ELEIÇÕES
Áustria: por que os neofascistas venceram
No país de imigração mais intensa da Europa, ajuste fiscal produziu recessão, crise nos serviços públicos e desencanto. Apegados aos dogmas econômicos, liberais seguem incapazes de mudar de rumo. Partidos vitoriosos não têm alternativa
No domingo, a Áustria elegeu o seu parlamento. Os 183 membros do Conselho Nacional são escolhidos por representação proporcional de lista aberta em três níveis: uma única circunscrição nacional, nove circunscrições baseadas nos estados federais e 39 circunscrições regionais. As cadeiras são distribuídos para as circunscrições regionais com base nos resultados do censo mais recente. Para que os partidos recebam alguma representação no Conselho Nacional, eles devem vencer pelo menos uma cadeira diretamente em uma circunscrição ou superar o limite eleitoral nacional de 4%. Cerca de 6,3 milhões de austríacos adultos podem votar.
Eis os resultados: o Partido da Liberdade (FPÖ), neofascista e fundado nos anos 1950 por ex-oficiais da SS, foi o mais votado, com 28,9% dos votos (57 cadeiras), pouco acima do Partido do Povo (ÖVP), que teve 26,3% (51 cadeiras), hoje o sócio maior da coalizão no poder, formada também pelos Verdes. Os social-democratas (SPO) ficram em terceiro lugar, como 21% (41 cadeiras), seguidos dos Liberais (9,11% | 18 cadeiras) e Verdes (8,19% | 16). O líder do FPÖ, Herbert Kickl quer ser o chanceler (primeiro ministro) e usa o termo “Volkskanzler,” ou chanceler do povo, como fizeram os nazistas e Adolf Hitler nos anos 1930.
Se o FPÖ obtiver o maior número de votos, poderá estar em posição de liderar um novo governo – porém até agora os líderes do ÖVP e dos Social-democratas estão se recusando a formar uma coalizão com ele (embora os conservadores tenham sugerido que poderiam, se o atual líder do FPÖ, Herbert Kickl, não fizer parte do governo). O resultado mais provável é uma coalizão ÖVP-FPÖ ou, pela primeira vez, uma aliança tripla do ÖVP com o SPO e, ou os liberais NEOS, ou os Verdes.
A ascensão do FPÖ não é novidade. Ele foi o sócio menor numa coalizão com o ÖVP, que esteve no governo da década de 2010. Mas isso desmoronou quando ambos partidos se envolveram em um escândalo de corrupção que derrubou o governo e seu chanceler do FPÖ em 2019. Agora, em toda a Europa, partidos de extrema-direita estão ganhando terreno em resposta à chamada “ameaça” da imigração e à estagnação econômica em muitas economias europeias. Em junho, o FPÖ foi pela primeira vez o maior partido nas eleições para o Parlamento Europeu, que também trouxe ganhos para outros partidos de extrema-direita na Europa.
A Áustria tem apenas 9 milhões de habitantes, mas na última década o país acolheu mais refugiados per capita do que qualquer outro da União Europeia, alimentando o ressurgimento do FPÖ. O FPÖ evoluiu para uma espécie de partido “populista” anti-imigrante e anti-Islã, repetindo o que ocorre em outras partes da Europa. O FPÖ quer acabar com a imigração e “reemigrar” imigrantes para seus países de origem. “A reemigração já demorou demais!” proclama Kickl. O FPÖ também sugere a saída da UE, ou “Öxit”, uma versão austríaca do Brexit.
Mas, como em outras partes da Europa, o crescente apoio a partidos de extrema-direita anti-imigração está muito relacionado com a estagnação nas principais economias e com a alta inflação, que corrói o padrão de vida. Pode-se dizer que quando a Alemanha está gripada, a Áustria pega uma pneumonia. E a Alemanha está sofrendo com uma gripe econômica muito forte agora. Como resultado, o impacto na Áustria é pesado.
O crescimento real do PIB da Áustria está, no melhor dos cenários, estagnado. Ironicamente, se não fosse pela imigração (+6,3% em 2011-2020), o PIB real teria caído drasticamente, já que a população doméstica está encolhendo e envelhecendo. A Áustria terá o terceiro maior custo relacionado à velhice como porcentagem do PIB na União Europeia até 2030.
