LITERATURA

 

Inteligência emocional: não deixe sua amídala te levar ao pânico!

O livro “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, publicado em 1995, revolucionou a forma como entendemos o papel das emoções na vida pessoal e profissional. A obra introduz o conceito de Inteligência Emocional (IE) como um conjunto de habilidades relacionadas ao entendimento e controle das emoções, argumentando que essas habilidades são tão ou mais importantes que o Quociente de Inteligência (QI) para o sucesso e o bem-estar. Aqui estão as principais ideias abordadas no livro:

1. Definição de Inteligência Emocional (IE)

A inteligência emocional é descrita como a capacidade de identificar, entender, administrar e usar as emoções de forma positiva. Goleman divide a IE em cinco componentes principais:

  • Autoconsciência: A habilidade de reconhecer e compreender suas próprias emoções. Pessoas autoconscientes têm uma noção clara de como suas emoções afetam seus pensamentos e comportamentos.
  • Autocontrole: A capacidade de controlar ou redirecionar emoções e impulsos, especialmente em momentos de estresse ou dificuldade.
  • Motivação: A capacidade de ser impulsionado por metas internas e encontrar satisfação nas realizações pessoais, em vez de depender apenas de recompensas externas.
  • Empatia: A habilidade de entender as emoções dos outros, essencial para construir relacionamentos saudáveis e responder de maneira apropriada.
  • Habilidades sociais: A capacidade de gerenciar relacionamentos de forma eficaz, incluindo comunicação, resolução de conflitos e colaboração.

2. A Importância da Inteligência Emocional

Goleman argumenta que, embora o QI seja importante para muitas áreas da vida, a IE desempenha um papel mais significativo na felicidade e no sucesso, especialmente em áreas como liderança, relações interpessoais e gestão de estresse. Pessoas com alta inteligência emocional tendem a ser mais resilientes, adaptáveis e eficazes em suas interações com os outros.

3. Cérebro Emocional vs. Cérebro Racional

O livro explora a ideia de que o cérebro humano é dividido em dois sistemas principais:

  • O cérebro emocional, localizado no sistema límbico, é responsável por respostas emocionais automáticas e rápidas.
  • O cérebro racional, localizado no neocórtex, é responsável pelo pensamento lógico e análise consciente. Goleman explica que, em situações de estresse ou perigo, o cérebro emocional pode “sequestrar” o cérebro racional, levando a reações impulsivas ou irracionais. O desenvolvimento da inteligência emocional envolve equilibrar essas duas partes do cérebro, aprendendo a regular as emoções e a usar a lógica de forma mais eficaz.

4. Impacto da Inteligência Emocional nas Relações

Goleman destaca como a inteligência emocional influencia diretamente a qualidade dos relacionamentos. Pessoas com alta IE são mais empáticas, compreendem melhor as necessidades emocionais dos outros e são mais eficazes na comunicação. Isso melhora as relações pessoais e profissionais, criando ambientes de confiança e colaboração.

5. A Importância da Empatia

A empatia é um componente central da inteligência emocional. Goleman argumenta que a empatia permite que as pessoas compreendam melhor as emoções e os pontos de vista dos outros, facilitando a construção de conexões profundas e a resolução de conflitos. A empatia é crucial não apenas em relacionamentos interpessoais, mas também em áreas como liderança e atendimento ao cliente.

6. Inteligência Emocional no Ambiente de Trabalho

Um dos capítulos mais influentes do livro foca na importância da inteligência emocional no local de trabalho. Goleman argumenta que líderes e gerentes com alta IE são mais eficazes, pois são capazes de inspirar e motivar suas equipes, gerenciar conflitos e criar um ambiente de trabalho positivo. Ele destaca que a IE é frequentemente o fator que diferencia os líderes bem-sucedidos dos medianos.

Algumas habilidades de IE relevantes no ambiente de trabalho incluem:

  • Colaboração: Ser capaz de trabalhar bem em equipe.
  • Influência: A capacidade de inspirar e motivar os outros.
  • Gestão de conflitos: A habilidade de resolver disputas e mediar negociações de maneira eficaz.

7. A Plasticidade Emocional

Goleman também fala sobre a ideia de que a inteligência emocional pode ser desenvolvida ao longo do tempo. Ao contrário do QI, que é relativamente estável, a IE pode ser aprendida e aprimorada por meio de práticas como o autocontrole, a autopercepção e o desenvolvimento de empatia. Isso significa que qualquer pessoa pode melhorar suas habilidades emocionais com o tempo, tornando-se mais consciente de suas emoções e comportamentos.

8. O Papel da Educação Emocional

O livro também discute a importância da educação emocional nas escolas. Goleman defende que ensinar crianças a identificar e gerenciar suas emoções pode levar a melhores resultados acadêmicos, mais resiliência e menos problemas de comportamento. Ele argumenta que programas de educação emocional podem ajudar as crianças a desenvolver habilidades sociais e emocionais desde cedo, preparando-as para o sucesso futuro.

9. O Impacto da Inteligência Emocional na Saúde

Outro ponto relevante levantado por Goleman é a relação entre a inteligência emocional e a saúde mental e física. Ele explica que o manejo eficaz do estresse emocional pode reduzir os riscos de doenças relacionadas ao estresse, como pressão alta e doenças cardíacas. A IE também está relacionada a uma maior resiliência emocional, o que pode proteger contra transtornos como a ansiedade e a depressão.

Conclusão

O livro “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman oferece uma nova perspectiva sobre o que significa ser inteligente, enfatizando que o sucesso na vida depende não apenas do raciocínio lógico, mas também da capacidade de entender e gerenciar emoções. A inteligência emocional é fundamental para o bem-estar pessoal e profissional, e pode ser aprimorada ao longo do tempo, tornando-se um ativo essencial para qualquer pessoa que deseja melhorar suas relações, liderar equipes ou lidar com desafios emocionais de maneira mais eficaz.

Pânico da amídala

A amígdala é uma pequena estrutura em forma de amêndoa localizada no cérebro, mais especificamente no sistema límbico, que desempenha um papel crucial na regulação das emoções, especialmente aquelas relacionadas ao medo e à ameaça. Situações de pânico ocorrem quando a amígdala detecta algo que percebe como perigoso, ativando uma resposta intensa de “luta ou fuga”. Esse processo é essencialmente um mecanismo de sobrevivência, que prepara o corpo para reagir rapidamente a ameaças.

Durante uma situação de pânico, a amígdala pode superestimular o sistema nervoso, enviando sinais para outras partes do cérebro e desencadeando uma série de respostas fisiológicas. Isso pode incluir o aumento da frequência cardíaca, a aceleração da respiração e a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina. Essas mudanças físicas preparam o corpo para enfrentar o perigo, mesmo que a ameaça seja apenas percebida e não real, como em situações de ansiedade ou ataques de pânico.

Em casos de transtornos de ansiedade, como o transtorno do pânico, a amígdala pode se tornar hiperativa, desencadeando respostas exageradas a estímulos que normalmente não seriam vistos como ameaçadores. Isso pode levar a episódios de pânico súbito e intenso, onde a pessoa experimenta sensações como tontura, falta de ar, sudorese, tremores e uma sensação avassaladora de medo, muitas vezes sem uma causa óbvia.

Embora a amígdala seja essencial para a sobrevivência, sua hiperatividade pode ser debilitante, especialmente quando está ligada a transtornos de ansiedade. Tratamentos como terapia cognitivo-comportamental e técnicas de relaxamento ajudam a reduzir a reatividade da amígdala e a reconfigurar a forma como o cérebro responde ao estresse e ao medo.

a medicatação ajuda a acalmar a Amidala:

A ideia de que a **meditação acalma a amígdala** tem ganhado cada vez mais evidência científica e é baseada no efeito da prática de meditação sobre o cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pela regulação das emoções, como a **amígdala**, uma pequena estrutura no sistema límbico do cérebro. A amígdala está fortemente associada a respostas emocionais, particularmente àquelas relacionadas ao **medo**, **ansiedade**, **estresse**, e **reações automáticas** de “luta ou fuga”.

### Função da Amígdala
A **amígdala** é uma parte do cérebro crucial para processar emoções e é especialmente ativa em situações de perigo ou estresse. Quando nos sentimos ameaçados ou sobrecarregados, a amígdala desencadeia respostas emocionais rápidas e intensas. Essa ativação é útil em situações de sobrevivência, mas em contextos do dia a dia, como no trabalho ou em relacionamentos, a hiperatividade da amígdala pode causar ansiedade crônica, irritabilidade e dificuldades emocionais.

### Meditação e a Amígdala
Pesquisas recentes indicam que a **meditação**, especialmente práticas como a **atenção plena (mindfulness)**, pode acalmar a amígdala e reduzir a sua reatividade. Aqui estão as principais formas como isso acontece:

1. **Redução da Reatividade Emocional**
Estudos mostram que a prática regular de meditação pode diminuir a **reatividade da amígdala**. Isso significa que, com o tempo, a meditação ajuda a amígdala a reagir de forma menos intensa a estímulos negativos, permitindo que a pessoa tenha mais controle sobre suas respostas emocionais. Pessoas que meditam regularmente tendem a experimentar menos respostas automáticas de estresse em situações que anteriormente poderiam ter causado uma reação emocional exagerada.

2. **Diminuição da Atividade da Amígdala**
Neuroimagens de pessoas que praticam meditação mostram que a **atividade da amígdala diminui** durante e após as sessões de meditação. Isso sugere que a meditação tem um efeito direto na redução da ativação dessa região, acalmando o cérebro e, consequentemente, o corpo.

3. **Aumento da Conexão com o Córtex Pré-frontal**
A meditação não apenas acalma a amígdala, mas também fortalece a conexão entre a amígdala e o **córtex pré-frontal**, a área do cérebro responsável pelo planejamento, raciocínio lógico e regulação das emoções. O fortalecimento dessa conexão permite que o córtex pré-frontal tenha mais controle sobre as respostas da amígdala, tornando mais fácil regular emoções, manter a calma sob pressão e lidar com o estresse.

4. **Diminuição da Produção de Cortisol**
A meditação também está associada à redução dos níveis de **cortisol**, o hormônio do estresse, que está ligado à ativação da amígdala. Quando os níveis de cortisol diminuem, a resposta da amígdala ao estresse também se atenua, criando um ciclo positivo de menos estresse e mais regulação emocional.

### Efeitos de Longo Prazo
A prática contínua da meditação pode ter **efeitos duradouros** na estrutura do cérebro. Estudos de neuroplasticidade sugerem que a meditação pode, a longo prazo, **reduzir o tamanho** da amígdala e **aumentar a densidade de substância cinzenta** no córtex pré-frontal, áreas associadas ao autocontrole e à regulação emocional.

### Tipos de Meditação que Acalmam a Amígdala
Diferentes tipos de meditação têm sido estudados em relação à sua capacidade de acalmar a amígdala. Entre os mais eficazes estão:
– **Mindfulness (atenção plena)**: Consiste em focar no presente, observar os pensamentos e emoções sem julgamento, o que ajuda a regular o estresse e a ansiedade.
– **Meditação da compaixão (Metta)**: Envolve o envio de pensamentos de bondade para si mesmo e para os outros, promovendo empatia e redução da reatividade emocional.
– **Meditação concentrativa**: Focar em um objeto, respiração ou som específico pode acalmar a mente e, por consequência, reduzir a reatividade da amígdala.

### Conclusão
A ideia de que a meditação acalma a amígdala é suportada por uma crescente base de pesquisas que mostram os efeitos benéficos da meditação na redução da atividade da amígdala, promovendo uma maior regulação emocional e resiliência ao estresse. Ao regular essa importante parte do cérebro, a meditação pode ajudar as pessoas a manterem a calma em situações difíceis, melhorando a saúde mental e o bem-estar geral. Com o tempo, a prática regular pode levar a mudanças duradouras no cérebro, promovendo um estado de maior equilíbrio emocional.




Literatura: As encruzilhadas dos cotistas

Livro recém-lançado Jeferson Tenório retrata o duro cotidiano de jovens na universidade, diante de uma sociedade governada pela tirania do mérito. E, entre indignação e resiliência, cutuca as instituições de ensino: “Ninguém tinha me educado para o insucesso”

Por Luiz Marques, em A Terra é Redonda

A mais recente obra de Jefferson Tenório, De onde eles vêm, destaca as encruzilhadas contemporâneas e, em especial, as angústias experimentadas por jovens cotistas nas universidades federais. A personagem central do romance, Joaquim, lembra uma ideolágrima de Paulo Leminski: “1° dia de aula / na sala de aula / eu e a sala”. A dificuldade dos negros nas estruturas institucionais, dominadas pelo racismo, tem no conhecimento e na atividade intelectual apenas um paliativo para a estranheza – seu “lugar de fala” – na sociedade e na história.

A mobilidade social via educação formal crava novos espinhos na pele. “Então eu era colocado num lugar específico no imaginário deles: pobre coitado sem muita cultura, sem muita leitura, que não sabia falar inglês” (p. 26). Em face do incômodo sentimento, o desafogo aparece na providencial disciplina de produção de texto ficcional. A vocação literária funciona como o milagre operado pela imaginação para sublimar a violência, sem aviso prévio, da realidade. “Misturava passagens dos livros com acontecimentos da própria experiência, como se a literatura e a vida fossem a mesma coisa. Mas não eram” (p. 21). Neste ponto, a trajetória da criatura se confunde com a do criador.


“Não era possível que a síntese da minha vida fosse um ônibus lotado em meio a um calor insuportável de verão… Há de haver alguma beleza nessa vida fodida de merda, pensei. Fechei os olhos. Eu era um idiota tateando no escuro em busca de beleza num ônibus fedido… a caminho de Alvorada. Tive ali a consciência de que a beleza era a coisa mais imprecisa do mundo” (ps. 35-6). O pesadelo se passa no Rio Grande do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. Não obstante, o relato transcende a topografia local, aplicando-se a qualquer polo urbano brasileiro na atualidade.

O custo para se deslocar até a capital é queixa constante dos estudantes. A pandemia do coronavírus e as enchentes agravaram o problema no território gaúcho. Uma justificativa econômica para o não comparecimento às aulas é recorrente. A pobreza é um fator incontornável da evasão escolar hoje. A prefeitura tem responsabilidade. Cortou o passe estudantil e espaçou os horários para a condução.

É comum a alusão ao sofrimento como a chave para a criação artística, na narrativa. Por exemplo, em um sarau que evoca um poema da folclorista e ativista afro-peruana Victoria Santa Cruz: “Tinha sete anos apenas / Sete anos, nada! / De repente umas vozes na rua / me gritaram: ‘Negra!’ / ‘Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!’ / ‘Por acaso sou negra?’ – pensei / SIM! / ‘E o que é ser negra?’ / ‘Negra!’ / E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia. / E me senti ‘negra’ / ‘Negra!’ / Sim / ‘Negra!’ / Sou / ‘Negra!’ / Negra / ‘Negra!’ / Negra sou!” (p. 86). A catarse denuncia a dor nos atos discriminatórios, “racista fdp”, sem o que não existem os versos poéticos.

O sofrimento nunca mente; mas não o das circunstâncias superficiais ou fúteis. A tortura suscitada no silêncio das desigualdades. “Eu escrevo com o corpo”, exclama um angolano ao recusar a crença pueril e tola de que “a poesia é só uma coisa mental, como se o pensamento fosse superior à nossa fisiologia. Essa separação entre corpo e mente é tão estranha. Você não acha Joaquim?” (p. 202).

A noção do sofrer enquanto estágio para o desvelamento da verdade na forma artística devemos aos antigos, para os quais a melancolia produz a boa arte. Um produto em escassez na prateleira dos modernos, que voltam ao Éden nos shopping centers com um cartão de crédito platinum. Aldous Huxley, em Admirável mundo novo, faz o administrador retirar do panorama humano a arte para, juntamente, eliminar o sofrimento na sociedade: “Temos de escolher entre a felicidade e o que as pessoas costumavam chamar de arte superior. Sacrificamos a arte superior”. Sem arte, sem dor; e vice-versa. Aqui, a distopia equivale à perversão do gestor neoliberal ao calar os direitos sociais.

No meio dos livros

O texto de Jefferson Tenório não se furta de apresentar as críticas duras que ainda ecoam no campus universitário e na sala de professores: “Me sinto impotente diante da crueldade desse sistema de ensino (com cotas étnico-raciais). Querem tapar o abismo com um remendo. A história já condenou dolorosamente essas tentativas. Tínhamos que estar preocupados com a educação básica, e não colocar gente despreparada aqui dentro” (p. 42). O ceticismo recende o preconceito. As pesquisas mostram que, passados os primeiros sustos, os cotistas alcançam um ótimo desempenho nos cursos.

Inicialmente determinados assuntos são de domínio dos alunos normais; não para os excepcionais. “Eu mesmo pensava que as cotas eram uma espécie de esmola, sabe? Como se fosse uma facilidade para os negros, como se não tivéssemos capacidade de fazer uma prova como todos os outros. Mas eu entendi que não era bem isso. Entendi que não tinha as mesmas chances. Entendi, por fim, que um exame de vestibular não provava nada. Nada sobre minhas capacidades” (p. 133-4). Depois: “Não me via mais como intruso por ter entrado pelo sistema de cotas. Além disso, eu começava a me destacar nas aulas. O que me proporcionava respeito da parte dos colegas” (p. 85). Oxalá.


Joaquim especula o que sua avó poderia pensar dele sobre o desejo de ser escritor, projetando nela as dúvidas que igualmente o afligiam, no íntimo. “Olha, guri, a gente se fodeu a vida toda. Meus avós se foderam. Meus pais se foderam. A sua mãe se fodeu. Uma geração inteira se fodeu. Por séculos os negros se foderam pra que você chegasse até aqui. E agora é isso que você vai fazer da sua vida? Um curso de letras? Um curso que não vai ajudar os negros a sair dessa merda toda? Não se tornará um advogado? Um médico? Um engenheiro? Até onde você vai com isso?” (p. 61).

O poder não é apenas aquilo a que nos opomos, mas também aquilo de que dependemos para existir e que abrigamos e preservamos nos seres que somos. “O modelo habitual do processo é – o poder se impõe sobre nós; enfraquecidos pela sua força, interiorizamos ou aceitamos seus termos”, sublinha Judith Butler que disseca o fenômeno dialético em A vida psíquica do poder. Sim, a “sujeição” é paradoxal. Artisticamente torna complexo o desejo dos sujeitos. Na política, converte a tática em uma estratégia duradoura e orgânica de aproximação com o Centrão, para amenizar as contradições.

Na leitura, epifanias agem à guisa de uma declaração de guerra sentimental à alienação do espírito. Vide o simbólico episódio da descoberta na faculdade de As palavras, de Jean-Paul Sartre, espécie de autobiografia da infância do filósofo francês. “Eu achara a minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro. Na biblioteca eu via um templo. Comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida: no meio dos livros” (p. 64). “Acreditei com toda a força e sinceridade que os livros poderiam me salvar” (p. 135). O fato de Jorge Luis Borges ou Alberto Manguel não serem citados prova o cacoete eurocêntrico da academia, e o quanto prossegue distante do Sul global.

A receita da escrita é atribuída ao deus egípcio Theuth. Um paraíso para a memória e a sabedoria, apesar de o Faraó não se convencer e alegar não ser um remédio para a memória, mas simples ajuda para relembrar e que, ao revés da sabedoria, servia para estimular a presunção de sábio. Há muito os escritores debatem se a literatura tem algum efeito prático para mudar o mundo. As adversidades mostram que o debate está longe de terminar; a resiliência ao obscurantismo e negacionismo, idem.

O autor premiado com o Jabuti, em O avesso da pele (2020), entrega com De onde eles vêm um belo trabalho de final comovente numa sociedade governada pela tirania do mérito. “Ninguém tinha me educado para o insucesso. Ninguém havia me dito que na vida há poucas recompensas por sermos boas pessoas.” (p. 187). As cotas não são suficientes para reparar 350 anos de escravidão. As entidades estudantis e as reitorias aos poucos tomam iniciativas para acolher melhor os cotistas e dar mais condições de que permaneçam na universidade. “Eu continuava me fodendo como todos os outros negros sempre se foderam. Aquele era o nosso destino” (p. 169). Será?

Leia o livro.

Luiz Marques é professor de ciência política na UFRGS. Foi secretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul no governo Olívio Dutra.

Fonte Portal Membro Outras Palavras


Ana Karenina de Leo Tolstoi

Portal Membro Blog Paulo Gala


Pochmann: O atraso do futuro e o “homem cordial”

Livro recém-lançado analisa o abandono de projeto nacional e a desesperança no século XXI. A partir da Era Digital, o Antropoceno, a mudança geopolítica e demográfica, propõe pensar novos rumos para o Brasil e romper a estrutura de poder conformada pela cordialidade


Por Marcio Pochmann e Luís Fernando Vitagliano, em A Terra é Redonda

Ao final do primeiro quarto do século XXI, certa desesperança voltou a proliferar no Brasil. Não seria novidade, pois nos parece perceptível que após a prevalência das várias experiências de mobilização popular – conforme mais recentemente registradas nos anos de 1980 (campanha das Diretas Já, 1983-1984), 1990 (Movimento dos Caras-Pintadas, 1992) e 2010 (Jornadas de Junho, 2013), vem uma onda de acomodação política e queda das expectativas sociais, políticas e econômicas de futuro.

Essa desesperança pode ter começado com a perda de perspectiva de um projeto nacional de desenvolvimento, sem um evento ou data precisa para localizá-la, mas um processo de médio e longo prazo que passa pelo reformismo progressista sempre postergado. Da supressão macro de alternativas ao establishment neoliberal ao plano micro do desalento gerado por multidões de sobrantes e sem destino desintegradas que coloca na berlinda a Era Industrial.


Marcio Pochmann & Luís Fernando Vitagliano. O atraso do futuro e o “homem cordial”. São Paulo, Hucitec

O emprego puxado pelas condições fabris de trabalho, o operariado e a produção perdem espaço diante da prevalência primário-exportadora na divisão internacional do trabalho reeditada pela era digital. Na forma inadequada de adesão à globalização, restou ao setor terciário da economia a proliferação de atividades de sobrevivência próprias da economia popular crescentemente disputada pela gestão social da pobreza desencadeada pela política de emergências governamentais, que foi decorado com a ação do novo sistema jagunço urbano de fanatismo religioso e banditismo social.

Tal qual ocorreu com os processos de êxodo rural na transição do agrarismo para a indústria, a massa sobrante de trabalhadores marginalizados deve ser, mas nem sempre é, uma preocupação do Estado. Isso porque inevitavelmente afeta não apenas as condições materiais de um território nacional, como também desestabiliza as formas de sociabilização e os laços sociais que dão solidez à nação.

No atual contexto, identificamos que as propostas em curso se orientam em torno de uma suspensão do futuro. Ou seja, da ausência de propostas para uma nova inserção de sociabilidade interna e participação externa do Brasil. A opção pela definição de atraso tem um problema sério que diz respeito à ausência de perspectiva para o futuro, se ignorar o fato de que o futuro é inexorável. Mas, é decisiva a ordem pela qual se moderniza uma sociedade porque o tempo define o lugar que cada nação na divisão internacional do trabalho. Ao atrasar o futuro, o Brasil sentencia sua posição à marginalidade da ordem econômica internacional.

Concomitante com a desesperança veio, porém, o avanço da extrema direita; tal como reação conservadora ao protagonismo da rebeldia popular. Recorrentemente, no Brasil (e no mundo), a extrema direita buscou ocupar espaços de redefinição de futuros, sempre que abertos ao longo do Período Republicano. Na década de 1930, por exemplo, a ascensão do movimento integralista (1933-1937) e da organização nazista (1928-1938), assim como nos anos de 1960 com a prevalência dos movimentos em defesa da tradição, família, Deus e propriedade (1960-1968). Na atual conjuntura, a disputa pelo Futuro está em suspender o futuro como projeto.

Enquanto a direita conservadora disputava alguns aspectos da sociedade por meio de propostas para as classes trabalhadoras na primeira metade do século XX, a direita da segunda metade do mesmo século se concentrava nos costumes. O neoliberalismo do século XX foi tanto social como econômico e participava da aliança neoliberal internacional. Mas, tanto no passado como no presente, a direita extremada (com o objetivo de eliminar o inimigo) representava apenas uma menor parte da direita – que crescia conforme a época e a crise.

Na década de 2010, contudo, outro momento em que foi possível a ascensão da extrema direita veio embalado pela perspectiva sinistra de uma espécie de cancelamento do futuro da nação. Ou, pelo menos, do futuro que se deslumbrava para o Brasil dos fundadores do pensamento social brasileiro para a formação nacional, projetado por figuras como Joaquim Nabuco, Manuel Bonfim, Sílvio Romero, ou mesmo os mais debatidos como Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Mário Pedrosa, Florestan Fernandes, para ficar apenas em alguns. O que transforma a atual mudança de época numa profusão de respostas imediatistas.

O atraso do futuro e o “homem cordial” pretende cobrir essa nova época histórica do Brasil. Da desistência de um projeto nacional que se abre com a formação de um pensamento nacional brasileiro representada por uma produção intelectual robusta até a ausência de perspectivas para o futuro e a preocupação imediata e de curto prazo de toda uma literatura que não se arrisca a propor alternativas ao próprio capitalismo.

