaca Nogueira.
Medidas de enfrentamento às queimadas
Diante do problema e da seca histórica que atinge o país, foi colocada em regime de urgência para votação no Congresso a Medida Provisória (MP 1259/24) editada pelo presidente Lula, que flexibiliza as regras para repasses financeiros a estados para ações de prevenção e combate aos incêndios.
Na prática, a MP permite que União, estados e municípios façam empréstimos e financiamentos ou recebam doações de bancos públicos e privados para combater incêndios e queimadas irregulares. Recursos que podem vir de bancos públicos, como a Caixa, ou até mesmo do BNDES.
Outra medida tomada pelo governo federal é a edição de outra medida provisória que libera R$ 514 milhões em crédito extraordinário para o combate aos incêndios florestais espalhados pelo país.
Além disso, o Ministério da Justiça, em parceria com a Polícia Federal, cria uma proposta que, entre outras medidas, prevê o aumento do tempo de prisão para quem cometer crimes de desmatamento, queimadas e tráfico de animais silvestres.
Entre as medidas previstas estão:
- aumento da pena para quem destruir área de preservação permanente — passando de 1 a 3 anos para 2 a 5 anos de prisão;
- aumento da pena para o crime de desmatamento — de 2 a 4 anos para 3 a 6 anos;
- obrigação de pagamento de multa mesmo que o crime tenha sido culposo, ou seja, cometido sem intenção.
A previsão é que a votação no Congresso seja colocada em pauta ainda esta semana.
Fonte: Brasil 61
Boi gordo começa a semana cotado a R$ 261,70
Lívia Braz
Nesta terça-feira o boi gordo está cotado a R$ 261,70 no estado de São Paulo, depois de sucessivas altas desde a semana passada.
O quilo do frango congelado começa a semana em estabilidade e o produto é negociado a R$ 7,34
Nesta terça-feira (24), o boi gordo está cotado a R$ 261,70 no estado de São Paulo, depois de sucessivas altas desde a semana passada.
O valor do quilo do frango congelado se mantém estável desde o último fechamento e é negociado a R$ 7,34. Já o quilo do frango resfriado teve alta de 0,40% com o produto cotado a R$ 7,51. Para ambos, as regiões de referência são a Grande São Paulo, São José do Rio Preto e Descalvado.
Já o preço da carcaça suína especial mantém estabilidade há uma semana e é cotado a R$ 13,01, no atacado da Grande São Paulo. O quilo do suíno vivo também se mantém estável desde a semana passada e é cotado nesta terça-feira (24) a R$ 8,96, em Minas Gerais. No Paraná, o valor é R$ 8,50; e em Santa Catarina, R$ 8,38.
Os valores são do Cepea.
Fonte: Brasil 61
Preço da soja em alta
Lívia Braz
Semana começa com oscilação no preço da soja e grão é negociado a R$ 136,85 no Paraná. Os valores são do Cepea/USP.
A saca de 60 quilos de soja custa R$ 136,85, nesta terça-feira (24), em alta de 1,55% em relação ao último fechamento em diferentes regiões do interior do Paraná. No litoral paranaense, também ocorreu a tendência de alta de preços. Hoje, a saca é negociada a R$ 140,66 em Paranaguá.
Para o trigo, no Paraná, houve alta de 0,22% no último fechamento, a R$ 1.468,70/tonelada.
No Rio Grande do Sul, o preço teve leve queda de 0,52% — e a commodity é negociada a R$ 1.355,59/tonelada.
Os valores são do Cepea.
Fonte: Brasil 61
Café em tendência de alta
Lívia Braz
A saca de 60 quilos do café arábica teve alta de preços. Hoje, o café arábica custa R$ 1.487,93 na cidade de São Paulo. Forte alta também para o café robusta, cotado a R$ 1509,99, no Espírito Santo (ES). As informações são do Cepea/USP.
Nesta terça-feira (24), a saca de 60 quilos do café arábica custa R$ 1.487,93 na cidade de São Paulo, em alta de 1,9%. O café robusta também registra alta ainda maior, de 2,8% em relação ao último fechamento, e a saca de 60 quilos, preço líquido, à vista, é comercializada a R$ 1.509,99 para retirada nas imediações da região produtora de Colatina e São Gabriel da Palha, no Espírito Santo.
Para o açúcar cristal, em São Paulo, o preço subiu, a R$ 144,30. No litoral paulista, o preço médio, sem impostos, da saca de 50 quilos teve queda de 0,5% e está cotado a R$ 160,19
Já a saca de 60 kg do milho teve alta de 0,79% e é negociada a R$ 62,69 para a região de referência de Campinas (SP).
Os valores são do Cepea.
Com alta no preço, boi gordo começa a semana cotado a R$ 261,05
Marquezan Araújo
A arroba do boi gordo custa R$ 261,05, em São Paulo, em alta de preços no último fechamento. De acordo com os pesquisadores do Cepea/USP, há diminuição da diferença de preços da arroba do estado em relação a outras regiões, principalmente em Mato Grosso do Sul.
A arroba do boi gordo custa R$ 261,05, em São Paulo, em alta de preços no último fechamento. De acordo com os pesquisadores do Cepea/USP, há diminuição da diferença de preços da arroba do estado em relação a outras regiões, principalmente em Mato Grosso do Sul.