Além disso, a Áustria ainda está enfrentando alta inflação, com média de 4,2% nos últimos 12 meses, superando a média da UE. A inflação permanece alta porque a Áustria foi forçada a reduzir suas importações de gás russo barato como parte das sanções da UE contra a Rússia, por causa da Ucrânia. A Áustria está no meio do caminho entre o comércio com a Rússia e com a Europa Ocidental.
A economia estava em plena recessão em 2023. O banco central austríaco, o OeNB, agora espera que ela “se estabilize” este ano, com um crescimento real do PIB de apenas 0,3%. Mesmo isso parece otimista. O PIB da Áustria caiu 0,6% no segundo trimestre de 2024, após uma contração revisada para baixo de 1% no primeiro trimestre. A recessão continua. O capital austríaco está sofrendo. A manufatura está em profunda recessão (qualquer valor abaixo de 50 no gráfico a seguir significa contração), assim como na Alemanha.
O crescimento real do PIB per capita da Áustria estagnou nacionalmente entre 2011 e 2020 e foi inferior à média da UE (0,6%) em todas as regiões. A produtividade do trabalho está estagnada ou diminuindo na maioria das regiões. Isso ocorre porque o investimento produtivo continua encolhendo, após uma queda de 2,3% em 2023.
O capital austríaco está sendo pressionado porque, além da queda da produtividade do trabalho, os salários dos trabalhadores organizados da Áustria estão subindo, sendo o aumento salarial mais rápido da Europa este ano. Os trabalhadores tentam recuperar as perdas de renda real que sofreram devido às altas taxas de inflação após a Covid. Embora os salários devam aumentar 8,5% este ano, isso ainda não compensa os anos anteriores de alta inflação. E, embora o desemprego ainda esteja perto dos mínimos, os novos empregos são em sua maioria de meio período, sem perspectivas permanentes de carreira e mal remunerados.
Por trás da queda do investimento produtivo e da produtividade do trabalho está a queda da lucratividade do capital austríaco, refletindo o que ocorre na Alemanha. O aumento no início dos anos 2000 deu lugar a um declínio acentuado na década de 2010, acelerando desde a Covid.
Quais são as soluções oferecidas pelos partidos para essa estagnação econômica? O FPÖ tem uma mistura de políticas neoliberais, pró-mercado, com algum apoio para os austríacos mais velhos, geralmente seus eleitores, como o aumento das taxas de aposentadoria do Estado. O FPÖ quer “mais desregulamentação” e redução de impostos, incluindo a redução do imposto sobre para pequenos negócios – de 23% para 10%; e o fim das medidas “verdes”, eliminando um imposto sobre emissões de carbono introduzido em 2022. Defende o controle de preços durante períodos de inflação severa em alimentos, aluguéis e energia, bem como a redução do imposto sobre consumo de itens essenciais. E quer manter as importações de energia russa.
Fonte Portal Membro Outras Palavras
ELEIÇÕES 2024: 57% dos eleitores se consideram nem de direita nem de esquerda, aponta pesquisa
Lívia Braz
Como você escolhe o seu candidato? Pela orientação política — direita ou esquerda — ou pela capacidade de gestão, de apontar soluções e para resolver os problemas da sua cidade? Uma pesquisa feita pelo Instituto DataSenado mostra que, a poucos dias das eleições municipais, mais da metade dos eleitores — 57% deles — disseram não se considerar nem de esquerda nem de direita. A pesquisa mostrou ainda que 29% dos entrevistados se consideram de direita e 15% de esquerda.
Como você escolhe o seu candidato? Pela orientação política — direita ou esquerda — ou pela capacidade de gestão, de apontar soluções para resolver os problemas da sua cidade?
Uma pesquisa feita pelo Instituto DataSenado mostra que, a poucos dias das eleições municipais, mais da metade dos eleitores — 57% deles — disseram não se considerar nem de esquerda nem de direita. A pesquisa mostrou ainda que 29% dos entrevistados se consideram de direita e 15% de esquerda.
Mas para o cientista político Eduardo Grin, o que a pesquisa mostra é que nunca teremos 100% da sociedade envolvida em política e em polarização.
“O que quero destacar é que a polarização política, que envolve as forças políticas e parcela da sociedade mais envolvida, segue cada vez pior. Mais intensa, com episódios que agora acabam em violência — não só pela internet, mas também física. Ou seja, tudo são sintomas de um processo de polarização política que segue muito intenso”, destaca o cientista.