O Brasil moderno não é uma imagem isolada. Assim como o Brasil colonial se olhava para a Europa como um espelho que projetava o futuro. O passado colonial nada nos dizia. O projeto de Futuro era um assalto da tradição que não tínhamos – ocidental e modernista – como o manifesto de 1922. Embora tardio, o projeto de modernidade ocidental segue sendo identificado pelas classes dirigentes como o horizonte civilizatório a alcançar as pontas mais distantes do território nacional. Assim, as visões presentistas como resíduo do passado colonial parecem professar o aprisionamento espontâneo à hegemonia do pensamento modernocentrista.

Acontece que, nos dias de hoje, o sonho progressista dos modernistas para o Brasil parece estar atormentado pelas disputas entre a anomia coletiva no campo das esquerdas e a heteronomia individualista defendida pela extrema direita. Na perspectiva histórica de Sérgio Buarque de Holanda, as raízes do mal-estar nacional estariam na cordialidade. Diferentemente da racionalidade instrumental, a afabilidade corresponderia tanto pela usurpação de domínio privado sobre a esfera pública como a encarnação do personalis- mo político de favores próprios do Estado patrimonialista.

Pela contaminação sempre presente de traços formativos do passado colonial escravista, a inflexão da trajetória percorrida pelo Brasil desde o último quarto do século XX parece não ter sido percebida integralmente. Os artistas, em geral mais sensíveis à marcha dos acontecimentos, anteciparam com ousadia e coragem o que as classes dirigentes secundarizavam, sobretudo pela irrelevância da política sob a hegemonia dos interesses econômicos e financeiros a capturar o Estado.

Antevisões especiais a respeito dos sinais de ruína da sociedade industrial brasileira podem ser encontradas, por exemplo, em Ignácio de Loyola Brandão (Não verás país nenhum, 1981), Chico Buarque de Holanda (Estorvo, 1991) e Paulo Lins (Cidade de Deus, 1997), apenas para citar alguns. No âmbito do pensamento crítico, o marco conceitual dos intérpretes da formação nacional passou a ser confrontado pela emergência do marco conceitual da deformação.

O atraso do futuro e o “homem cordial” busca narrar a trajetória que decorre da mudança de época pelo qual o Brasil se encontra no primeiro quarto do século XXI. O principal sintoma desse processo é justamente o efeito que se tem num dos processos mais arraigados na sociedade brasileira: a prática da cordialidade. Para apresentar o fio narrativo do processo em curso, destacam-se os quatro fundamentos estruturadores que desafiam a contextualização do atraso do futuro nacional e ajudam a explicar a perplexidade social que nos aprisionou no presentismo.

Inicialmente, a passagem das sociedades urbanas e industriais foi protagonizada pelo projeto de modernidade ocidental dos últimos 500 anos para a nova Era digital. Com isso, o eurocentrismo, que se fundamentou pelo domínio da guerra moderna e da indústria cultural própria da Era Industrial, perde sentido diante do avanço da revolução informacional em outras sociedades submetidas à realidade impositiva divisão internacional do trabalho.

De um lado, o bloco dos países produtores e exportadores de bens e serviços digitais e, de outro, as nações consumidoras-importadoras das mesmas mercadorias e dependentes tecnologicamente a fundamentar o neosubdesenvolvimentismo. No limite, o neocolonialismo à espreita da dominância rentista da financeirização da riqueza e dos recursos naturais e minerais a desmontar a antiga centralidade da relação capital-trabalho e a reavivar a relação débito-crédito emergente das multidões de sobrantes e sem destino futuro;

Em sequência, o fenômeno do Antropoceno, ainda pouco formulado enquanto teoria, demonstra que entramos em uma nova era geológica onde a ação humana é decisiva para as transformações da natureza. Sob o paradigma do Antropoceno, parte significativa do debate sobre mudanças climáticas e aquecimento global reconhece que é necessária a mudança de perspectiva em relação ao uso dos recursos naturais, mas o impacto econômico e na distribuição de recursos trava uma batalha que tem como resultado a paralisia intelectual.

Nesse sentido, a perspectiva trazida pelo Papa Francisco (Economia de Francisco e ClaraLaudato Si) sobre o sistema econômico que mata no cenário mundial da desigualdade, pobreza e consumo predatório dos recursos naturais converge com a reação latino-americana e caribenha ao projeto de modernidade ocidental. Assim, o conceito do bem viver e a positivação dos direitos da natureza (Pachamama) evidenciam a busca pelo desenvolvimento como liberdade e de harmonia na relação entre ser humano e planeta Terra.

Da mesma forma, o curso da mudança do centro dinâmico mundial do Ocidente para o Oriente. Em pleno primeiro quarto do século XXI, mais de 2/3 da expansão econômica concentra-se no Oriente, tendo o Sul-Global, não mais o Norte-Global, como dinamismo da economia-mundo.

A maior parte do comércio mundial já não atravessa mais o oceano Atlântico em direção à Europa. O passado da centralidade do Mediterrâneo ficou para trás, deixando de ser o principal eixo de navegação do mundo. Cada vez mais, o oceano Pacífico assume a centralidade como eixo dinâmico dos fluxos globais de bens e serviços assentados no protagonismo do Oriente, especialmente chinês, o que se aproxima a certa “normalidade histórica” do que prevalecia antes do século XVI.

Por fim, porém não menos importante, o aparecimento do novo regime demográfico que tem negado a trajetória iniciada no século XVIII de aceleração contínua do aumento populacional, pressionado pela queda na fecundidade e até o possível decréscimo da população mundial. Menos jovens e mais concentrados em categorias específicas são características populacionais que estão mudando a geografia mundial. Universidade da terceira idade, longevidade com métodos e estudos médicos mais avançados, nascimentos em queda no Ocidente com crescimento populacional negativo representam novos desafios demográficos; sem contar com o fato de que somente em dois países onde se localiza o distanciamento do ocidentalismo.

Esses quatro elementos conceituais são estruturantes do debate, fazem parte da fundamentação que usamos para definir a mudança de época e, portanto, estão presentes em todos os momentos dessa narrativa: desde a redefinição do lugar do Brasil na divisão internacional do trabalho até a crise política sobre o futuro incorporada pelo presentismo que contamina a política contemporânea.

Diante do estreitamento das possibilidades do progresso material, o neoconservadorismo não se constituiu fenômeno isolado. Com a perda de energia do projeto de modernidade ocidental, o progressismo de vanguarda pareceu ter sido expirado, cada vez mais desassistido de criatividade. Sem mais conseguir validar o horizonte de expectativas superiores de realizações ilimitadas à coletividade, prevaleceu o impulso político à individualidade da valoração hedonista e narcisista catapultada pelas inovações das tecnologias de comunicação e informação. O que nos leva a um terceiro elemento da derrocada do projeto ocidental: a indústria cultural e a dominação estética do Ocidente baseado na exaltação do indivíduo.

Dessa forma, a estética dominou, seja pela busca da beleza extrema, da vaidade consumista e da ostentação nas redes sociais. O individualismo competitivo em torno de micropoderes nas relações pessoais fundamentou o prazer pessoal imediato a dominar a perspectiva da coletividade, desconsiderado de suas consequências.

Em grande medida, os imperativos econômicos e as mudanças nas formas de intervenção estatal fizeram como que a pauta do progressismo fosse sendo deslocada das lutas de modernização socioeconômica das classes para a modernidade estética. Assim, o esvaziamento da política do pertencimento de classe a empolgar o futuro de transformação de realidades facilitou o deslocamento para a redefinição das identidades reparatórias do passado frente às consequências sociais ditadas pelas exigências dos ajustes econômicos aos limites do projeto de modernidade.

Este livro vai tratar dessa ambivalência entre a deformação e o abandono de um projeto de desenvolvimento, não apenas econômico, mas social, político, ambiental, cultural, nacional e civilizatório. A sobrevivência do “homem cordial” das catacumbas do agrarismo brasileiro como uma proposta de acomodação do atraso diante do projeto nacional de desenvolvimento representado pela Era industrial brasileira na verdade significou sua deformação e acomodação aos interesses das elites tradicionais e conservadoras. De outro lado, a mudança em toda órbita internacional, não apenas recente, mas desde o neoliberalismo dos anos 1980 do século passado, forçam o Brasil a buscar seu lugar ao mundo.

Em função das incertezas de futuro superior, compatível com os riscos de regressão e relação ao passado, ganhou espaço o desejo por certezas crescentemente focadas no plano do existencial. Para tanto, o papel atuante e crescente tanto da retomada das tradições naturalistas como da renovação religiosa a convergir no lastreamento da ascensão neoconservadora.

Uma nova e inédita perspectiva de o Brasil enfrentar em novas bases os traumas herdados do passado, alterando profundamente a estrutura de poder conformada a partir do conceito de “homem cordial”. Em se confirmando essa via, a oportunidade de haver rompimento com o predominante neoconservadorismo se torna efetiva, desde que o protagonismo do progressivo seja recuperado e sustentado na singularidade própria da transformação digital em curso na sociedade brasileira.

Para tanto, o resgate do pensamento social crítico assume protagonismo necessário. Sem atacar o existente, busca discernir e ampliar o conhecimento em busca de novos horizontes conceituais para a interpretação contemporânea do Brasil frente à marcha histórica que se impõe atualmente, movida por uma profunda mudança de época.

Atualmente, para uns poucos ganharem e muitos perderem, está em curso um projeto nacional de deliberada recusa da perspectiva de futuro que se converte na corrente de via única. Atrasar o debate e impedir que a esperança se torne verbo e mobilize as forças sociais progressistas é o projeto no qual nos opomos. Por isso, apresentamos esta obra na perspectiva oposta: queremos abrir a discussão e apresentar uma modesta contribuição ao debate nacional sobre o Brasil e seus rumos possíveis.

Movidos por esse impulso, apresentamos o presente livro. Boa leitura.

Fonte Portal Membro Outras Palavras


Dicionário do Brasil imperial

“Dicionário do Brasil Imperial”, organizado por Ronaldo Vainfas, é uma obra de referência que reúne verbetes sobre personalidades, eventos, instituições, conceitos e aspectos culturais do Brasil durante o período imperial (1822-1889). O livro oferece uma visão abrangente e crítica da época, abordando temas como política, economia, cultura e sociedade. Cada verbete é elaborado por especialistas, o que proporciona uma análise rica e detalhada dos acontecimentos e figuras importantes, desde os imperadores, como Dom Pedro I e Dom Pedro II, até os movimentos políticos e sociais, como a escravidão, o abolicionismo e a Guerra do Paraguai.

As ideias centrais do livro incluem:

1. A complexidade da formação do Estado nacional brasileiro, destacando o papel dos imperadores e das elites políticas, bem como as tensões regionais e sociais que marcaram o período.

2. A escravidão e suas consequências, sendo um dos principais temas do período imperial, com análise detalhada da resistência escrava, a luta abolicionista e o impacto econômico e social dessa instituição.

3. O processo de modernização do Brasil, com foco na construção de infraestruturas como ferrovias e telégrafos, além de debates sobre o desenvolvimento econômico, o fim do tráfico de escravos e o início da imigração europeia.

4. As transformações culturais e intelectuais, que abarcam desde a influência do romantismo na literatura até a criação de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

O dicionário também explora as disputas políticas internas, como o confronto entre liberais e conservadores, e examina o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente em sua relação com países vizinhos na América Latina.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Industrialização e Desindustrialização no Brasil

O livro “Industrialização e Desindustrialização no Brasil”, organizado por Carmen Feijó e Eliane Araújo, aborda as transformações estruturais pelas quais a economia brasileira passou ao longo das últimas décadas, com ênfase no processo de industrialização e o subsequente fenômeno de desindustrialização.

A obra analisa o período de intensa industrialização no Brasil, especialmente durante o século XX, quando o país adotou políticas de substituição de importações e fomentou o crescimento de sua indústria de transformação. Esse processo foi fundamental para o desenvolvimento econômico, criação de empregos e modernização da economia brasileira.

No entanto, o livro também investiga o fenômeno da desindustrialização precoce que o Brasil começou a vivenciar a partir dos anos 1980 e se intensificou nas décadas seguintes. As autoras e colaboradores discutem as causas desse processo, destacando fatores como a abertura econômica, a perda de competitividade da indústria nacional frente à concorrência externa, a sobrevalorização cambial em certos períodos e a falta de políticas industriais consistentes para promover inovação e produtividade.

A desindustrialização é avaliada não apenas como uma perda de participação da indústria no PIB, mas também em termos de seus impactos negativos sobre a economia como um todo. Entre esses impactos, estão a redução da capacidade de gerar empregos qualificados, a menor diversificação da estrutura produtiva e as dificuldades para sustentar um crescimento econômico robusto no longo prazo.

O livro oferece uma análise crítica das políticas públicas adotadas ao longo do tempo, bem como das tendências globais que afetam o setor industrial brasileiro. Ele propõe que, para reverter esse processo, o Brasil deve adotar estratégias que promovam a inovação tecnológica, a educação e a formação de capital humano, além de criar condições macroeconômicas mais favoráveis para a reindustrialização.

Em suma, “Industrialização e Desindustrialização no Brasil” é uma obra que fornece uma compreensão aprofundada sobre os desafios estruturais que o país enfrenta no desenvolvimento de seu setor industrial, oferecendo uma visão crítica sobre os caminhos futuros para retomar o crescimento industrial.

O livro “Industrialização e Desindustrialização no Brasil” organizado por Carmen Feijó e Eliane Araújo é dividido em quatro partes principais:

  1. Parte 1 – Natureza Teórica: Contém três capítulos que discutem a importância da indústria para o crescimento econômico do Brasil. Apresenta a evolução do debate teórico sobre a desindustrialização e a relação entre estrutura produtiva, comércio internacional e fragmentação da produção global.
  2. Parte 2 – Processo de Industrialização Brasileira: Composta por quatro capítulos, analisa a trajetória de longo prazo do país, desde a industrialização por substituição de importações (ISI) até os desafios enfrentados com a desindustrialização após a década de 1990.
  3. Parte 3 – Evidências Empíricas: Com três capítulos, esta seção examina os aspectos empíricos da desindustrialização, destacando a relação entre esse processo e as cadeias globais de valor, além de abordar a importância dos sistemas nacionais de inovação.
  4. Parte 4 – Implicações para a Política Econômica: Os quatro capítulos finais discutem as implicações políticas da desindustrialização e apresentam ideias sobre uma possível reindustrialização do Brasil, com foco no desenvolvimento sustentável e na economia verde e circular

A principal mensagem do livro “Industrialização e Desindustrialização no Brasil” é a importância de compreender o papel central da indústria no desenvolvimento econômico do país e os desafios enfrentados com o processo de desindustrialização, que afeta negativamente o crescimento de longo prazo. O livro argumenta que a desindustrialização precoce no Brasil compromete a capacidade do país de gerar empregos qualificados e inovação, e propõe a necessidade de uma nova política industrial que considere a sustentabilidade, inovação e a reindustrialização, visando um desenvolvimento mais robusto e equilibrado.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala

Bidenomics nos trópicos

O livro “Bidenomics nos Trópicos” de André Roncaglia e Nelson Barbosa explora as implicações e adaptações do modelo econômico adotado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para a realidade de países em desenvolvimento, especialmente o Brasil. O termo “Bidenomics” refere-se a uma política econômica que combina investimentos massivos em infraestrutura, transição verde, e políticas sociais com o objetivo de estimular o crescimento sustentável e inclusivo.

Roncaglia e Barbosa discutem como essas ideias podem ser aplicadas em economias tropicais, como a brasileira, que enfrenta desafios únicos, incluindo alta desigualdade, desindustrialização e dependência de commodities. O autor destaca que, para que algo semelhante ao Bidenomics funcione no Brasil, seria necessário um Estado mais ativo na economia, com foco em investimentos públicos estratégicos, reindustrialização, e políticas sociais voltadas à redução da pobreza e à inclusão social.

No entanto, ele também alerta para as limitações e desafios dessa adaptação, como a necessidade de uma reforma tributária progressiva, a superação de barreiras institucionais, e o desenvolvimento de uma política macroeconômica que concilie a estabilidade fiscal com o crescimento econômico sustentável e de longo prazo.

Em suma, Roncaglia e Barbosa propõem que uma versão tropicalizada do Bidenomics no Brasil exigiria uma combinação de políticas de inovação tecnológica, políticas industriais e a promoção de um desenvolvimento sustentável que equilibre o crescimento econômico com a justiça social.

O livro “Bidenomics nos Trópicos”, organizado por André Roncaglia e Nelson Barbosa, é dividido em diversas partes que tratam das adaptações e possíveis aplicações das políticas econômicas do governo Biden no contexto brasileiro. A obra analisa as medidas fiscais e de infraestrutura lançadas nos EUA e discute como esses conceitos podem ser ajustados para enfrentar os desafios do Brasil.

Entre os capítulos, a obra aborda temas como:

  1. O impacto do Plano de Resgate de Biden, focado na recuperação econômica pós-pandemia, e as lições para o Brasil.
  2. Infraestrutura e inovação, com destaque para os investimentos necessários em áreas cruciais da economia brasileira.
  3. A importância da transição para fontes sustentáveis de energia, com paralelos entre as medidas verdes de Biden e as necessidades ambientais do Brasil.
  4. Políticas sociais, incluindo o impacto de políticas voltadas à educação e saúde, que no contexto brasileiro seriam essenciais para reduzir a desigualdade.

O livro também reúne análises de renomados economistas brasileiros, incluindo Bráulio Borges, Paulo Gala, e Luiz Carlos Bresser-Pereira, entre outros, e busca refletir sobre as possibilidades de adaptação do “Bidenomics” para criar um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo no Brasil.


Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


A hora dos economistas: falsos profetas, livre mercado e a divisão da sociedade

“A Hora dos Economistas” de Anne Applebaum é uma obra que explora como as ideias econômicas passaram a dominar o debate político global, influenciando não apenas decisões de política pública, mas também moldando sociedades inteiras. Applebaum analisa o impacto dos economistas na vida cotidiana, especialmente a partir da ascensão do neoliberalismo nas últimas décadas do século XX. O livro destaca como a economia deixou de ser uma área técnica e restrita a especialistas, tornando-se uma força central na definição de rumos nacionais e globais.

Principais ideias do livro:

  1. Ascensão dos Economistas ao Poder: Applebaum traça o caminho que levou os economistas a se tornarem os principais formuladores de políticas públicas. Desde os anos 1970 e 1980, figuras como Milton Friedman e Friedrich Hayek, com suas ideias de livre mercado e desregulamentação, influenciaram profundamente governos em todo o mundo. Essas ideias moldaram o cenário político, com o avanço do neoliberalismo sendo adotado em diversas democracias e regimes autoritários.

  2. Economia como Ideologia: A autora discute como a economia se tornou mais do que uma ciência social, mas uma ideologia dominante. As ideias de livre mercado, austeridade fiscal, e globalização se tornaram as bases das decisões governamentais, impactando diretamente a vida de milhões de pessoas. Applebaum argumenta que essa transformação deu aos economistas um poder desproporcional em relação a outras áreas do conhecimento.

  3. Impactos Sociais e Políticos: O livro analisa como o domínio das políticas econômicas, baseadas em teorias como o neoliberalismo, afetou as populações. As reformas estruturais, cortes de gastos sociais e a privatização de serviços públicos, promovidas por economistas influentes, resultaram em aumento da desigualdade em muitos países, enfraquecimento do Estado de bem-estar social e crescimento da precariedade no emprego.

  4. Crises Econômicas: Applebaum também investiga como a influência dos economistas contribuiu para crises econômicas globais, como a crise financeira de 2008. A crença na autorregulação dos mercados e a confiança excessiva nos modelos econômicos levaram a decisões que, em muitos casos, falharam em prever e mitigar crises econômicas. A autora explora as consequências dessas falhas e o impacto das políticas de austeridade implementadas em resposta.

  5. Desafios à Supremacia dos Economistas: No final do livro, Applebaum discute os desafios recentes ao domínio dos economistas na formulação de políticas. Ela destaca a ascensão de movimentos populistas, que rejeitam as políticas econômicas tradicionais em favor de uma abordagem mais protecionista e nacionalista. Applebaum argumenta que essa reação é, em parte, uma resposta às consequências sociais das décadas de domínio das ideias econômicas neoliberais.

Conclusão

“A Hora dos Economistas” oferece uma reflexão profunda sobre o papel dos economistas na formulação de políticas públicas e como suas ideias moldaram o mundo moderno. Applebaum questiona se os economistas, muitas vezes isolados em modelos e teorias, entenderam plenamente os impactos sociais e políticos de suas recomendações. O livro sugere que é hora de reavaliar o papel da economia na governança global e considerar outras perspectivas que possam abordar melhor os desafios sociais e econômicos do século XXI.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Brasil: Economia que não aprende

O livro “Brasil: Economia que Não Aprende”, de Paulo Gala e André Roncaglia, oferece uma análise crítica da economia brasileira, abordando as falhas estruturais e propondo caminhos para um desenvolvimento sustentável e inclusivo. As principais ideias do livro incluem:

Diagnóstico das Falhas Estruturais

  1. **Dependência de Commodities**:
  • Gala e Roncaglia argumentam que a economia brasileira é excessivamente dependente da exportação de commodities. Essa dependência expõe o país a volatilidades externas e impede o desenvolvimento de uma indústria nacional robusta e diversificada.
  1. **Desindustrialização Prematura**:
  • O livro destaca que o Brasil sofreu uma desindustrialização prematura, onde o setor industrial encolheu antes de alcançar níveis avançados de desenvolvimento. Isso resultou na perda de empregos qualificados e na redução da capacidade de inovação do país.
  1. **Baixa Complexidade Econômica**:
  • Os autores utilizam o conceito de complexidade econômica para mostrar que o Brasil produz e exporta bens de baixo valor agregado. A falta de diversificação produtiva limita o potencial de crescimento e desenvolvimento tecnológico do país.

 

Propostas de Políticas Econômicas

  1. **Política Industrial Ativa**:
  • Gala e Roncaglia defendem a necessidade de uma política industrial ativa, que promova a inovação e a diversificação da base produtiva. Eles sugerem incentivos para setores estratégicos e investimentos em infraestrutura e tecnologia.
  1. **Educação e Qualificação Profissional**:
  • A educação é apontada como um pilar fundamental para o desenvolvimento econômico. Os autores enfatizam a necessidade de melhorias na qualidade da educação básica e superior, além de programas de qualificação profissional para adaptar a força de trabalho às demandas do mercado moderno.
  1. **Inovação e Pesquisa**:
  • O livro propõe um aumento significativo nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A criação de um ambiente favorável à inovação, com incentivos fiscais e apoio a startups e empresas de alta tecnologia, é considerada crucial para elevar a competitividade do Brasil.

 

Análise Comparativa Internacional

  1. **Casos de Sucesso**:
  • Gala e Roncaglia comparam o Brasil com países que conseguiram se industrializar e diversificar suas economias, como Coreia do Sul e China. Eles destacam as políticas de Estado que esses países adotaram para fomentar o crescimento econômico e tecnológico.
  1. **Modelos de Desenvolvimento**:
  • Os autores discutem diferentes modelos de desenvolvimento econômico, argumentando que o Brasil deve aprender com as estratégias bem-sucedidas de outros países. Eles sugerem a adaptação de políticas ao contexto brasileiro, em vez de uma mera cópia.

 

Desafios Políticos e Institucionais

 

  1. **Reformas Institucionais**:
  • O livro enfatiza a importância de reformas institucionais para criar um ambiente político e econômico mais estável e eficiente. A corrupção, a burocracia excessiva e a ineficiência governamental são apontadas como barreiras ao desenvolvimento.
  1. **Governança e Política Econômica**:
  • Gala e Roncaglia defendem uma governança mais transparente e responsável, com políticas econômicas coerentes e de longo prazo. A necessidade de um pacto social que envolva diferentes setores da sociedade é destacada como essencial para a implementação de reformas estruturais.

 

Conclusão

“Brasil: Economia que Não Aprende” oferece uma crítica contundente das políticas econômicas brasileiras e propõe um caminho alternativo para o desenvolvimento. Os autores argumentam que, para o Brasil alcançar um crescimento sustentável e inclusivo, é necessário romper com a dependência de commodities, promover a industrialização, investir em educação e inovação, e realizar reformas institucionais profundas. A abordagem pragmática e baseada em evidências de Gala e Roncaglia busca oferecer soluções viáveis para os desafios econômicos do Brasil, inspirando políticas que possam levar o país a um novo patamar de desenvolvimento.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Por que nações fracassam?

Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty, de Daron Acemoglu e James A. Robinson, é uma análise profunda sobre as causas da prosperidade e da pobreza entre diferentes países, centrada na importância das instituições políticas e econômicas.