Para o frango congelado, o último fechamento também foi de alta nos valores, com salto de 0,14% e o produto negociado a R$ 7,34. Já o frango resfriado teve queda de 0,27% e custa R$ 7,48. Os valores são praticados em atacados da Grande São Paulo, São José do Rio Preto e Descalvado.
Já o preço da carcaça suína especial se manteve estável e o quilo do produto custa R$ 13,01 na Grande São Paulo, enquanto o suíno vivo é negociado a R$ 8,96 em Minas Gerais e R$ 8,15 no Rio Grande do Sul.
Fonte: Brasil 61
Café começa esta segunda-feira (23) com queda no preço
Marquezan Araújo
A saca de 60 quilos do café arábica custa R$ 1.460,14, na cidade de São Paulo, nesta segunda-feira (23). O valor foi definido após queda de 0,25%. Para o café robusta, houve redução de 2,26% no preço e a mercadoria é negociada a R$ 1.468,87.
A saca de 60 quilos do café arábica custa R$ 1.460,14, na cidade de São Paulo, nesta segunda-feira (23). O valor foi definido após queda de 0,25%. Para o café robusta, houve redução de 2,26% no preço e a mercadoria é negociada a R$ 1.468,87. Os valores se referem à saca de 60 quilos, preço líquido, à vista, para retirada nas imediações da região produtora de Colatina e São Gabriel da Palha, no Espírito Santo.
Para o açúcar cristal, em São Paulo, o preço subiu 1,48% e o produto é vendido a R$ 143,54. Na cidade de Santos, o preço médio, sem impostos, da saca de 50 quilos, teve aumento de 4,92%, com a mercadoria negociada a R$ 160,99.
Já a saca de 60 kg do milho apresentou redução de 0,18% no preço e é negociada a R$ 62,20, para a região de referência de Campinas (SP).
Os valores são do Cepea.
Fonte: Brasil 61
Soja sofre alta no preço e é negociada a R$ 134,76, no Paraná
Marquezan Araújo
Após alta de 0,17% no preço, a saca de 60 quilos de soja passou a ser negociada a R$ 134,76, nesta segunda-feira (23), em diferentes regiões do interior do Paraná. Já em relação ao trigo, no Rio Grande do Sul o preço caiu e a mercadoria é negociada a R$ 1.362,71, por tonelada.
Após alta de 0,17% no preço, a saca de 60 quilos de soja passou a ser negociada a R$ 134,76, nesta segunda-feira (23), em diferentes regiões do interior do Paraná.
A tendência de alta também se repetiu no litoral do estado, após aumento de 0,42% no valor do produto, que é vendido a R$ 138,12 em Paranaguá.
Já em relação ao trigo, no Paraná, houve aumento de 0,34% no último fechamento, com a tonelada do produto negociada a R$ 1.465,48.
No Rio Grande do Sul, por sua vez, o preço caiu 0,01% e a mercadoria é negociada a R$ 1.362,71, por tonelada.
Fonte: Brasil 61
FRANGO: preços do congelado e do resfriado estáveis
Luigi Mauri
O último fechamento foi de estabilidade para o quilo do frango congelado e do resfriado, que são negociados a R$ 7,35 e R$ 7,50/quilo. Para a carcaça suína, também ocorreu queda de preços. As informações são do Cepea/USP.
No último fechamento, os preços do frango congelado e do resfriado se mantiveram estáveis na Grande São Paulo, São José do Rio Preto e Descalvado. O quilo do frango congelado é negociado a R$ 7,35 e do resfriado a R$ 7,50.
No último fechamento, também em São Paulo, a arroba do boi gordo subiu 1,80%, cotada a R$ 257,05.
Já para o suíno vivo, há estabilidade de preços no Rio Grande do Sul, a R$ 8,15 e em São Paulo e Minas Gerais, a R$ 8,95. Para a carcaça suína especial, o preço do quilo é de R$ 13,00 na Grande São Paulo.
MILHO: preço da saca de 60 quilos do milho em queda
Luigi Mauri
Para o último fechamento, a saca de 60 quilos do milho custa R$ 62,00, em Campinas (SP), em queda de preços. Já para o café arábica houve alta dos valores negociados. As cotações são do Cepea/USP.
Para o último fechamento, a saca de 60 quilos do milho custa R$ 62,00, em baixa de preços, em Campinas (SP).
O preço do café robusta também caiu, a R$ 1.526,40. A saca de 60 quilos do café robusta está em alta, a R$ 1.496,80.
O preço do açúcar cristal está em queda na cidade de São Paulo (SP), onde o valor da saca de 50 quilos é de R$ 141,70. Em Santos (SP), a última cotação foi de forte alta, a R$ 144,95.
Soja tem queda de preços no início desta semana
Luigi Mauri
A saca de 60 quilos da soja é negociada a R$ 138,00 no litoral do Paraná. No interior do estado, a commodity custa R$ 135,33. Em ambos os locais, a commodity está em queda, no início desta semana. As informações são do Cepea/USP.
No início desta semana, a soja está com preços em queda. A saca de 60 quilos é cotada a R$ 135,55 em diferentes cidades do interior do Paraná. Já para o litoral, em Paranaguá, o preço é de R$ 138,00.