Foco nos problemas e nas soluções
Em função das características da maior parte dos municípios brasileiros — em que cerca de metade tem apenas dois candidatos a prefeito nestas eleições deste ano — a tendência é que a polarização se mostre menos acirrada, avalia Grin.
O cientista político explica que o foco para a escolha do candidato deve se dar por outras razões. “Em geral, o que vale mais em eleições municipais é o prefeito ser um bom síndico. Aquele que inspira confiança para fazer uma boa entrega de serviços, é o prefeito que já vem fazendo um bom trabalho e a população tem mais receio de apoiar alguém que ela não conhece.”
Opinião que é compartilhada pelo cientista político Leandro Gabiati.
“Numa eleição municipal você olha primeiro quem é o prefeito, como eu considero a gestão dele. E eventualmente o eleitor de direita pode apoiar um candidato de esquerda que tenha feito uma boa gestão, ou o contrário. São os reflexos das políticas públicas no dia-a-dia da população que contam na hora do voto.”
Cidades maiores, mais polarização
O cientista Eduardo Grin afirma ainda que, nas cidades maiores, a tendência de polarização e escolha de um candidato em função de sua orientação ou partido político tende a ser bem maior do que nas cidades pequenas. Mas faz um destaque para as eleições presidenciais de 2026.
“Assim como vimos em 2022, nas eleições para presidente, veremos em 2026. Uma escolha muito mais voltada por partidos e ideais políticos do que por candidatos propriamente ditos.”
O que mostra a pesquisa
Segundo a pesquisa, quanto maior a renda dos eleitores, menos eles tendem a ser neutros — mas são eleitores de centro. Quanto aos que se disseram neutros com relação ao viés político, 45% dos que se disseram neutros têm ensino fundamental incompleto.
Os evangélicos tendem a ser mais de direita — eles são 35% dos entrevistados, já os católicos de direita são 28%. Quanto ao gênero, 34% dos homens se disseram eleitores de direita, enquanto as mulheres somam 24%.
A pesquisa foi feita entre os dias 5 e 28 de junho de 2024. Ao todo, o levantamento ouviu 21.808 brasileiros de todas as unidades da federação. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 1,22 ponto porcentual.
Fonte: Brasil 61
ELEIÇÕES 2024: Das 92 cidades bilionárias do Brasil, 48 contam com candidatos à reeleição para prefeito
Marquezan Araújo
Das 92 cidades bilionárias do Brasil, mais da metade (48) conta com candidatos à reeleição para prefeito nas eleições municipais de 2024. É o que mostra levantamento feito pelo Portal Brasil 61. Os partidos que mais se destacam nesse cenário são PSD, com 9 candidatos; PL, com 8; e PP, com 7.
Das 92 cidades bilionárias do Brasil, mais da metade (48) conta com candidatos à reeleição para prefeito nas eleições municipais de 2024. É o que mostra levantamento feito pelo Portal Brasil 61. Os partidos que mais se destacam nesse cenário são PSD, com 9 candidatos; PL, com 8; e PP, com 7.
A maioria desses candidatos concorrem em cidades do estado de São Paulo, como Campinas, Sorocaba, Santos e Taubaté, entre outras. Ao todo, são 12 municípios paulistas com candidatos à reeleição. O estado de São Paulo também conta com o maior número de cidades bilionárias (29).
Veja quais são os candidatos a prefeito nas 92 cidades bilionárias
Das demais cidades, 5 contam com candidatos à reeleição pelo REPUBLICACOS. Já União Brasil, PODEMOS e PT contam com 3 candidatos à reeleição, cada. Os partidos que têm 2 candidatos que pretendem retornar ao comando do Executivo local são MDB e PSDB. Os que contam com apenas 1 são: AVANTE, PDT, SOLIDARIEDADE, PSOL, PSB e NOVO.
Segundo o cientista político Eduardo Grin, não é surpresa que candidatos vinculados a partidos ligados mais ao “centrão”, como PP e MDB, por exemplo, tenham mais êxito dentro dessas cidades, já que nesses municípios as economias são mais voltadas para o agronegócio e outras atividades empresariais, sobretudo do setor de Serviços.