As principais ideias do livro são:

  1. Instituições Inclusivas vs. Extrativas: O conceito central do livro é a distinção entre instituições inclusivas e extrativas. Instituições inclusivas são aquelas que promovem a participação ampla dos cidadãos na economia e na política, garantindo direitos de propriedade, justiça e oportunidades econômicas. Isso cria incentivos para inovação, educação e desenvolvimento econômico. Já as instituições extrativas concentram o poder político e os benefícios econômicos em uma elite, explorando a maioria da população e inibindo o crescimento econômico de longo prazo.
  2. O Papel das Instituições Políticas: As instituições políticas são o alicerce das instituições econômicas. Para que uma economia floresça, é necessário que as instituições políticas garantam distribuição de poder e representatividade. Quando o poder está concentrado nas mãos de poucos, como em ditaduras ou regimes oligárquicos, as instituições econômicas tendem a ser extrativas, impedindo o desenvolvimento.
  3. O Círculo Vicioso das Instituições Extrativas: Uma vez que um país é dominado por instituições extrativas, é difícil romper esse ciclo. Elites políticas e econômicas têm pouco incentivo para mudar as regras que lhes permitem manter o controle, o que perpetua a desigualdade e a pobreza.
  4. A Importância das Quebras de Paradigmas: Revoluções políticas ou grandes crises às vezes proporcionam a oportunidade para reformas que criam instituições mais inclusivas. No entanto, essas mudanças não são garantidas e dependem de forças políticas específicas que sejam capazes de redistribuir o poder.
  5. Geografia e Cultura Não São Explicações Suficientes: Ao contrário de algumas teorias anteriores, Acemoglu e Robinson argumentam que a geografia e a cultura não são fatores determinantes para o desenvolvimento econômico. Eles reconhecem que esses elementos podem ter algum impacto, mas afirmam que o fator crucial é a natureza das instituições políticas e econômicas de um país.
  6. Exemplos Históricos: O livro utiliza uma ampla gama de exemplos históricos para ilustrar suas teorias. Casos como a diferença de desenvolvimento entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, os Estados Unidos e os países da América Latina, ou as colônias africanas e asiáticas, são analisados para mostrar como as instituições moldaram o sucesso ou o fracasso das nações.

Em resumo, Why Nations Fail argumenta que o desenvolvimento econômico e a prosperidade dependem fundamentalmente de instituições políticas e econômicas inclusivas, que proporcionam direitos e oportunidades amplos. Países que sofrem com pobreza e desigualdade são geralmente aqueles dominados por instituições extrativas, onde elites limitam o acesso ao poder e aos recursos.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Exemplos de Neomercantilismo no século XX: EUA, Alemanha, URSS, Japão e China

The Neomercantilists: A Global Intellectual History de Eric Helleiner explora as ideias neomercantilistas no contexto das mudanças globais no pensamento econômico e político durante o século XX. O livro argumenta que o neomercantilismo – a crença de que o Estado deve intervir na economia para fortalecer seu poder nacional, promovendo exportações, acumulando reservas e controlando setores estratégicos – voltou a ganhar relevância em momentos de crises globais.

Helleiner traça a evolução dessa corrente de pensamento em resposta a eventos como as duas Guerras Mundiais, a Grande Depressão e a Guerra Fria, quando muitos países abandonaram o liberalismo econômico clássico e adotaram políticas mais protecionistas e intervencionistas. O autor discute como diferentes nações, incluindo economias emergentes e potências ocidentais, adotaram variações do neomercantilismo para proteger suas economias e consolidar sua influência internacional.

Uma parte significativa do livro é dedicada à análise de como o neomercantilismo foi uma resposta às falhas percebidas do livre mercado, especialmente em relação à segurança nacional e ao desenvolvimento econômico. Helleiner argumenta que, ao contrário de muitas interpretações, o neomercantilismo não é apenas uma política reacionária, mas uma abordagem criativa que busca equilibrar os interesses nacionais em um contexto de globalização e competição internacional.

O livro também aborda como o neomercantilismo influenciou a estrutura econômica global, a criação de instituições internacionais e as políticas comerciais ao longo do século XX. Em última análise, Helleiner sugere que o neomercantilismo continua a ser uma força poderosa nas economias contemporâneas, especialmente em países que buscam fortalecer seu papel na economia global.

No livro The Neomercantilists, Eric Helleiner discute diversos exemplos de países que adotaram políticas neomercantilistas ao longo do século XX. Entre os principais exemplos mencionados estão:

  1. Alemanha – Durante o período entre as duas Guerras Mundiais e também sob o regime nazista, a Alemanha implementou políticas protecionistas e de controle estatal sobre setores estratégicos da economia, priorizando a autossuficiência (autarquia) e o fortalecimento de suas indústrias nacionais.
  2. Japão – Helleiner explora como o Japão, tanto antes quanto depois da Segunda Guerra Mundial, aplicou políticas neomercantilistas para estimular o crescimento econômico. O Japão usou incentivos estatais, subsídios e tarifas para proteger e promover suas indústrias exportadoras, consolidando-se como uma potência industrial.
  3. Estados Unidos – Apesar de muitas vezes associado ao livre mercado, os EUA adotaram políticas neomercantilistas em diferentes momentos. Durante a Grande Depressão, por exemplo, o país aumentou o protecionismo com a Tarifa Smoot-Hawley. Após a Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano apoiou indústrias estratégicas, como a defesa e tecnologia, para consolidar seu poder global durante a Guerra Fria.
  4. União Soviética – A política econômica soviética durante a Guerra Fria é um exemplo claro de neomercantilismo, com foco em controle estatal, planejamento centralizado, e promoção de autossuficiência em setores estratégicos, como energia e tecnologia militar.
  5. China – A China contemporânea também é destacada como um exemplo importante de neomercantilismo. Desde as reformas de Deng Xiaoping, o país implementou uma combinação de políticas de abertura e controle estatal estratégico, incentivando exportações e desenvolvendo setores-chave com forte apoio do governo.

Esses exemplos ilustram a diversidade de contextos em que o neomercantilismo foi adotado, tanto em economias emergentes quanto em potências globais, e como essas políticas foram usadas para promover o poder econômico e político nacional.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


As verdades inconvenientes da historia americana

“These Truths: A History of the United States” de Jill Lepore é uma abrangente narrativa da história americana que explora os princípios fundadores da nação – a igualdade política, os direitos naturais e a soberania do povo. Lepore examina como esses ideais foram testados e, muitas vezes, falharam ao longo da história dos Estados Unidos. O livro começa com a colonização europeia das Américas e avança cronologicamente através de eventos e épocas cruciais, incluindo a Revolução Americana, a escravidão, a Guerra Civil, a industrialização, as guerras mundiais, o movimento dos direitos civis e até os eventos contemporâneos. Lepore destaca tanto as realizações quanto os fracassos dos EUA, ilustrando como as desigualdades raciais, de gênero e econômicas desafiaram constantemente os valores fundadores do país. Lepore também explora a evolução dos meios de comunicação e como a disseminação de informações moldou a política e a sociedade americana. Ela traça a influência da imprensa escrita, do rádio, da televisão e, mais recentemente, da internet, mostrando como cada meio impactou a maneira como os americanos entendem e discutem suas próprias verdades. Em “These Truths”, Jill Lepore oferece uma análise crítica e detalhada da história dos Estados Unidos, convidando os leitores a refletir sobre o que significa ser uma nação fundada em ideais elevados e como esses ideais foram perseguidos, distorcidos e reavaliados ao longo do tempo.

Jill Lepore, em “These Truths”, fornece vários exemplos de como os Estados Unidos frequentemente falharam em viver de acordo com seus princípios fundadores de igualdade, direitos naturais e soberania popular. Aqui estão alguns exemplos:

  1. **Escravidão e Racismo**:
    – **Escravidão**: Lepore detalha como a escravidão contradiz flagrantemente a declaração de igualdade e direitos naturais afirmados na Declaração de Independência. Desde a fundação da nação, milhões de africanos foram escravizados, e mesmo após a abolição, a discriminação racial e a segregação legalizada (Jim Crow) perpetuaram a desigualdade.
    – **Legislação de Jim Crow**: Após a Guerra Civil e a Reconstrução, leis de segregação racial conhecidas como Jim Crow foram implementadas no sul dos Estados Unidos, institucionalizando a discriminação racial e a desigualdade, desafiando os ideais de igualdade e direitos naturais.
  2.  **Gênero e Direitos das Mulheres**:
    – **Sufrágio Feminino**: Lepore descreve a longa luta das mulheres pelo direito ao voto, culminando na 19ª Emenda em 1920. Durante grande parte da história americana, as mulheres foram excluídas dos direitos políticos, em contradição com a ideia de soberania popular.
    – **Desigualdade de Gênero**: A persistente desigualdade salarial e a discriminação de gênero são exemplos de como os direitos das mulheres continuaram a ser negados, mesmo após ganhos legais.
  3.  **Desigualdade Econômica**:
    – **Industrialização e Trabalho Infantil**: Lepore explora a era da industrialização e como o trabalho infantil e as condições de trabalho exploradoras para os trabalhadores da classe operária violaram os princípios de direitos naturais e igualdade.
    – **Grande Depressão**: A desigualdade econômica durante a Grande Depressão expôs as falhas do sistema capitalista americano em garantir oportunidades iguais para todos os cidadãos.
  4.  **Política Externa e Intervenções Militares**:
    – **Guerra do Vietnã**: Lepore discute como a Guerra do Vietnã e outras intervenções militares questionaram a legitimidade dos Estados Unidos como defensores da liberdade e dos direitos humanos globalmente. A guerra levou a uma desconfiança generalizada no governo e nos princípios pelos quais alegava lutar.
    – **Guerras do Oriente Médio**: As intervenções no Oriente Médio no final do século XX e início do século XXI, incluindo a Guerra do Iraque, são exemplos de como as ações dos EUA no exterior muitas vezes contradisseram os ideais democráticos e de direitos humanos que professavam defender.
  5.  **Liberdades Civis e Direitos Humanos**:
    – **Internamento de Japoneses-Americanos**: Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos internaram milhares de japoneses-americanos em campos de concentração, violando seus direitos constitucionais e ilustrando um grave desrespeito aos princípios de igualdade e direitos naturais.
    – **Patriot Act**: Após os ataques de 11 de setembro de 2001, a promulgação do Patriot Act levou a violações das liberdades civis em nome da segurança nacional, levantando questões sobre o equilíbrio entre segurança e liberdade.

Esses exemplos mostram como, repetidamente, a prática real divergiu dos ideais proclamados, levantando questões profundas sobre a identidade e os valores fundamentais dos Estados Unidos.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Para o infinito: a incrível quebra da FTX e de Sam Bankman-Fried

“Going Infinite,” de Michael Lewis, narra a ascensão e queda de Sam Bankman-Fried, fundador da exchange de criptomoedas FTX. Em poucos anos, Bankman-Fried passou de um desconhecido a um arquiteto de um império de criptomoedas avaliado em quase US$ 30 bilhões. No entanto, em novembro de 2022, a FTX desmoronou, perdendo quase US$ 10 bilhões dos fundos de seus clientes e levando à condenação de Bankman-Fried por várias acusações de fraude e conspiração.

Lewis oferece um relato detalhado da vida de Bankman-Fried, destacando sua personalidade excêntrica e sua adesão ao movimento de altruísmo eficaz, que busca maximizar o impacto positivo dos recursos financeiros. O livro descreve Bankman-Fried como um indivíduo socialmente desajustado, que lutou para entender as normas sociais, mas que encontrou sucesso em Wall Street como trader antes de entrar no mundo das criptomoedas.

Através de extensas entrevistas e acesso exclusivo à FTX e a Bankman-Fried, Lewis apresenta uma visão única sobre os eventos que levaram tanto ao sucesso meteórico quanto ao colapso abrupto da FTX. A quebra da FTX teve um impacto significativo no mundo dos criptoativos, causando uma série de repercussões tanto no mercado quanto no ecossistema regulatório e empresarial.

**Impacto no Mercado de Criptomoedas:**

A falência da FTX contribuiu para uma queda acentuada no valor das principais criptomoedas, resultando em uma desvalorização significativa do mercado de criptoativos. Em novembro de 2022, o valor total de mercado caiu para menos de $800 bilhões, um dos níveis mais baixos de 2022. Esse colapso também instigou uma prolongada “criptoinverno”, desacelerando o crescimento e o desenvolvimento de projetos inovadores no setor de blockchain.

**Impacto Regulatório:**

A falência da FTX destacou a necessidade urgente de regulamentação mais robusta no mercado de criptomoedas. A falta de um framework regulatório claro e rigoroso contribuiu para a instabilidade e a fraude associada à FTX. Esse evento catalisou debates e esforços legislativos em várias jurisdições, pressionando por uma supervisão mais rigorosa para proteger os investidores e mitigar riscos semelhantes no futuro.

**Impacto nas Empresas e Startups:**

Empresas estabelecidas e startups que dependiam de investimentos e suporte da FTX e Alameda Research foram severamente afetadas. A falência levou ao congelamento de fundos e à falência de muitas empresas associadas, incluindo Genesis Trading e Voyager Digital. Esse colapso não apenas drenou um importante pool de investimentos para startups de blockchain, mas também gerou uma onda de desconfiança que pode limitar o capital disponível para futuros projetos inovadores.

**Transição e Futuro do Blockchain:**

A quebra da FTX também pode acelerar a transição para modelos de negócios mais sustentáveis e de maior valor no espaço de blockchain. Empresas que planejam integrar blockchain em seus produtos podem ver suas posições fortalecidas, enquanto modelos de negócios insustentáveis e ativos de baixo valor tendem a ser descartados. No longo prazo, isso pode levar a uma evolução na tecnologia de registros distribuídos, promovendo maior descentralização e resiliência contra falhas centralizadas. Em resumo, a queda da FTX não só abalou o mercado de criptomoedas, mas também serviu como um alerta sobre a necessidade de regulamentação e práticas mais seguras no setor.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala

O intervencionismo nos EUA de Alexander Hamilton

Radical Hamilton” de Christian Parenti é uma reavaliação abrangente da figura de Alexander Hamilton, focando em sua contribuição para a economia e o desenvolvimento do Estado americano. Parenti argumenta que Hamilton, frequentemente retratado como o patrono do capitalismo e das instituições bancárias, na verdade defendia um planejamento econômico centralizado e uma intervenção estatal significativa para promover o crescimento econômico e a industrialização dos Estados Unidos.

No livro, Parenti destaca o “Relatório sobre Manufaturas” de Hamilton, que, embora não tenha sido implementado pelo Congresso, delineava uma visão econômica avançada que incluía tarifas, subsídios e desenvolvimento de infraestrutura como ferramentas para promover a indústria americana. Parenti posiciona Hamilton como um pioneiro que reconheceu a necessidade de um Estado forte para criar condições econômicas favoráveis e garantir a competitividade dos EUA no cenário global.

Além disso, o livro explora o impacto das crises econômicas do período pós-Revolução Americana, como a Rebelião de Shays, que influenciaram o pensamento de Hamilton sobre a necessidade de uma forte autoridade central para estabilizar e desenvolver a economia nacional. Parenti também aborda a transformação pessoal de Hamilton após um período de doença, sugerindo que isso contribuiu para sua evolução de um idealista para um pragmático nacionalista focado em construir uma economia robusta.

“Radical Hamilton” oferece uma nova perspectiva sobre a formação dos Estados Unidos e a história do capitalismo, posicionando Hamilton como um arquiteto crucial do Estado desenvolvimentista americano e desafiando as interpretações tradicionais de sua obra e legado.

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O império da lama em Washington

“Empire of Mud: The Secret History of Washington, DC” de J.D. Dickey revela a história oculta e tumultuada da capital dos Estados Unidos durante o século XIX. O livro descreve Washington, DC, como um lugar longe da grandiosidade que exibe hoje. Na época, a cidade era marcada por pântanos, ruas de lama, canais sujos e uma infraestrutura incompleta, como um Monumento a Washington inacabado e um Capitólio sem cúpula.

Dickey detalha como a cidade foi dominada por corrupção e má gestão, com políticos contratando capangas para conduzir os negócios do governo e policiais aceitando subornos. A cidade era um caldeirão de violência, com gangues de bombeiros voluntários frequentemente entrando em conflito, e bordéis que atendiam a todos os níveis da sociedade.

O autor argumenta que essa fundação problemática de Washington, DC, criou um precedente para a desonestidade e a ineficácia na política que ainda persiste. Ele explora como a capital quase não conseguiu se tornar a orgulhosa cidadela da república que George Washington e Pierre L’Enfant tinham imaginado, devido a seus desafios iniciais e à má administração contínua.

“Empire of Mud” é uma análise fascinante e sombria da história da capital americana, oferecendo uma nova perspectiva sobre a evolução da cidade e suas contínuas lutas contra a corrupção e a desordem.


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A viagem de Lincoln antes de assumir a presidência dos EUA

“Lincoln on the Verge: Thirteen Days to Washington” de Ted Widmer é um relato detalhado e cativante dos treze dias que Abraham Lincoln passou viajando de sua casa em Springfield, Illinois, até Washington, D.C., para sua posse como presidente dos Estados Unidos em março de 1861. Aqui estão algumas das principais ideias e temas do livro:

  1. Momento Crucial na História Americana: Widmer destaca a importância desses treze dias como um momento decisivo para os Estados Unidos. A nação estava à beira da guerra civil, e a viagem de Lincoln foi cheia de tensões e perigos, refletindo a fragilidade do país.
  2. Perigo e Conspirações: Durante a viagem, Lincoln enfrentou várias ameaças à sua vida, incluindo conspirações de assassinato. Widmer detalha como Lincoln e seus assessores lidaram com essas ameaças e tomaram medidas para garantir sua segurança.
  3. Crescimento Pessoal de Lincoln: O livro explora como Lincoln usou essa viagem para se conectar com o povo americano, construir seu perfil político e se preparar para os desafios monumentais que enfrentaria como presidente. Suas paradas e discursos ao longo do caminho ajudaram a solidificar seu apoio e a definir sua visão para a presidência.
  4. Contexto Político e Social: Widmer fornece um rico contexto histórico, descrevendo a paisagem política e social dos Estados Unidos na época. Ele discute as tensões entre o Norte e o Sul, a questão da escravidão e a iminente secessão dos estados do Sul.
  5. Personagens Secundários: O livro também dá vida a muitos dos personagens que acompanharam Lincoln na viagem ou que ele encontrou ao longo do caminho. Esses relatos ajudam a pintar um quadro completo da jornada e dos desafios enfrentados.
  6. Narrativa Vividamente Descrita: Widmer utiliza uma narrativa envolvente e detalhada, que combina uma pesquisa histórica rigorosa com um estilo de escrita acessível. Ele leva os leitores ao longo da viagem, criando uma sensação de urgência e importância histórica.

“Lincoln on the Verge” é, portanto, um estudo profundo não apenas de um evento específico, mas também das forças e personagens que moldaram um dos momentos mais críticos na história dos Estados Unidos.

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Roma, o império infinito

Roma, império infinito 

“Roma: O Império Infinito” é uma obra de Aldo Cazzullo que explora a vasta e complexa história do Império Romano, desde sua fundação até sua queda. O livro destaca vários aspectos cruciais que contribuíram para a formação, expansão e eventual declínio do império. Aqui estão algumas das principais ideias abordadas na obra:

### 1. **Fundação e Ascensão**

– **Mitologia e História**: A narrativa começa com a lendária fundação de Roma por Rômulo e Remo e transita para a era dos reis, estabelecendo as bases da cidade que se tornaria um império.

– **República Romana**: A transição de uma monarquia para uma república é destacada, com foco nas instituições republicanas, como o Senado, e a luta pela cidadania e direitos dos plebeus.

### 2. **Expansão e Conquistas**

– **Estratégia Militar**: O livro detalha as táticas militares inovadoras de Roma, o treinamento rigoroso das legiões e como essas forças permitiram a conquista de vastos territórios.

– **Incorporação de Culturas**: Roma não apenas conquistou territórios, mas também assimilou culturas, religiões e tecnologias dos povos subjugados, criando um império culturalmente diverso e tecnologicamente avançado.

### 3. **Administração e Governança**

– **Infraestrutura e Engenharia**: A construção de estradas, aquedutos, cidades planejadas e fortificações demonstram a habilidade romana em engenharia e administração.

– **Sistema Legal**: A criação e implementação do direito romano, que influenciou significativamente os sistemas legais modernos, é explorada, destacando a importância da lei na coesão do império.

### 4. **Cultura e Sociedade**

– **Vida Urbana e Rural**: O livro examina a vida cotidiana em Roma, contrastando a vida urbana vibrante com a realidade rural, incluindo a economia agrária e a estrutura social.

– **Religião e Filosofia**: A evolução religiosa, desde os deuses romanos até a adoção do cristianismo, e a influência das filosofias gregas e romanas na sociedade são temas centrais.

### 5. **Declínio e Queda**

– **Crise e Instabilidade**: A obra aborda as várias crises que abalaram o império, incluindo problemas econômicos, corrupção política, e invasões bárbaras.

– **Divisão do Império**: A divisão do império em oriental e ocidental, e as diferentes trajetórias seguidas por cada parte, com foco na sobrevivência do Império Bizantino por mais mil anos após a queda de Roma Ocidental.

### 6. **Legado Duradouro**

– **Influência Cultural**: O legado cultural de Roma, incluindo a língua latina, a arte, a arquitetura e a literatura, e como essas influências moldaram a civilização ocidental.

– **Inspiração para Futuros Impérios**: O livro explora como o modelo romano de governança, direito e administração influenciou impérios subsequentes e continua a ser um ponto de referência na história mundial.

“Roma: O Império Infinito” oferece uma visão abrangente da grandiosidade e complexidade do Império Romano, enfatizando como suas inovações e realizações continuam a impactar o mundo moderno.

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Che Guevara e os dias que abalaram a Bolívia

Investigação minuciosa, lançada pela Editora Boitempo, explora a trajetória do revolucionário no país – até seu assassinato. Obra humaniza a figura do guerrilheiro e aborda sua influência para as lutas de hoje. Sorteamos dois exemplares. Leia um trecho

No dia 9 de outubro de 1967, há exatos 57 anos, Ernesto Che Guevara, um para as lutas de libertação do século XX, era assassinado na Bolívia. Sua trajetória, marcada pela prática revolucionária, reflete seu comprometimento com a luta pela justiça social e transcende fronteiras e gerações.

Desde suas primeiras experiências na Sierra Maestra até sua busca por uma nova frente revolucionária na Bolívia, o “guerrilheiro heroico” tornou-se um símbolo da resistência contra a opressão.

Foi quando abria novas veredas para guerrilha na Bolívia que acabou sendo capturado e assassinado, sua imagem se perpetuou como um mito, ecoando pelo mundo todo, sendo reverenciado como um exemplo a ser seguido pelos que lutam por um mundo mais justo.

A obra Che Guevara e a Luta Revolucionária na Bolívia, escrita pelo historiador Luiz Bernardo Pericás, e lançada pela Boitempo Editorial, é um estudo minucioso que explora as complexidades da guerrilha boliviana.

Outras Palavras e Boitempo Editorial irão sortear dois exemplares de Che Guevara e a Luta Revolucionária na Bolívia, de Luiz Bernardo Pericás, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 21/10, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Com rigor acadêmico e uma bibliografia extensiva, Pericás investiga os aspectos políticos, sociais e econômicos da Bolívia nos anos 1960, proporcionando um panorama contextualizado do momento histórico em que Che atuou.

As fontes que o autor se baseia enriquecem a narrativa, são documentos inéditos, entrevistas com camponeses, intelectuais e militares, como o general Gary Prado, que participou da captura do guerrilheiro.

A obra se distancia da biografia convencional, focando em desmistificar a figura de Che e entender as circunstâncias que cercaram sua luta na Bolívia. Segundo Osvaldo Coggiola, historiador e professor da USP, Pericás busca esmiuçar o contexto histórico e político que levou ao desaparecimento de Guevara, revelando sua relação com diferentes setores da sociedade boliviana.

A pesquisa não apenas reinterpreta a figura de Che, mas também investiga o impacto de sua luta no imaginário popular e na dinâmica social do país na atualidade.

Além de abordar a guerrilha e a figura de Che, o livro também explora eventos paralelos, como sua experiência no Congo e seu treinamento em Cuba, antes de sua jornada à Bolívia.

Ademais, detalhes sobre a atuação do Exército de Libertação Nacional (ELN) e a continuidade da luta revolucionária são igualmente tratados, fornecendo ao leitor uma visão abrangente sobre o legado de Guevara.

Leia abaixo, com exclusividade, um trecho do escrito.

Boa leitura!

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Guevara prepara o caminho

Para se compreender os motivos que levaram Che Guevara a organizar e conduzir a guerrilha de Ñancahuazú é preciso buscar os antecedentes que indicam a gênese político-militar de seu projeto continental, assim como fatores internos e externos de intentos semelhantes. A Bolívia, nação limítrofe com cinco países, já havia sido utilizada como “ponte” para outros grupos armados na região. Alguns dos membros do futuro ELN– à época desses desdobramentos integrantes do PCB (pró-soviético) – anteciparam sua vivência de combatentes apoiando esses movimentos, experiência que mais tarde lhes seria de relativa utilidade. Não custa lembrar que logo após o triunfo dos barbudos na “mayor de las Antillas”, o Che confidenciara a amigos e correligionários seu desejo de lutar em outras partes do continente, principalmente em sua terra natal [1]. Além disso, o bloqueio norte-americano, as limitações agroindustriais de Cuba e a pouca confiança no relacionamento com a União Soviética eram alguns fatores que levavam o argentino a considerar seriamente abrir novas frentes de apoio à ilha. Nesse sentido, para dar andamento a seu projeto sul-americano, a Bolívia teria um papel primordial.