O trigo também obteve redução de preços, com a tonelada a R$ 1.490,90 no Paraná e a R$ 1.359,05, no Rio Grande do Sul.
Os valores são do Cepea.
Queimadas: Fávaro anuncia Plano Safra 24/25 com acesso a financiamentos para produtores afetados
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, anunciou na última quinta-feira (12) o acesso a crédito do Plano Safra 24/25 para os produtores atingidos pelas recentes queimadas registradas no Brasil. A medida deverá ser implementada por meio do Programa de Financiamento de Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (RenovAgro).
Dados mais recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que, só em 2024, até essa quinta-feira, o Brasil havia registrado mais de 176 mil focos de queimadas, com destaque para o estado do Mato Grosso, que contava com mais de 39 mil focos.
Para esta safra, foram disponibilizados R$ 7,6 bilhões. Desse total R$ 1,2 bilhão já foi contratado e liberado aos produtores rurais. De acordo com informações disponibilizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, os R$ 6,5 bilhões restantes devem ser destinados aos afetados pelas queimadas.
Pecuarista de leite e produtor de milho para silagem, Mirgon Jung, morador de Salgado Filho (PR), diz que todo ano busca financiamento via Plano Safra. "A gente usa o crédito para comprar semente, adubo, herbicidas, inseticidas, para que a gente possa produzir e, também, combustível para poder usar no trator", afirma.
Brasil já registrou 172 mil focos de incêndio em 2024; veja como minimizar impactos na saúde
Segundo Fávaro, os recursos dessa linha de crédito devem incentivar a produção em áreas de baixa produtividade, uma vez que as queimadas tornam as áreas afetadas improdutivas e degradadas.
Fonte: Brasil 61
Produção agrícola: Sorriso (MT) lidera ranking de maior produtor; confira a lista
O valor de produção das principais culturas agrícolas do Brasil apresentou queda de 2,3% em 2023, em relação a 2022, chegando a R$ 814,5 bilhões. No entanto, a safra de grãos bateu recorde, atingindo 316,4 milhões de toneladas. Esse volume é 19,6% maior que a produção do ano anterior. Já a área plantada do país, levando em conta todas as culturas, chegou a 96,3 milhões de hectares. Os dados foram publicados nessa quinta-feira (12), pelo IBGE.
O supervisor da pesquisa, Winicius Wagner, destaca que a produção teve um volume importante, mas alguns fatores contribuíram para uma redução no preço pago aos produtores.
“O excesso de oferta desses produtos, aliado a uma correção das principais commodities do mercado internacional e ao fortalecimento do real frente ao dólar, fizeram com que houvesse uma queda nos preços pagos ao produtor, o que afetou diretamente o Valor de Produção Agrícola nacional, que teve retração de 2,3% no ano”, pontua.
Entre os municípios, Sorriso (MT) se destaca na produção agrícola pelo quinto ano consecutivo e responde por 1% do total nacional. O município também apresentou bons números em relação ao valor gerado com a produção de soja (R$ 5 bilhões) e milho (R$ 2,1 bilhões).
Na segunda posição do ranking aparece São Desidério (BA), que, em relação ao valor da produção agrícola, totalizou R$ 7,8 bilhões, com uma queda de 12,4% na comparação com 2022. A produção de soja, algodão e milho foram destaques no município, com um total de R$ 7,6 bilhões.
Já Sapezal (MT) ocupa o terceiro lugar entre os municípios com maior valor da produção agrícola do país, com R$ 7,5 bilhões, e registro de recuo de 5,9% na comparação com o ano imediatamente anterior. O município destacou-se na produção de algodão herbáceo, obtendo o maior valor gerado com o produto, de aproximadamente R$ 3,5 bilhões.
Em 2023, os 10 municípios com os maiores valores da produção agrícola foram responsáveis, juntos, por R$ 65,1 bilhões, concentrando 8% do valor obtido no país com a produção agrícola. Seis deles estão localizados no Mato Grosso, enquanto Bahia e Goiás aparecem com dois municípios cada.
"Após a escassez de água em 2022 ter afetado o desempenho das lavouras naquele ano, principalmente a produção de grãos, em 2023 percebemos que as chuvas foram mais bem distribuídas durante todo o período, desde o plantio até a colheita. Isso fez com que tivéssemos uma recuperação da produtividade dessas lavouras, o que impactou diretamente no aumento da produção no ano”, destaca Winicius Wagner.
Fonte: IBGE
Situação por estado
Apesar de ter registrado recuo, Mato Grosso lidera o ranking entre os estados e concentra quase 1/5 do valor de produção agrícola do país. Ao todo, a unidade da federação somou R$ 153,5 bilhões.
São Paulo aparece na sequência, com 13,8% do valor de produção nacional, com um total de R$ 112,5 bilhões e 9,0% de crescimento frente a 2022.
Paraná, por sua vez, teve destaque na produção de soja e milho. O estado, que ocupa a terceira posição, totalizou R$ 90,5 bilhões, um salto de 8,7%, superando Minas Gerais, maior produtor nacional de café.
Fonte: Brasil 61
O agro é ogro?
Agro é fogo. Essa é a palavra de ordem que circula nas redes sociais nesse último mês quando vários estados do país foram tomados pela fumaça das queimadas na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado, nas plantações de cana no estado de São Paulo e em outros lugares, até mesmo nas florestas urbanas.