“Isso significa que esses partidos têm mais vínculo com o meio empresarial do que partidos de esquerda, que, historicamente, têm uma relação maior com movimentos sindicais e movimentos de trabalhadores. E esse tipo de discurso tem mais dificuldade de penetrar em cidades onde o eleitorado é mais vinculado às atividades econômicas e mais conservador”, destaca.
Grin lembra, ainda, que, em relação à reeleição, a legislação prevê as mesmas regras para todos os cargos do Executivo, independentemente se da esfera Federal, estadual ou municipal. Nesse caso, o cargo não pode ser ocupado pela mesma pessoa por mais de dois mandatos seguidos. No entanto, não há impedimento para candidatura ao mesmo cargo por outras vezes, desde que não seja para mandatos consecutivos.
Confira a lista completa com candidatos à reeleição
- SÃO LUÍS (MA) - Eduardo Braide (PSD)
- SÃO JOSÉ DOS PINHAIS (PR) - Nina Singer (PSD)
- CHAPECÓ (SC) - João Rodrigues (PSD)
- RIO DE JANEIRO (RJ) - Eduardo Paes (PSD)
- CANOAS (RS) - Jairo Jorgem (PSD)
- BELO HORIZONTE (MG) - Fuad Noman (PSD)
- UBERABA (MG) - Elisa Araújo (PSD)
- BAURU (SP) - Suéllen Rosim (PSD)
- SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) - Anderson (PSD)
- RIO BRANCO (AC) - Tião Bocalom (PL)
- MACEIÓ (AL) - João Henrique Caldas (PL)
- APARECIDA DE GOIÂNIA (GO) - Professor Alcides (PL)
- CANAÃ DOS CARAJÁ (PA) - Jeová Andrade (PL)
- JABOATÃO DOS GUARARAPES (PE) - Mano Medeiros (PL)
- SÃO GONÇALO (RJ) - Capitão Nelson (PL)
- IPATINGA (MG) - Gustavo Nunes (PL)
- AMERICANA (SP) - Chico Sardelli (PL)
- DOURADOS (MS) - Alan Guedes (PP)
- CAMPO GARNDE (MS) - Adriane Lopes (PP)
- CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ) - Wladimir Garotinho (PP)
- JOÃO PESSOA (PB) - Cícero Lucena (PP)
- PIRACICABA (SP) - Luciano Almeida (PP)
- TAUBATÉ (SP) - José Saud (PP)
- VOLTA REDONDA (RJ) - Neto (PP)
- HORTOLÂNDIA (SP) - Zezé Gomes (REPUBLICANOS)
- CAMPINAS (SP) - Dário Saadi (REPUBLICANOS)
- SOROCABA (SP) - Rodrigo Manga (REPUBLICANOS)
- VITÓRIA (ES) - Lorenzo Pazolini (REPUBLICANOS)
- SANTOS (SP) - Rogério Santos (REPUBLICANOS)
- SALVADOR (BA) - Bruno Reis (UNIÃO BRASIL)
- CAMPINA GRANDE (PB) - Bruno Cunha Lima (UNIÃO BRASIL)
- PONTA GROSSA (PR) - Elizabeth Schmidt (UNIÃO BRASIL)
- VILA VELHA (ES) - Arnaldinho Borgo (PODE)
- MOGI DAS CRUZES (SP) - Caio Cunha (PODE)
- SÃO VICENTE (SP) - Kayo Amado (PODE)
- CONTAGEM (MG) - Marília Campos (PT)
- JUÍZ DE FORA (MG) - Margarida Salomão (PT)
- DIADEMA (SP) - Filippi (PT)
- BOA VISTA (RR) - Arthur Henrique (MDB)
- PORTO ALEGRE 9RS) - Sebastião Melo (MDB)
- GRAVATAÍ (RS) - Zaffa (PSDB)
- CAXIAS DO SUL (RS) - Adiló (PSDB)
- MANAUS (AM) - David Almeida (AVANTE)
- FORTALEZA (CE) - José Sarto (PDT)
- GOIÂNIA (GO) - Rogério Cruz (SOLIDARIEDADE)
- BELÉM (PA) - Edmilson Rodrigues (PSOL)
- RECIFE (PE) - João Campos (PSB)
- JOINVILLE (SC) - Adriano Silva (NOVO)
Fonte: Brasil 61
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