Em 15 de maio de 1963, a vanguarda de um grupo armado de seis guerrilheiros (e um guia local) [2] foi interceptada em Puerto Maldonado, no Peru. Nesse episódio perdeu a vida, com apenas 21 anos de idade, dentro de uma canoa no rio Madre de Dios, após perseguição policial, o jovem e premiado poeta Javier Heraud, antigo militante do MSP (agremiação da qual já havia se afastado) e autor de El viaje [3], que no ano anterior fora a Havana estudar cinematografia como bolsista (em Cuba, contudo, realizou treinamentos e se integrou ao ELN de seu país) [4]. Em seu corpo crivado de balas foram encontradas dezenove perfurações de tiros. Na mesma ocasião foi ferido no pescoço (mas sobreviveu) seu companheiro de armas, Alaín Elías (o segundo em comando, depois de Héctor Béjar Rivera, que não estava lá no momento), enquanto os outros combatentes acabaram presos.   

Aquele acontecimento pode ser considerado o primeiro antecedente importante da experiência de Ñancahuazú [5]. A intenção era que o núcleo avançado de reconhecimento abrisse caminho para o resto da coluna guerrilheira, que ficara do outro lado da fronteira, na Bolívia, aguardando o melhor momento para também fazer a travessia [6] e posteriormente constituir focos nos departamentos de Cerro de Pasco, Junín e Cusco. Mas o início do projeto, como se pode perceber, não foi auspicioso… 

Na realidade, os combatentes peruanos iniciaram sua jornada em Cochabamba, naquele mesmo ano. Ajudados pelo então segundo homem do Partido Comunista da Bolívia, Jorge Kolle, e por Luís Tellería (outro membro do CC), que lhes providenciaram alojamentos, saltariam mais tarde para sua pátria [7]. De acordo com a opinião polêmica de Oscar Zamora (posteriormente, líder do PC-ml, pró-chinês), Mario Monje Molina (na época primeiro-secretário do PCB) teria insistido para que os membros do ELN ficassem em território boliviano, seguindo suas instruções, e os delatou para a polícia política do país, dirigida pelo general Claudio San Román. Segundo Zamora, a partir das informações transmitidas por este último à CIA, o governo de Lima e suas forças puseram-se a par dos planos daqueles revolucionários, encontrando e dizimando o grupo fácilmente [8] (Humberto Vázquez Viaña, no entanto, acreditava que Paz Estenssoro, San Román e dois ministros, por mediação do Partido Comunista da Bolívia, estavam cientes da presença de uma coluna de 35 peruanos e permitiram sua passagem por todo o departamento do Beni, ainda que só a vanguarda com meia dúzia de homens tenha seguido para o país vizinho) [9]. Parte da coluna que restou, não obstante, conseguiu ir a La Paz, graças à ajuda de Júlio Luis Méndez Korne (também conhecido por El Ñato, natural do Beni e futuro chefe de abastecimentos da guerrilha boliviana de Guevara). Os guerrilheiros reorganizariam o ELN, que seria encabeçado pelo já mencionado Héctor Béjar Rivera (antigo secretário de imprensa e ex-membro da Comissão Política do PCP) e Juan Pablo Chang Navarro [10].

Já o MIR, encabeçado por Luis de la Puente Uceda, “o primeiro teórico da guerrilha” no Peru, era uma emulação do exemplo cubano e demonstrava certa sincronicidade com os conceitos elaborados pelo Che, não apenas com a ideia de uma aliança com outras tendências políticas de esquerda (mesmo  nunca tendo conseguido resolver suas diferenças ideológicas), como também com a intenção de estender a luta revolucionária para outros países, com vistas a uma provável expansão daquela experiência a nível  continental [11]. Entre 1959 e 1961, ele fez viagens a Cuba, com intuito de conhecer de perto o país caribenho, participando do Primeiro Foro Nacional de Reforma Agrária e se entrevistando com Guevara (em 1963, o peruano também chegou a se reunir com Mao Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Kim Il-Sung e Adolfo Gilly). Para o militante Ricardo Napurí, De la Puente era “um especialista no problema agrário camponês” e “desarmava o Che quando lhe explicava a composição orgânica do campo no Peru” [12]. Ele teria detalhado ao argentino a importância dos sindicatos e das comunidades rurais daquela nação andina, colocando em dúvida a ideia do foco “puro”. Aparentemente, Guevara teria compreendido “que deveria ‘matizar’ sua ideia de foco” e que “por um tempo considerou que o Peru fosse uma ponta de lança em seus afãs internacionalistas de exportar a revolução” [sic] e que, “se a insurreição ‘prendía’ [se iniciasse], ele lutaria conosco nas serras peruanas” [13].

Dissidente da Aliança Popular Revolucionária Americana e um dos  fundadores da Apra Rebelde, De la Puente mudou o nome (e sigla) de sua organização para MIR em 1962, quando se encontrava na prisão, acusado de ter assassinado o correligionário Francisco Sarmiento. Ao sair do encarceramento, procurou Hugo Blanco [14], importante dirigente trotskista e líder camponês. A intenção era a luta armada, mas as divergências mostravam-se suficientes para impossibilitar uma aliança naquele momento. Em 1963, após ataques veementes ao então presidente Fernando Belaúnde Terry e a seu governo, e exaltando a figura de Fidel Castro, De la Puente entrou para a clandestinidade e começou a organizar seu grupo.

Da mesma forma, Héctor Béjar (fundador do periódico Unidad) formou o ELN, uma “dissidência” do PCP, que defendia em seu programa cinco tarefas principais: a constituição de um governo popular; a expulsão de todos os monopólios estrangeiros do Peru; uma revolução agrária; a amizade entre todos os povos do mundo; e a consolidação da soberania nacional [15]. O objetivo final, por certo, seria o triunfo do socialismo, por meio da luta armada. O ELN acreditava que a revolução não seria obra de apenas um partido, mas de um processo múltiplo, mutável e complexo, com a participação das mais variadas forças políticas [16]. Na verdade, o ELN nunca teve a intenção de se tornar um partido, mas de construir uma “associação livre de revolucionários”, que tivesse ao mesmo tempo “disciplina militar” e “democracia” interna.

Vale lembrar que ambas as agremiações eram compostas por elementos treinados em Cuba. Na ilha, três grupos distintos de peruanos haviam se preparado belicamente: os integrantes do MIR; os chamados “quadros sem partido”, organizados em torno de Luis Felipe Angell (“Sofocleto”); e os “bolsistas”, oitenta jovens que estudavam na ilha, dos quais quarenta ingressaram nas guerrilhas. Em 1962, esses núcleos cogitaram se unir e  constituir uma única organização. Ao final, decidiram, de um lado, criar o ELN, e, de outro, estruturar e ampliar o aparato mirista [17].

Seus métodos de trabalho, contudo, diferiam bastante e dificultaram uma maior coordenação entre eles. Segundo Béjar, o MIR “partia de um partido político prévio com uma direção militar já estabelecida” [18], enquanto o ELN acreditava que tanto o partido quanto o comando deveriam surgir ao longo da luta, podendo assimilar outras forças revolucionárias [19]. Se de um lado o Movimiento julgava necessário um trabalho clandestino precedente no campo antes do início das atividades armadas, o ELN defendia a ação imediata pela guerrilha, que no curso dos eventos contruiria sua própria base social. Para o ELN, seria muito difícil realizar propaganda preparatória na área rural considerando as condições de repressão que o interior sofria naquela época. Por isso, seria fundamental implantar grupos móveis no campo [20]. Somente em setembro de 1965 as duas organizações decidiram constituir o Comando Nacional de Coordenação, mas, segundo o mesmo Béjar, já seria tarde demais para que essa tentativa tivesse êxito [21]. 

O MIR estabeleceu três focos: o Tupac Amaru, dirigido por Guillermo Lobatón Milla, na região de Satipo; o Manco Capac, na fronteira do Equador, que nunca entrou em ação, liderado por Gonzalo Fernández Gasco e Elio Portocarrero Ríos; e o Pachacutec, em Mesa Pelada, encabeçado por Luis de la Puente e Rúbel Tupayachi. Já o ELN constituiu a frente “Javier Heraud” no departamento de Ayacucho, sob os auspícios do próprio Béjar (vale lembrar que logo depois da tragédia de Puerto Maldonado o representante do ELN, Néstor Guevara, foi enviado a Cuba para conversar com o Che sobre os detalhes dos acontecimentos recentes e trocar ideias sobre os passos seguintes, ativando o novo foco em setembro de 1965, na serra sul central andina) [22].

Os acontecimentos mostraram-se pouco animadores: em junho de 1965, o grupo de Lobatón entrou em ação, atacando fazendas, postos policiais e destruindo pontes, permanecendo na luta por mais sete meses; os Estados Unidos enviaram os Boinas Verdes como forma de cooperação militar ao governo peruano e as FFAA fizeram o cerco às guerrilhas, matando seu líder e outros oito companheiros em janeiro de 1966, num enfrentamento nitidamente desigual (segundo informes da época, em torno de 5 mil efetivos, incluindo Exército, Força Aérea, Marinha e polícia, estiveram envolvidos na luta contra os guerrilheiros a um custo de US$ 10 milhões) [23]. Mesmo destino teve Luis de la Puente, que perdeu a vida em outubro de 1965. Héctor Béjar ainda tentou uma aproximação com o MIR e levou a cabo alguns ataques bem-sucedidos.

O Exército peruano, que lutava em várias frentes, demorou para combater o ELN. Quando ocorreu o encontro dos guerrilheiros com as FFAA, em dezembro de 1965, na província de La Mar, contudo, o grupo foi destruído e Béjar preso pouco tempo depois, permanecendo atrás das grades por alguns anos. De acordo com Ricardo Gadea (ex-cunhado do Che e membro do Movimiento, que atuou na região de Cusco e desempenhou o papel de tesoureiro da guerrilha), 

o MIR nunca teve mais de cem militantes capacitados na guerrilha, e pobremente armados; enfrentamos uma força armada que era a segunda na América Latina em número de oficiais e soldados, preparada na Escola das Américas, que tinha um dos melhores adestramentos do continente para enfrentar uma guerrilha. Havia uma enorme disparidade de forças: a luta de uma organização popular pequena diante de uma força armada poderosa. [24] 

De qualquer forma, para Jan Lust, 

o objetivo inicial do Che foi fortalecer a luta guerrilheira no Peru dirigida pelo ELN no departamento peruano de Ayacucho. A ideia de desenvolver a guerrilha boliviana, não obstante, surgiu depois da derrota do ELN peruano em dezembro de 1965. Essa derrota não implicava o fim do papel do ELN peruano no projeto guerrilheiro continental do Che. De fato, no mesmo período que se organizou a guerrilha boliviana, também no departamento peruano de Puno perto da fronteira com a Bolívia se tentou construir uma força guerrilheira. [25] 

Por sinal, em março de 1966, aparentemente combatentes internacionalistas cubanos teriam chegado a Arica, Chile, com o intuito de reforçar a guerrilha em Ayacucho, o que, em última instância, não veio a ocorrer [26].

A Argentina também foi palco de um projeto malsucedido. O jornalista Jorge Ricardo Masetti, fundador e ex-diretor da Prensa Latina, que ficaria conhecido como “comandante Segundo” – para uns, uma referência ao famoso personagem da literatura platense Don Segundo Sombra [27]; para outros, para designar que o “comandante Primeiro” seria o próprio Guevara –, lideraria o Exército Guerrilheiro do Povo, grupo no qual o Che seria considerado um “membro honorário”, utilizando o codinome “Martín Fierro” [28]. O periodista sucumbiria em Salta, no norte de seu país, sem ter visto qualquer possibilidade de vitória, tentando implementar um plano que visava também criar uma ambiciosa conexão entre as guerrilhas peruanas e as de seu país.

Nascido em 31 de maio de 1929, em Avellaneda (zona sul da grande Buenos Aires), Masetti encontrara-se pela primeira vez com seu famoso compatriota na Sierra Maestra em março de 1958, como correspondente da rádio El Mundo (também trabalhou no Canal 7 e nos diários TribunaLa ÉpocaNotícias Gráficas e Democracia). Aparentemente, ao conhecer os barbudos do Movimento 26 de Julho, inspirou-se e converteu-se à sua causa. Pouco depois da primeira visita, retornaria à ilha e escreveria diversas reportagens. Mais tarde, publicaria Los que luchan y los que lloran, um livro de grande sucesso em que narra suas experiências naquele período [29].

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Em 1959, foi convidado por Guevara para organizar a Prensa Latina, uma agência de notícias que pretendia se contrapor aos monopólios midiáticos estrangeiros (principalmente estadunidenses). Lá, trabalhou por dois anos (entre as personalidades que colaboraram com esse projeto estavam nomes como Gabriel García Márquez, Gregorio Selser e Rodolfo Walsh). Pressões de elementos ligados ao PSP, contudo, fizeram Masetti se demitir (ou, dependendo das fontes, ter sido retirado) do cargo entre março e maio de 1961. Ainda assim, se manteve sempre próximo ao Che, que discutia com o jornalista as possibilidades da luta armada na Argentina (inicialmente na região de Salta), a partir do território boliviano. Aquela missão seria organizada pela seção de operações especiais (cujo chefe era Orlando Pantoja Tamayo e o segundo em comando Ulises Estrada), vinculada ao Vice-Ministério Técnico do Interior, encabeçado por Manuel Piñero Losada (ainda que o Che, na prática, desempenhasse um papel precípuo na direção de suas atividades) [30].

Entre os primeiros militantes a ingressar no núcleo inicial do que viria a ser o Exército Guerrilheiro do Povo, encontravam-se o cubano Hermes Peña Torres (que atuaria como o número dois no comando), o médico portenho Leonardo Werthein (“Fabián”; mais tarde, “Medecín”), o técnico mecânico Federico Méndez (“Basilio”; posteriormente “El Flaco”), o artista plástico mendoncino Ciro Bustos (“Laureano”; depois, “El Pelao”); e um último, apenas conhecido como “Miguel”; todos os argentinos previamente contatados pelo amigo de juventude do Che, Alberto Granado [31]. Em seguida, se incorporaria à trupe Abelardo Colomé Ibarra, o “Furry”, veterano da Sierra Maestra e chefe da Polícia Revolucionária em Havana (que mais tarde usaria o apelido “Carlos”). Nas palavras de Bustos, Masetti teria dito: 

Na Argentina era preciso fazer a revolução. De acordo com a lei das condições objetivas e subjetivas, este era o momento. Um povo estafado, encurralado, proscrito e agredido. Uma economia no auge, mas usurpada. Uma infraestrutura industrial em desenvolvimento, com setores autônomos importantes. Uma crescente invasão das transnacionais, se apropriando de áreas-chave dificilmente recuperáveis. Uma forte classe operária em posição de combate. Uma classe média culta e bem-informada. Uma excepcionalidade geográfica inigualável: todos os climas entre o mundo cordilheiro e o Atlântico, entre Trópico de Capricórnio e a Antártida. E uma capacidade produtiva em bens de consumo e alimentos fora de toda dúvida. O país ideal para desenvolver um processo de câmbios revolucionários que recuperem para a população o usufruto de uma riqueza natural e um esforço criativo e laboral próprio, sem ver-se esgotado pelo cerco e chantagens imperialistas […] Segundo Masetti, a Revolução Cubana havia demonstrado como o foco de ação armada desmantelava as supostas hegemonias e atraía o apoio popular em virtude de um fato inédito: ação concreta no lugar de promessas. [32] 

Os futuros combatentes, depois de intenso treinamento, seguiram para a Tchecoslováquia, onde se encontraram com o antigo comandante do Exército Rebelde, oficial graduado do Dier e do DGI e chefe de missões diplomáticas Jorge Serguera Riverí (“Papito”). Ficaram hospedados num hotel perto do lago Slapie, a uma hora de distância de Praga. Sozinhos e com muito tempo livre, faziam longas caminhadas nas imediações. Sem maiores atividades e sendo constantemente monitorados pelos serviços de Inteligência locais, sentiam a necessidade de abandonar o país na primeira oportunidade. E foi o que fizeram. De lá, partiram para Paris e, então, para a Argélia, onde foram recebidos com todas as honras pelas autoridades locais [33]. No país africano, realizaram preparativos, com práticas de tiro, exercícios físicos e estudo de operações militares da FLN. Pouco tempo depois, chegou Papito Serguera, que serviria como novo embaixador cubano na capital.

Ainda assim, não faltaram problemas entre os homens. A relação entre Masetti e “Miguel” se deteriorou rapidamente, resultado de disputas e altercações entre os dois guerrilheiros. “Miguel” mostrava-se indisciplinado e insubordinado, o que afetava a organização do grupo. Ele foi acusado de violar normas de segurança (chegou a enviar cartas, o que era proibido), de questionar a liderança de Masetti e de não querer participar da campanha. O “comandante Segundo” foi enérgico. Depois de um julgamento sumário, o réu foi considerado culpado e condenado à pena capital. O líder do destacamento imediatamente passou a deliberação para os argelinos, ordenando seu fuzilamento. “Miguel” foi preso imediatamente pelas autoridades locais. Todos ali acharam que a execução se consumara. Sua vida, contudo, foi poupada, sem que o grupo ficasse sabendo… O jovem seria libertado mais tarde… [34]. 

Sete meses depois de partirem de Cuba, Masetti e seus homens estavam prontos para dar prosseguimento ao que seria descrito por Serguera como “a primeira ação conjunta insurrecional anticolonialista na América Latina” [35]. De acordo com o diplomata cubano, o objetivo seria “abrir uma frente guerrilheira no norte da Argentina com um duplo propósito: criar as condições para provocar uma revolução nesse país similar à cubana e dar apoio estratégico e estender com isso uma modalidade de resposta às agressões dos Estados Unidos, suscetível de ser generalizada” [36]. Tudo isso com apoio da Argélia, que forneceria aos guerrilheiros equipamentos, uniformes, botas, bússolas, compassos de precisão e passaportes diplomáticos com identidades falsas [37].

Necessário, contudo, garantir as condições preliminares para a implantação do foco no sul da Bolívia, a fim de “transportá-lo” logo depois para a Argentina. Os preparativos foram supervisionados originalmente por José María Martínez Tamayo (conhecido como “Papi” ou “Ricardo”). Utilizando um passaporte colombiano para ingressar no país, dizia aos locais, entretanto, ser procedente de Vallegrande (cidade do sudeste boliviano) e teve como missão coordenar o estabelecimento da base de operação do núcleo de Masetti em Tarija. Em teoria, o PCB teria prestado mais ajuda naquela ocasião ao projeto do “comandante Segundo” do que aos guerrilheiros de Puerto Maldonado (Jesús Lara [38] afirma que Ricardo teria sido o coordenador de ambas as “pontes”) [39].

NOTAS

[1] Tulio Halperin Donghi, História da América Latina (São Paulo, Paz & Terra, 1989), p. 256.

[2] Pierre Broué, “Bolivia, 9 April 1952: A Forgotten February Revolution?”, Revolutionary History, v. 4, n. 3, 1992, p. 28.

[3] Ibidem, p. 29.

[4] Jean Lieven, “Bolivia: From the Birth of the Revolutionary Workers Party to the Popular Assembly”, Revolutionary History, cit., p. 55; e José Villa, “A Revolution Betrayed: The POR and the Fourth International in the Bolivian Revolution”, Revolutionary History, cit., p. 62 e 64. Para Liborio Justo, por exemplo, o MNR seria um partido pequeno-burguês. Ver Liborio Justo, “Bolivia: The Revolution Defeated”, Revolutionary History, cit., p. 39.

[5] Richard W. Patch, “United States Assistance in a Revolutionary Setting”, em Robert D. Tomasek (org.), Latin American Politics: Studies of the Contemporary Scene (Nova York, Anchor Books/Doubleday and Company, 1970), p. 352. Segundo o historiador Harold Osborne, o MNR combinava “uma plataforma de nacionalismo chauvinista com apelos demagógicos para as classes trabalhadoras”. Ver Harold Osborne, Bolivia: A Land Divided (Londres, Royal Institute of International Affairs, 1955), p. 64. Augusto Céspedes, por sua vez, dizia que “o MNR, sem negar a utilidade do método marxista, crê que sua aplicação ortodoxa na América Latina pode ser contrarrevolucionária. Na Bolívia, o conceito de classe, aplicado à emancipação nacional, é contrarrevolucionário”. Ver Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, Síntesis/Bolivia, Madri, n. 14, maio/ago. 1991, p. 128. O programa do Movimiento dizia: “A Bolívia é uma semicolônia na qual subsistem resquícios feudais no sistema de trabalho da terra. Para independentizá-la, é necessário liquidar a influência do imperialismo e da grande burguesia que lhe serve de agente, devolvendo ao país a exploração de suas minas, redistribuindo a terra e diversificando a economia mediante a criação de novas fontes de riqueza”. Ver ibidem, p. 129. E, então, Víctor Paz Estenssoro, que afirmava que “o MNR é um partido nacionalista com inclinações socialistas”. Ver idem. O partido possuía desde “frações fascistoides” até grupos“populares” e “trabalhistas”. Ver ibidem, p. 130-1 e 149. Mais tarde, absorveu militantes de outras agremiações, desde sindicalistas com tendências trotskistas até membros do PIR, de inclinação stalinista. De acordo com James Dunkerley, “o MNR estreitou seus contatos com os mineiros e obteve a afiliação de líderes sindicais-chave – a do astuto e carismático Juan Le-chín Oquendo (secretário-executivo da FSTMB) e a de Mario Torres Calleja (secretário-geral) –, mas nunca se dedicou a trabalhar com as bases nem obteve o controle total. Isso se deveu a que os mineiros desconfiavam de laços partidários demasiadamente fortes e estavam mais apegados à ideia de independência sindical, mas também refletiu a influência porista, que não se limitava a vituperar contra os barões do estanho com tanta veemência como o MNR, mas que tinha ademais um programa infinitamente mais coerente e radical que era defendido por seus militantes nos próprios acampamentos”. Ver James Dunkerley, Rebelión en las venas: la lucha política en Bolivia – 1952-1982 (La Paz, Quipus, 1987), p. 27. Herbert S. Klein comenta que, em meados da década de 1940, “após três anos da revolta e do exílio da ala superior do MNR, este voltaria a surgir como o partido mais popular da esquerda e o movimento político mais poderoso do país. […] Para levar a cabo esta mudança, [o MNR] decidiu se desfazer, de uma vez por todas, de seus elementos fascistas. Para isto lhe ajudaram Lechín e seus mineiros, defensores da transformação revolucionária e que pediam que o partido apoiasse seu programa. Ao mesmo tempo Paz Estenssoro e outros novos líderes, como Hernán Siles Zuazo, se dedicaram a restabelecer sua sólida base de classe média com um forte programa de estabilização econômica, por um lado, e de nacionalização econômica, por outro”. Ver Herbert S. Klein, Historia de Bolivia (La Paz, Juventud, 1994), p. 226. Segundo Klein, “o partido de 1952 era enormemente diferente do grupo pró-fascista derrocado em 1946: agora era um partido radical de gente de classe média e de trabalhadores revolucionários, encarnando um novo tipo de amálgama de movimento populista radical. […] Ao aceitar a participação e a ideologia operárias e ao armar a massa popular, havia se comprometido com uma atitude absolutamente destruidora da velha ordem e, apesar de sua ideologia reformista tradicionalmente limitadora, agora estava lançado a um desenlace revolucionário”. Ver ibidem, p. 231.

[6] Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 131.

[7] Robert J. Alexander, El movimiento obrero en América Latina (México, Roble, 1967), p. 139.

[8] Richard W. Patch, “United States Assistance in a Revolutionary Setting”, cit., p. 353. Segundo Fernando Mires: “De todas as maneiras, e ante o espanto da direita, nas eleições de 6 de maio triunfou a fórmula representada por Paz Estenssoro e Siles Zuazo. A votação favorável ao MNR foi acachapante: 59.049 votos. Os republicanos obtiveram 13.180. O PIR, pagando a conta por seus erros, apenas 5.000, menos ainda que os liberais. Nunca, em toda a história da Bolívia, um partido havia obtido mais votos que o MNR”. Ver Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 133. Herbert S. Klein, por sua vez, diz que o MNR recebeu 39 mil votos. Ver Herbert S. Klein, Historia de Bolivia (La Paz, Juventud, 1994), p. 230.

[9] Para Fernando Mires, “o alto mando militar, temendo entre outras coisas que o MNR reincorporasse os oficiais que haviam recebido baixa do exército depois de Villarroel, decidiu simplesmente anular as eleições aduzindo uma absurda conspiração entre MNR e comunistas. O ato foi tão grosseiro que até alguns parlamentares direitistas apresentaram seu protesto. Poucos golpes de Estado tiveram tão pouca legitimidade como aquele de 1951”. Ver Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 133.