Todavia, a palavra de ordem circula sem a devida explicação do porquê o aumento das queimadas está ligado ao agronegócio, e essa vagueza da explicação torna o movimento de resistência presa fácil de mídia hegemônica que não cansa de repetir os supostos prejuízos bilionários que as queimadas teriam causado ao agronegócio, almejando dissimular a responsabilidade da burguesia agrária, como faz por exemplo a Folha de São Paulo. Exporemos então, em contraposição a esse senso comum liberal, explicações sobre a correlação agronegócio e queimadas.
Na Amazônia e no Pantanal, as queimadas estão relacionadas à expansão da fronteira agrícola. Se o governo Bolsonaro foi marcado pelo aumento do desmatamento na região ante o afrouxamento da fiscalização, no governo Lula o monitoramento do desmatamento tornou-se mais intenso, fazendo os grileiros recorrerem a uma tática de dissimulação: o fogo. Se o desmatamento comum com arrancamento das árvores por correntões puxados por tratores torna evidente a ação humana, o ato de atear fogo dissimula a destruição – poder-se-ia, pela nova tática, atribuir o fogo a um ato fortuito ou a ação de um sujeito oculto. Fato é que está constatado que a maioria das áreas queimadas se tornam pasto1, não mais podendo retornar ao estado de floresta. Ou seja, ateiam-se fogo para expandir o agronegócio.
Nos outros lugares, as queimadas aparentam-se ser um ato político, coordenado como sugere a polícia federal. Mas faltou a mídia corporativa assinalar um ponto importante. Nos canaviais do estado de São Paulo, por exemplo, é comum atear fogo ao canavial para que as colhedoras, após o incêndio, colham a cana. Todavia num cenário de maior temperatura média ocasionada pelo aquecimento global e com ventos mais fortes, é comum o fogo se espalhar e atingir novas áreas.
Nesse cenário poderia o governo estadual e/ou o governo federal, haja vista que a tutela do meio ambiente é difusa, decretar a proibição do uso do fogo em qualquer ocasião, enquanto não retornarem as chuvas. Mas isso não foi feito. Como outros atos poderiam ser feitos para conter a externalidades causadas pelo agronegócio, como a tributação extraordinária (aumento de alíquotas, criação de contribuição extraordinária ou empréstimo compulsório por calamidade pública). Ou até mesmo a flexibilização do arcabouço fiscal com decreto de emergência seguida da criação de créditos extraordinários, como já autorizado pelo ministro do STF Flávio Dino. Mas não o fez. Limitou-se a criar a autoridade climática, que é uma medida de médio prazo e não conterá a crise.
A manutenção dos privilégios do agronegócio e a manutenção do teto fiscal mesmo ante a calamidade evidente, mostra que o governo está rendido à financeirização; a mesma que tem impulsionado o agronegócio e é responsável pela atual crise climática.
A esquerda brasileira cultiva o imaginário do agro ogro (palavras da ministra Marina Silva) acreditando que o agronegócio é constituído apenas por fazendeiros toscos, truculentos, negacionistas climáticos que não veem problemas em “tacar fogo em tudo”. Mas essa imagem caricata não representa a verdade. Cada vez mais, o agro é constituído pelos burgueses “limpinhos” da Faria Lima, de Wall Street e outros mercados financeiros globais. E são vários elementos que denotam a financeirização dos territórios: a) a aquisição de terras em porções cada vez maiores por fundos globais como a BlackRock; b) o domínio genético de sementes operados por grandes conglomerados internacionais como a Monsanto e a Bayer; c) a aquisição de ações e cotas de grandes empresas extrativistas como a Vale e a Susano; d) além da evidente transformação de alimentos em commodities, que nada mais são do que ativos financeiros globais.
Apesar de estarem por trás da expansão do agronegócio, essas grandes empresas internacionais (representantes do capitalismo global) dissimulam um suposto respeito ao meio ambiente (greenwashing), seja difundindo a ideia de que o avanço tecnológico por si só conteria a externalidades ambientais, seja criando mecanismo que supostamente protegeriam as florestas, como o crédito de carbono, mas que na verdade é somente mais um signo da expansão do mercado financeiro.
Assim, não podemos combater as cortinas de fumaça que se espalham pelo Brasil sem abrirmos os olhos para as cortinas de fumaça operada pelo mercado financeiro global, que dissimula a exploração e degradação ambiental. Porém abrir os olhos diante desse cenário de poluição parece cada vez mais difícil.
Queimadas: o agronegócio acende o fósforo
Estamos assistindo há semanas (ou meses?) a mais espetacular estação de queimadas da história do país, ainda em curso e mais sinistra do que o Dia do Fogo de 2019 ou o mar de chamas de 2004. Já é um sinal preocupante para o meio ambiente do Brasil e, pela sua amplitude, do planeta, que tenhamos tal nome de batismo para o período de inverno. Mas a ocupação acelerada das fronteiras agrícolas pelo agronegócio, desde o tempo da ditadura militar, habituou-nos às imagens, cada vez mais gigantescas de florestas e outros ecossistemas sendo devorados pelas chamas ao longo de meses.
Nos anos setenta, foi um escândalo internacional a queimada de uma propriedade de cem mil hectares no Pará, pertencente à empresa alemã Volkswagen. No Brasil, este fato não chegou a ser notícia, a não ser quando denunciado no exterior ao ser detectado por fotografias de satélite.