[10] René Zavaleta Mercado, “Considerações gerais sobre a história da Bolívia – 1932-1971”, em Pablo González Casanova (org.), América Latina: história de meio século, v. 2 (Brasília, Editora UnB, 1998), p. 41.

[11] Richard W. Patch, “United States Assistance in a Revolutionary Setting”, cit., p. 355. Já segundo Luiz Alberto Moniz Bandeira, baseado em informações do relatório especial “Revolução e conquista do poder pelo MNR, de 9 a 11 de abril de 1952”, do embaixador brasileiro em La Paz Hugo Bethlem, 17 abr. 1952, foram duzentas vidas perdidas e 5 mil feridos. Ver Luiz Alberto Moniz Bandeira, De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2009), p. 133. Herbert S. Klein, por sua vez, afirma que foram seiscentas vidas perdidas durante aqueles acontecimentos. Ver Herbert S. Klein, Historia de Bolivia, cit., p. 231.

[12] James Dunkerley, Rebelión en las venas: la lucha política en Bolivia – 1952-1982, cit., p. 18.

[13] Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 119.

[14] James Dunkerley, Rebelión en las venas: la lucha política en Bolivia – 1952-1982, cit., p. 18.

[15] René Zavaleta Mercado, “Considerações gerais sobre a história da Bolívia – 1932-1971”, cit., p.41. Já Liborio Justo, exageradamente, diria que aquela era “a mais profunda revolução social na história das três Américas!”. Ver Liborio Justo, “Bolivia: The Revolution Defeated”, cit., p. 39.

[16] Segundo Fernando Mires, “ainda que, ao parecer, muitos dirigentes do MNR se viram surpreendidos pela insurreição de 1952, o Movimento já havia provado em 1949 não ser nada refratário à violência. Novamente Hernán Siles Zuazo era o chefe da insurreição, que se viu facilitada porque o general de Carabineiros, Seleme – que mantinha contatos com o MNR a partir de seu cargo de ministro do Interior –, decidiu abrir os arsenais ao povo. Milhares de mineiros chegaram às cidades portando, ameaçadoramente, cartuchos de dinamite. Os camponeses também se armavam. E, nas cidades, cada um escolhia a arma de que mais gostava. Foram três dias de intenso combate. Os militares fugiam em debandada. De cada esquina, de cada janela saíam balas. A insurreição decisiva foi a de Oruro, pois determinou a desmoralização total das tropas em La Paz. Ao final, o exército estava política, militar e, sobretudo, moralmente destruído. As bandeiras do MNR eram o símbolo da insurreição popular. Mas aqueles que empunhavam os fuzis se levantavam, sobretudo, contra aquele sistema que depois da Guerra do Chaco havia perdido toda legitimidade, e não podiam dissimular que, quando combatiam o exército, o faziam contra um Estado que não representava mais a nação. Foi essa, sem dúvida, uma revolução da nação contra o Estado”. Ver Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 133-4.

[17] De acordo com Fernando Mires, “os barões do estanho estavam longe de constituir algo próximo a uma classe social. Tratava-se na verdade de impérios econômicos individuais e/ou familiares. O mais lendário foi, sem dúvida, o de Simón Iturri Patiño, nascido em Cochabamba em 1868 [sic], que, de empregado de minas, converteu-se em um dos mais portentosos milionários do mundo. Em 1910, Patiño comprou a Uncía Mining Company e, em 1924, a companhia chilena de Llallagua. Já nesse período controlava em torno de 50% da produção boliviana, com um pessoal de mais de 100 mil homens. Sua fortuna era estimada em US$ 300 milhões. Só suas rendas eram superiores às do Estado, caso único no mundo. Seu avanço não tinha limites. Em 1916, adquiriu a William Harvey Co. de Liverpool, de onde construiu um império financeiro ramificado em toda a Europa. Não tão poderosos como Patiño, mas também importantes, foram as possessões mineiras da família Aramayo e de Mauricio Hochschild. Só esses três grupos controlavam toda a produção de estanho e grande parte da de chumbo, zinco, tungstênio e outros minerais. […] Ainda que fossem bolivianos, os barões do estanho agiam na prática como capitalistas estrangeiros em seu próprio país. Isso inibiu ainda mais a possibilidade de que surgisse algo parecido a uma burguesia nacional. E obrigou o Estado a se converter no principal gestor da economia não mineira do país”. Ver Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 115.

[18] Ricardo Rojo, Meu amigo Che (trad. Ivan Lessa, São Paulo, Edições Populares, 1983), p. 22-3.

[19] Ibidem, p. 24.

[20] Douglas Kellner, Che Guevara (trad. David Casas, São Paulo, Nova Cultural, 1990), p. 18-9.

[21] James Dunkerley, Rebelión en las venas: la lucha política en Bolivia – 1952-1982, cit., p. 68. O ministro chegou a dizer: “vamos orientar a reforma agrária sobre a base do fortalecimento da propriedade coletiva comunal e a implantação da etapa capitalista nas propriedades privadas, liquidando o feudalismo”. Já um membro de sua equipe comentou que “a reforma agrária não implicará nenhum desconhecimento do Direito de Propriedade […] a organização de um novo sistema de trabalho agrário se desenvolverá com base às atuais comunidades indígenas, para realizar a cooperativização […] Não é possível fazer a redistribuição de terras porque isso implica estabelecer o minifúndio, prejudicial à produção”. Ver idem.

[22] Ricardo Rojo, Meu amigo Che, cit., p. 31. Calica Ferrer acompanhou Guevara na audiência. De acordo com ele, “em seu gabinete, muito bonito, com cortinas, tapetes e poltronas, recebia as delegações indígenas que iam apresentar os dramas que sofriam. Antes de entrar, como supunham que tinham piolhos, os índios eram aspergidos com DDT no rosto, no pescoço, decote da camisa e cabelo. Era muito frequente ver pela rua índios com as sobrancelhas, os cílios e o cabelo cobertos de pó branco. ‘Veja’, dizíamos, ‘esse aí foi ver Chávez’. O ministro nos recebeu muito gentilmente e nos deu vários livros, que contavam o movimento revolucionário boliviano”. Ver Carlos “Calica” Ferrer, De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina (trad. Sandra Martha Dolinsky, São Paulo, Planeta, 2009), p. 121-2.

[23] Che Guevara, citado em Michael Löwy, O pensamento de Che Guevara (Lisboa, Bertrand, 1976), p. 111.

[24] De acordo com Calica Ferrer, eles atravessaram a fronteira no dia 10 de julho de 1953 e saíram do país no dia 17 de agosto, ainda que o carimbo de entrada oficial no Peru tenha sido estampado no dia 18 daquele mês. Ver Carlos “Calica” Ferrer, De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina, cit., p. 93-140. Já segundo William Gálvez, os amigos entraram na Bolívia no dia 9 de julho de 1953 e partiram no dia 18 de agosto. Ver William

Gálvez, Viajes y aventuras del joven Ernesto: ruta del guerrillero (Havana, Ciencias Sociales, 1997), p. 228-38.

[25] Carlos “Calica” Ferrer, De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina, cit., 2009.

[26] Ernesto Guevara, Notas de viaje (Havana/Madri, Abril/Sodepaz, 1992); e Alberto Granado, Com Che Guevara pela América do Sul (São Paulo, Brasiliense, 1987).

[27] Carlos “Calica” Ferrer, De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina, cit., p. 97.

[28] Ernesto Guevara, Outra vez: diário inédito da segunda viagem pela América Latina – 1953-1956 (trad. Joana Angelica D’Avila Melo, Rio de Janeiro, Ediouro, 2003), p. 19-20.

[29] Ibidem, p. 146.

[30] Ibidem, p. 146-7.

[31] Ricardo Rojo, Meu amigo Che, cit., p. 32-3.

[32] Sheldon B. Liss, Marxist Thought in Latin America (Berkeley/Los Angeles, University of Cali-

fornia Press, 1984).

[33] Ministerio de Planificación y Coordinación de la República de Bolivia, “Bolivia: estrategia sócio-económica del desarrollo nacional – 1971-1999”, em James Petras (org.), America Latina: economía y política (Buenos Aires, Periferia, 1972), p. 164-5.

[34] Em 1957, por exemplo, 32% da receita do tesouro boliviano vinha da Usaid, com uma média de 25,9% nos quatro anos subsequentes. A reestruturação do exército também recebeu grande auxílio dos Estados Unidos, tanto no que se refere a equipamentos como também em treinamento.

[35] Ministerio de Planificación y Coordinación de la República de Bolivia, “Bolivia: estrategia sócio-económica del desarrollo nacional – 1971-1999”, cit., p. 166.

[36] Idem.

[37] Ibidem, p. 197.

[38] Pablo González Casanova, Imperialismo y liberación: una introducción a la historia contemporánea de América Latina (Cidade do México, Siglo XXI, 1979), p. 234.

[39] Fernando Mires, “Bolivia: la revolución obrera que fue campesina”, cit., p. 139.


Em parceria com a Boitempo Editorial, o Outras Palavras irá sortear dois exemplares de Che Guevara e a Luta Revolucionária na Bolívia, de Luiz Bernardo Pericás, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 21/10, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Fonte Portal Membro Outras Palavras


O papel do estado no desenvolvimento de Brasil, India e Nigeria

O livro “State-Directed Development: Political Power and Industrialization in the Global Periphery” de Atul Kohli explora como diferentes estados têm conseguido ou falhado em promover o desenvolvimento econômico e a industrialização. Kohli argumenta que o papel do Estado é fundamental para o desenvolvimento e que o sucesso econômico está intimamente ligado à qualidade das instituições políticas e à capacidade do Estado de direcionar o crescimento.

Principais Ideias:

  1. Tipos de Estados e Desempenho Econômico: Kohli classifica os estados em três categorias principais, com base em seu papel no desenvolvimento econômico:

– Estados Neopatrimoniais: Esses estados são caracterizados por uma fraca burocracia, onde o poder é altamente personalizado e usado para benefício pessoal dos líderes. Exemplos incluem muitos países africanos. Estes estados tendem a ter um desempenho econômico pobre.
– Estados Desenvolvimentistas: São aqueles onde o Estado tem um papel central e eficaz na promoção da industrialização e do crescimento econômico. Exemplos incluem a Coreia do Sul e Taiwan. Esses estados possuem uma burocracia competente e comprometida com o desenvolvimento nacional.
– Estados Intermediários: Estados que têm algumas características dos estados desenvolvimentistas, mas são menos consistentes e mais suscetíveis a mudanças políticas. A Índia é um exemplo, onde o estado tem desempenhado um papel significativo na economia, mas com menos eficácia do que os estados desenvolvimentistas.

  1. Importância da Autonomia e Capacidades Estatais: Kohli argumenta que para promover o desenvolvimento econômico, os estados precisam ter autonomia, ou seja, a capacidade de tomar decisões independentes de grupos de interesse privados, e uma burocracia competente e eficiente que possa implementar políticas econômicas de longo prazo.

  2. Experiências Comparativas de Desenvolvimento: Kohli usa estudos de caso de países como a Coreia do Sul, Brasil, Índia e Nigéria para mostrar como diferentes tipos de estados influenciaram o processo de industrialização e crescimento econômico. Ele destaca que enquanto estados desenvolvimentistas como a Coreia do Sul foram bem-sucedidos em impulsionar o crescimento industrial, estados neopatrimoniais como a Nigéria falharam devido à corrupção e à falta de uma burocracia eficaz.

  3. Relação entre o Estado e o Mercado: Kohli critica a visão neoliberal que promove a redução do papel do Estado na economia. Ele argumenta que o desenvolvimento econômico eficaz é frequentemente dirigido por um estado forte que regula e coordena o mercado, em vez de deixá-lo funcionar de forma totalmente livre.

  4. Políticas de Industrialização e Intervenção Estatal: Kohli enfatiza que políticas industriais proativas, onde o estado dirige e apoia setores específicos, são essenciais para o desenvolvimento econômico, especialmente em países da periferia global que buscam industrializar suas economias.

1. Brasil: Estado Intermediário com Capacidades Limitadas

Segundo Kohli, o Brasil representa um exemplo de “estado intermediário”. O país tem uma tradição de intervenção estatal significativa na economia, especialmente na promoção da industrialização e do crescimento econômico. No entanto, a eficácia do estado brasileiro tem sido limitada por fatores como corrupção, ineficiência burocrática e falta de consistência nas políticas econômicas.

  • Políticas de Desenvolvimento: O Brasil adotou políticas de substituição de importações durante grande parte do século 20, promovendo a industrialização através da proteção de indústrias domésticas e investimentos estatais em infraestrutura e empresas estatais. Houve períodos de crescimento econômico robusto, especialmente durante o “Milagre Econômico” nas décadas de 1960 e 1970.

  • Limitações: Apesar de algumas vitórias no campo industrial, o desenvolvimento do Brasil foi frequentemente interrompido por crises econômicas, alta inflação, desigualdade social e políticas econômicas inconsistentes. Kohli observa que, embora o Brasil tenha um estado relativamente forte, sua burocracia é muitas vezes ineficiente e sujeita à corrupção, limitando a eficácia das políticas de desenvolvimento.

2. Índia: Estado Intermediário com Foco em Planejamento Centralizado

A Índia, assim como o Brasil, é classificada por Kohli como um “estado intermediário”. No entanto, a Índia tem uma abordagem distinta ao desenvolvimento econômico, marcada por um maior grau de planejamento centralizado e intervenções do estado.

  • Políticas de Desenvolvimento: Após a independência, a Índia adotou um modelo de desenvolvimento econômico baseado em planejamento estatal, com um foco significativo em autossuficiência e substituição de importações. O governo investiu pesadamente em setores estratégicos, como indústria pesada, infraestrutura e tecnologia, através de empresas estatais.

  • Limitações e Resultados: Apesar do crescimento em algumas áreas, o desenvolvimento econômico da Índia foi prejudicado por burocracia excessiva, regulamentação rígida e políticas econômicas ineficazes que muitas vezes sufocaram a inovação e o crescimento no setor privado. No entanto, Kohli destaca que as reformas econômicas iniciadas na década de 1990 ajudaram a abrir a economia indiana e a promover um crescimento mais robusto nos últimos anos. A burocracia indiana é mais sólida e eficaz em comparação com a da Nigéria, mas ainda enfrenta desafios significativos em termos de eficiência e corrupção.

3. Nigéria: Estado Neopatrimonial e Subdesenvolvimento Crônico

A Nigéria é o exemplo de um “estado neopatrimonial” segundo Kohli, caracterizado por uma administração fraca e altamente personalizada, onde o poder é usado principalmente para o benefício pessoal dos líderes e suas redes, em vez de promover o desenvolvimento econômico nacional.

  • Políticas de Desenvolvimento: A Nigéria tem lutado para desenvolver uma política econômica coerente que promova o crescimento industrial e o desenvolvimento econômico sustentável. O país tem sido fortemente dependente das exportações de petróleo, com poucos esforços para diversificar sua economia ou desenvolver setores industriais robustos.

  • Limitações e Resultados: Kohli argumenta que a corrupção endêmica, a má governança e a falta de uma burocracia competente têm impedido o desenvolvimento econômico da Nigéria. O estado nigeriano é fraco e mal estruturado, incapaz de implementar políticas econômicas eficazes ou criar um ambiente propício ao desenvolvimento. Isso resultou em um subdesenvolvimento crônico, com pouca industrialização e uma dependência contínua de receitas de recursos naturais.

Comparação Geral

  • Capacidades Estatais: O Brasil e a Índia, como estados intermediários, possuem capacidades estatais relativamente maiores que a Nigéria, mas ambos enfrentam desafios de ineficiência e corrupção. A Nigéria, como um estado neopatrimonial, tem uma capacidade estatal significativamente mais fraca, prejudicando sua capacidade de promover o desenvolvimento.

  • Políticas de Desenvolvimento: O Brasil e a Índia adotaram políticas de substituição de importações e intervenções estatais significativas para promover a industrialização, enquanto a Nigéria não conseguiu desenvolver uma estratégia econômica coerente além da dependência do petróleo.

  • Resultados Econômicos: A Índia e o Brasil conseguiram alcançar um nível moderado de industrialização e desenvolvimento econômico, embora com muitas limitações. A Nigéria, por outro lado, permanece em um estado de subdesenvolvimento devido a políticas econômicas fracas, má governança e corrupção.

Em suma, segundo Kohli, o sucesso ou fracasso no desenvolvimento econômico é altamente dependente da capacidade do estado e de sua eficácia em implementar políticas de desenvolvimento estratégicas. O Brasil e a Índia, apesar de suas falhas, mostram um potencial maior de desenvolvimento econômico em comparação com a Nigéria, que sofre de uma administração fraca e orientada por interesses patrimoniais. Atul Kohli argumenta que o papel do Estado é crucial para o desenvolvimento econômico. Estados com uma burocracia forte e um compromisso com o desenvolvimento nacional são mais propensos a promover a industrialização e o crescimento econômico. O livro desafia a ideia de que o desenvolvimento econômico pode ser alcançado apenas por meio de políticas de mercado livre, destacando a importância de um estado ativo e bem administrado.


Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


O dia em que Napoleão quis invadir o Brasil

“O Dia em que Napoleão Quis Invadir o Brasil”, escrito por Marco Morel, é um livro que explora um momento pouco conhecido e hipotético da história: a ideia de Napoleão Bonaparte de invadir o Brasil no início do século XIX.

Resumo das Principais Ideias do Livro

  1. Contexto Histórico e Hipótese Central: O livro se baseia em documentos e cartas que sugerem que Napoleão Bonaparte, durante seu auge de poder na Europa, considerou a possibilidade de expandir o território francês para o Brasil. Essa ideia surgiu no contexto das guerras napoleônicas e das tensões entre França e Portugal, aliado da Inglaterra, principal inimiga de Napoleão.
  2. A Estratégia de Napoleão: Marco Morel apresenta os planos e a estratégia que Napoleão poderia ter adotado para invadir o Brasil, incluindo alianças possíveis com líderes locais e a utilização da força naval. A obra examina como a França, na época, buscava expandir suas influências globais e como o Brasil, rico em recursos e situado em uma posição estratégica, se tornava um alvo atrativo.
  3. A Transferência da Corte Portuguesa: Um dos pontos centrais do livro é a transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808. A fuga da família real de Portugal para o Brasil, um movimento estratégico para evitar a captura por Napoleão, foi um evento crucial que alterou o curso da história brasileira. Morel explora como essa movimentação foi vista por Napoleão e como poderia ter sido interpretada como um desafio direto à sua autoridade.
  4. Consequências Imaginadas e Reais: O autor explora as possíveis consequências de uma invasão francesa no Brasil. Ele aborda cenários hipotéticos de como essa invasão poderia ter mudado o desenvolvimento político e social do Brasil, transformando-o possivelmente em uma colônia francesa ou mesmo um novo teatro de guerra napoleônica. O livro também destaca os impactos que a mera ameaça de invasão teve sobre as decisões políticas da época.
  5. Pesquisa Histórica e Análise Crítica: “O Dia em que Napoleão Quis Invadir o Brasil” é fundamentado em uma extensa pesquisa histórica. Marco Morel utiliza fontes primárias e secundárias para construir seu argumento, oferecendo uma análise crítica dos eventos e dos atores envolvidos. O livro não apenas especula sobre os “e se”, mas também examina as reações reais dos líderes políticos e militares da época à ameaça francesa.
  6. Relevância Contemporânea: Morel faz paralelos entre os eventos históricos e questões contemporâneas de geopolítica e poder, demonstrando como decisões estratégicas de grandes potências têm repercussões globais duradouras. Ele também reflete sobre a formação da identidade nacional brasileira e as influências estrangeiras na política interna do país.

Conclusão

O livro de Marco Morel é uma leitura provocativa que desafia o leitor a considerar como a história poderia ter sido diferente se Napoleão tivesse avançado com seus planos de invasão ao Brasil. Ao explorar essa possibilidade, o autor ilumina aspectos pouco conhecidos da história das relações internacionais e oferece uma nova perspectiva sobre os eventos que moldaram o Brasil moderno.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Imagens da branquitude

“Imagens da Branquitude” de Lilian Schwarcz é uma obra que explora o conceito de “branquitude” no Brasil, um termo usado para descrever a construção social, cultural e histórica da identidade branca e seus privilégios em uma sociedade racialmente hierarquizada. Schwarcz analisa como a branquitude se manifesta nas representações visuais, culturais e discursivas, e como essas representações têm contribuído para a manutenção de desigualdades raciais e sociais no Brasil.

Principais Ideias do Livro

  1. Construção Histórica da Branquitude: Schwarcz traça a origem histórica da branquitude no Brasil, mostrando como a ideia de “branco” foi construída e associada a privilégios desde o período colonial. Ela discute o papel das políticas de branqueamento promovidas no final do século XIX e início do século XX, que incentivaram a imigração europeia para “embranquecer” a população brasileira, considerada “miscigenada demais”.
  2. Representações Culturais e Visuais: O livro examina como a branquitude é representada em diferentes mídias, incluindo a arte, a fotografia, a televisão, e o cinema. Schwarcz analisa como essas representações reforçam a ideia de que ser branco é “normal” e “ideal”, enquanto outras identidades raciais são retratadas de maneira estereotipada ou marginalizada.
  3. Privilégio Racial e Invisibilidade da Branquitude: Uma das ideias centrais do livro é que a branquitude, enquanto identidade racial, geralmente permanece invisível para aqueles que se identificam como brancos. Isso cria um privilégio racial implícito, onde pessoas brancas não precisam se conscientizar de sua própria raça, ao contrário de pessoas de outras identidades raciais que constantemente enfrentam discriminação.
  4. Desconstrução da Branquitude: Schwarcz propõe uma desconstrução crítica da branquitude, incentivando os leitores a reconhecer os privilégios e preconceitos associados a ela. Ela defende a importância de uma consciência racial que inclua todos, especialmente aqueles que se beneficiam do sistema racial dominante, para avançar na luta contra o racismo.
  5. Impacto Social e Político da Branquitude: A autora também aborda como a branquitude influencia as políticas públicas, a justiça social, e a distribuição de recursos no Brasil. Ela sugere que a branquitude tem sido usada para justificar e perpetuar desigualdades, desde o acesso à educação e saúde até as oportunidades de emprego e mobilidade social.
  6. Racismo Estrutural e Institucional: Schwarcz explora como a branquitude está intimamente ligada ao racismo estrutural e institucional no Brasil. Ela destaca como as instituições públicas e privadas refletem e reforçam as hierarquias raciais, beneficiando predominantemente aqueles que são percebidos como brancos.

No geral, “Imagens da Branquitude” desafia os leitores a refletirem sobre a construção e as implicações da branquitude na sociedade brasileira, promovendo uma compreensão mais profunda das dinâmicas raciais e da necessidade de confrontar e desmantelar o racismo em todas as suas formas.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Made in Brazil

O livro Made in Brazil: Desafios Competitivos para a Indústria de David Kupfer e João Carlos Ferraz oferece uma análise profunda sobre a competitividade da indústria brasileira no contexto global. A obra discute as transformações enfrentadas pela economia brasileira e o impacto dessas mudanças na indústria nacional. Um dos pontos centrais do livro é a necessidade de modernizar o parque industrial brasileiro para competir em um cenário de rápida inovação tecnológica e globalização.

Os autores destacam a importância de políticas públicas que incentivem a inovação, a pesquisa e o desenvolvimento, e uma melhor integração das empresas brasileiras nas cadeias globais de valor. Eles argumentam que o Brasil possui potencial competitivo, especialmente em setores como a agricultura e a indústria de base, mas precisa superar desafios estruturais, como baixa produtividade, deficiências de infraestrutura e a falta de investimentos sustentáveis em tecnologia.

Além disso, o livro analisa o papel do Estado no fomento à indústria e propõe um equilíbrio entre políticas macroeconômicas e microeconômicas para estimular o desenvolvimento. Um ponto de destaque é o papel das empresas e das instituições na criação de um ambiente propício à inovação, com destaque para a cooperação entre universidades, institutos de pesquisa e o setor privado.

Em síntese, Made in Brazil traz uma visão crítica sobre os desafios e oportunidades da indústria brasileira, enfatizando a necessidade de políticas industriais e econômicas que promovam a modernização e a competitividade sustentável no longo prazo.

No livro Made in Brazil: Desafios Competitivos para a Indústria, David Kupfer e João Carlos Ferraz trazem exemplos específicos para ilustrar os desafios e oportunidades da indústria brasileira. Alguns exemplos incluem:

1. Complexo Metal-Mecânico: O setor metal-mecânico é apontado como um exemplo de segmento industrial que enfrenta desafios significativos devido à concorrência internacional, especialmente de países asiáticos, que oferecem produtos a preços competitivos. O livro sugere que para competir, a indústria brasileira precisa investir em tecnologias de produção mais avançadas e em maior qualificação da força de trabalho.

2. Indústria de Papel e Celulose: Este setor é destacado como um exemplo de sucesso no cenário global, em parte devido à disponibilidade de recursos naturais no Brasil, como o clima favorável para o cultivo de eucalipto. Os autores argumentam que essa competitividade foi alcançada por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que aumentaram a produtividade e a eficiência no uso de recursos.

3. Complexo Petroquímico: A obra também discute o complexo petroquímico, mostrando como o Brasil conseguiu desenvolver uma indústria integrada e competitiva, mas que ainda enfrenta desafios relacionados à inovação e à modernização de suas plantas industriais. O setor, no entanto, é apresentado como uma área onde o Brasil possui grande potencial, se conseguir adotar tecnologias de ponta e expandir sua capacidade de agregar valor aos produtos.

4. Indústria Automobilística: A indústria automobilística brasileira é outro exemplo de como a indústria nacional foi fortemente impactada pela globalização. O livro aborda como as montadoras instaladas no Brasil precisam se adaptar às exigências globais de eficiência energética, segurança e conectividade, e a necessidade de criar uma base de fornecedores nacional mais inovadora e competitiva.

5. Agronegócio: Apesar de o foco principal do livro ser a indústria, os autores discutem o sucesso do agronegócio brasileiro, particularmente na produção de soja e carne bovina, como um exemplo de setor com alta competitividade internacional. Eles sugerem que a integração de inovações tecnológicas aplicadas ao agronegócio poderia servir de modelo para outros setores industriais no país.

Esses exemplos servem para ilustrar a diversidade de desafios que o Brasil enfrenta na busca por competitividade industrial, desde a dependência de recursos naturais até a necessidade de modernização e inovação tecnológica.

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A álgebra da felicidade

O livro “A Álgebra da Felicidade” de Scott Galloway explora a busca pela felicidade e o sucesso na vida, combinando reflexões pessoais, pesquisas acadêmicas e conselhos práticos. Galloway, um professor de marketing da NYU Stern School of Business e empreendedor, compartilha suas próprias experiências de vida e carreira, discutindo temas como trabalho, relacionamentos, saúde e finanças. A obra é uma tentativa de criar uma “fórmula” para a felicidade baseada em princípios que, segundo ele, ajudam a maximizar o bem-estar pessoal e profissional.

Principais Ideias de “A Álgebra da Felicidade”

  1. Importância das Relações Pessoais:
    Galloway enfatiza que o maior fator para a felicidade a longo prazo é a qualidade das relações pessoais. Ele argumenta que laços fortes com a família, amigos e parceiros românticos têm um impacto significativo na satisfação com a vida. O autor sugere que, em vez de focar exclusivamente na carreira ou no acúmulo de riqueza, as pessoas deveriam investir tempo e energia na construção e manutenção de relacionamentos significativos.
  2. Trabalho e Carreira:
    O autor discute a importância de encontrar um equilíbrio entre a busca por sucesso profissional e o desejo por felicidade. Ele reconhece a importância do trabalho duro e da resiliência para alcançar o sucesso, mas também alerta contra o risco de sacrificar a saúde e a vida pessoal em nome da carreira. Galloway sugere que os leitores escolham uma carreira que não só seja financeiramente recompensadora, mas também ofereça um senso de propósito e realização pessoal.
  3. Riqueza e Felicidade:
    Galloway aborda a relação complexa entre dinheiro e felicidade. Embora reconheça que a segurança financeira é importante para o bem-estar, ele argumenta que além de um certo ponto, o acúmulo de riqueza adicional não necessariamente contribui para a felicidade. Ele enfatiza a importância de ser financeiramente independente, sugerindo que o dinheiro deve ser visto como uma ferramenta para proporcionar liberdade e não como um fim em si mesmo.
  4. Saúde Física e Mental:
    A saúde é apontada como um componente essencial para a felicidade. Galloway ressalta que a boa forma física e a saúde mental são fundamentais para uma vida satisfatória. Ele aconselha os leitores a adotarem hábitos saudáveis desde cedo, como exercícios físicos regulares, uma alimentação equilibrada e a busca de ajuda para questões de saúde mental. A negligência da saúde, segundo ele, pode ter consequências duradouras que afetam todas as outras áreas da vida.
  5. Tomada de Decisão e Gestão de Riscos:
    O livro também explora a importância da tomada de decisões informadas e da gestão de riscos ao longo da vida. Galloway argumenta que a vida é cheia de incertezas e que saber gerenciar riscos e tomar decisões calculadas é crucial para alcançar objetivos a longo prazo. Ele discute a importância de se preparar para contratempos financeiros, mudanças na carreira e outras dificuldades inevitáveis.
  6. A Importância do “Ponto de Inflexão” na Vida:
    Galloway fala sobre a importância de identificar e aproveitar os “pontos de inflexão” em nossas vidas — momentos decisivos que podem mudar o rumo de nossa trajetória pessoal ou profissional. Ele incentiva os leitores a serem proativos e a estarem prontos para agir quando essas oportunidades surgirem, em vez de serem passivos e deixarem as circunstâncias decidirem por eles.
  7. Flexibilidade e Adaptação:
    O autor também destaca a importância de ser flexível e adaptável em um mundo em constante mudança. Ele discute como as habilidades de hoje podem se tornar obsoletas rapidamente e incentiva a aprendizagem contínua e a adaptação às novas realidades do mercado de trabalho e da vida pessoal. A capacidade de se adaptar, de acordo com Galloway, é essencial para manter a relevância e a competitividade.

Conclusão

“A Álgebra da Felicidade” oferece um guia prático para aqueles que procuram alcançar a felicidade e o sucesso de forma equilibrada. Combinando histórias pessoais, pesquisa acadêmica e conselhos práticos, Scott Galloway fornece insights valiosos sobre como viver uma vida plena e satisfatória. Ele desafia os leitores a repensarem suas prioridades, focando menos em sucesso material e mais em relações pessoais, saúde e propósito. A mensagem central do livro é que a felicidade não é um destino, mas um processo contínuo de equilíbrio entre diferentes áreas da vida.

Scott Galloway, professor de marketing na NYU Stern School of Business, empreendedor e autor, é conhecido por fundar várias empresas ao longo de sua carreira, especialmente no campo do marketing, consultoria e tecnologia. Abaixo estão as nove empresas fundadas por Scott Galloway, juntamente com o destino de cada uma delas:

  1. Prophet Brand Strategy (1992):
  • Descrição: Prophet é uma consultoria global de branding e marketing que ajuda empresas a criar, gerenciar e evoluir suas marcas.
  • Destino: A empresa continua a operar como uma das principais consultorias de branding do mundo. Galloway deixou a Prophet para se concentrar em suas outras empreitadas.
  1. Red Envelope (1997):
  • Descrição: Red Envelope foi uma das primeiras empresas de e-commerce, oferecendo uma ampla gama de produtos de presente através de seu site.
  • Destino: A empresa enfrentou dificuldades financeiras, especialmente após a bolha da internet no início dos anos 2000, e acabou declarando falência em 2008.
  1. L2 Inc. (2010):
  • Descrição: L2 foi uma empresa de benchmarking digital que produzia pesquisas detalhadas sobre a competência digital de marcas globais, focando em análise de desempenho digital.
  • Destino: L2 foi adquirida pela Gartner, uma empresa global de consultoria e pesquisa, em 2017. Galloway permaneceu envolvido com a L2 até a aquisição.
  1. Firebrand Partners (2005):
  • Descrição: Firebrand Partners foi uma empresa de investimento ativista que comprava ações de empresas subvalorizadas e pressionava por mudanças estratégicas para aumentar seu valor.
  • Destino: Firebrand Partners não está mais ativa. A empresa teve algumas campanhas bem-sucedidas, mas Galloway eventualmente saiu do negócio para se concentrar em outras iniciativas.
  1. Section4 (2019):
  • Descrição: Section4 é uma plataforma de educação online que oferece cursos ministrados por Scott Galloway e outros profissionais de negócios renomados, focados em estratégia, marketing e habilidades empresariais.
  • Destino: Section4 está ativa e continua a crescer, oferecendo programas de ensino que conectam teoria de negócios a aplicações práticas.
  1. Post Corona (2020):
  • Descrição: “Post Corona” é mais um projeto editorial e de conteúdo do que uma empresa tradicional. Galloway lançou esse projeto para explorar as mudanças sociais e econômicas provocadas pela pandemia da COVID-19.
  • Destino: Continuamente expandindo, o “Post Corona” serve como uma plataforma de análise e insights em forma de podcast, newsletters e vídeos.
  1. Rucker Park Capital:
  • Descrição: Rucker Park Capital foi um fundo de investimento, mas há informações limitadas sobre suas operações ou foco de investimento.
  • Destino: Não está claro se a empresa ainda está ativa ou se foi incorporada a outras iniciativas de Galloway.
  1. Athenas (2006):
  • Descrição: Athenas era uma empresa que focava na melhoria da eficácia de marketing usando análise de dados e benchmarking.
  • Destino: Não existem muitos detalhes disponíveis sobre o destino final de Athenas, indicando que pode ter sido uma iniciativa temporária ou que foi absorvida por outra empresa.
  1. Graphicly:
  • Descrição: Graphicly era uma plataforma de distribuição de conteúdo digital para quadrinhos, oferecendo ferramentas para autores publicarem e distribuírem suas obras.
  • Destino: Graphicly foi adquirida pela Blurb, uma plataforma de publicação de livros e revistas digitais, em 2014.

Conclusão

Scott Galloway tem uma carreira diversificada como empreendedor, com empresas que variam de consultoria e e-commerce a educação online e investimento ativista. Muitas de suas empresas foram bem-sucedidas, sendo adquiridas por grandes players ou permanecendo ativas e crescendo. Outras enfrentaram desafios ou foram fechadas, refletindo a natureza de risco e recompensa do empreendedorismo. Galloway continua a ser uma figura influente no mundo dos negócios e da educação, usando sua experiência para moldar futuras gerações de líderes empresariais.

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A Economia do ajuste fiscal

O livro “Economia do Ajuste Fiscal”, de Márcio Holland, oferece uma análise aprofundada das políticas de ajuste fiscal, suas justificativas, impactos e implicações para a economia. Márcio Holland, um economista com experiência em políticas públicas e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do Brasil, utiliza sua expertise para examinar as complexidades e os desafios envolvidos na implementação de ajustes fiscais em contextos econômicos variados.

Principais Ideias do Livro

  1. Definição e Importância do Ajuste Fiscal:
  • Holland define o ajuste fiscal como um conjunto de políticas destinadas a reduzir o déficit fiscal de um governo, seja por meio de cortes de gastos públicos, aumento de receitas (como impostos) ou uma combinação de ambos. Ele argumenta que o ajuste fiscal é crucial para garantir a sustentabilidade da dívida pública, restaurar a confiança dos investidores e estabilizar a economia.

Ciclos Econômicos e Ajuste Fiscal:

  • O livro explora como os ajustes fiscais são implementados em diferentes fases do ciclo econômico. Holland discute a ideia de políticas contracíclicas, que defendem o aumento dos gastos em tempos de recessão e cortes em períodos de crescimento. No entanto, ele também destaca que muitos países, especialmente aqueles com altas dívidas, são forçados a adotar ajustes fiscais durante crises econômicas, o que pode agravar a recessão.
  1. Impactos Sociais e Econômicos:
  • Holland analisa os impactos sociais e econômicos dos ajustes fiscais, destacando como cortes de gastos e aumentos de impostos podem afetar diferentes setores da economia e grupos sociais. Ele enfatiza que ajustes mal planejados ou excessivamente austeros podem levar a uma contração econômica mais acentuada, aumento do desemprego e redução do bem-estar social, exacerbando as desigualdades.
  1. Casos Práticos e Lições Internacionais:
  • O autor utiliza estudos de caso de diversos países para ilustrar como diferentes estratégias de ajuste fiscal foram implementadas, seus sucessos e fracassos. Ele examina exemplos como a Grécia, Espanha, e outros países europeus durante a crise da dívida soberana, assim como o Brasil em vários períodos de sua história recente. A partir desses casos, Holland identifica lições valiosas sobre o que funciona e o que não funciona em termos de políticas de ajuste fiscal.
  1. Estratégias de Ajuste Fiscal no Brasil:
  • Holland dedica uma parte significativa do livro para discutir as estratégias de ajuste fiscal no Brasil, suas particularidades e desafios. Ele aborda o histórico de políticas fiscais no país, o impacto de diferentes administrações governamentais e as implicações de ajustes fiscais recentes. O autor sugere que, para o Brasil, o ajuste fiscal deve ser equilibrado e gradual, evitando tanto uma austeridade excessiva quanto a permissividade fiscal.
  1. Reformas Estruturais e Crescimento Sustentável:
  • O autor argumenta que ajustes fiscais eficazes devem ser acompanhados de reformas estruturais que promovam o crescimento econômico sustentável a longo prazo. Ele discute reformas em áreas como previdência, administração pública e tributação, defendendo que mudanças nessas áreas são fundamentais para melhorar a eficiência econômica e garantir a sustentabilidade fiscal.
  1. Recomendações de Política:
  • Holland propõe uma série de recomendações de políticas públicas para a implementação eficaz de ajustes fiscais. Ele sugere que as autoridades devem focar em um mix equilibrado de redução de gastos e aumento de receitas, priorizando cortes em áreas que gerem menos impacto social. Além disso, ele defende a necessidade de transparência, comunicação clara e construção de consenso social em torno das medidas de ajuste.

Conclusão

“Economia do Ajuste Fiscal” oferece uma análise abrangente e crítica das políticas de ajuste fiscal, destacando a importância de um equilíbrio cuidadoso entre austeridade e crescimento. Márcio Holland sugere que o ajuste fiscal, quando bem planejado e executado, pode ser uma ferramenta poderosa para restaurar a saúde fiscal de um país sem sacrificar o crescimento econômico ou o bem-estar social. No entanto, ele adverte contra políticas excessivamente austeras que podem ter consequências adversas de longo prazo, sugerindo uma abordagem pragmática e baseada em evidências para a implementação de ajustes fiscais.

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Fernando de Noronha e os Ventos da Guerra Fria

Fernando de Noronha e os Ventos da Guerra Fria é um livro que aborda a importância estratégica da ilha de Fernando de Noronha durante o período da Guerra Fria, destacando seu papel como ponto geopolítico no conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética. Escrito por Grazielle Rodrigues, o livro combina elementos de história militar, política e diplomacia para explorar como esse pequeno arquipélago brasileiro se tornou uma peça importante no xadrez global da guerra fria.

Principais ideias do livro:

  1. Importância estratégica de Fernando de Noronha: A localização geográfica da ilha, no meio do Oceano Atlântico, fez com que ela fosse vista como uma base militar de grande valor estratégico durante a Guerra Fria. Tanto os EUA quanto a União Soviética tinham interesse na ilha, que poderia ser usada para monitorar as rotas aéreas e marítimas, além de servir como um ponto de controle no Atlântico Sul.

  2. Relação Brasil-Estados Unidos: O livro explora como os Estados Unidos pressionaram o Brasil a permitir o uso de Fernando de Noronha para fins militares, visando proteger seus interesses na região. O Brasil, por sua vez, oscilava entre a cooperação e a defesa de sua soberania, tentando equilibrar as pressões externas com seus interesses internos.

  3. A militarização da ilha: Durante o auge da Guerra Fria, Fernando de Noronha foi fortemente militarizada. O livro detalha a transformação da ilha em uma base de vigilância, com a construção de radares e a instalação de tropas e equipamentos militares, tudo sob uma ótica de controle e monitoramento das atividades soviéticas no Atlântico.

  4. O impacto local: O livro também aborda as consequências dessa militarização para a população local e o ambiente de Fernando de Noronha. A chegada de tropas e a construção de infraestrutura militar alteraram profundamente a vida na ilha, trazendo novos desafios e oportunidades.

  5. Tensão geopolítica global: Grazielle Rodrigues contextualiza a disputa por Fernando de Noronha dentro do cenário maior da Guerra Fria, mostrando como essa pequena ilha brasileira se inseriu nas tensões globais entre as superpotências e como ela refletiu as dinâmicas de poder entre o Norte e o Sul Global.

Em resumo, “Fernando de Noronha e os Ventos da Guerra Fria” oferece uma análise detalhada da relevância de Fernando de Noronha no contexto da Guerra Fria, explorando como a geopolítica global afetou diretamente o Brasil e sua relação com as superpotências da época. O livro destaca as implicações locais e internacionais da militarização da ilha, oferecendo uma perspectiva única sobre a história desse período.

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“Por que os Custos de Saúde e Educação Continuam Subindo: A Doença dos Custos de Baumol Explicada”

O livro “Cost Disease: Why Computers Get Cheaper and Health Care Doesn’t” de William Baumol explora a teoria da “doença dos custos”, que explica por que os custos de certos serviços, como educação e saúde, aumentam significativamente ao longo do tempo, enquanto o preço de produtos manufaturados tende a diminuir. Segundo Baumol, isso ocorre porque setores como saúde e educação são intensivos em mão de obra e têm menos espaço para ganhos de produtividade, enquanto setores manufatureiros se beneficiam da automação e inovação tecnológica, que reduzem os custos. Assim, embora a produtividade geral da economia possa aumentar, os setores que necessitam de trabalho humano intensivo acabam ficando relativamente mais caros. Essa disparidade cria um aumento nos custos em serviços essenciais, mesmo que não haja um aumento proporcional na qualidade ou na quantidade desses serviços oferecidos. Baumol argumenta que, apesar dos custos crescentes, esses serviços são vitais para o bem-estar social, justificando intervenções políticas para garantir seu acesso universal.

William Baumol exemplifica sua teoria da “doença dos custos” com setores como saúde, educação, artes e serviços sociais, que dependem intensamente de trabalho humano e não podem ser facilmente automatizados.

1. Educação: Uma sala de aula hoje, em termos do número de professores e alunos, não é muito diferente do que era há décadas. A quantidade de tempo que um professor gasta com cada aluno não pode ser significativamente reduzida sem comprometer a qualidade do ensino. Como resultado, os custos por aluno aumentam ao longo do tempo, pois os salários dos professores precisam acompanhar os aumentos de produtividade em outros setores.

2. Saúde: Serviços médicos, como consultas com médicos ou procedimentos cirúrgicos, são muito dependentes do trabalho humano especializado. Embora tenha havido avanços tecnológicos, o envolvimento direto de profissionais qualificados ainda é fundamental, e esses serviços tendem a ficar mais caros, uma vez que não é possível escalar produtividade no mesmo ritmo que indústrias automatizadas.

3. Artes performáticas: Baumol menciona a orquestra sinfônica como exemplo. Uma peça de Beethoven ainda requer o mesmo número de músicos e a mesma quantidade de tempo para ser executada hoje como no século XIX. Assim, os custos associados a essas apresentações aumentam, pois os salários dos músicos devem crescer para acompanhar o aumento do custo de vida e os ganhos de produtividade em outros setores da economia.

4. Cuidados pessoais: Cuidados com idosos ou pessoas com deficiência também são exemplos, pois exigem interações humanas que não podem ser facilmente substituídas por máquinas. Como resultado, à medida que os salários em outros setores aumentam, os custos para fornecer cuidados pessoais crescem de maneira desproporcional.

Esses exemplos mostram que, nos setores em que o trabalho humano é essencial e não pode ser automatizado, os custos tendem a aumentar devido à necessidade de manter salários competitivos, mesmo sem um aumento proporcional da produtividade.

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Como a Intervenção Governamental Navega em Meio às Tempestades Econômicas”

Em “The Return of Depression Economics”, Paul Krugman analisa as crises financeiras globais e argumenta que as lições da Grande Depressão não foram completamente assimiladas, resultando em erros recorrentes nas políticas econômicas. Krugman defende que, apesar das conquistas econômicas do pós-guerra, problemas como a deflação, a queda da demanda agregada e a instabilidade financeira não desapareceram e continuam a representar ameaças ao crescimento.

Krugman discute várias crises financeiras que ocorreram desde a década de 1990, como a crise asiática de 1997 e a crise do México em 1994, e como essas crises revelam falhas estruturais e fraquezas que se assemelham aos problemas enfrentados durante a Grande Depressão. Ele também examina o colapso do Japão e a recessão que enfrentou na década de 1990, destacando como a estagnação prolongada pode ocorrer mesmo em economias avançadas.

Um ponto central do livro é a crítica ao excesso de confiança na eficiência dos mercados e à crença de que a autorregulação resolveria todos os problemas econômicos. Krugman argumenta que o papel do governo na estabilização da economia continua essencial, particularmente em momentos de crise, através de políticas fiscais e monetárias expansionistas. Ele adverte que, sem uma resposta adequada das políticas econômicas, há sempre o risco de retornarmos a um estado de “economia de depressão”, onde o subemprego e a produção abaixo da capacidade persistem, como aconteceu nos anos 1930.

No livro, Krugman alerta para a possibilidade de novas crises globais, enfatizando que intervenções públicas são cruciais para conter o impacto de crises financeiras e proteger as economias da estagnação prolongada. Assim, ele advoga por uma abordagem proativa dos formuladores de políticas para evitar que os erros do passado sejam repetidos.

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A Montanha-Russa Financeira: Como a Instabilidade e as Bolhas Especulativas Desafiam o Controle do Sistema Econômico

Em The Origin of Financial Crises, George Cooper apresenta uma explicação sobre as causas subjacentes das crises financeiras, desafiando a visão tradicional de que essas crises são apenas falhas momentâneas ou choques externos. Cooper argumenta que o sistema econômico e financeiro é inerentemente instável devido à forma como políticas monetárias e de crédito são conduzidas.

Ele introduz a ideia de que o modelo econômico predominante, baseado na teoria dos mercados eficientes, é inadequado para entender crises financeiras. Segundo Cooper, os mercados financeiros não se autorregulam de forma eficiente, como muitos economistas acreditavam antes da crise de 2008. Em vez disso, eles são propensos a bolhas especulativas e colapsos repentinos. Ele critica o uso excessivo de políticas monetárias que tentam estimular o crescimento a curto prazo, muitas vezes levando a bolhas de ativos.

Cooper defende que as políticas de bancos centrais, ao manter taxas de juros muito baixas por longos períodos, alimentam o excesso de crédito e criam uma falsa sensação de segurança nos mercados financeiros. Isso resulta em ciclos repetidos de crescimento insustentável seguido por colapsos graves, como foi visto na crise de 2008.

O autor propõe uma revisão das políticas monetárias e sugere que os formuladores de políticas econômicas adotem uma abordagem mais prudente, focando na estabilidade de longo prazo ao invés de tentar corrigir os mercados de forma reativa. Ele conclui que, para evitar futuras crises, é necessário reconhecer e combater a instabilidade inerente do sistema financeiro, ao invés de confiar cegamente nas teorias que presumem que os mercados são racionais e autorregulados.

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A construção interrompida de Celso Furtado

Em A Construção Interrompida, Celso Furtado examina o processo histórico de desenvolvimento econômico do Brasil, discutindo como o país, em vários momentos de sua história, teve suas tentativas de desenvolvimento interrompidas por fatores internos e externos. Furtado argumenta que o Brasil enfrentou desafios significativos para consolidar seu desenvolvimento econômico devido à dependência estrutural de modelos econômicos externos, herança do período colonial, e à falta de um projeto nacional de longo prazo.

O autor analisa como as políticas adotadas ao longo do século XX foram influenciadas pelas mudanças globais e pela inserção subordinada do Brasil na economia mundial. Ele destaca que, após o surto de crescimento associado à industrialização nos anos 1950 e 1960, o país entrou em um processo de estagnação devido à crise da dívida dos anos 1980, que interrompeu a construção de um projeto de desenvolvimento autônomo.

Furtado também critica as políticas neoliberais adotadas nas décadas seguintes, que, segundo ele, priorizaram a abertura econômica e a liberalização financeira em detrimento de um projeto de desenvolvimento voltado para a inclusão social e a diversificação produtiva. Ele defende que o Brasil precisa de um planejamento estatal robusto e de políticas industriais e sociais que promovam o desenvolvimento inclusivo, reduzindo as desigualdades e construindo uma economia mais independente e diversificada.

Assim, A Construção Interrompida é um convite à reflexão sobre os caminhos interrompidos do desenvolvimento brasileiro e a necessidade de resgatar um projeto nacional de crescimento econômico que seja sustentável e inclusivo, guiado por uma visão de longo prazo e por políticas públicas que promovam a justiça social.

Como “A Construção Interrompida” de Celso Furtado não é um livro tão amplamente citado a ponto de ter passagens icônicas destacadas universalmente, as passagens famosas geralmente são aquelas que resumem suas críticas ao modelo econômico brasileiro e suas reflexões sobre o desenvolvimento interrompido do país. Aqui estão algumas ideias expressas no livro, embora não sejam citações exatas, pois eu não tenho acesso ao texto completo:

  1. Crítica à Dependência Externa: Furtado destaca como o desenvolvimento do Brasil tem sido continuamente comprometido pela sua inserção subordinada na economia mundial. Ele argumenta que a dependência de capital e de tecnologia estrangeira dificultou a construção de um modelo de crescimento autossustentável e autônomo.
  2. Planejamento e Interrupções no Crescimento: Uma passagem importante é aquela em que Furtado analisa os ciclos de crescimento e estagnação do Brasil, destacando que as tentativas de construção de um projeto nacional de desenvolvimento foram constantemente interrompidas por crises políticas e econômicas, especialmente nos anos 1980, durante a crise da dívida externa.
  3. Política Neoliberal e Desigualdade: Furtado também faz uma crítica às políticas neoliberais que foram implementadas no Brasil nas décadas de 1990, afirmando que elas aprofundaram as desigualdades sociais e afastaram o país de um projeto de desenvolvimento inclusivo. Ele enfatiza que o crescimento sem planejamento voltado para o bem-estar social apenas reproduz a desigualdade histórica do país.