De lá para cá, as queimadas viraram rotina e foram se expandindo, do arco de fogo subindo pelo mapa a partir do sul da Amazônia, do oeste do Mato Grosso ao leste do Pará, aos incêndios na intensa ocupação de Rondônia, Roraima e Acre e expandindo-se para o Cerrado e o Pantanal.
Nada disso é uma novidade na nossa história. Lembremos que o primeiro bioma a ser destruído foi a outrora pujante Mata Atlântica, derrubada a ferro e fogo desde os primórdios da colonização. A diferença é que a redução em mais de 90% da cobertura vegetal deste bioma, quase toda de floresta tropical de enorme biodiversidade, durou cinco séculos. O que estamos assistindo ocorre em menos de duas gerações.
Nestes dias, como foi o caso em 2019 e, menos intensamente, em outros anos, os ventos que trazem a umidade evaporada pela floresta amazônica para irrigar o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, fenômeno hoje conhecido como “rios voadores”, passaram a empurrar uma densa fumaça negra produzida por milhões e milhões de hectares de vegetação, da floresta tropical amazônica às matas menos densas do Cerrado e os campos alagáveis do Pantanal, todos sequíssimos por sete meses de estiagem total. Além da fumaça gerada pela queima de áreas de pastagem, cuja cobertura vegetal original já foi devastada há mais tempo.
No mesmo momento em que ardem três biomas de nova fronteira agrícola, ardem também grandes áreas cultivadas com cana de açúcar no que foi o bioma Mata Atlântica, mais precisamente no centro-oeste paulista. Neste caso, a ocorrência é uma novidade, pelo menos desde 2007. A queima de canaviais em São Paulo só é fenomenal pelo fato de que o início da maior parte dos focos de incêndio foi simultâneo, como detectado pelas imagens de satélite.
Crimes?
A gritaria na imprensa e nas redes sociais foi grande. O bolsonarismo acusou o MST nos incêndios em São Paulo, enquanto a esquerda acusava uma ação criminosa do agronegócio canavieiro neste estado e o pecuário na Amazônia, Cerrado e Pantanal visando desmoralizar a política de controle de desmatamento do governo Lula e manchar a imagem e a liderança do Brasil para a COP-30. Tudo seria orquestrado, a exemplo do domingo de fogo de 2019 e o agronegócio bolsonarista seria o criminoso a combater. Estas hipóteses têm que ser mais bem estudadas…
A meu ver, não há uma orquestração política criminosa nacional reunindo criminosos em todas as áreas de incêndio, quase que do Oiapoque ao Chuí. Muitos destes incêndios são, sem dúvida, atos criminosos cujos intuitos devemos analisar caso a caso. Mas outros são derivados de outro tipo de causa, natural ou não. E as condições naturais têm que ser levadas em conta para verificar o quanto da área queimada resulta de uma perda de controle de operações usando fogo e que são legais. E há situações que requerem investigação mais aprofundada de tipo policial.
Incêndios nos canaviais de São Paulo
A suspeição de crime é estimulada pelas imagens de satélite, mostrando o surgimento de centenas de focos de fogo na região de Ribeirão Preto em um curtíssimo intervalo de tempo (horas). Além disso, circulou um vídeo de um caminhão de uma usina de açúcar e álcool, acompanhando trabalhadores uniformizados que incendiavam a palha seca sob os canaviais com o uso de maçaricos. A intenção criminosa parece comprovada, mas quem são os culpados? Os usineiros teriam algo a ganhar com a queima dos canaviais?
Os jornais têm apresentado estimativas das perdas dos usineiros que vão de 500 milhões a um bilhão de reais com os incêndios. Li mais de uma análise apontando para o fato de que a prática de queima dos canaviais era usual no passado e que os usineiros teriam voltado a utilizá-la. O argumento só se explica pela alta probabilidade de os autores serem leigos em matéria de economia e agronomia açucareira.
Até o final do século passado, havia uma polêmica entre os usineiros e entre os plantadores de cana, fornecedores de matéria prima para as usinas. Entre os usineiros havia uma crescente adesão às propostas técnicas da Embrapa que favoreciam a colheita mecanizada e o abandono da queima.
As vantagens eram múltiplas para o corte da cana crua (não queimada): mais restos de cultura (folhas e pontas) para incorporação nos solos, diminuindo a necessidade de adubação química, evitar as perdas em conteúdo de açúcar (chamado de brix) da ordem de 8% se as canas queimadas fossem processadas em menos de seis dias e muito mais se os prazos se alongassem, menores problemas com a rebrota das canas para a próxima safra, eliminação dos inimigos naturais da cigarrinha, praga maior dos canaviais.
As desvantagens estavam nos custos das operações de colheita. Se feitas com uso de mão de obra (boias frias), a quantidade de cana colhida por trabalhador por dia era três vezes menor do que com a cana queimada. Isto ocorre porque o trabalhador, em um canavial não queimado, tem que fazer três operações: cortar a cana, eliminar as folhas e pontas e amontoar. Isto cobrava contratar mais gente, já que é preciso aproveitar as canas no seu momento de maturação ideal para obter o máximo de açúcar (ou álcool). No balanço de perdas e ganhos, a economia de mão de obra, que estava escasseando no mundo rural paulista nos anos 70, acabava apontando para mais lucros com a queima.