Estas ideias mostram a ênfase de Furtado na necessidade de um planejamento econômico e estatal que promova uma inclusão social efetiva e possibilite ao Brasil crescer sem as interrupções que caracterizaram sua história econômica. Para as passagens exatas, seria necessário consultar diretamente o texto do livro.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala

Os principais livros de Celso Furtado

Celso Furtado é um dos mais renomados economistas brasileiros, reconhecido por sua contribuição ao entendimento do subdesenvolvimento e das disparidades econômicas na América Latina. Aqui está um resumo dos principais livros de Furtado:

1. Formação Econômica do Brasil (1959)

Este é o livro mais famoso de Celso Furtado e se tornou um clássico do pensamento econômico brasileiro. Nele, Furtado traça a evolução histórica da economia brasileira desde o período colonial até meados do século XX, analisando os ciclos econômicos, como o do açúcar, ouro e café. Ele argumenta que a estrutura de subdesenvolvimento do Brasil se deve, em grande parte, ao seu papel na divisão internacional do trabalho, como produtor de bens primários e dependente das economias desenvolvidas. O livro é uma análise crítica do legado colonial e da dependência externa que ainda influencia o desenvolvimento do país.

2. Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (1967)

Neste livro, Furtado discute as teorias do desenvolvimento e subdesenvolvimento, trazendo uma análise detalhada sobre as disparidades econômicas entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Ele elabora sua teoria sobre como o subdesenvolvimento não é simplesmente um estágio atrasado de desenvolvimento, mas sim um processo histórico específico, influenciado pela dependência estrutural das economias centrais. Furtado defende o papel fundamental do Estado no planejamento e promoção do desenvolvimento econômico, especialmente em países como o Brasil.

3. A Pré-Revolução Brasileira (1962)

Neste trabalho, Furtado examina a situação socioeconômica do Brasil nos anos 1960, explorando as tensões sociais e os desafios enfrentados pelo país na tentativa de industrialização e modernização. Ele analisa os conflitos entre as diferentes classes sociais e as necessidades de reforma agrária, política e econômica para superar o subdesenvolvimento. O livro é considerado um ensaio sobre as contradições internas do Brasil e os obstáculos que impedem um crescimento mais equitativo.

4. O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974)

Neste livro, Furtado desafia o conceito tradicional de “desenvolvimento econômico” adotado pelos países em desenvolvimento. Ele argumenta que, ao tentar seguir o modelo dos países desenvolvidos, as economias emergentes frequentemente perpetuam a desigualdade e a dependência. Furtado propõe uma redefinição do conceito de desenvolvimento, sugerindo que ele deve ser orientado para a melhoria da qualidade de vida e redução das desigualdades, e não apenas para o crescimento do PIB.

5. A Economia Latino-Americana (1969)

Aqui, Furtado examina as características comuns das economias da América Latina, analisando a inserção da região na economia mundial e como a dependência dos mercados internacionais e a vulnerabilidade aos choques externos impactam o desenvolvimento. Ele explora o papel dos latifúndios, da exportação de commodities e da industrialização limitada, abordando como essas dinâmicas afetam o subdesenvolvimento e a desigualdade na região.

6. A Construção Interrompida (1992)

Neste livro, Furtado revisita o desenvolvimento econômico do Brasil ao longo do século XX, destacando como projetos de crescimento foram frequentemente interrompidos por crises econômicas e políticas. Ele faz uma análise crítica das políticas neoliberais implementadas nas décadas de 1980 e 1990, defendendo a necessidade de um planejamento estatal robusto e de uma política econômica voltada para a inclusão social e redução das desigualdades.

7. O Capitalismo Global (1998)

Em “O Capitalismo Global”, Furtado faz uma análise das transformações do capitalismo no contexto da globalização. Ele discute como a globalização econômica intensificou as desigualdades entre nações e regiões, enfraquecendo a soberania dos Estados nacionais e limitando suas capacidades de implementar políticas de desenvolvimento. O livro enfatiza a necessidade de uma regulação internacional mais justa para enfrentar os problemas gerados pelo capitalismo global.

Esses livros demonstram o compromisso de Celso Furtado em entender e propor soluções para o subdesenvolvimento e a desigualdade, defendendo uma abordagem histórica e estrutural para compreender os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil e pela América Latina. Ele enfatiza o papel do Estado no planejamento econômico e no combate às desigualdades, abordando o desenvolvimento de maneira ampla e integrada, não apenas focada em indicadores econômicos.

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O mercado financeiro de Eduardo Fortuna

O Mercado Financeiro”, de Eduardo Fortuna, é um guia abrangente sobre o funcionamento dos mercados financeiros no Brasil e no mundo. O livro explora os principais conceitos e instrumentos do mercado financeiro, incluindo renda fixa, renda variável, derivativos e mercado cambial. Fortuna também detalha os papéis das instituições financeiras, como bancos, corretoras e seguradoras, e explica a regulação do sistema financeiro, destacando o papel do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além disso, aborda a importância dos investimentos para a economia, discutindo temas como risco, retorno, diversificação e planejamento financeiro. O livro serve como uma introdução sólida tanto para iniciantes quanto para profissionais do setor, oferecendo uma visão clara sobre como os mercados funcionam e como diferentes instrumentos podem ser usados para estratégias de investimento.

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As manufaturas importam!

Em Manufacturing Matters, Stephen Cohen e John Zysman argumentam que a manufatura é fundamental para a saúde econômica de um país, especialmente em termos de crescimento, produtividade e inovação. Eles desafiam a visão de que uma economia pode prosperar focando exclusivamente em setores de serviços e financeiros, sem uma base sólida de produção industrial.

Os autores explicam que a manufatura não só cria empregos diretos, mas também gera demanda por serviços auxiliares e cria inovações tecnológicas que se espalham para outros setores da economia. A manufatura, segundo Cohen e Zysman, é um motor essencial para a produtividade e a competitividade de longo prazo, e a ausência de uma base manufatureira forte pode levar à perda de inovação e ao declínio econômico.

Eles também discutem as políticas industriais que podem ajudar a revitalizar a manufatura nos países desenvolvidos, argumentando que o governo deve desempenhar um papel ativo em apoiar a indústria, fornecendo incentivos e criando um ambiente favorável para a inovação. O livro enfatiza a necessidade de políticas coordenadas para fortalecer a base industrial, ao invés de depender apenas de forças de mercado.

Manufacturing Matters defende que a fabricação de bens materiais é vital para a sustentabilidade econômica e deve ser vista como uma prioridade estratégica, não apenas para garantir empregos e crescimento, mas também para assegurar uma posição competitiva no cenário global.

Em Manufacturing Matters, Stephen Cohen e John Zysman analisam como o declínio do setor manufatureiro nos Estados Unidos impactou a economia e a posição competitiva do país. Eles destacam alguns exemplos que ilustram a importância da manufatura e as consequências de sua perda:

  1. Declínio da Indústria Automotiva: Os autores discutem como o declínio da indústria automotiva dos EUA, especialmente no Rust Belt (área industrial dos EUA que engloba estados como Michigan, Ohio e Pensilvânia), afetou não apenas empregos diretos, mas também fornecedores e indústrias relacionadas, como metalurgia e tecnologia. A desindustrialização resultou em desemprego elevado, perda de habilidades técnicas e declínio da competitividade.
  2. Setor de Alta Tecnologia: Cohen e Zysman também falam sobre a importância do setor de alta tecnologia para o crescimento e a inovação dos EUA. A indústria de semicondutores é usada como exemplo de como o suporte governamental, através de programas como o Sematech (um consórcio público-privado para promover a pesquisa em semicondutores), ajudou a recuperar a competitividade americana frente ao Japão. O fortalecimento da manufatura de alta tecnologia contribuiu para que os EUA permanecessem na vanguarda da inovação.
  3. Aeroespacial e Defesa: O setor aeroespacial, ligado à defesa, é outro exemplo dado pelos autores para destacar como a manufatura avançada é fundamental para a segurança nacional e o desenvolvimento tecnológico. Programas governamentais, como contratos militares, não apenas sustentaram empregos, mas também promoveram o avanço de tecnologias críticas que foram aplicadas a outras áreas da economia, como a aviação civil e comunicações.
  4. Produção Eletrônica e Computadores: A mudança da produção de eletrônicos e computadores para países asiáticos, em busca de mão de obra barata, é outro exemplo mencionado. Embora essa transferência tenha reduzido custos para as empresas, os EUA perderam capacidades produtivas e empregos que antes estavam ligados a esses setores. Além disso, os autores apontam que a perda de manufatura compromete a capacidade do país de inovar em tecnologias relacionadas.

Cohen e Zysman argumentam que esses exemplos mostram que a manufatura não é uma atividade isolada e que sua perda tem consequências em toda a cadeia de valor, afetando desde o desenvolvimento de novas tecnologias até a capacidade de inovar em áreas de ponta. Eles defendem que, para garantir um crescimento sustentável e manter a liderança global, os EUA precisam revitalizar e apoiar seu setor manufatureiro, pois é nele que se criam os fundamentos para um avanço econômico sólido e duradouro.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Linked e a nova ciência das redes

O livro “Linked: The New Science of Networks” de Albert-László Barabási explora a ciência das redes e como elas moldam o mundo ao nosso redor. Barabási, um físico e pioneiro na teoria das redes, examina como diversos sistemas complexos – desde redes de comunicação, redes biológicas, até a internet e redes sociais – são interligados de formas previsíveis e matemáticas. Ele demonstra que essas redes não são aleatórias, mas seguem padrões específicos, conhecidos como redes em escala livre (scale-free networks).

Principais ideias do livro:

  1. Redes em escala livre: Barabási argumenta que muitas redes reais, como a internet ou redes de relações humanas, seguem uma estrutura onde alguns “nós” (pessoas, páginas web, empresas, etc.) são muito mais conectados que outros. Esses nós centrais, chamados hubs, desempenham um papel crucial na organização das redes.

  2. Preferência por anexação: A teoria sugere que, à medida que novos nós são adicionados a uma rede, eles tendem a se ligar a nós já bem conectados, o que fortalece os hubs. Isso explica como figuras centrais surgem e dominam redes, como celebridades nas redes sociais ou grandes sites na web.

  3. Robustez e fragilidade das redes: Redes em escala livre são notavelmente resistentes a falhas aleatórias (por exemplo, desligar um nó comum raramente causa um grande impacto). No entanto, elas são vulneráveis a ataques direcionados, ou seja, se os hubs centrais forem removidos ou comprometidos, a rede pode colapsar.

  4. A teoria dos seis graus de separação: Barabási aborda a famosa ideia de que qualquer pessoa está a, no máximo, seis conexões de distância de qualquer outra pessoa no mundo. Ele explica como isso é possível devido à existência de hubs que atuam como superconectores.

  5. Aplicações em diversas áreas: O autor mostra como as leis das redes podem ser aplicadas a diferentes campos, como a biologia, economia, e até mesmo epidemiologia, ilustrando como doenças, ideias e inovações se espalham em redes sociais e biológicas de maneira semelhante.

O livro combina matemática, física e estudos de caso para revelar como o mundo está interligado através de redes invisíveis, fornecendo uma nova maneira de compreender sistemas complexos. “Linked” destaca a importância de estudar e entender essas redes para prever comportamentos e influências em diversas áreas da ciência e tecnologia.

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A crise de 1929 pode ocorrer de novo?

“Can It Happen Again?” de Hyman Minsky é uma coletânea de ensaios que explora a instabilidade inerente ao capitalismo e as recorrentes crises financeiras. Minsky argumenta que as crises financeiras não são eventos excepcionais, mas sim parte natural dos ciclos econômicos do capitalismo. Ele apresenta a hipótese da instabilidade financeira, que sugere que períodos prolongados de estabilidade econômica geram um aumento de alavancagem e especulação financeira, levando eventualmente ao colapso.

Minsky descreve diferentes estágios do ciclo econômico: desde o financiamento “hedge” (conservador e seguro), passando pelo “speculative” (onde dívidas são roladas) até o “Ponzi” (onde novas dívidas são necessárias para cobrir os custos dos empréstimos existentes). À medida que o sistema financeiro se move para esses estágios mais arriscados, a probabilidade de uma crise aumenta.

Ele critica a crença na eficiência dos mercados e alerta sobre os perigos da desregulamentação financeira, argumentando que o setor público tem um papel fundamental em regulamentar e estabilizar os mercados financeiros para evitar crises profundas. A coletânea sugere que, sem a intervenção e regulação adequadas, as crises econômicas similares às ocorridas no passado podem, sim, voltar a ocorrer, fazendo referência ao título do livro, que questiona se tais colapsos financeiros podem se repetir.

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Falhar não é uma opção: a história do projeto Apollo 13

O livro “Failure Is Not an Option: Mission Control from Mercury to Apollo 13 and Beyond”, escrito por Gene Kranz, narra as experiências e desafios enfrentados pelas equipes da NASA durante as missões espaciais das décadas de 1960 e 1970, principalmente no contexto do programa Apollo. Kranz, que foi diretor de voo em missões cruciais, oferece uma perspectiva interna sobre o funcionamento do Mission Control (Centro de Controle de Missões) e a evolução da NASA desde os primórdios do programa espacial americano.

Principais ideias do livro:

  1. Importância do trabalho em equipe e da liderança: Kranz enfatiza a natureza colaborativa das missões da NASA. Ele descreve como o sucesso das missões não era apenas fruto da habilidade técnica dos engenheiros e cientistas, mas também da coesão, disciplina e confiança mútua entre os membros da equipe. Ele próprio teve um papel de liderança crucial, e o título do livro vem de uma de suas declarações mais célebres: “Failure is not an option” (o fracasso não é uma opção), dita durante a crise da missão Apollo 13.
  2. Gestão de crises: Um dos temas centrais é como a NASA lidou com crises e imprevistos, particularmente na Apollo 13, quando uma explosão no módulo de serviço da nave espacial colocou em risco a vida dos astronautas. Kranz detalha como o trabalho rápido e preciso da equipe de controle de voo permitiu trazer os astronautas de volta à Terra em segurança. Esse episódio demonstra a capacidade de Mission Control em enfrentar problemas inesperados, raciocinando sob extrema pressão.
  3. A evolução da tecnologia e dos procedimentos: O livro descreve como, ao longo das missões Mercury, Gemini e Apollo, a tecnologia espacial avançou dramaticamente. Kranz explica a importância de procedimentos bem ensaiados e da adaptação a novas tecnologias. O processo de aprendizado, marcado por sucessos e fracassos, foi crucial para que a NASA pudesse alcançar marcos como o pouso na Lua, durante a missão Apollo 11.
  4. Dedicação e sacrifícios pessoais: Kranz também discute os sacrifícios pessoais feitos pelos membros da NASA, muitos dos quais trabalhavam longas horas sob intensa pressão. O compromisso inabalável com o sucesso das missões levou a impactos pessoais profundos para os engenheiros, cientistas e diretores de voo. O trabalho árduo e a determinação eram exigidos de todos, refletindo o peso da responsabilidade envolvida em cada missão.
  5. O papel crucial do treinamento: Kranz descreve a importância do treinamento rigoroso das equipes de controle de voo e dos astronautas. A prática extensiva em simulações, que cobriam desde rotinas normais até cenários de crise, permitiu que a equipe respondesse com eficácia a situações imprevisíveis. O sucesso em crises, como a da Apollo 13, pode ser atribuído em grande parte ao treinamento exaustivo que a equipe realizou antes de cada missão.
  6. Lições para o futuro: O livro também oferece reflexões sobre a importância de aprender com os fracassos e como eles podem pavimentar o caminho para o sucesso. Kranz argumenta que a mentalidade de “failure is not an option” transcende o trabalho no espaço e pode ser aplicada a outras áreas da vida, reforçando a ideia de que a resiliência e a preparação são essenciais para superar desafios.

Ao longo do livro, Gene Kranz mostra como o sucesso das missões espaciais foi fruto de uma combinação de liderança forte, trabalho em equipe, inovação tecnológica e uma cultura organizacional que priorizava o aprendizado contínuo e a preparação rigorosa para enfrentar o inesperado.

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O longo caminho para a Utopia

O Longo Caminho para a Utopia (Slouching Towards Utopia), de Brad DeLong, é uma análise da história econômica do século XX, focando em como a humanidade passou a transformar o progresso econômico em um caminho para a utopia. O autor explora o período entre 1870 e 2010, destacando as grandes transformações econômicas, tecnológicas e sociais que ocorreram e como essas mudanças moldaram a sociedade moderna.

Principais ideias do livro:

  1. 1870 como ponto de inflexão: DeLong argumenta que o mundo mudou radicalmente após 1870, quando a economia global entrou em um período de crescimento sustentado e acelerado, algo sem precedentes na história humana. Isso foi impulsionado pelo progresso tecnológico, a industrialização e a globalização, que começaram a transformar as sociedades e elevar os padrões de vida.
  2. O capitalismo como motor do progresso: O autor examina como o capitalismo, especialmente nas economias ocidentais, foi o principal impulsionador do crescimento econômico e da inovação tecnológica. Entretanto, ele também critica as falhas desse sistema, como as desigualdades crescentes e a incapacidade de resolver questões sociais cruciais.
  3. As crises do século XX: DeLong destaca as grandes crises que marcaram o século XX, como as duas Guerras Mundiais, a Grande Depressão e a Guerra Fria. Ele explora como essas catástrofes interromperam o progresso e moldaram as políticas econômicas, levando a debates sobre o papel do Estado, o planejamento econômico e o livre mercado.
  4. A luta pela distribuição da riqueza: Um dos temas centrais do livro é o desafio de como distribuir os frutos do progresso econômico de maneira justa. DeLong discute as tensões entre o crescimento econômico e a justiça social, apontando que, embora o mundo tenha ficado mais rico, a riqueza nem sempre foi distribuída de forma equitativa.
  5. A ascensão do Estado de bem-estar social: O autor detalha como, após a Segunda Guerra Mundial, muitos países adotaram políticas de Estado de bem-estar social para enfrentar as desigualdades e garantir a segurança econômica para suas populações. Ele vê essas políticas como tentativas de guiar o progresso em direção a uma sociedade mais justa e equitativa.
  6. O futuro incerto: DeLong termina o livro refletindo sobre os desafios contemporâneos, como a globalização, as crises ambientais e as mudanças tecnológicas. Ele argumenta que, embora o progresso tenha melhorado a vida de milhões de pessoas, o “caminho para a utopia” ainda está longe de ser alcançado. A humanidade precisa lidar com questões cruciais sobre justiça, sustentabilidade e o papel do mercado versus o papel do Estado no século XXI.

O livro oferece uma visão abrangente do desenvolvimento econômico e social do último século e meio, argumentando que, embora o progresso tenha sido significativo, o caminho para uma utopia plena — onde todos se beneficiem igualmente — ainda é longo e incerto.

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O estado empreendedor de Mariana Mazzucato

No livro “O Estado Empreendedor”, Mariana Mazzucato desafia a visão tradicional de que o setor público é apenas um facilitador passivo da inovação, enquanto o setor privado é o único motor de crescimento econômico e tecnológico. Mazzucato argumenta que o Estado desempenha um papel crucial e ativo na inovação, sendo frequentemente o principal agente de investimento em tecnologias de alto risco, especialmente em seus estágios iniciais. Ela exemplifica como tecnologias revolucionárias, como a internet, GPS, e a própria indústria farmacêutica, tiveram origem em programas governamentais ou receberam grandes subsídios públicos.

Mazzucato também aponta que, enquanto o setor privado tende a ser avesso ao risco, o setor público investe em áreas estratégicas e em longo prazo, criando um ambiente propício para que o setor privado posteriormente lucre com as inovações. Ela critica a prática de privatização dos lucros e socialização dos riscos, propondo um novo contrato social em que os retornos econômicos sejam também distribuídos de forma justa entre o público e o privado, garantindo que os investimentos públicos sejam recompensados.

A autora enfatiza que o papel do Estado deve ser visto não apenas como um corretor de falhas de mercado, mas como um catalisador que molda e cria mercados, permitindo avanços que de outra forma não ocorreriam. Mazzucato sugere que a visão dominante precisa ser revisada, reconhecendo o valor da intervenção governamental proativa e a necessidade de políticas industriais robustas para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas e as desigualdades sociais.

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Como salvar a democracia

“Como Salvar a Democracia”, o novo livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, é uma continuação do tema explorado em Como as Democracias Morrem, abordando as medidas práticas para evitar o declínio democrático. Neste livro, os autores argumentam que, para salvar uma democracia em crise, é necessário não apenas fortalecer as instituições, mas também promover um renascimento do compromisso democrático, através da reconstituição de pactos políticos e da colaboração entre diferentes grupos sociais e políticos.

Eles discutem a importância de restaurar a confiança pública nas instituições e a necessidade de criar políticas inclusivas que abranjam todos os segmentos da sociedade, evitando polarizações extremas que costumam abrir caminho para o autoritarismo. Além disso, o livro aborda o papel vital dos partidos políticos em resistir às tentações populistas, bem como a necessidade de preservar as normas democráticas que sustentam o sistema.

Levitsky e Ziblatt também exploram exemplos internacionais de como outros países superaram crises democráticas, oferecendo lições valiosas para os Estados Unidos e outras democracias que enfrentam desafios contemporâneos. Em resumo, o livro propõe estratégias concretas para fortalecer a resiliência das democracias e prevenir a ascensão de líderes autoritários.

Como as democracias morrem

O livro **”Como as Democracias Morrem”** de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt explora os processos pelos quais democracias entram em declínio e como podem ser salvas. A obra utiliza exemplos históricos e contemporâneos, principalmente dos Estados Unidos e de outros países, para mostrar como democracias podem ruir não apenas por golpes militares, mas também por líderes eleitos que subvertem as instituições democráticas de dentro.

Levitsky e Ziblatt destacam quatro sinais de que um líder representa uma ameaça à democracia: rejeição ou fraca adesão às regras democráticas, negação da legitimidade dos oponentes, tolerância ou encorajamento da violência, e restrição de liberdades civis, incluindo as da imprensa. Quando essas práticas se tornam comuns, a democracia enfraquece.

Eles alertam que, para salvar a democracia, é necessário fortalecer as normas democráticas, como a tolerância mútua e a contenção institucional. O livro enfatiza a importância de partidos políticos comprometidos com a democracia, a defesa das instituições e uma sociedade civil engajada. O combate ao populismo autoritário também exige união entre adversários políticos tradicionais para preservar as instituições democráticas.

Em resumo, o livro faz um apelo por vigilância e ação em defesa das democracias, destacando que essas não morrem de repente, mas por erosões graduais de seus princípios e práticas.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


A ficção científica como reflexão utópica

Lançado no Brasil Arqueologias do futuro, livro que reinventou a crítica a esse subestimado gênero literário. O autor crê que imaginar outros mundos é essencial para criar fissuras na ordem atual, que parece encerrada em si mesma e sem perspectivas

Por Ana Rüsche em A Terra é Redonda

“A utopia sempre foi uma questão política, um destino incomum para uma forma literária – e, do mesmo modo que o valor literário da forma está sempre sujeito à dúvida, seu estatuto político também é estruturalmente ambíguo.” Essas primeiras linhas de Arqueologias do futuro, de Fredric Jameson já são capazes de enunciar os principais temas do longo ensaio que abre essa obra fundamental: as relações entre a imaginação, seus limites, e a crítica política imbricadas na literatura.

Arqueologias do futuro é hoje uma obra essencial para a análise sobre obras de ficção científica e obras utópicas. A partir da escavação minuciosa sobre questões culturais e políticas de cada período, com fricções próprias a cada tema e autoria analisados, Fredric Jameson foi capaz, com esse livro, de alçar os estudos sobre ficção científica a um novo patamar de complexidade, oxigenando o campo das utopias e abrindo caminho para outras confabulações possíveis. Como o título sugere no que diz respeito à ficção científica, há que se destrinchar essa grande metáfora central ao gênero, o futuro, a partir de uma mirada rigorosa sobre o passado, colocando-o, em um aparente paradoxo, à frente.


Duas partes dividem o livro, um volume de 650 páginas, agora publicado com muito zelo em português. Na primeira, O desejo chamado Utopia, um longo ensaio com 13 capítulos, discute-se o que seria a Utopia hoje; a obra inaugural, de Thomas Morus, assim como utopias literárias recentes; corpos alienígenas; e a noção de futuro. Na parte dois, Até onde o pensamento alcança, um compilado de ensaios, a respeito de obras de Brian Aldiss, Kim Stanley Robinson, Philip K. Dick, Ursula Le Guin, Van Vogt e Vonda MacIntyre, entre muitas outras autorias.

Crítico de novas e estranhas paisagens

Fredric Jameson, nascido em Cleveland, Estados Unidos, em 1934, produziu uma obra teórica sólida, principalmente ao discutir sobre as formas culturais do pós-modernismo. Doutor em 1961, a partir de uma trajetória de estudos com base filosófica tributária da Escola de Frankfurt, mas também considerando a ótica de estudos culturais de Raymond Williams, publicou suas primeiras obras de fôlego, Marxismo e forma, em 1971, e O inconsciente político, em 1981. Neste último, incorpora análises literárias e leituras psicanalíticas lacanianas, apresentando a hipótese sobre a compreensão de narrativas como um ato social simbólico (JAMESON, 1992).

Em 1991, lançou a obra de referência Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio (JAMESON, 1996), quando analisou formas emergentes na cultura a partir de uma mudança no sistema econômico e da “estrutura de sentimento cultural”. Com o choque da crise do petróleo de 1973 e o começo do fim do comunismo tradicional, entre outros eventos históricos, revelar-se-ia, então, a existência de uma nova e estranha paisagem (2006, p. 24). Jameson traça uma análise sobre as novas configurações culturais incorporadas à lógica do capitalismo tardio, a partir do acirramento da Guerra Fria, quando empresas transnacionais incluem uma divisão internacional do trabalho, com transações bancárias e dívidas internacionais, até o surgimento de novos sistemas de transportes, conteinerização, computadores e automação, tudo se somando à crise do trabalho tradicional e a instauração de uma aristocratização em escala global (2006, p. 89).

A necessidade de estranhar o mundo

Em paralelo a essa produção crítica, Arqueologias do futuro estava sendo gestado – os artigos que compõem o livro datam de 1973 a 2003, textos originalmente publicados, por exemplo, nas revistas Science Fiction Studies e na New Left Review. Embora haja a distância temporal entre as publicações iniciais dos textos, quando reunidos provocam uma impressionante sensação de solidez. Um dos motivos, além da coerência teórica advinda dos estudos culturais e da influência frankfurtiana, é a adoção do estranhamento como categoria inafastável de análise.

Aqui se faz visível a influência de Darko Suvin, acadêmico nascido na Iugoslávia, inclusive editor de 1973 a 1980 da revista Science Fiction Studies, onde Fredric Jameson publicou. Em uma época na qual os estudos de ficção científica ainda não eram especializados, Suvin foi capaz de articular ideias brechtianas sobre o conceito de estranhamento em torno de uma literatura eminentemente popular, a ficção científica, ao publicar o clássico Metamorphoses of Science Fiction (1979). Na obra, concede bases teóricas para definir a utopia como texto literário – uma construção textual engendrada sobre uma comunidade específica, cuja forma literária constitui um espaço físico radicalmente diferente do conhecido, com organizações sociopolíticas, jurídicas e relações individuais organizadas de uma maneira mais aprimorada do que atual, cuja construção é erguida no estranhamento calcado em uma história alternativa (SUVIN, 1979, p. 49).

A partir das ideias de Ernst Bloch, também uma referência para Jameson, Darko Suvin articula a noção de que a ficção científica se distingue por apresentar, de forma dominante, um novum, uma novidade, uma inovação, validada por meio de lógica cognitiva (1979, p. 63). Suvin define essas literaturas como uma proposta de examinar alteridades, distanciadas pela criação de mundos secundários ou alternativos ao nosso, tendo a cognição por meio do estranhamento, o cognitive estrangement, como recurso obrigatório. Essa base de Suvin será central na teorização subsequente sobre o conceito de ficção científica, não somente para a exposição em Arqueologias do futuro (JAMESON, 2021, p. 19), mas também para a crítica contemporânea, em trabalhos tão díspares quanto as propostas de Adam Roberts (2018) e de Mark Bould e Sherryl Vint (2011).

Quimeras utópicas

Ao propor a análise de utopias literárias, Jameson parte da “grande máxima empirista”: não existe nada que possamos imaginar que não tenha passado antes por nossos sentidos (2021, p. 16). Faz uma citação muito pertinente do filósofo e escritor britânico Olaf Stapledon, quando revisita a ideia da Quimera homérica, mostrando que nada mais é do que um monstro criado a partir de partes de animais conhecidos – a cabeça de um leão, o corpo de um bode e o rabo de uma serpente. Assim, em última análise, “nossas imaginações são reféns do nosso modo de produção – e, talvez, de quaisquer resquícios de modos de produção passados que foram preservados” (p. 16).


Há uma frase anônima, que se tornou um clichê de palestra (inclusive, atribuída a Jameson), que comprova esse ponto com facilidade: “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”, um slogan, nas palavras de Mark Fisher, sobre uma sensação generalizada de que o capitalismo não seria somente o único sistema político e econômico viável, mas que também não se poderia elaborar imaginariamente uma alternativa coerente para esse estado de coisas (FISHER, 2009, p. 2).

O único antídoto imaginário a esse estado de coisas é justamente imaginar outros mundos possíveis, mesmo que a tentativa fracasse redondamente. Como afirma Maria Elisa Cevasco, “os romances de imaginação política muitas vezes se desenrolam em contextos regidos por sistema alternativos, evidenciando o caráter histórico do que sempre tomamos como natural” (CEVASCO, 2018, p. 11).

Dessa maneira, é possível compreender que o texto utópico é ambíguo e ambivalente, pois na medida em que afirma uma diferença radical com o que vivenciamos, mostra-se igualmente irrealizável, quando não, inimaginável (p. 20). Entretanto, de uma maneira curiosa, é justamente esse exercício de imaginar o que não é capaz de existir que nos devolve, uma vez mais, nosso próprio mundo. Em última análise, a invenção de Utopias nos deixa mais conscientes de nossa limitação mental e ideológica de imaginar uma alteridade, reforçando, ao final, que só a alteração histórica e a ação da prática cotidiana podem engendrar a mudança.

Ícones da ficção científica a contrapelo: o caso da espaçonave

Nesse longo ensaio inicial e nos ensaios que o sucedem, o crítico segue um caminho de análise bastante conhecido quando se examina a ficção científica: traça uma iconografia do gênero ao comentar obras escolhidas, não escondendo as preferências de leitura, destacando-se Kim Stanley Robinson, Philip K. Dick e Ursula Le Guin, entre outras autorias.

A ideia de ler a ficção científica a partir de ícones é um método de análise conhecido, sendo um dos marcos a obra de Gary K. Wolf, The Known and the Unknown, de 1979, usado de referência por outras autorias, como Elizabeth Ginway ao analisar a ficção científica brasileira (2005). O método centra-se em ícones recorrentes que, citando Gary K. Wolf, seriam a espaçonave, a cidade, a terra devastada, o robô e alienígenas. Em artigo anterior, Wolf demonstra as origens desses ícones em narrativas que mesclam mitos antigos à tecnologia moderna (1988, p. 51). Até hoje, livros didáticos de ficção científica usam o expediente como espinha dorsal de análise.

Entretanto, ao “jamesonizar” tais iconografias clássicas da ficção científica, nosso crítico faz uma operação engenhosa. Em diferentes capítulos, sugere que, ao usar desses ícones, determinadas obras da ficção científica fazem ainda uma alteração, na própria apresentação da narrativa, com um desdobramento entre forma e conteúdo que modifica o ato de recepção e percepção estética, potencializado a partir da categoria do estranhamento. Ou seja, Jameson usa um ícone somente como porta de entrada para uma aplicação crítica política e cultural.

Exemplificando, ao trabalhar com o ícone da “nave-perdida-enquanto-universo” na obra Starship, de Brian Aldiss, 1958 (p. 395), Jameson aproveita-se para apresentar uma teoria fundamental a quem trabalha com o tema: a recorrência de descontinuidades genéricas como constitutiva das narrativas da ficção científica. Muitas vezes, dentro de uma mesma obra de ficção científica, é possível encontrar diferentes gêneros literários, os quais são apresentados em uma sequência um tanto artificial de modo a romper com certas expectativas. Reúne-se, assim, uma heterogeneidade de materiais por meio da colagem, com elementos narrativos que derivam de diferentes modelos literários – podemos encontrar um “manual de circuitos elétricos da nave estelar” ao lado de uma “história de aventura”, seguida de uma “fábula política”, alternância que não seria esperada em uma organização realista ou mimética de narrativas.

O procedimento não é novo, vide a formatação textual de Ulysses, de James Joyce (1920), mas sua recorrência tendo como base uma narrativa que trata justamente de tecnologia proporciona um efeito mais profundo. Isso termina por reforçar a força do efeito de estranhamento inerente desse e outros ícones da ficção científica. No caso, a nave espacial, ambiente no qual se substitui a natureza pela cultura, envolve dois impulsos aparentemente contraditórios em sua formulação imaginária: nos faz duvidar de nossas próprias instituições, se seriam tão naturais quanto supomos; e introduz a ideia sobre nosso ambiente exterior “real” ser tão confinante e restritivo como uma nave (efeito de leitura piorado em tempos de isolamento social durante uma pandemia). Dois impulsos que nos levam ainda à incerteza sobre “natural” como uma categoria conceitual (p. 397-398).

Desdobramentos arqueológicos

Com o peso teórico que a obra de Fredric Jameson apresenta, principalmente sobre pós-modernismo, a publicação de Arqueologias do futuro terminou por impulsionar certos trabalhos de crítica de ficção científica, encorajando novas reflexões de cunho materialista no século XXI, a exemplos das obras Red Planets, coletânea de artigos organizada por Mark Bould e China Miéville (2009), e Green Planets, no mesmo formato, organizada por Kim Stanley Robinson e Gerry Canavan (2014), ambos com influência de Arqueologias em suas análises.

O livro de Jameson foi lançado em 2005 pela editora Verso, fundada em 1970, com equipe proveniente da New Left Review, com sede em Londres e Nova York. Chega agora ao português pela editora Autêntica, dentro da Coleção Ensaios, coordenada por Ricardo Musse, seleção com abrangência multidisciplinar e análises críticas da cultura, da política, da economia e outros temas.

Assina a tradução Carlos Pissardo, diplomata e doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, tradutor de Adorno e Horkheimer, profissional digno do desafio de trazer esse tomo de crítica e imaginação ao Brasil, em um momento histórico em que necessitamos tanto de aguçar a crítica e afiar o imaginário. Parafraseando a epígrafe wittgensteiniana de O inconsciente político, se “imaginar uma linguagem significa imaginar uma forma de vida”, imaginar uma Utopia significa imaginar um outro mundo inteiro. Quem sabe, por alguns raros instantes, bem além do capitalismo.

*Ana Rüsche é doutora em Estudos Linguísticos e Literários pela Universidade de São Paulo, com tese sobre ficção científica e utopia. Autora, entre outros livros, de A telepatia são os outros (Monomito).

Fonte Portal Membro Outras Palavras

Uma breve história da Economia

Aqui está uma lista das principais ideias do livro The Shortest History of Economics de Andrew Leigh:

  1. História resumida do pensamento econômico: O livro apresenta uma visão geral das ideias econômicas, desde os primeiros pensadores como Adam Smith até os economistas contemporâneos, oferecendo uma linha do tempo do desenvolvimento da economia como ciência.
  2. A evolução da economia como disciplina: Leigh explora como a economia se transformou de um campo filosófico e ético para uma ciência mais matemática e técnica, destacando marcos importantes como a Revolução Industrial e o nascimento da macroeconomia.
  3. Adam Smith e o início da economia moderna: O autor explica a importância de Adam Smith e sua obra A Riqueza das Nações, especialmente a ideia de que os mercados funcionam melhor quando há liberdade econômica e pouca interferência governamental.
  4. Debate entre Keynes e Hayek: O livro descreve o embate ideológico entre John Maynard Keynes, que defendia a intervenção governamental para estabilizar as economias, e Friedrich Hayek, que acreditava na supremacia dos mercados livres e nos perigos da intervenção estatal.
  5. A ascensão do neoliberalismo: Leigh analisa o surgimento das ideias neoliberais nos anos 1980, influenciadas por Milton Friedman e a Escola de Chicago, que promovem mercados livres, desregulamentação e corte de impostos.
  6. A Grande Depressão e as crises econômicas: O autor examina como os economistas lidaram com grandes crises econômicas, como a Grande Depressão e a Crise Financeira de 2008, e as lições aprendidas sobre os ciclos econômicos e a fragilidade dos mercados.
  7. Desigualdade econômica: Um dos temas recorrentes do livro é o aumento da desigualdade nas últimas décadas, com Andrew Leigh discutindo como a concentração de riqueza nas mãos de poucos tornou-se uma questão central para os economistas contemporâneos.
  8. A importância da política econômica: O autor enfatiza que a economia não se desenvolve em um vácuo, mas é moldada por decisões políticas. Leigh mostra como diferentes políticas econômicas ao longo da história criaram ou resolveram crises e desigualdades.
  9. O papel da globalização: O livro também explora os impactos da globalização nas economias modernas, destacando tanto os benefícios do comércio internacional quanto as críticas sobre suas consequências para a classe trabalhadora e a soberania econômica.
  10. O futuro da economia: Andrew Leigh conclui discutindo as questões econômicas mais prementes para o futuro, como a automação, as mudanças climáticas e o papel crescente da tecnologia nos mercados globais.

Essas ideias fornecem uma visão condensada do desenvolvimento e das tendências atuais do pensamento econômico.

Fonte Portal Membro Blog Paulo Gala


Hábitos atômicos

“Hábitos Atômicos” (Atomic Habits), de James Clear, é um livro sobre como pequenas mudanças nos hábitos podem levar a grandes transformações pessoais e profissionais. O autor defende que o segredo para alcançar grandes resultados não está em fazer grandes mudanças de uma só vez, mas sim em melhorar continuamente, 1% a cada dia.

Aqui estão as principais ideias do livro:

  1. O poder dos hábitos pequenos: Hábitos são compostos de pequenas ações que, repetidas ao longo do tempo, podem levar a resultados significativos. Por isso, a melhoria contínua, mesmo que mínima, é mais eficaz do que tentar mudanças drásticas de uma só vez.
  2. Os quatro estágios do hábito: Para formar ou quebrar um hábito, Clear propõe um ciclo de quatro etapas:
  • Pista (gatilho que inicia o hábito),
  • Desejo (motivação para realizar o hábito),
  • Resposta (ação ou comportamento que resulta do desejo),
  • Recompensa (o benefício que você obtém do hábito).
  1. A Regra dos 1%: Pequenas melhorias consistentes em diferentes áreas da vida (1% melhor a cada dia) acumulam-se ao longo do tempo, levando a grandes avanços. Da mesma forma, pequenos deslizes podem resultar em declínios significativos.
  2. Criação de sistemas, não metas: O autor sugere que focar em sistemas e processos diários é mais eficaz do que apenas definir metas. Metas são importantes, mas são os sistemas que garantem a constância e o progresso.
  3. A identidade molda os hábitos: Os hábitos são uma manifestação da sua identidade. Em vez de focar apenas em mudar comportamentos, é importante focar em quem você deseja se tornar. Exemplo: ao invés de “quero correr uma maratona”, adote a mentalidade de “eu sou um corredor”.
  4. A Regra dos 2 Minutos: Para facilitar a criação de um novo hábito, Clear sugere começar com uma versão simplificada do comportamento, algo que possa ser feito em dois minutos ou menos. A ideia é facilitar o início, tornando a ação tão simples que é difícil não fazer.
  5. Ambiente e contexto: O ambiente ao redor tem um papel importante na formação de hábitos. Ao modificar o ambiente de maneira a facilitar os comportamentos desejados e dificultar os indesejados, fica mais fácil adotar novos hábitos.
  6. Quebrando maus hábitos: Para quebrar um hábito ruim, Clear propõe que se faça o oposto do ciclo de hábitos: tornar o gatilho invisível, reduzir o desejo, dificultar a resposta e eliminar a recompensa.

Essas ideias ajudam a entender que o progresso, mesmo que lento, é poderoso quando realizado de forma consistente. O foco do livro é em métodos práticos para criar um ambiente que favoreça a mudança e como pequenas ações diárias podem moldar seu destino ao longo do tempo.

Fonte Portal Membro Paulo Gala


O animal social

**”O Animal Social”** de **Elliot Aronson** é um dos livros mais influentes na área da psicologia social. Publicado pela primeira vez em 1972, ele oferece uma visão abrangente sobre como o comportamento humano é moldado pelas interações sociais. Aronson utiliza pesquisas científicas e exemplos do dia a dia para ilustrar os processos psicológicos que governam nossas atitudes, percepções e ações em sociedade.

O livro explora temas como **conformidade, obediência, persuasão, preconceito, agressão** e **atração interpessoal**, mostrando como fatores externos, como a pressão social, e internos, como nossas crenças e valores, afetam nossas decisões e comportamentos. Ele também aborda como grupos sociais influenciam os indivíduos, levando-os a se comportar de maneiras que não fariam sozinhos.

Ao longo do texto, Aronson destaca o poder do contexto social e de como somos seres profundamente influenciados pelas normas e expectativas de nossos grupos. O autor também sublinha a importância da empatia e da conexão humana, mostrando que, ao entender os mecanismos por trás do comportamento social, podemos nos tornar mais conscientes e responsáveis em nossas interações.

Combinando rigor científico com uma escrita acessível, **”O Animal Social”** tornou-se uma leitura essencial para estudantes de psicologia e para qualquer pessoa interessada em compreender melhor o comportamento humano em sociedade.

Aqui estão três ideias-chave de **”O Animal Social”** de **Elliot Aronson**:

1. **Conformidade e Influência Social**: Aronson explora como as pessoas tendem a se conformar às normas e expectativas de seus grupos sociais, mesmo quando isso vai contra suas próprias crenças. A pressão social pode ser explícita ou implícita, mas muitas vezes leva os indivíduos a adaptar seus comportamentos para serem aceitos ou para evitar conflitos. O famoso experimento de Solomon Asch sobre conformidade, onde participantes ajustam suas respostas incorretamente para se alinhar ao grupo, é um exemplo dessa dinâmica.

2. **O Poder da Persuasão**: O livro examina como a persuasão é uma ferramenta poderosa na moldagem das atitudes e crenças das pessoas. Aronson analisa os fatores que tornam a persuasão eficaz, como a credibilidade da fonte, a atratividade da mensagem e o envolvimento emocional. Ele mostra como a persuasão pode ser usada tanto de forma benéfica, como na educação, quanto de forma prejudicial, como na propaganda política.

3. **Preconceito e Desumanização**: Aronson discute as raízes do preconceito e como ele surge em grande parte devido à necessidade de pertencimento e distinção entre grupos sociais. Ele explora o conceito de **desumanização**, que ocorre quando as pessoas veem membros de outros grupos como “menos humanos”, o que pode justificar atitudes discriminatórias e até violência. A obra sugere que o preconceito pode ser superado com empatia, contato intergrupal e a desconstrução de estereótipos.

Essas três ideias refletem a forma como Aronson busca entender as forças que influenciam o comportamento humano em ambientes sociais.

Fonte Portal Membro Paulo Gala


Pense e enriqueça

“Think and Grow Rich” de Napoleon Hill é um clássico da literatura sobre sucesso e desenvolvimento pessoal, publicado em 1937. Hill baseou seu livro em entrevistas com mais de 500 das pessoas mais bem-sucedidas de sua época, incluindo Andrew Carnegie, Henry Ford e Thomas Edison. O livro apresenta princípios fundamentais para alcançar riqueza e sucesso, com foco na mentalidade e nas atitudes pessoais.

  1. O poder do pensamento positivo: Hill destaca a importância de uma mentalidade voltada para o sucesso. Ele acredita que pensamentos têm poder e que a riqueza começa na mente. Pensar de forma positiva e direcionada é essencial para atrair sucesso.
  2. Definir um objetivo claro: O autor enfatiza a importância de ter um desejo ardente e bem definido. Saber exatamente o que se quer alcançar, tanto em termos de riqueza quanto em outras áreas, é o primeiro passo para conseguir transformar esse objetivo em realidade.
  3. Autossugestão: Hill sugere que repetir afirmações positivas para si mesmo e visualizar o sucesso diariamente é uma forma eficaz de reprogramar a mente para buscar soluções criativas e manter-se focado nos objetivos.
  4. Educação contínua: O livro argumenta que o conhecimento aplicado é uma das chaves para o sucesso. No entanto, Hill destaca que a educação formal não é tão importante quanto a capacidade de aprender constantemente e usar o conhecimento de forma prática.
  5. Tomada de decisões e persistência: Tomar decisões rápidas e agir com persistência são características essenciais das pessoas bem-sucedidas. Segundo Hill, a procrastinação é inimiga do progresso, e manter-se firme diante dos obstáculos é vital para atingir metas.
  6. Mastermind: Hill introduz o conceito de mastermind, ou seja, formar alianças com pessoas que compartilham objetivos semelhantes. Ele acredita que o poder de uma mente coletiva pode gerar ideias e motivação adicionais para alcançar o sucesso.

Resumindo, “Think and Grow Rich” oferece um conjunto de princípios sobre como pensar, agir e tomar decisões com foco no sucesso, baseado na crença de que a mentalidade correta, combinada com ação persistente, pode transformar desejos em realidade.

Fonte Portal Membro Paulo Gala


Mindset para o sucesso

O livro “Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso”, de Carol S. Dweck, explora como a mentalidade das pessoas afeta seu sucesso e crescimento em diversas áreas da vida, como educação, trabalho, esportes e relacionamentos. Dweck divide as mentalidades em duas categorias principais:

  1. Mindset fixo: Pessoas com esse tipo de mentalidade acreditam que suas habilidades e inteligência são inatas e imutáveis. Elas evitam desafios, desistem facilmente e encaram o fracasso como uma prova de suas limitações. Como resultado, tendem a se preocupar com a aparência de sucesso imediato e não se esforçam para crescer.
  2. Mindset de crescimento: Pessoas com essa mentalidade acreditam que suas habilidades podem ser desenvolvidas através de esforço, aprendizado e persistência. Elas encaram os desafios como oportunidades para aprender, aceitam o fracasso como parte do processo de crescimento e valorizam o esforço contínuo em vez de apenas resultados imediatos.

Dweck argumenta que cultivar um mindset de crescimento é fundamental para alcançar o sucesso e a realização pessoal. Ela sugere que, ao mudar a forma como encaramos desafios e dificuldades, podemos nos tornar mais resilientes, aprender mais com as experiências e alcançar nosso potencial máximo. O livro destaca também a importância de incentivar essa mentalidade nas crianças, no ambiente de trabalho e nas relações interpessoais.

Ao longo do livro, Dweck oferece exemplos práticos e pesquisas que apoiam a ideia de que a maneira como pensamos sobre nossas capacidades pode ser determinante para o sucesso a longo prazo.


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A biografia do abismo

“Biografia do Abismo”, de Thomás Traumann e Felipe Nunes é uma análise detalhada dos problemas políticos e econômicos que levaram o Brasil a uma profunda crise entre 2013 e 2018. O livro foca nos principais acontecimentos e decisões que contribuíram para a instabilidade do país, especialmente durante os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer. Os autores exploram os fatores que culminaram no colapso político e econômico do Brasil, como as manifestações de 2013, a Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma, e a crise fiscal. Ele argumenta que esses eventos revelam falhas estruturais nas políticas públicas, nas alianças políticas e na governança, resultando em uma perda de confiança nas instituições.

Os autores também analisam os erros estratégicos do governo, o impacto da corrupção, o aumento do descrédito na classe política e a polarização da sociedade brasileira. Traumann aponta como a falta de articulação política e a ausência de reformas estruturais agravaram a crise, levando o país a um cenário de “abismo” econômico e social. Em resumo, o livro oferece uma visão crítica dos bastidores do poder no Brasil durante esse período turbulento, destacando as escolhas erradas e suas consequências para a democracia e a economia do país.


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A economia da depressão

“The Return of Depression Economics” de Paul Krugman explora as causas e as lições de crises econômicas modernas, comparando-as com a Grande Depressão. Krugman argumenta que as recessões globais podem resultar de falhas sistêmicas e financeiras, e que a teoria econômica tradicional muitas vezes falha em prever essas crises. Ele destaca a importância de intervenções governamentais, como estímulos fiscais e monetários, para evitar que pequenas crises se transformem em depressões mais graves. Krugman também critica o excesso de confiança no mercado livre, enfatizando a necessidade de uma supervisão regulatória mais eficaz. O livro sugere que políticas keynesianas, como o aumento do gasto público, são fundamentais para combater recessões severas.

No livro Krugman faz uma conexão clara entre crises econômicas anteriores e a crise financeira de 2008. Ele argumenta que a crise de 2008 foi o resultado de desequilíbrios sistêmicos semelhantes aos que causaram a Grande Depressão e outras crises financeiras. Krugman destaca que a bolha imobiliária nos EUA, impulsionada por crédito fácil e especulação, levou a uma explosão de dívidas que se tornou insustentável, culminando no colapso dos mercados financeiros.

Krugman critica a crença de que os mercados se autorregulam, mostrando que a falta de supervisão financeira e a confiança excessiva no sistema bancário levaram a uma crise global. Ele defende que, assim como em crises anteriores, a resposta deve incluir grandes intervenções do governo, como pacotes de estímulo fiscal e injeção de liquidez, para evitar que o choque financeiro se transforme em uma depressão profunda. O autor argumenta que as lições da história, como a adoção de políticas keynesianas, deveriam ter sido melhor aplicadas antes e durante a crise de 2008.


Fonte Portal Membro Paulo Gala


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