A solução da mecanização foi adotada para eliminar este gargalo de mão de obra, mas as colheitadeiras disponíveis inicialmente tinham problemas de operação. A palhada da cana não queimada provocava o chamado embuchamento das máquinas, com frequente interrupção da colheita para limpar a vegetação acumulada nos dentes das colheitadeiras. Ou seja, a queima continuou por muito tempo na prática da colheita mecanizada, por facilitar o processo e torná-lo mais rápido. Entretanto, novas e mais avançadas máquinas vieram a superar este problema, mas o seu custo elevado fez com que muitas usinas e fornecedores de cana mantivessem a prática de queima e uso de mão de obra.
O câmbio tecnológico na cultura de cana em São Paulo foi acelerado com a desaparição dos fornecedores (que tinham mais restrições financeiras) e com a adoção da mecanização moderna pelas usinas, induzidas por uma legislação introduzida em 2006, proibindo a queima por razões de saúde pública devido à fumaça que se espalhava pelas zonas urbanas da região.
Os ganhos com o abandono da queima foram maiores do que os previstos inicialmente, entre outros o uso do bagaço das canas trituradas como combustível ou como matéria prima para polpa de papel, impossível com a cana queimada.
Vinte anos depois do abandono da queima em São Paulo parece totalmente improvável que os usineiros tenham decidido, em bloco, violar a lei enquanto perdem dinheiro com menor produtividade da cana queimada e outras perdas que seria longo detalhar.
Eliminada a hipótese absurda de capitalistas do agronegócio mais avançado do país estarem, literalmente, queimando dinheiro, fica a pergunta valendo um bilhão de reais: quem queimou os canaviais em Ribeirão Preto? E por que o fez?
A hipótese bolsonarista de uma ação terrorista do MST também é absurda. Queimar os canaviais não facilita o assentamento de Sem Terras. E como explicar o vídeo com o caminhão de uma usina, acompanhando empregados empenhados na queima com maçaricos? Com a palavra, a Polícia de São Paulo ou a Federal. Não tenho resposta, e considero a hipótese de que os usineiros teriam feito isto para provocar uma alta nos preços do açúcar no mercado internacional uma bobagem. Houve, de fato, uma alta de 3% no mercado de commodities em Nova Iorque, mas os ganhos não vão para as áreas queimadas, mas para quem não queimou.
Que fique claro que não estou aqui defendendo o agronegócio canavieiro. Este setor tem um histórico de desprezo pelo meio ambiente e pelos direitos dos trabalhadores, além de se escorar com frequência em subsídios e isenções de impostos. Mas não acredito que, neste caso, eles tenham responsabilidade nas queimadas, que significam perdas importantes nos seus lucros.
Amazônia em chamas
O governo Lula, pela voz da ministra Marina Silva, proclamou uma redução de 46% no desmatamento da Amazônia no período entre agosto de 2023 e julho de 2024. Apesar deste resultado positivo, os índices de desmatamento no período Bolsonaro eram tão altos que, mesmo reduzida, a área atingida ainda era gigantesca.
O sucesso na redução do desmatamento foi atribuído pelo governo à retomada da fiscalização na região. É preciso, entretanto, analisar esta explicação com um grão de sal. Afinal de contas, o desmonte das instituições de defesa do meio ambiente, Ibama e ICMBio, no governo de Bolsonaro, foi enorme. Ambas as instituições estão com poucos funcionários e equipamentos e, além disso, passaram por um longo período de greve por salários e planos de carreira que paralisou as ações de fiscalização. Por outro lado, e veremos este ponto mais em detalhe mais adiante, o desmatamento em todos os outros biomas cresceu.
Porque o desmatamento caiu na Amazônia é algo que cobra uma análise mais aprofundada e eu não tenho elementos que respondam a esta pergunta. Tenho hipóteses, mas não fatos e dados. Teria havido uma concentração de esforços das agências de proteção ambiental neste bioma, com o consequente enfraquecimento nos outros? É improvável pois não se transfere pessoal de um lugar para outro tão facilmente. Terá havido um esgotamento da fome de terras da grilagem na Amazônia? Negativo. O histórico de desmatamento não indica que o processo esteja minimamente arrefecendo.
O único elemento novo a se considerar é a ameaça formulada pela União Europeia de impedir a importação de produtos agrícolas ou madeireiros oriundos de áreas desmatadas a partir de 2015, em todo o mundo. Esta decisão já foi tomada no Parlamento Europeu e já foi ratificada na grande maioria dos países membros do bloco e deve entrar em vigor em 2025. Esta decisão foi incluída nos debates do acordo UE/Mercosul no início do ano passado, gerando reações do agronegócio e do próprio governo Lula. Isto poderia explicar o recuo do agronegócio, mas seria surpreendente este gesto de antecipação de medidas antes mesmo que a decisão da UE esteja em vigor.
Para não confundir os leitores pouco afetos a estas práticas do agronegócio, esclareço que existem algumas etapas no que se chama, de forma geral, de desmatamento. O processo começa com a retirada da madeira de lei, seguido pelo chamado corte raso, feito com tratores de esteira arrastando grandes correntes deitando a vegetação, árvores de qualquer tamanho e arbustos no solo. A etapa seguinte, após um período de espera para a matéria vegetal secar, é a queima.
As queimadas na Amazônia ou em outros biomas não se reduzem às áreas em desmatamento. Queimam-se pastos para provocar a rebrota do capim e queimam-se áreas de matas nas bordas das florestas virgens. É menos comum a queima das próprias florestas virgens, tanto por eliminar os ganhos com madeira de lei como pelo fato de que florestas tropicais úmidas e densas são mais difíceis de queimar.
Se o desmatamento diminuiu significativamente, as queimadas na Amazônia cresceram muito. Para começar, a temporada de fogo começou mais cedo. Entre janeiro e julho de 2024 a área queimada aumentou 83% em relação ao mesmo período de 2023 e 38% a mais do que a média dos 10 anos anteriores.
A novidade, no período de janeiro a março de 2024, foi o descolamento entre as áreas de desmatamento recente (9% dos focos) e as áreas de floresta primária (34% dos focos). No primeiro trimestre de 2023, 5% das queimadas foram em áreas de floresta primária e 21% nas áreas de desmatamento recente. Não tenho os dados para o segundo trimestre, mas a tendência aponta para a continuidade da mudança no direcionamento dos focos de incêndio.
Isto pode ser explicado pelo fato de que as condições ambientais estarem favorecendo a queima nas florestas primárias, com um longo período de seca, altas temperaturas, baixa umidade do ar e ventos fortes. O resultado, intencional ou não, é que a redução do desmatamento, proclamada pelo Governo, foi comprometida pelo aumento da área de queima em florestas primárias. Pode não ter sido fogo ateado por grileiros e simplesmente o alastramento do fogo dos pastos para as áreas de borda das florestas primárias, encontrando condições para penetrar nestas últimas. Ou esta pode ser uma parte da explicação.
Em outra hipótese, a grilagem de terras que abre espaço para a expansão do agronegócio pecuário na Amazônia pode ter invertido as etapas do processo habitual, aproveitando as condições ambientais excepcionais para queimar primeiro e depois passar os tratores de esteira e correntes para retirar as árvores calcinadas restantes e semear pastagem. Isto vem ocorrendo de forma crescente nos últimos anos, a partir do aperfeiçoamento dos sistemas de controle por satélite do INPE, hoje capazes de captar e localizar em tempo real qualquer área de corte raso da floresta acima de 30 hectares. Este controle explicaria a troca do corte raso pela queimada direta, sobretudo em áreas onde foi retirada a madeira de lei, raleando a floresta e facilitando a queima.
Queimadas no Cerrado
Neste bioma, o processo de desmatamento é mais simples e brutal, com o uso de fogo diretamente sobre a vegetação primária. Isto se explica pelo fato de que a cobertura vegetal desta região não oferece madeira de lei em quantidade tentadora para a exploração e pela maior facilidade da queima em matas menos densas, do tipo savanas arbóreas e arbustivas. O objetivo do agronegócio é focado na formação ou renovação de pastos, sendo que esta região concentra o segundo maior rebanho do país. Em termos percentuais, este é o bioma com a maior taxa de conversão da vegetação primária em pastagens, embora a Amazônia ganhe o primeiro lugar em valores absolutos de área alterada.
Em 2022/2023, queimaram 665 mil hectares da vegetação nativa do Cerrado. Neste bioma, 50% da cobertura vegetal original já foi desmatada, ou 100 milhões de hectares. A contribuição da queima para a devastação do Cerrado, no ano indicado acima, parece pequena (0,66%), mas ela se concentrou em uma das últimas fronteiras de vegetação ainda intocada, área comum a quatro estados – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – o MATOPIBA, com 77% de todo o desmatamento no Cerrado. No período 2023/2024, o desmatamento (queimada) aumentou 16%, chegando a 771 mil hectares. Em anos do governo Bolsonaro, estes números foram mais espetaculares, mas lembremos que o período das queimadas está apenas começando.
As digitais do agronegócio criador de gado bovino estão nítidas em todo o processo de desmatamento na região mais ao norte do bioma, mas do centro ao sul é o agronegócio sojeiro que predomina.
O Pantanal no rumo acelerado de desaparição
Os números para este bioma são assustadores. A área queimada aumentou 2362% em 2024, na comparação com o primeiro semestre de 2023 e 529% a mais em relação à média dos últimos cinco anos. E como a temporada do fogo apenas começou, eles podem piorar muito até o fim do ano. Espera-se que a área queimada chegue a 3 milhões de hectares. Estes dados estarrecedores indicam que o ano recorde de área queimada, 2020, já foi superado em 54%.
Os satélites apontam para um fato importante: 95% do fogo começa em propriedades privadas, prevalecendo as de criação de gado. O fogo já atingiu 57% do bioma pelo menos uma vez, sobretudo nos últimos 35 anos.
Segundo a Ministra Marina Silva, o que estamos assistindo é o processo de desaparição da maior planície alagada do mundo, que pode ocorrer antes do fim do século, numa visão otimista. A prolongada estiagem na região já é a mais extensa e intensa em 74 anos (40 anos na Amazônia). Com baixa expectativa de chuvas no próximo verão, as cotas de cheia dos rios e da planície alagável não vão ser alcançadas. Com isso, a rebrota da vegetação queimada não deve ocorrer e as condições para novas queimadas devastadoras vão se manter para os próximos anos. Ela queixou-se dos cortes orçamentários impostos pelo Congresso, deixando o Ibama e ICMBio sem condições de fiscalizar os focos de incêndio e sem o pessoal necessário para combatê-los.
Efeito fumaça?
As temporadas de queimadas, aceitas como parte da realidade do agronegócio na Amazônia, Cerrado e Pantanal, há muito tempo tem sido um problema de saúde pública para as populações do Norte e Centro-Oeste, devido às grandes concentrações de fumaça. No resto do país, em anos “normais”, mal são notícia de jornais e televisões. Em anos de queimadas um pouco mais intensas, a fumaçada provoca a suspensão das operações de pouso e decolagem nos aeroportos destas regiões e as notícias no “sul maravilha” são mais frequentes. Mas, nos anos das grandes queimadas, que vem se tornando cada vez mais frequentes, é a fumaça nos narizes e pulmões de paulistas e fluminenses que faz a notícia ser manchete.
Embora a questão da saúde pública seja muito relevante, ela está longe de ser a mais grave para o país e para o planeta. A eliminação cada vez mais rápida das florestas tropicais e outras formações vegetais em escala gigante, abrange anualmente milhões de hectares, afeta o clima diretamente, tanto o local como o planetário.
A contribuição do Brasil para o aquecimento global provém, em 70%, do desmatamento e das queimadas e só é menor do que a dos Estados Unidos, China, União Europeia, Rússia e Índia, os maiores emissores de gases de efeito estufa a partir da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão).
O efeito do processo de desmatamento e queimada no Brasil é ainda mais rápido e intenso do que no resto do mundo. Nosso clima está mudando e estamos assistindo, nos últimos anos, uma sucessão de ondas de calor e secas mais intensas e extensas (em área atingida e em duração). O regime de chuvas, no Sul e no Sudeste, altamente dependente dos “rios voadores” (chuvas originadas na evaporação na região Amazônica e carregadas pelos ventos), tornou-se errático, com precipitações concentradas em algumas áreas (vide o caso mais recente do Rio Grande do Sul) e estiagens prolongadas no Sudeste. A agricultura do agronegócio já está fortemente afetada por este “novo normal” e as previsões são catastróficas para o futuro.
Outras perdas colossais são menos percebidas pelo público. A riquíssima biodiversidade vegetal e animal dos citados biomas vem sendo devastada por este processo, empobrecendo o futuro do país e do planeta.
Já foi citado acima o risco (próximo de uma triste certeza) da desaparição do Pantanal, mas pouca gente se dá conta do risco, anunciado pelos cientistas do INPE, da proximidade do chamado “ponto de não retorno” na capacidade de regeneração da floresta amazônica. Segundo esta avaliação, estamos a poucos anos do momento em que a maior floresta tropical do planeta vai colapsar, mesmo se o desmatamento e queimadas forem interrompidos bruscamente. Passado o ponto de inflexão, o bioma vai começar um processo irreversível de degeneração, involuindo para uma vegetação de savana arbórea e arbustiva, chegando até a um processo de desertificação. Para o resto do país o problema será uma crescente falta de chuvas, com o estancamento da formação dos rios voadores. Não é preciso dizer o que isto representa para a agricultura nas regiões mais produtivas do Brasil. A apregoada pujança do nosso agronegócio vai ser abalada, enterrando tanto exportações como o abastecimento alimentar da nossa população.
E quem é o responsável por esta catástrofe anunciada?
A medida a ser adotada para um controle total é conhecida: colocar um chip de controle eletrônico em cada cabeça de gado, permitindo saber onde cada rês nasceu e por onde passou. Tecnicamente e economicamente isto é simples e relativamente barato, mas não é aplicado, simplesmente porque a maior parte do gado vem realmente de áreas desmatadas.
Quando a União Europeia decidiu que só vai comprar carne provinda de áreas não desmatadas foi exatamente esta medida de controle (rastreamento) que ela exigiu. A reação do agronegócio brasileiro como um todo, e de seus representantes na poderosa bancada ruralista no Congresso foi de ira, com protestos contra o que chamaram de “protecionismo” e “reserva de mercado”. E o governo Lula embarcou neste discurso, com o silêncio obsequioso da Ministra Marina Silva.
Se é espantoso que outros setores do agro não tenham apoiado esta medida (que já vem sendo discutida há tempos no Brasil), é ainda mais incompreensível que o governo Lula cerre fileiras para apoiar o agronegócio pecuário da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, entre outras razões (econômicas e ambientais) por ser foco do mais exacerbado bolsonarismo.
Ou talvez o governo esteja defendendo os grandes frigoríficos, com os quais já teve acordos importantes nos governos anteriores de Lula e Dilma. Alguém se lembra das imensas vantagens obtidas pela JBS para expandir seus negócios no exterior, na chamada política de “campeões nacionais” financiados pelo BNDES?
Atualmente, apoiar os frigoríficos é o mesmo que apoiar os pecuaristas que compraram terras baratas em áreas desmatadas por grileiros e que estão levando não só à destruição de três biomas, mas comprometendo o futuro de toda a nossa agricultura (sim, a familiar está sendo e será prejudicada também) e do país.
Fonte Portal Membro Outras Palavras
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